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964 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. deputado tara a sua declaração, para eu o inscrever em harmonia com o regimento.
O sr. Fuschini: - Então v. exa. obriga-me a dizer que sou contra o projecto em discussão.
O sr. Presidente: - Como explicação devo dizer ao illustre deputado que, se s. exa. tivesse reclamado, logo depois de lida a inscripção, de certo teria sido attendido pela mesa, porque eu nunca desejo preterir nenhum dos senhores deputados que tenham pedido a palavra.
Assim succedeu, não ha muito, com o sr. Laranjo que foi attendido, como a camara se lembrará, na reclamação que apresentou apenas ouviu ler a inscripção, passando por isso para o primeiro logar; e sempre assim succederá quando a reclamação for justa e apresentada a tempo.
Tem o sr. Fuschini a palavra contra o projecto.
O sr. Fuschini: - Haverá cerca de dois mezes que, a proposito da ultima crise política, se avançou nesta camara a proposição de que as obras do porto de Lisboa se não podiam realisar, porque obrigavam a despezas avultadas, n'uma epocha em que os nossos fundos tinham baixa cotação.
Eu não quero entrar presentemente na discussão de assumptos, que se refiram ao porto de Lisboa; para mais tarde me reservo levantar esta questão pela férma que entender conveniente; mas, devo fazer notar a camara que então os fundos públicos se achavam cotados em Londres a 46, e actualmente se acham cotados a 44.
Parece-me, pois, que a mesma rasào que determinou, segundo se affirmava, o adiamento da discussão do projecto dos melhoramentos do porto de Lisboa, deve igualmente subsistir para o actual projecto com tanta mais rasão com quanta, não só é a mesma, mas ainda mais accentuada; em boa logica deve tambem servir para obstar á discussão e á votação, n'este momento, de um projecto de lei que envolve despeza importante. (Apoiados.)
É possivel que a isto se pretenda responder dizendo: que o projecto do porto de Lisboa exigia 15.000:000$000 réis, e portanto uma annuidade do 300:000$000 réis ou 400:000 réis, admitindo ainda as compensações de despeza e os rendimentos das docas, armazéns, etc., etc.; emquanto que a concessão presente exige apenas uma annuidade do 75:000$000 réis, quantia em que o sr. relator calculou os encargos do primeiro anno da concessão.
É certo, mas certo é tambem que não se póde comparar de fórma alguma a importancia das obras do porto de Lisboa com a importancia, que é aliás grande, de um cabo telegraphico para as nossas possessões de Africa; mas ainda é exacto tambem que o porto do Lisboa não é um projecto de uma só e unica peça, e que se compõe de elementos que podem ser successivamente construídos.
Uma annuidade de 75:000$000 réis, mesmo estando a cotação aos nossos fundos a 44, produz mais de réis 1.000:000$000, somma sufficientissima para se construir, em optimas condições, um estaleiro de construcção e de reparação ao sul do Tejo.
Mais ainda; então, quando se ventilou a opportunidade da discussão do projecto dos melhoramentos do porto de Lisboa, a descida dos nossos fundos, segundo todas as probabilidades, era devida a um jogo occulto, proveniente do conflicto de duas parcialidades argentarias e importantes que se combatiam.
Esta baixa ficticia desapparecera eram as caudas anormaes e transitorias que a produziram; emquanto que a baixa actual póde ser verdadeira, e grave, attentas as origens muito serias d'onde deriva.
É manifesto que entre duas potencias europêas pondo hoje uma questão gravissima; refiro-me a questão do oriente entre a Russia e a Inglaterra.
Não é facil fazer provisões ácerca da política da Europa quando ella está ainda entregue á vontade soberana dos chancellers e é conduzida pelo interesse exclusivo das corôas, ha de ser possivel mais tarde fazel-as quando a política for, não dos imperadores e dos chancelleres, mas dos povos e das nações...
O sr. Consiglieri Pedroso: - Apoiado.
O Orador: - O que não impede que o sr. Ferry, presidente do conselho de ministros da republica franceza, faça tambem política, que nem sempre me parece muito nacional. (Apoiados.)
Chamo a attenção da camara para este ponto.
É, pois, certo que ha um conflicto gravíssimo entre duas potencias, conflicto que póde ser adiado hoje, mas que ha da rebentar forçosamente num futuro mais ou menos proximo.
A tempestade vem de longe e muito longe, porque ha muito tempo se sabe que a Russia avança sobre o oriente tendo o seu objectivo na India, e quando essa tempestade se desencadiar os nossos fundos hão de descer muitíssimo, e será necessariamente ferida a nessa riqueza nacional e particular, porque não se comprehende que uma nação com quem nós temos relações commerciaes extensas e profundas relações financeiras, possa entrar em uma campanha tão seria e arriscada, sem que nos sofframos tambem. (Apoiados.)
A mesma rasão, pela qual se afastou d'esta casa a discussão do projecto dos melhoramentos do porto de Lisboa, reforçada pelas considerações que acabo de fazer, não será sufficiente para fazer adiar um projecto, importante sem duvida, mas de importancia inferior áquelle.
Podemos, porém, fazer esta despeza?
Não se têem do nosso credito?
De accordo, então façamos desde já aquelles obras, que no porto do Lisboa se tornam inadiaveis.
Construam os estaleiros ao sul do Tejo para construcção e reparação de navios, affirmo ao sr. ministro que não se gastará n'essa obra mais de 1.000:000$000 réis. (Apoiados.)
Se me perguntarem qual é a minha opinião a respeito das despezas que se devem fazer no actual momento histórico, responderei em primeiro logar: que o paiz não devo entrar em despezas que não sejam strictamente necessarias. (Appoiados.)
Ninguem mais do que eu tem pugnado n'esta camara pelo desenvolvimento material do paiz. (Apoiados.)
Mais de uma vez tenho dito, e ainda o repito, que não me arreceio das forças economicas do paiz, porque a meu ver, tem elle os elementos necessarios para satisfazer todos os seus encargos. Hoje, porém, que nos horisontes políticos apparece um conflicto entre duas potências europêas, uma das quaes está intimamente ligada comnosco pelas estreitas relações economicas e financeiras, conflicto de que talvez resulte uma grande conflagração europeia, porque para mim é ponto de fé que a primeira guerra na Europa ha de dar em resultado, senão uma conflagração geral, pelo menos a lucta entre as maiores potencias, parece-me sensato, parece-me prudente concentrar todas as nossas forças, ainda mesmo as financeiras, numa situação previdente e de expectativa.
Sr. presidente, triste é dizel-o, mas é mister que alguem o diga, se rebentar uma grande conflagração europêa, nós havemos de ter jogados, como quasi o fomos na occasião da guerra franco-prussiana, para com o nosso sacrificio tornarmos neutral uma potencia, que nos envolve e da qual nos podem advir os maiores perigos!
Sr. presidente, hoje as pequenas nações tendem a desapparecer na historia actual manifesta-se uma pronunciada tendencia para os grandes agrupamentos; chamo a attenção da camara para este ponto: prepare-se cautelosamente o paiz, gaste-se tudo para a sua defeza, porque de um momento para o outro póde manifestar-se o perigo e nós seremos jogados na política europêa!
A Hespanha do hoje não é a do 1870.
Sr. presidente, para a defeza do paiz voto tudo quanto seja preciso; para que o paiz se possa levantar em massa,