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APPENDICE A SESSÃO DE 23 DE MARÇO DE 1888 886-A

Por ter saído com algumas inexactidões, novamente se publica o seguinte discurso.
O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Barros Gomes): - A minha resposta tem de ser, felizmente, muito contraria a tudo quanto o sr. deputado José de Azevedo Castello Branco havia imaginado.
O sr. José de Azevedo Castello Branco: - Ainda bem.
O Orador: - S. exa. declarou que ia fazer um requerimento, a que suppunha eu não podia satisfazer, ou antes não querei ia, por me não convir satisfazel-o, entrincheirando me para isso atraz das reservas diplomaticas, com que já em outra occasião havia respondido quando se fallára sobre este assumpto.
Longe d'isso, porém, posso communicar-lhe, e desde já, uma decisão que de certo lhe será agradavel; posso n'este momento affirmar ao sr. deputado que espero e diligenceio, para o que ainda hontem e hoje os estive cuidadosamente coordenando, fazer publicar os documentos relativos ás negociações com o Zanzibar até á sua ultima phase, a fim de trazel-os ainda n'esta sessão á camara.
Declaro mais a s. exa. que, se deseja a apresentação d'estes documentos ao parlamento, os desejos do governo a tal respeito não são menores. Todavia o que não posso é guiar-me na publicação de documentos diplomaticos, pelas minhas conveniencias individuaes, nem pelo desejo de qualquer membro d'esta casa de só esclarecer ácerca de um facto determinado. Tenho que attender ás exigencias que me impõem as relações internacionaes e nada posso publicar, emquanto não tiver accordado com as outras nações, os termos e o momento em que tal publicação é mais conveniente.
Como me consta agora que os documentos relativos a essa negociação vão ser apresentados em um dos parlamentos estrangeiros a que elles interessam, e a esse respeito já mesmo foi consultado o governo portuguez, posso, desprendido das attenções que até agora me tolhiam, dar conta de mim á camara e ao paiz, o que muito desejo, e com o que não me assusto nem me afflijo. (Apoiados.)
Entretanto devo ainda acrescentar que não posso nem devo publical-os sem, como igualmente é de uso e como se procedeu para commigo, consultar ácerca do alguns d'elles por meio dos nossos ministros respectivos os governos com quem têem corrido essas negociações e tambem os representantes d'esses mesmos governos em Lisboa. Isso levará algum tempo, mas espero, confio e desejo poder trazer ainda n'esta sessão á camara a historia das negociações havidas ácerca de Zanzibar e que precederam e se seguiram á occupação do Tungue, região que, apesar da supposta situação desgraçada do governo n'esta questão, continua em poder de Portugal, administrada por auctoridades portuguezas, cobrando-se n'ella impostos para Portugal e existindo ali forças militares portuguezas. (Apoiados.)
Trarei, pois, á camara, entre outros, os documentos que o illustre deputado pediu, e á face d'elles poderá s. exa. então apreciar a maneira como o governo procedeu n'esta delicadissima questão. E devo dizer que não antecipei, nem antecipo a remessa dos documentos ácerca da entrega do vapor Kilwa, porque esse facto está de tal fórma ligado com o conjuncto das negociações, que eu não os posso destacar, ainda que quizesse, dos que historiam outras phases da mesma pendencia.
Não se poderia apreciar os motivos por que o governo procedeu, como procedeu, se não se conhecesse a situação em que elle se viu collocado e se não se podesse projectar sobre esse facto, a luz resultante de tal conhecimento.
E dito isto, devo agora rectificar uma asserção, de certo involuntariamente, menos exacta, apresentada pelo illustre deputado, de que eu havia asseverado na camara dos dignos pares, que não fôra boa presa de guerra a do vapor Kilwa.
Peço perdão, eu nunca disse similhante cousa.
Disse que era assumpto que podia ter-se contestado, como se contestou, se deveria ser ou não considerado boa presa, visto não ter havido declaração de guerra. A opinião do governo não a dei n'aquella camara.
Portanto a qualquer sobresalto, que se levantasse no espirito patriotico do paiz a este respeito, ponha-se ponto com esta minha declaração.
Mais uma vez se repetiu aqui hoje contra mim a accusação de eu haver levantado em occasião extemporanea uma discussão diplomatica, promovendo uma interpellação ao governo de então, quando estava correndo a conferencia de Berlim, onde se discutiam assumptos que prendiam com o da minha interpellação.
Devo dizer que ainda n'isto se manifesta equivoco, pois, eu não dirigi nenhuma interpellação ao governo. Por occasião da resposta ao discurso da corôa entendi dever discutir, não uma questão diplomatica que estava pendente, mas uma outra que estava perfeitamente finda, (Apoiados.) e ácerca da qual tinham sido distribuidos á camara grossos volumes de documentos.
O que discuti, analysei e apreciei foi a negociação do tratado de 1884 feito com a Inglaterra ácerca do Zaire. Este tratado não fôra ratificado nem por Portugal, nem pela Inglaterra. As negociações estavam findas, e ácerca d'ellas tinham-se apresentado ao parlamento todos os documentos diplomaticos, que lhes diziam respeito. E foi fazendo uso d'esses documentos que eu discursei, abstendo-me cautelosamente de me referir á conferencia de Berlim. Se a taes documentos se não podia alludir, para que se fizera a sua distribuição pelos membros das duas camaras? (Apoiados.)
Allegou tambem s. exa. a minha infelicidade diplomatica. Tenho bons desejos e trabalho muito, mas sou infeliz. Disse-me, porém, s. exa. alguma cousa que chegaria a lisonjear profundamente a minha vaidade, se a experiencia da vida o do mundo me não levasse a combater essa tendencia inata em quasi todos nós, e foi que depois do sr. duque de Palmella ninguem tem trabalhado tanto no ministerio dos negocios estrangeiros.
E era caso para ficar realmente satisfeito com esta censura; é verdade que sou muito infeliz, mas invocar como comparavel sob qualquer aspecto com a minha modesta personalidade o nome do sr. duque de Palmella, d'esse insigne diplomata, notavel entre os mais notaveis, que mostrou no andamento das negociações mais delicadas o seu vasto alcance intellectual e a suprema arte que tinha de tratar com os homens, e de abranger os assumptos mais importantes, citar o nome do duque de Palmella para estabelecer entre mim e s. exa. uma comparação como diplomata, embora infeliz, era esse de certo um facto bem proprio para lisonjear a minha vaidade.
Não posso, pois, deixar de agradecer similhante apreciação tão inesperada para mim, e que, repito, não deixaria de me lisonjear, se a prudencia me não estivesse acautelando contra os perigos d'essa lisonja. Mas sou muito infeliz!
Por exemplo, aquelle tratado com a Allemanha foi realmente uma cousa, que me parece até já ter ouvido classificar de indecorosa, e com outros adjectivos verdadeiramente extraordinarios, para uns foi um erro, para outros um tratado indecoroso, e ainda para outros «um desafôro», refiro-me a um jornal muito importante, por ser o orgão official do partido a que pertence o illustre deputado; emfim, como disse, com os adjectivos e qualificações mais proprias para acabrunhar a consciencia de um homem.
Todavia eu podia bem com tudo isto, porque me parecia que não era realmente tamanha a minha infelicidade. (Muitos apoiados.)
Veja-se, pois, aquelle tratado com a Allemanha, que foi uma grandissima vergonha e em que nós perdemos, segundo li n'um jornal do Porto, que se fazia echo das asserções

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