948 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
O sr. Vicente Monteiro: - Na altura que v. exa. entender.
O sr. Consiglieri Pedroso: - Fez-se alguma moção?
O sr. Presidente: - Não, senhor; houve apenas a manifestação da opinião do sr. relator.
O sr. José de Azevedo Castello Branco: - Tem muito valor, mas não serve para o caso.
O sr. Arouca: - Pedi a palavra na sessão de hontem quando o sr. deputado Elvino de Brito, respondendo ás observações apresentadas pelo sr. Fuschini, entendia dever apreciar, embora em poucas palavras, o incidente que se havia dado entre dois illustres membros d'esta camara. Por essa occasião disse o sr. Elvino de Brito que o fraccionamento das opposições parlamentares se havia manifestado já por duas vezes no parlamento.
om o mesmo direito com que s. exa. se referiu ás opposições parlamentares, apreciarei eu as suas palavras e as conclusões que s. exa. d'ellas queria tirar; e tambem com igual direito apreciarei o fraccionamento que se dá na maioria parlamentar e a contradicção que se nota no procedimento de alguns illustres deputados da maioria, se compararmos o seu procedimento na sessão passada com as suas opiniões n'esta sessão.
O fraccionamento das opposições parlamentares ha de dar se necessariamente quando no parlamento estiverem representados diversos partidos políticos, e esse fraccionamento ha de ser tanto maior, quanto mais ampla for a legislação eleitoral e maior a possibilidade d'esses partidos, ou grupos, serem representados n'esta casa. (Apoiados.)
Se o illustre deputado quiz fazer notar ao paiz que as palavras trocadas entre dois illustres deputados mostravam que a opposição estava dividida em diversos grupos, era desnecessario que tivesse havido n'esta casa uma discussão qualquer entre dois illustres membros da opposição.
Todos sabem que se deu o fraccionamento do partido regenerador, quando foi acclamado por uma grande maioria d'esse partido seu chefe o sr. Antonio de Serpa.
O sr. Marçal Pacheco: - Ninguem viu a maioria do partido regenerador acclamar o sr. Serpa.
O Orador: - É uma questão de opinião de s. exa. A opinião de s. exa. póde ter muito valor, mas é uma opinião individual.
O que não póde ser contestado é um facto visto e apreciado por todos. (Apoiados.)
Se s. exa. e os seus amigos constituíssem a maioria do partido regenerador, teriam feito proclamar chefe d'esse partido quem s. exa. tivessem querido.
O sr. Marçal Pacheco: - Isso é conforme.
O Orador: - As maiorias fazem sempre isso; são ellas que governam.
(Interrupção do sr. Marçal Pacheco que se não ouviu.}
Ahi está s. exa. querendo que eu me afasto da ordem de considerações que estava fazendo.
O sr. Marçal Pacheco: - Eu não quero nada, mas tenho o direito de emittir a minha opinião.
O sr. Franco Castello Branco: - Simplesmente quero fazer notar o seguinte facto. Desde que se iniciou a questão do tabaco, s. exa. que nos tinha acompanhado, separou-se de nós. (Apoiados.}
O sr. Marçal Pacheco: - Ou eu tinha acompanhado s. ex.ªs, ou s. ex.ªs me tinham acompanhado a mim. (Apoiados.}
O sr. Franco Castello Branco: - Fica de pé a minha observação de que os tabacos nos separaram.
O sr. Marçal Pacheco: - Não foi o tabaco, foi o sr. Antonio de Serpa.
O Orador (o sr. Arouca): - Sr. presidente, quando uma grande maioria do partido regenerador, e affirmo outra vez, porque é a verdade, e eu não digo senão a verdade... (Apoiados.)
O sr. Marçal Pacheco: - Eu contesto.
O Orador: - S. exa. não póde contestar, porque não contesta nenhum homem que queira dizer só a verdade. (Apoiados.)
S. exa. podia ter visto primeiro dentro da representação parlamentar, segundo fóra da representação parlamentar, o ainda outro dia houve grandes manifestações de que grande maioria do partido regenerador tinha acclamado chefe o sr. Serpa Pimentel. (Apoiados.)
O illustre deputado está no seu direito de contestar, mas o paiz é que ha de ver de que lado está a rasão. (Apoiados.}
Por isso, repito outra vez, quando a grande maioria que se manifestava, não só pela adhesão de muitos cavalheiros que tinham logar no parlamento, mas pela adhesão de muitos que fazem parte do partido regenerador, acclamou chefe o sr. Antonio de Serpa, deu se uma sessão no partido regenerador, separando-se o sr. Barjona de Freitas e formulando o programma politico de um partido que se intitula esquerda dynastica.
(Interrupção do sr. Marçal Pacheco que não se ouviu.)
Se s. exa. tem muito empenho em que eu lhe responda de outra maneira, eu respondo. Não tenho a mais pequena duvida.
O sr. Marçal Pacheco: - Como quizer.
O Orador: - Se s. exa. não tem empenho em ter commigo uma questão pessoal, deixe-me fallar, porque eu não digo senão a verdade.
O sr. Marçal Pacheco: - Se v. exa. me dá licença, eu interrompo-o para uma explicação.
Eu não quero fazer questões pessoaes com v. exa. nem com outro qualquer membro do parlamento, mas não as evito por fórma nenhuma que me fique desairosa, quando alguem as quizer fazer commigo. (Apoiados.)
Isto em primeiro logar.
Em segundo logar, digo que contesto um facto, e não contesto de nenhum modo a convicção de v. exa.
Acredito profundamente na lealdade com que v. exa. está fazendo as suas declarações e reclamo para mim o mesmo direito. (Apoiados.)
V. exa. está convencido de que foi a maioria do partido regenerador que acclamou o sr. Serpa, eu estou convencido de que esta não é a verdade; mas entre a minha opinião e a de v. exa. os juizos do publico avaliarão. (Apoiados.}
Isto de modo nenhum vae o ferir a dignidade pessoal do illustre deputado, como a contestação, por parte do illustre deputado, parece-me que não fere a minha.
O Orador: - Nós já tinhamos passado este ponto.
Quando eu estava dizendo que alguns cavalheiros do partido regenerador se separaram do partido regenerador, tendo á testa o sr. Barjona de Freitas, que formulou o programma de um partido que intitulou esquerda dynastica foi n'este ponto que s. exa. me interrompeu, e eu não tive tempo de dizer que o sr. Marçal Pacheco, que ao principio tinha ido com o sr. Barjona, depois se conheceu que não estava, nem com o sr. Barjona, nem com os seus amigos; estava sósinho, como deputado independente que é o tem mesmo desejos de ser.
Por consequencia s. exa. interrompeu-me n'essa occasião e eu não vejo conveniencia que n'uma questão dê certo melindre se façam interrupções, não porque não sejam permittidas, mas porque as interrupções podem dar logar a que as questões tomem um caminho que não devem tomar. (Apoiados.)
Eu, pela minha parte, tenho bastante pendencia, sei medir as palavras, para não dizer nada que possa offender nem melindrar ninguem; mas sei perfeitamente pôr cobro a tudo quanto eu entender que sáe d'um certo limite, e que não deva ser tolerado por mim.
Mas eu tinha dito e sustento que os fraccionamentos da opposição não representam senão diversidade de idéas; o facto de estarem representados na opposição parlamentar muitos grupos políticos não póde ter a significação política