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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Emfim s. ex.ª tem o dom da ubiquidade; s. ex.ª está em toda a parte ao mesmo tempo. Eu ouvi dizer alguma cousa mais; ouvi dizer a um praguento: « Por um pouco que s. ex.ª não tem as botas das sete leguas!...» (Riso)

Com effeito, ao ver desenvolver esta actividade, que a final não se traduz em factos phenomenaes, se o ser reformista consiste n'isto, não nego que o sr. marquez d'Avila e de Bolama é o maior reformista d'este paiz, ou antes o unico reformista, comquanto não queira offender ninguem.

E direi até mais. S. ex.ª não é o unico reformista d'este paiz; s. ex.ª é o maior homem d'este mundo; s. ex.ª é um homem que só por si constitue um milagre; s. ex.ª é um thaumaturgo; s. ex.ª é um paracleto (riso).

Dizia Milton:

«The world has never known its greatest men.»

Isto é, o mundo jamais conheceu os seus maiores homens.

Ora, na verdade, se Milton tivesse vivido no anno da graça de 1871, em que o sr. marquez d'Avila e de Bolama favorece este paiz com a sua iniciativa e actividade nunca desmentidas, jamais houvera proferido similhante heresia, porque é uma heresia desconhecer os altos merecimentos e as altas qualidades governativas de s. ex.ª

S. ex.ª disse: eu guardei os meus principios, e já servi com o sr. Joaquim Antonio de Aguiar, já servi com o sr. conde de Thomar, já servi com o sr. duque de Loulé. Verdade é que lhe esqueceu dizer que tambem tinha servido com o sr. bispo de Vizeu. Provavelmente foi o sr. bispo de Vizeu que serviu com s. ex.ª, por isso mesmo que o sr. bispo de Vizeu era o chefe do partido que apoiava o sr. marquez d'Avila e de Bolama.

Eu tenho servido com estes homens, disse s. ex.ª Mas o que são estes homens, pergunto eu muito humildemente?

O sr. Joaquim Antonio de Aguiar é aquelle homem, é aquelle venerando ancião, que tem o nome dos mais gloriosos da historia contemporanea (apoiados). O sr. Joaquim Antonio de Aguiar é o mata frades, e este nome, para mim, resume uma apotheose (apoiados).

O sr. conde de Thomar foi o chefe do partido conservador, póde-se dizer do partido melhor organisado que tem havido n'este paiz. Foi um homem de caracter tão rigido e de tempera tal, que difficilmente se curvava a qualquer outro homem. Parece-me que é este o retrato que a historia contemporanea dá ao sr. conde de Thomar (apoiados).

O sr. duque de Loulé é um homem tambem muita respeitavel, é um vulto, um estadista de altas qualidades, que tem no seu partido uma tradicção gloriosa, e que por isso difficilmente se curvaria tambem ao sr. marquez d'Avila e de Bolama.

Estes tres grandes homens, que o são, principalmente, quando comparados á geração actual; estes homens de certo foram vergar se, curvar-se, abjurar de todos os seus principios nas aras aonde o sr. marquez d'Avila e de Bolama estava entoando a si mesmo um eterno louvor. Foram todos lá, porque estes homens que são antagonicos entre si, que não têem um ponto de contacto commum, e cada um d'elles representa uma politica propriamente sua, curvaram-se perante o sr. marquez d'Avila, que guardou os seus principios. Isto, sr. presidente, é de uma modestia incomparavel, nunca vista, que eu sempre tenho admirado no illustre presidente do conselho. Não foi portanto o sr. marquez d'Avila que serviu com aquelles homens, aquelles homens é que foram servir com o sr. marquez d'Avila, e foram elles que renegaram os seus principios e o seu credo.

Isto mesmo aconteceu pelos modos com o sr. bispo, representante e chefe do partido reformista.

O sr. Barros e Cunha - Apoiado.

O Orador: — S. ex.ª diz apoiado, e eu digo exactamente o contrario; e n'esta parte discordo completamente de s. ex.ª; porque, se o partido reformista tivesse renegado o seu crédo, o partido reformista de certo que estava a dar apoio ao sr. marquez d'Avila e de Bolama: e eu como membro d'esse partido estava a dar tambem esse apoio. Mas eu que me considero reformista não dou tal apoio ao sr. marquez d'Avila, como se vê d'este mal alinhavado discurso.

(apoiados.)

Sr. presidente, o sr. marquez d'Avila para em tudo se antepôr ao sr. ministro da marinha na commissão de fazenda, e aqui na camara, respondendo me, tinha dito que aquellas economias eram de conformidade com o governo, e principal e exclusivamente com s. ex.ª Pois a mesma cousa aconteceu quando impoz a sua personalidade ao seu collega da marinha, na resposta que deu ao sr. Latino Coelho. E agora, sr. presidente, chagou a vez de demonstrar como o illustre presidente do conselho teve artes de levantar a questão politica.

O sr. marquez d'Avila e de Bolama veiu no seu discurso offender e atacar não o sr. Latino Coelho, como deputado, senão nos seus actos que tinha praticado como ministro da marinha, actos que tinham sido de todos os membros que compunham o ministerio de que s. ex.ª fazia parte; porque n'esse ministerio havia solidariedade ministerial, pensamento commum, cousa que não existe agora.

Ora d'esses actos são responsaveis não só os homens que compunham o governo, mas todos aquelles que tinham assento n'esta camara e que os defenderam e votaram.

E foram igualmente responsaveis aquelles, que fóra d'esta casa, na imprensa e em todas as tribunas, sustentaram o ministerio Sá-Vizeu.

Eu fui um dos ultimos. Eu defendi essa situação, uma das mais proficuas, zelosas e reformadoras do que ha memoria nos fastos constitucionaes. (Apoiados.) Todos nós, pois, somos responsaveis d'esses actos; todos havemos de defende-los e por isso n'essa defeza a estamos todos em opposição ao sr. marquez d'Avila e de Bolama, que os aggride.

O sr. Luiz de Campos: — Apoiado.

O Orador: — E aqui está, sr. presidente, como o illustre presidente do conselho fez surgir inhabilmente uma questão politica da sua defeza.

Sr. presidente, eu assisti a uma scena que na realidade me compungiu.

Quando o sr. Latino Coelho apresentou as perguntas que fez categoricamente ao sr. ministro da marinha, para que s. ex.ª em nome do governo lhe respondesse, era a elle, principalmente a elle, que competia responder, porque era negocio da sua repartição. Eu ouvi então o sr. marquez d'Avila dizer: «a mim é que me compete responder», e travou-se uma especie de luta sobre os direitos de prioridade.

Ainda fez mais o illustre presidente do conselho. No dia seguinte disse que essas perguntas já tinham sido respondidas pelo proprio sr. ministro da marinha dois dias antes. D'aqui conclui que, se o sr. marquez d'Avila e de Bolama é ubiquo, o seu collega da marinha é advinho (riso).

É na verdade um ministerio impagavel!

Eu, se porventura estivesse no caso do sr. Mello Gouveia, ministro da marinha, havia de relutar contra a vaidade suprema do sr. marquez d'Avila. Eu ainda que houvesse de ser precipitado nos abysmos da eterna soledade, como Lucifer, havia de responder em primeiro logar, e ninguem ousaria impor me silencio.

O sr. Pereira Bastos: — Apoiado.

O Orador: — Sr. presidente, vou terminar este desalinhado discurso; vou terminar estas poucas palavras. Não posso porém encerrar as minhas reflexões sem, ainda uma vez, chamar a attenção de v. ex.ª e de toda a assembléa para o desejo sincero e ardente que tem o partido reformista de que todos os orçamentos se discutam (apoiados).

Tenha o governo iniciativa, apresente-se o governo á frente d'esta cruzada santa, seja o Pedro Eremita d'ella, e conte que ha de ter sectarios e homens dedicados, que não o hão de deixar ficar mal (apoiados).

Mas se o governo não usa da sua iniciativa, e teima em nada fazer, não conte então commigo, não posso acompa-