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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

responsabilidade d'esse facto; más sim a quem, atravessan dose de permeio entre a acção do governo e o bem do paiz, cria difficuldades, propagando na imprensa doutrinas que desvairam a opinião publica, e vem ajuntar a essas difficuldades mais uma, qual é, no momento em que o concurso de todos os partidos, de todos os homens sinceramente de votados á causa publica, tem todo o logar, levantar peque nas questões, desagradaveis questões pessoaes (apoiados) Esta questão devia ter acabado no dia immediato aquelle em que foi apresentada, se occorresse ao espirito de quem a provocou a idéa de que o patriotismo pedia que ella não continuasse.

E o que eu sinto é que não tivesse havido essa idéa.

V. ex.ª vê-me fallar agora com um certo vigor de phrase a que eu não estava habituado de ha muito; mas a posição em que me encontro aqui significa alguma cousa com relação á situação que atravessámos.

Eu tenho uma vida parlamentar de quatorze annos; e, para me resalvar de qualquer accusação que me possa dirigir a apreciação de qualquer espirito mais susceptivelmente politico, direi que fui aqui trazido pelo braço de Passos Manuel.

Parece-me que entrei bem tutelado (apoiados); e tenho entre os titulos honrosos da minha carreira politica, que já não é muito curta, esse como um dos principaes.

V. ex.ª, sr. presidente, viu-me aqui com certeza, porque fomos collegas durante essas duas legislaturas, no tempo em que a questão politica, que hoje se levanta inconvenientissimamente, ainda era questão que podesse interessar o debate do parlamento.

Eu estava ali pouco abaixo do grande orador, a cuja memoria todos prestámos homenagem, e de cujo nome todos nos lembrámos com saudade (apoiados).

Mas n'esse tempo era eu deputado da opposição, e quando saí d'esta para a outra casa do parlamento, com bas tante saudade, continuei ainda a occupar as fileiras da opposição; porém depois, vendo que de momento para momento cresciam cada vez mais as difficuldades com que se lutava, entendi que todo o homem tinha obrigação de ser, se não ministerial, pelo menos governamental (apoiados).

Podia ter deixado a carreira publica, porém assistindo ás sessões da camara, entendi em minha consciencia que devia, tanto quanto coubesse em meus recursos, auxiliar o governo que estava á frente dos destinos do paiz, e por isso prestei o meu apoio á situação, do sr. bispo de Vizeu. Não quero fazer o elogio dos meus actos, nem indicar á camara o espirito da minha independencia, porém devo aqui declarar que me apresentei na outra casa do parlamento quando entendi que era do meu dever não só não declinar a parte da responsabilidade que me competia, mas ainda dar o meu, ainda que fraco, apoio aquella situação, a fim de ver se nos conduzia á solução das difficuldades financeiras.

Não me neguei a aceitar um cargo de confiança; mas quando se deu uma crise ministerial, e fui convidado pelo illustre presidente do conselho a aceitar uma pasta, recuzei-a. Depois, tendo sido novamente e por differentes vezes instado para a aceitar, vi me forçado a encarregar-me da gerencia de uma pasta; e aqui está a prova de que não é a paixão partidaria que me obriga a occupar este logar (muitos apoiados).

Desejaria que a camara se pronunciasse sobre a questão sujeita, que póde de certo ter gravissimas consequencias se a camara resolver a respeito d'ella menos reflectidamente; e desejaria tambem que trabalhasse com o governo no intento significativo que apontou, tanto o illustre deputado, como os outros oradores que tomaram parte n'este debate: quer dizer, que estimaria muito que todos nós, dando treguas á politica, concorrêssemos para a resolução da nossa questão financeira (apoiados).

Parece-me que era facil e de grande conveniencia que as treguas dos partidos, que esta paz octaviana, a que se referiu o sr. deputado, se conservasse; porém se os illustres deputados entenderem que devem romper as hostilidades e declarar guerra aberta ao governo, procedam s. ex.ªs como quizerem, mas lealmente, porque o governo aceita a questão exactamente no terreno em que a collocarem (muitos apoiados).

E quaesquer que forem os resultados d'esse procedimento, podemos dizer francamente perante a camara e perante o paiz: «que não nos compete a responsabilidade do facto, porque não foi por nós provocado (apoiados)».

Já deu a hora?

Vozes: — Falle, falle.

O sr. Presidente: — Já deu, comtudo póde continuar a fallar.

O Orador: — Mas eu não posso fallar, porque, como disse, tendo quatorze annos de vida publica, o unico remorso, que ainda hoje me assalta na vida intima, é por algumas vezes ter pedido a palavra no parlamento, e ter fallado tão variamente, que hoje tenho horror a isso.

No dia em que os membros do parlamento, pondo de parte o vôo rasgado da imaginação, se poderem occupar, como devem, das questões economicas, terão feito um grande serviço a este paiz; mas quando para a discussão do orçamento do ministerio da marinha se têem gasto dez ou quinze dias, que podemos esperar a respeito da discussão do resto do orçamento?

Repito, não desejo fallar. Não tenho necessidade nenhuma de tomar tempo á camara; mas já que querem que falle, direi só mais duas palavras.

Quasi sempre tenho visto, que este officio de ser ministro (chamo-lhe officio, porque tambem ao exercicio da realeza chamou officio de reinar o nosso chorado Rei D. Pedro V); mas este officio de ser ministro, creio que é o limite da ambição dos homens publicos, apesar de terem sempre desenhado com as vivas cores do martyrio, as difficuldades em que muitas Vezes se encontram os que se sentam n'estes logares.

Não ha sentimento, nem mais natural, nem mais legitimo, mas eu nunca o tive; nunca senti a ambição de ser ministro, nem a podia sentir, talvez mesmo pelo exemplo vivo que tive em casa. Lamento, porém, que haja uma desgraçada confusão de idéas a este respeito.

Um homem póde ter facilidade em fallar, subir com arrogancia á tribuna e expor as suas idéas sobre os differentes ramos de administração publica.

Durante a minha vida parlamentar muitas vezes subi á tribuna com mais ou menos recursos, em relação aos meus adversarios politicos; expuz a minha opinião sobre os differentes assumptos que se debatiam, mas reconhecendo a pouca ou nenhuma pratica que tinha dos negocios publicos, por isso me recusei, por mais de uma occasião, a fazer parte de diversas administrações.

Veja v. ex.ª como já se andavam rabiscando homens para o poder, e é ainda por essa rasão que me considero aqui muito humildemente collocado.

O sr. Telles de Vasconcellos: — Não obstante v. ex.ª foi considerado homem de governo por José Estevão.

O Orador: — Esse mesmo baptismo foi o que me comprometteu (riso). Eu não desejei nunca que aquelle grande homem soltasse taes palavras, quando eu apresentava perante o publico as primícias do meu talento, se é que o tinha.

Ponho ponto aqui ás minhas observações. Vozes; — Muito bem.

(O orador não reviu este discurso, e n'alguns pontos não póde ser bem ouvido.).

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é, na primeira parte, a continuação da discussão do parecer n.º 25, e a do projecto n.º 21; e na segunda parte, a mesma, que já estava dada.

Está encerrada a sessão.

Eram mais de quatro horas da tarde.