O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

847

lheiro que nos falla não sei em que morgados industriaes? Foi exactamente para que o governo podesse centralisar debaixo das suas vistas a fiscalisação nas fabricas, que se estabeleceu na lei que a liberdade de fabrico ficasse, por emquanto, limitada ás cidades de Lisboa e Porto.

Se a experiencia depois mostrar que se pôde fazer igual concessão a qualquer outro ponto do reino, lá está na lei a auctorisação ao governo para a conceder. O governo quer proceder com prudencia, e ver o que a experiencia aconselha a tal respeito.

O receio do contrabando levou o illustre deputado, que me precedeu, até ao ponto de apresentar a arriscadissima proposição de que o contrabando era mais facil em Portugal do que em Inglaterra e Irlanda, pela posição d'estas ultimas no meio dos mares. Permitta o meu nobre amigo que eu, seguindo a opinião vulgar, considere que as ilhas quando, como aquellas, rodeadas de angras accessiveis, sejam, para os contrabandistas, typo de belleza de posição geographica.

Este pobre projecto, no sentir do meu amigo, o sr. Gomes, tende até a matar a divisão do trabalho, com a limitação do fabrico ás duas capitães do reino!

O meu illustre e talentoso amigo de certo equivocou se na phrase.

A divisão do trabalho não consiste no trabalho em ponto pequeno, do trabalho em pequenas fabricas; consiste em dividir em especialidades distinctas a somma total de trabalho de que necessita um artefacto qualquer.

Parece-me que o illustre deputado quiz fallar da fabricação em pequena escala...

(Interrupção do sr. Francisco Luiz Gomes, que não se percebeu.)

O Orador: — Isso nada tem com a formula industrial — divisão do trabalho; com o que pôde ter tudo é com a accumulação do trabalho n'um certo ponto.

Sr. presidente, estou fatigadíssimo; a hora quasi a dar, e não quero abusar da benevolencia com que a camara me tem escutado.

Desejaria fazer mais algumas observações, como, por exemplo, relativamente á cultura, mas devendo naturalmente tomar ainda a palavra na discussão da especialidade, reservo-as para então, pois não desejo continuar a fallar ainda amanhã.

Como o sr. Gomes, e especialmente o sr. Carlos Bento, com toda a candidez, declararam que não queriam fazer d'este assumpto questão politica, nem a politica tinha a menor influencia nas suas apreciações, evitei cuidadosamente o alludir a considerações d'esta ordem; nem entendo que um negocio como este possa ser uma questão de partido. Se aqui podesse haver questão de partido seria para todo o partido liberal; para o partido que tantos monopolios tem abolido — que começou por abolir o santo officio, que era o monopolio da consciencia, e a censura previa, que era o monopolio das opiniões e que ainda ha pouco tempo extinguiu os morgados, que eram quasi o monopolio da terra. Não creio que esse partido quererá conservar um dos ultimos baluartes do monopolio...

O sr. Antonio de Serpa: — Ainda ha mais. Ha o do Douro.

O Orador: — Vamos a elle. Creio que já tenho a minha opinião consignada a esse respeito n'uma votação da camara e no seio da commissão de vinhos, a que tenho a honra de pertencer. O que não é justo é que não destruamos um á espera de se fazer a mesmo aos outros, e que offertemos como incenso, diante d'esse idolo fatal, o fumo de um charuto privilegiado.

Termino. A camara ganhará a vantagem de não me ouvir, e eu a de descansar.

Vozes: — Muito bem.

(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados de todos os lados da camara.)