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SESSÃO N.° 50 DE 24 DE MARÇO DE 1896 773

e nos momentos de socego, diga um dia com os seus botões: "Francamente, o Arroyo tinha rasão".

E se um dia, o caracter franco de s. exa. lhe segredar estas palavras, dar-me-hei por sufficientemente justificado das solemnes exequias a que acabo de assistir.

Ora, ahi por 22 de fevereiro de 1896 - o tempo ía relativamente calmo; não havia, nem na atmosphera meteorologica, - permitta-me s. exa. empregar este adjectivo como nota differencial de atmospheras, - nem na atmosphera politica, cousa nenhuma que indicasse o apparecimento rapido de um phenomeno extraordinario. A camara estava socegadissima. Os collegas de então eram os que v. exa. vê: uma camara do cavalheiros igualmente estimaveis e igualmente intelligentes. N'essas bancadas (apontando para os logares ao governo) achava-se sentado o sr. Pimentel Pinto - em acção decidida, valente e energica a pugnar pela sua individualidade politica. Levantei-me eu e, n'uma linguagem muito simples, fiz uma apreciação sobre o procedimento politico do sr. Pimentel Pinto a proposito do projecto que n'essa occasião se discutia. Acabei de fallar e o sr. Pimentel Pinto ergueu-se, no uso do seu direito e no cumprimento do seu dever, e exhibiu um discurso - que eu me vou limitar a ler, porque supponho que estou dentro do regimento e da carta constitucional, revendo periodos que um conselheiro da corôa, membro do gabinete, proferiu n'esta casa do parlamento. O que eu não posso reproduzir, e tenho pezar, é o entono e o orgulho com que o sr. Pimentel Pinto fallou!

Ora, a paginas 320 do Diario da camara aos senhores deputados (o orador mostra á camara o Diario) vejo o nome do sr. Pimentel - e não vejo senão na pagina 321 o nome do sr. Teixeira de Sousa, dizendo: "Apoiado". Depois torno a ver: "O orador" - que é, sem duvida, o sr. Pimentel Pinto; - sigo até á pagina 322 e, em toda ella, não vejo senão o nome do sr. ministro da guerra,- e não vejo mais apoiados. (Riso.) Por fim, a paginas 323, diz o sr. ministro da guerra: (Lê.)

"Estes são os defeitos geraes que resultam da concessão de postos de accessos, mas em Portugal ha então rasões especiaes para julgar mau aquelle systema. Vou dizer ao sr. Arroyo quaes são essas rasões. A primeira, e é importantissima, é que não ha na legislação militar uma unica disposição que permitta dar esses postos por distracção. O que está escripto sobre o accesso dos officiaes é isto."

Depois acrescenta: (Lê.)

"É pois uma rasão muito importante para nós não haver na legislação militar disposição que permitta dar-se o posto de accesso nas condições a que o sr. Arroyo se referiu."

Voltando a paginas... perdão, isto só lido! Não póde deixar de ser lido: (Lê.)

"Eu cito estes factos para mostrar que a rasão d'este diverso procedimento é porque no exercito allemão se segue o regimen da antiguidade, e no exercito francez o principio da escolha.

"Eu sei que qualquer deputado, que me dê a honra de responder, póde referir-se a muitos postos por distincção que tem sido dados no nosso paiz a despeito da declaração que fiz, e que é verdadeira, de não haver disposição da lei que auctorise o posto por distincção. Sei que me podem dizer que se deram alguns postos por distincção nas campanhas da liberdade."

E foi esta rasão que o sr. ministro da guerra entendeu dever apresentar em defeza da sua attitude politica e parlamentar.

Ficámos n'isto.

Agora, sr. presidente, continuo na minha missão de leitor, e a leitura do documento que n'este momento vou fazer, creio que não póde ser recusada n'esta casa do parlamento. Este documento é o Diario do governo de 17 de março do corrente, que insere um diploma, emanado do poder executivo, que é assignado por El-Rei e referendado pelo sr. Pimentel Pinto. Diz o papel: (Leu.)

E isto deve ser do conhecimento do sr. ministro da marinha.

Ora, sr. presidente, se para isto não é preciso a absolvição da camara, se para isto não é preciso um bill de indemnidade, como acaba de decidir a camara, rejeitando a apreciação do projecto que tive a honra de mandar para a mesa, para quando será precisa a absolvição e bill? É obvio que eu acato e respeito a deliberação tomada. Não insisto. Não pedirei á camara uma discussão, nem dirigirei qualquer pergunta ao sr. João Franco. Repito: o que tinha a fazer era só ler textos ao sr. ministro do reino, que está a olhar para mim fazendo uma cara muito feia, (Riso.) e pedir a s. exa. que, quando apparecer tudo isto no Diario da camara dos senhores deputados, guarde esse numero na algibeira, e mais tarde, no seu remanso de Cintra, ou da Beira Baixa, quando a governação publica lhe deixe dois minutos de socego, s. exa., ao contemplar as maravilhas da natureza e da industria, e ao fazer observações philosophicas sobre as cousas d'este mundo e do outro, possa citar, ao lado do colosso de Rhodes, das pyramides do Egypto, dos sete trabalhos de Hercules e de todas as cousas maravilhosamente phantasmagoricas que a humanidade tenha produzido, - desde a deificação dos heroes até ao momento coevo - e que sei eu! - o Diario da camara e o Diario do governo, onde vinha isto!

Leia então s. exa. e reconhecerá sinceramente de que para salvação de uma individualidade politica, que, francamente, não me parecia parafuso indispensavel para o andamento da marcha dos negocios publicos em Portugal, (Riso.) se tivesse atropellado a logica mais simples na maneira de ver as cousas, expondo-as e sujeitando-as a tão rude transe e sacrificio!

Dito isto, sr. presidente, que eu bem sei ficará nos annaes d'esta casa só como uma especie de devaneio de caracter chinez, por que não póde ter efficacia, incidencia parlamentar, ou qualquer resultado, relativamente á composição do gabinete, vou acabar, repetindo que, por um ministro que praticou tantas eontradicções, que se collocou na situação, em que aliás se collocou o sr. ministro da guerra "não valia a pena por vida minha" lançarem-se os seus collegas n'esses... extremos de dedicação e de amisade!

Digo isto referindo-me ao sr. ministro do reino, que é o ministro mais propriamente de caracter politico que vejo presente, e por que não está o sr. Hintze Ribeiro. Se estivesse a quem me dirigia era a s. exa.

Vou dizer uma cousa ao sr. João Franco, e nisto, como se diz no parlamento brazileiro, não vae nenhuma indirecta; é tudo quanto ha de mais claro e mais ingenuo.

Aqui ha uns tempos, o sr. Pimentel Pinto, referindo-se á dedicação que tinha a esperar dos membros da camara disse que necessitando de uma pessoa que fosse verdadeiramente efficaz na influencia junto d'esta casa do parlamento, se dirigira ao sr. presidente do conselho, por entender, e muito bem, que a s. exa. é que pertenceria essa acção. Francamente, não sei se no momento actual e
N'isto não vae a mais pequena desconfiança - v. exa. pensará assim.

Como isto era opinião propria de s. exa. e o criterio fundamental da sua acção, segundo as declarações do dia 22 de fevereiro (e desde que uma cousa é d'elle, póde dispor d'ella á sua vontade, sem dar satisfações a ninguem quer se trate de cadeiras, quer de principios) não sei se no momento em que estou fallando, o sr. Pimentel Pinto terá a mesma convicção, ou se, porventura, terá já dado mais uma prova da sua coherencia e da sua constancia de principios. Suppondo que, por esquecimento, tenha ainda a mesma opinião, eu devia esperar a presença do sr. Hin-