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924 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTAD0S

Como todos nós sabemos, está estabelecido um Conflicto armado entre a Hespanha e os Estados Unidos, facto que emocionou profundamente o nosso paiz, não só pelos horrores de uma guerra entre duas nações poderosas, como tambem porque n'ella entra um paiz com quem temos as maiores affinidades de raça e relações de affecto.

Não venho fazer considerações ácerca d'essa guerra, nem das suas causas, nem das suas consequencias, porque sei o que devo a mim proprio e á reserva parlamentar; mas não me dispenso de perguntar ao sr. presidente do conselho se, n'estas circunstancias, s. exa. consente na realisação das projectadas festas do centenario da India.

Devo declarar a v. exa. que sou absolutamente contrario a essas festas, (Apoiados.) independentemente do conflicto armado entre os Estados Unidos e a Hespanha, porque entendo que um paiz, que atravessa uma situação attribulada, situação que póde terminar da maneira mais dolorosa, um paiz que não tem com que pagar aos seus credores, com o agio do oiro a 74 por cento, que não tem pão para comer, não póde folgar em festas. (Apoiados.)

Essas festas dariam ao estrangeiro a impressão de que se os portuguezes são sempre alegres, seriam um tudo nada doidos, rindo e folgando, quando a situação não é para rir, antes talvez seja para chorar.

Pergunte v. exa. aos homens imparciais do paiz, aos homens, que põem de lado considerações politicas para verem com seriedade o futuro, e encontrará a opinião unanime de que o paiz atravessa uma crise gravissima, que soffre a mais grave exacerbação de uma doença agudissima de que só por milagre se póde salvar. N'esta condições festas ruidosas são uma ironia pungente. (Apoiados.)

Se é certo que a situação angustiosa em que o paiz se encontra briga com festas ruidosas, ridiculas ou grandiosas, não é menos certo que nós praticâmos uma má acção, rindo, brincando, folgando n'esta occasião em que duas nações amigas se vão debater nos horrores de uma guerra que póde levar o lucto, a desolação, a viuvez e a orphandade a muitos milhares de familias (Apoiados.)

É preciso distinguir bem a neutralidade da indifferença. A neutralidade é-nos imposta pela força das circumstancias; a indifferença pela situação da nossa vizinha Hespanha, não se coaduna com os fervorosos affectos que votamos áquelle povo, com o qual temos - e não podemos esconder - affinidades de origem, de raça, de instituições, e talvez de pensar e de sentir.

Eu, sr. presidente, escondo á minha palavra o que sinto no meu coração de peninsular, e escondo porque sei o que devo a mim próprio e que devo ás reservas do parlamento.

Mas não me dispenso de dizer, que nesta occasião em que a nação vizinha atravessa uma crise dolorosa, não ha nada mais inconveniente do que as festas do centenario da India.

Sr. presidente, disse ha pouco o meu illustre amigo, o sr. Luciano Monteiro, que uma festa em nossa casa, quando na casa visinha ha quem esteja gravemente enfermo, não se...

O sr. Presidente: - Peço ao ar. deputado que se limite a dar explicações.

O Orador: - Eu acabo já.

Sr. presidente, o que eu queria era appellar para o ar. presidente do conselho para que não consentisse que se realisassem essas festas. V. exa. deve saber que no nosso desejo não ha intuito politico; não ha, nem póde havel-o, pela simples e unica rasão de que foi um governo do partido regenerador que numa hora de relativa bonança collaborou no pensamento de se realisar essas festas. As circumstancias mudaram, sr. presidente, a nossa situação geographica expõe-nos a perigos de diversa natureza e v. exa. bem comprehende no seu alto criterio, que podem misturar-se os folguedos nas ruas de Lisboa com algum grande desgosto para nós!

V. exa. bem comprehende o prejuizo a que nos podem expor as esquadras no Tejo e v. exa. com o seu alto criterio reconhece esto perigo...

O sr. Presidente: - Repito a v. exa., que pediu a palavra para explicações.

O Orador: - Eu acabo já.

Pergunto outra vez ao sr. presidente do conselho, se s. exa. está resolvido a não consentir a realisação d'essas festas. Este negocio é urgentissimo, e eu tenho a convicção de que não ha-de passar muitos dias em que todos reconheçam, que as festas se não podem realisar. Cada dia que passa, maior prejuizo terá logar e é o que ha de resultar, se o governo só de aqui a quatro ou seis dias fizer a declaração official. Conseguintemente v. exa. comprehende a vantagem que haveria em o sr. presidente declarar que as festas não terão logar. (Apoiados.)

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (José Luciano de Castro): - Vou responder rapidamente ás perguntas feitas pelo illustre deputado o ar. Teixeira de Sousa, porque a hora está muita adiantada e só para que não pareça que não tenho em apreço as suas palavras. Respondendo ás considerações de a. exa., repito o que por mais de uma vez foi hoje dito nesta casa pelo sr. ministro da marinha em resposta ás observações feitas por alguns srs. deputados, a esse respeito:

O governo não tomou ainda nenhuma resolução a respeito da celebração do centenario da India. Tomo na devida consideração as observações feitas por s. exa. e logo que tenha tomado qualquer resolução a este respeito darei conta d'ella á camara.

O sr. Presidente: - A primeira sessão é na segunda feira, e a ordem da noite a continuação da que estava dada para hoje.

Está encerrada a sessão.

Eram doze horas e vinte e cinco minutos da noite.

O redactor = Barbosa Colen.