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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Osorio de Vasconcellos proferido na sessão de 23 do corrente, que deveria ler-se a pag. 715, col. 2.ª

O sr. Osorio de Vasconcellos: — Sr. presidente, conta-se de Platão, que dormindo a sesta á sombra de uma arvore annosa, descera do monte Himeto uma abelha e viera pousar-se-lhe sobre os labios e n'elles deixara todo o seu mel, toda a sua doçura.

A lenda popular e a narrativa crendeira dos biographos inferiram que foi a este osculo amoravel que o philosopho grego deveu toda a suavidade, toda a poesia, toda a doçura, toda a harmonia, todas as blandicias, todos os requintes de estylo e linguagem, que são e bio de ser eternamente o caracteristico mais bello, mais formoso e mais saliente das obras legadas por aquelle homem que foi denominado o divino; por aquelle que nos mesmos mysterios da religião christã se antecedeu a Jesus Christo.

Jamais, como n'esta occasião, sr. presidente, eu quisera ter estes dotes de suavidade e brandura para rastrear o divino philosopho.

Jamais, como agora, eu quizera ter palavras que não ferissem nem de leve os membros que compõem o ministerio, porque a todos eu respeito, porque a todos eu considero.

Eu quero, e é esse o meu firme proposito, desprenderme de tudo quanto tenha caracteristico pessoal e aggressivo; de tudo que possa ser tomado como offensa aos cavalheiros, que se sentam n'aquelles bancos (apontando para o banco dos srs, ministros).

Quero abster-me completamente dos homens para os considerar como ministros do paiz, porque eu estabeleço uma cabal differença entre o homem publico, o ministro, mais alto e responsavel funccionario e o homem particular, o cavalheiro (apoiados).

E essa differença, sr. presidente, é tal e tão grande que não admitto que de motu proprio e caso pensado seja licito a alguem o transpo-la e o esquece-la.

Apesar, porém, d'estes bons desejos, apesar de todos estes protestos, talvez possa acontecer que ainda assim s. ex.as se julguem atacados pessoalmente, quando não é, nem póde ser esse o meu intuito; lembremo-nos então, para desculpar qualquer offensa que escape ao meu criterio, do dito do grande mestre:

«Amo in adolescente quod ressecari possit.»

Já para mim vae longe o periodo da adolescencia; mas é possivel que por cá me ficassem antigas fervencias restos d'aquelles fluxos seivosos, que já não voltam. Bom é porém que nos moços haja alguns excessos, sobre que se exercite a acção do tempo.

Eu não teria tomado a palavra n'este debate, apesar de haver assignado vencido em parte o parecer, que se discute, se n'uma sessão, que não vae longe e cujo transumpto está na memoria de todos, eu me não sentisse obrigado, pela consciencia, a dirigir mui cautelosamente uma pergunta ao sr. presidente do conselho. Verdade é que s. ex.ª, em guisa de resposta, respondeu-me com uma apostrophe vehemente, e inteiramente immerecida e por conseguinte deslocada e impropria.

Não se julgue todavia, e eu desde já acautello este ponto, que eu venho enfatuado e cheio de philancia, alevantar essa apostrophe pessoal e por isso mesmo indigna de occupar a attenção da assembléa.

O meu fim immediato e restricto é mostrar que eu tinha rasão quando então fiz a pergunta, e que hoje poderia estar satisfeito porque me deu rasão o tempo e deram-me rasão