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974-B APPENDICE

dos mais vastos imperios ultramarinos, espalhado pela Africa, Asia e Oceania.

As nossas tradições mais gloriosas, e a nossa atarantada a nobre missão historica, prendem-se intimamente com esta instituição militar, em que fomos singularmente grandes, sentidos, e respeitados.

Á figura lendaria do infanta D. Henrique, que ostenta, no mais eminente grau, todo o espirito de temeraria aventura, e o providencial destino, da nossa raça, devemos as frotas disciplinadas e auduzes, que, depois de aportarem aos Algarves d'alem mar, se engolpharam, com assombro do mundo inteiro, no oceano tenchroso, e foram, sobre o mysterio das ondas, em busca do Preste Johão das Indias.

A escola de Sagres deu-nos os melhores marinheiros, arrojados navegadores do mar alto, e pacientes prescutadores da arriscada navegação costeira. Perestrello, Zarco, Tristão Vaz, Gil Eannes, Fernão de Magalhães, Bartholumeu Dias, Alvares Cabral, e tantos outros, são nomes aumentados de imperecivel gloria, que bastam para solidamente fundamentar o mais nobre orgulho de um povo.

Durante o seculo XVI, seiscentos e noventa navios redondos, dobraram o Cabo da Boa Esperança, duzentas naus da linha sulcavam os mares das Indias, e, apesar da grandeza d'este esforço, nunca deixaram de cruzar, o nosso extenso litoral, poderosas esquadras de protecção, e ainda tivemos vasos de guerra para brilhantes ostentações do nosso poderio maritimo, como a esquadra de D. Martinho Castello Branco, de dez naus, dois galeões, e quatro galés reaes, que condizia D. Brites a desposar o duque de Sabuya, e a armada de Antonio de Saldanha, de vinte galerias, e quatro galeões, entre os quaes se contava o celebre S. João, com 366 bôca de fogo, e com talha-mar de aço, que rompia, como rompeu, a todo o panno, a caleira da porta da Golêta, e deu a Carlos V a victoria de Tunia.

Formidavel poder maritimo foi então o nosso!

No seculo XVII atravessa-se uma phase de estacionamento, mas logo no seguinte, sob a iniciativa fecunda e a acção energica do Martinho de Mello, opera-se uma profunda remodelação, e realisam-se notaveis progressos.

A bandeira portugueza volta a tremular, respeitada, e altiva, no tôpo dos mastros das nossas armadas, e reconquiatâmos o nosso logar como potencia maritima, com quem era mister contar-se.

Este bloqueio de Malta, e nos cruzeiros da Sicilia, demos da nossas força naval valiosa demonstração, pela esquadra do marquez de Niza, onde as naus Principe Real, Rainha de Portugal, Affonso de Albuquerque e S. Sebastião, as covertas Andorinha e Benjamim, e os brigues Falcão e Gaivota, mantiveram em devida altura as honrosas tradições dos nossos maiores.

Ainda em 1807, ao passo que seguiam para o Brazil oito naus de linha, quatro fragatas, e sessenta navios de transporte, ficavam tristemente a ancoradas no Tejo as naus S. Sebastião, Maria I, Principe da Beira, Vasco da Gama, e as fragata, Phenias, Anuizonas, Perola, Tristão e Venus!

Se relembrâmos, senhores, estas epochas para accentuar bem, pelo frisante contraste com a nossa desoladora situação actual, a imprescindivel e inaddiavel urgencia de metermos hombros á patriotica empreza da reconstituição da nossa marinha de guerra.

Não nos illudâmos, nem nos deselentemos.

Não vamos suppor, mais uma vez, com o pensamento de fugirmos a sacrificios financeiros, que podemos continuar a manter-nos dignamente nas relações internacionaes do mundo moderno, e defender, como é impreterivel dever de honra nacional, os nossos vastos dominios ultramarinos, com os escassos, para não dizer nullos, elementos de guerra naval, que possuimos, e que, dia a dia, depedem.

Não caiâmos tambem, em desalentada inacção, succumbidos sob o peso do encargo, que se nos impõe.

São poucos os nossos recursos, e luctâmos com difficuldades de toda a ordem, bem o sabemos; mau a lacta não é senão a vida, e o valor está em vencer com pouco, ou morrer com honra.

Da coragem dos nossos bravos marinheiros não descremos por um só momento, e não fazemos mais do que render justo e merecido preito aos heroicos descendentes dos maiores horoes da nossa historia. Que todos elles saberão morrer, na hora do perigo, dando o ultimo tiro, o soltando o ultimo brado do saudação á patria, é ponto de fé, dogma santo de pura religião do brio e decoro militar, que todos professam com devotado zêlo o singular rigor.

Cabe, porém, aos governos dar-lhes os meios, quando não de vencer, de morrer, ao menos, combatendo pela patria, por quem dão a vida.

Não póde deter-nos o passo, nem suspender por um momento o nosso proposito, a consideração tão falsa, como vulgar e repetida, do que, por melhores que sejam os sucrificios, e por melhores que sejam os desejos e esforços, não poderemos, nunca, ter elementos de poder naval, que bastam, para nos defrontarmos com as grandes potencias maritimas.

Falsissima orientação é esta, infelizmente tão espalhada pelos que, perante um grande mal da patria, antes preferem achar um simulacro de argumento, com que justifiquem a sua inacção, do que arear de frente com as difficuldades, e luctar por demovel-as.

Sn houvesse visos de procedencia em tal raciocinio, desmarmariam as pequenas nações os seus arsenaes de guerra, cessariam as suas construcções navaes, annullariam as suas esquadras, porque nenhuma d'ellas, de por si, poderia bater-se, em toda a sua força, com as poderosas esquadras inglesas.

Nas relações internacionaes, cada povo vale pelo que é, na proporção dos seus recursos, e dos seus meios do ataque, ou de defeza. Não se hesita, quasi nunca, n'uma violencia, quando, de antemão, se sabe da impossibilidade de resistir quem se vae hostillar. Vacilla-se, e quasi sempre se recua, ante uma acção abusiva de força, quando, antecipadamente, se tem a certeza de que o abuso ha de encontrar resistencia, firme no direito que se defende, e heroica pelo dever de honra, que se impõe.

Não póde ser pretensão nossa disputar primasias ás grandes nações da Europa; mas cumpre-nos, por dignidade, e por interesse proprio, não nos distanciarmos d'aquellas de quem deveramos estar ao par, senão que preceder até, armamento naval.

E, infelizmente, com mágua profunda, muito embora, é forçoso confessal-o, os mappas comparativos das marinhas de guerra dos diversos paizes, que offerecemos á vossa ponderação, e reflectido exame, são de molde a convencer-nos, ao primeiro golpe de vista, de que, muito nos distanciámos, em atrazo, de quem deveremos estar distanciados pelo avanço.

E tantos são os que nos tomaram a dianteira, que vamos atrás de todos.

A compenetração absoluta d'esta tão triste como indiscutivel verdade, traz comsigo, logicamente associada, a adhesão completa á patriotica empreza, que o governo teve a honra de submetter á vossa apreciação, na proposta de lei n.º 9, das medidas de fazenda, que, firmemente o cremos, ha de merecer o vosso mais vivo applauso.

Por virtude d'essa providencia, um fundo especial, relativamente importante, se constitue, cercado de cautelas e garantias, para rigorosa applicação do meu destino legal, qual é, - a reconstituição da nossa marinha de guerra.

Como, porém, de longa data é reconhecida a urgencia de acudir a esta instante necessidade do governo, e se tenham já feito importantes trabalhos preparatorios, que muito