876 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ouvir sobre todas as conversas com que pretendam abafar as minhas palavras. (Apoiados.)
(Pausa.)
E tem o sr. ministro dos negocios estrangeiros a triste coragem de aproveitar a phrase ironica com que o sr. José de Azevedo Castello Branco comparou o seu nome com o nome respeitavel e respeitado do sr. duque de Palmella; comquanto o nome do sr. Barros Gomes tambem o seja, tem s. exa. repito, a triste coragem de querer tirar partido d'essa phrase em favor da sua argumentação ?!...
Póde, porventura, haver comparação alguma entre o duque de Palmella e v. exa., sr. ministro dos negocios estrangeiros ?!...
V. exa. no que toca a felicidades diplomaticas, é o sr. duque de Palmella ás avessas. (Apoiados.)
. exa. é, para todos os effeitos, o Jules Fabre da nossa diplomacia. (Apoiados.)
Mais mau olhado, mais guignoneur, mais jettatoreu, é que v. exa. não podia ser n'esse logar. (Riso.)
E na realidade, nas negociações a proposito da questão africana, quando os allemães começaram por reconhecer nos primeiros documentos o nosso dominio effectivo até ao parallelo 18 não cedeu v. exa. das fertilissimas regiões do Ovampo e de outros terrenos immensos, nos quaes se não encontrava o menor signal de posse effectiva pelos allemães?
E a questão da concordata?! Que bellissima questão essa, em que s. exa., rasgando mais uma vez a carta constitucional, não permittiu que nós discutissemos esse diploma, com que mais uma vez se mutilou o dominio portuguez no ultramar! Que magnifica questão!
E a questão de Ceylão?! Esplendida questão, em que de um lado nós vemos uma grande massa de cidadãos a pedirem a sua continuação no padroado, e do outro vemos o sr. ministro dos negocios estrangeiros, genuflexando respeitoso diante do Papa, e calcando aos pés o direito d'esses cidadãos!
Que bellissima questão!!
E a isto tudo, depois das mais energicas accusações, s. exa. levanta-se para responder, sempre com um sorriso ironico!!
Deixe s. exa. de se rir em presença das nossas accusações, porque ellas são justissimas; apague das suas faces esse sorriso improprio e constante, porque, quer em Ceylão, quer na China, na Africa, no padroado, na Allemanha, como na Inglaterra, s. exa. é, eu lhe assevero, o homem que mais tem desprestigiado e menosprezado os direitos de Portugal.
E nada mais, sr. presidente, sobre este assumpto, porque não quero ser obstruccionista. Fica assim devidamente respondido o arzinho de ironia, que por uma especie de movimento de propaganda pathologica, vae passando da cara do sr. presidente do conselho para a cara do sr. Barros Cromes. (Apoiados.)
São estes, por emquanto, os dois ministros que mais se riem; um, que accentua o procedimento progressista na politica interna; outro, que sustenta esse mesmo procedimento na politica externa; ambos rasgando a carta constitucional, desprestigiando o poder e rebaixando o exercicio de tão augusta missão, até ao ponto onde nunca descera! (Apoiados.)
Continuem, pois, s. exa. a rirem-se, que nós continuaremos a fustigar, como devemos, os actos illegaes, injustos, illegitimos e prejudicialissimos para o paiz, praticados por este gabinete.
E dito isto, que foi unica e simplesmente movido pela replica impensada do sr. ministro dos negocios estrangeiros, eu vou, succintamente, referir-me aos assumptos, que me levaram a pedir a palavra.
Sr. presidente; a phenomenal catastrophe que enlutou a cidade do Porto, por todos os motivos torna necessaria a abertura de subscripções, que tendam, não a remediar, porque não é possivel prover de remedio, mas ao menos attenuar as suas tristissimas e medonhas consequencias.
Creio que estará no animo e no espirito de todos accudir ao appello feito pela imprensa diaria do paiz; (Apoiados.) e procedendo assim, não fazemos senão cumprir com o nosso dever de cidadãos, e com a obrigação de darmos uma livre expansão aos sentimentos, que por certo são communs.
Eu proponho, pois, «que a camara subscreva com um dia de subsidio, em favor das victimas do incendio no theatro Baquet do Porto, e dos inutilisados n'essa catastrophe». (Apoiados geraes.)
Antes de terminar, permitta-me v. exa. que eu me refira ainda a outro assumpto em poucas palavras.
Sr. presidente, em janeiro ultimo, requeri eu uns documentos relativos á questão dos tabacos, e entre esses documentos, pedi nota do resultado da administração das fabricas por conta do governo até 31 de dezembro. O sr. ministro da fazenda, em officio que acompanhava a remessa de alguns d'esses documentos, acrescentava que mandaria depois os restantes.
Veiu o balancete dos mezes de outubro e novembro da administração provisoria do estado nas fabricas de tabacos da companhia nacional, mas falta o balanço geral do anno; e este elemento é absolutamente indispensavel para se poder apreciar qual o resultado da administração provisoria do estado.
Rogo por isso a v. exa. queira instar com o sr. ministro da fazenda para que me seja remettido sem demora o balanço feito em 31 de dezembro de 1887, de todas as fabricas de tabaco administradas por conta do estado. É inverosimil que no mez de março ainda esse balanço não possa ser enviado á camara.
Espero tambem que v. exa., sr. presidente, comprehendendo como este elemento de estudo é indispensavel para a discussão da questão de tabacos, não fará discutir o respectivo projecto sem que estejamos habilitados com os dados positivos e seguros sobre o resultado da administração por conta do estado.
Por ultimo peço aos srs. ministros presentes a fineza de dizerem ao seu collega da fazenda que eu desejava conversar com s. exa. sobre o fornecimento de pannos para a policia fiscal, e sobre uns celebres annuncios para um celebre concurso, a que já n'uma das ultimas sessões tive ensejo de alludir.
Como v. exa. vê, demorei-me o menos possivel; mas sinto que, no cumprimento do meu dever, não podesse alongar-me no uso da palavra para responder mais desenvolvidamente ás considerações feitas pelo nosso Jules Favre portuguez.
(S. exa. não reviu as notas tachiygraphicas.)
O sr. Antonio Candido: - (O discurso será publicado em appendice, quando s. exa. o restituir.)
Leu-se na mesa a seguinte:
Proposta
Proponho que a camara subscreva com um dia do seu subsidio em favor das familias das victimas do incendio do theatro Baquet do Porto, inutilisadas na catastrophe. = O deputado pelo Porto, João M. Arroyo.
Approvada por acclamação.
O sr. Marçal Pacheco: - Agradeço á camara a benevolencia que teve para commigo, consentindo que eu fallasse n'esta altura da sessão.
Para corresponder a essa deferencia, não usarei da palavra por muito tempo e limitar-me-hei ao indispensavel para explicar o fim para que a pedi.
Fui precedido pelo sr. Arroyo na proposta que tencionava apresentar a v. exa. e á camara. Concordo, portanto, com ella; e agora desejo apenas propor, como additamento, que os deputados que não recebem subsidio, por terem