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SESSÃO N.° 52 DE 10 DE ABRIL DE 1902 3

Julho............................. 21,60
Agosto........................... 22,44
Setembro...................... 22,03
Outubro......................... 20,30
Novembro..................... 18,69
Dezembro..................... 17,42

Por aqui se vê a benignidade e principalmente a uniformidade da temperatura na Ilha da Madeira. (Apoiados). O celebre medico francês Jacoud de quem já falei, frisando a circumstancia de a Ilha da Madeira possuir simultaneamente as vantagens dos climas das planicies e dos climas das altitudes assegura que ella constitue uma estação climaterica como nenhuma outra.

Ora, Sr. Presidente, não desprezemos esta riqueza natural que a Providencia nos concedeu e procedamos aos estudos necessarios para d'ahi se poder tirar as maiores vantagens em proveito da nossa economia e em proveito da humanidade enferma. (Apoiados).

Sr. Presidente: eu li uns notaveis artigos publicados na Semaine Médicale do illustre professor Jaquet, da faculdade de medicina de Bâle, acêrca da acção physiologica do clima de altitude, e devo confessar a V. Exa. e á Camara que produziram no meu espirito uma profunda impressão as affirmações ou as conclusões a que modernamente a sciencia tem chegado no estudo, na investigação dos phenomenos passados no nosso organismo quando estamos submettidos a uma pressão atmospherica menor.

Diz o Dr. Jaquet que o facto simples da diminuição de 100 millimetros de pressão atmospherica é sufficiente, sem o concurso de nenhum outro factor, para determinar no nosso organismo um augmento na quantidade total de hemoglobina de cêrca de 20 por cento.

Sr. Presidente: eu não desejo abusar da Camara tratando assumptos que não são da minha especialidade, e que só os verso como mera curiosidade, falando nelles apenas para affirmar a V. Exa. e á Camara quanto eu reputo importante tudo quanto se puder fazer no nosso país para a implantação de sanatorios (Apoiados), para nos subtrahir a esse fôro que somos obrigados a pagar ao estrangeiro (Apoiados) mandando para lá os nossos doentes.

É por isto, Sr. Presidente, que eu reputo um benemerito o meu velho e querido amigo Alfredo Cesar Henriques, que com uma tenacidade heroica, e com a alma abrasada por uma crença pura, lá edificou na Serra da Estrella o primeiro sanatorio que possuimos para tuberculosos.

É uma divida de gratidão que elle paga á montanha que lhe deu saude, e eu neste momento, Sr. Presidente, evocando a memoria do chorado professor Sousa Martins, o sabio propugnador do aproveitamento do clima da Serra da Estrella como meio therapeutico, recordo que Cesar Henriques erigindo, na serra, um padrão á memoria de tão grande homem de sciencia, que é orgulho de todos nós, fez como os nossos antigos navegadores que attestavam a passagem da civilização esculpindo na pedra a lembrança eterna do valor do nome português. (Apoiados).

E sabe V. Exa. e a Camara que no anno passado já o Sanatorio da Serra da Estrella deu hospitalização a 40 doentes, por não ter espaço para mais, isto é, por não estar concluido.

E se esses 40 doentes tivessem ido para Davos-Platz, e calculando que apenas gastavam nos transportes e na hospedagem, o minimo que poderiam despender em 4 meses seria 20 contos de réis em ouro. Quer dizer, o Sanatorio da Serra da Estrella, beneficiando extraordinariamente os nossos doentes, evitou o escoamento de réis 20:000$000 em ouro, pelo menos, para o estrangeiro.

Quando um dia estiver concluido, as vantagens materiaes serão muito maiores.

E seja-me licito, Sr. Presidente, nesta altura do meu discurso, eu felicitar o nobre Ministro das Obras Publicas, que sinto não o ver presente, pelo incremento que já mandou dar á estrada que da Covilhã vae para o Grande Hotel dos Herminios, que é o nosso sanatorio, estando S. Exa. empenhado na conclusão d'essa estrada, sem a qual nem pode ser concluido o sanatorio nem podem os doentes ter meio commodo e facil de transporte para a Serra.

O Sr. Ministro das Obras Publicas procedendo como procedeu merece as homenagens de todos quantos se interessam pelo desenvolvimento da riqueza do nosso país, que trabalha para libertar-se d'essa terrivel drenagem do nosso ouro para o estrangeiro. (Apoiados).

Pela minha parte é com inteira satisfação que presto a S. Exa. os testemunhos da minha sincera homenagem.

Sr. Presidente: por todas estas razões julgo que muito tambem terá a lucrar a economia nacional com os estudos a que o Governo deve, sem demora, mandar proceder nas montanhas da Madeira, onde já existe um posto meteorologico, como já disse, restando apenas aproveitá-lo.

As circumstancias especialissimas d'aquella formosa ilha indicam e fazem prever que um sanatorio nas proximidades do Pico do Arieiro, convenientemente bem instalado, chamaria ali uma enorme concorrencia de nacionaes e estrangeiros, seria uma fonte de riqueza e mais um logar privilegiado, mais uma estancia abençoada onde a humanidade enferma encontraria allivio e as mais das vezes cura. (Apoiados).

Não desejando cansar a attenção da Camara, vou terminar as minhas considerações pedindo a S. Exa. o Sr. Ministro da Justiça, que está presente, para que insista com o Sr. Ministro das Obras Publicas, a fim de que S. Exa. attendendo ás reclamações da parte pensante e illustrada da cidade do Funchal, ás condições climatericas da Ilha da Madeira, á excepcional belleza das suas paisagens, á fertilidade do seu solo, ao imprevisto das suas montanhas recobertas de uberrima vegetação, mande proceder sem demora aos estudos meteorologicos da serra, como base primacial e indispensavel á implantação do sanatorio, que deve ser da iniciativa particular, mas que é em todo o caso sempre da maior importancia. (Apoiados).

Reclama esta medida um dever de humanidade, um dever de patriotismo (Apoiados) e impõe-se como um encargo da civilização. (Apoiados).

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O Sr. Ministro da Justiça (Campos Henriques): - Sr. Presidente: pedi a palavra unicamente para dizer ao illustre Deputado que acaba de falar, que ouvi com toda a attenção as muito justas e judiciosas considerações que S. Exa. acaba de fazer e communicá-las-hei ao meu collega, para que dentro das forças do Orçamento, mande proceder aos estudos que S. Exa. deseja.

O Sr. Rodrigues Ribeiro: - Pedi a palavra para mandar para a mesa uma representação de Carlos Theriaga, importante proprietario na villa de Pernes, do concelho e districto de Santarem, em que pede um beneficio para a sua industria.

Consiste a industria d'este proprietario na exploração e fabrico de varios instrumentos agricolas e mecanicos.

Foi esta industria estabelecida ainda no tempo de Marquês de Pombal, e teve a protecção d'aquelle illustre estadista, porquanto foi fomentada á sombra de um subsidio annual de 5:000$000 réis, concedido pelo Estado, e com artistas da especialidade do fabrico mandados vir da Italia.

Vivem d'esta industria de instrumentos agricolas dezenas de familias de um pequeno e pittoresco logar, a villa de Pernes, e, com os redditos provenientes da mesma industria, se teem alimentado, ainda mesmo durante os rigores do inverno, e especialmente nestes ultimos annos.

As familias d'esse pequeno logar ahi teem negocios, e auferem beneficios, vivendo muitas exclusivamente da applicação da sua actividade na fabrica.

É tão importante esta industria, Sr. Presidente, que tem um movimento annual de £ 10:000. Este movimento