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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr Francisco de Albuquerque: — Nós já apurámos alguma cousa d'esta discussão, e vem a ser que no projecto se poz inutilmente a palavra pesquizas, porque os 84 contos não são para pesquizas, mas sim para os encanamentos das aguas. É a declaração do illustre ministro das obras publicas.

Depois da vigorosa argumentação do illustre deputado, o sr. visconde de Moreira de Rey, pouco tenho a acrescentar, porque não vi respondido nenhum dos vigorosos argumentos apresentados por s. ex.ª

Desde que o sr. ministro da fazenda declarou que dentro de um ou dois annos estavam em Lisboa as aguas do Alviella, fica perfeitamente claro que nessa epocha se acharão completamente inutilisados os capitães empregados nestas obras. (Apoiados.)

Portanto, melhor seria que o governo fizesse desde já um accordo qualquer com a companhia, em virtude do qual ella indemnisassc o estado da despeza feita e ficasse com a propriedade d'estas aguas. (Apoiados.) Pois porque não procura o governo fazer este accordo com a companhia? Era este um bom serviço que o governo podia fazer, e assim ficavam salvaguardados os interesses do thesouro. Pois o governo, depois do ler despendido tão grandes verbas, ainda quer despender mais 84 contos sem necessidade nenhuma? Pois não vê que é um capital perfeitamente deitado á rua?

Pois não é certo que as aguas do Alviella hão de inutilisar por força a despeza que se vae fazer e a já feita? Unicamente o sr. ministro das obras publicas imagina uma hypothese possivel de haver uma ruptura no canal do Alviella, ou uma interrupção, para depois serem aproveitadas, as aguas de Bellas. Já é subtileza! Já é falta do argumentos! Tal hypothese, o a outra que está no mesmo caso, a da possivel venda das aguas nas proximidades de Lisboa, não justiíica uma despeza certa de 81:000$000 réis. (Apoiados.)

Diz o illustre ministro das obras publicas, que não têem applicação para a pesquiza das aguas, mas para algumas obras publicas, como, por exemplo, o empedramento das galerias. Em todas as corporações, incluindo as juntas de parochia, para toda e qualquer obra se exige um orçamento preciso e perfeitamente explicito. (Apoiados.)

Mas o governo para esta despeza, que não é de 84 réis ou 84$000 réis, mas sim de 84:000$000 réis, não pediu ao engenheiro o orçamento, para a camara votar com conhecimento do causa os 84:000$000 réis. (Apoiados.)

Se estes empedramentos custam 84:000$000 réis, voto contra taes empedramentos. (Apoiados.)

Isto não é questão politica, nem quero fazer questões politicas d'esta ordem; (Apoiados.) é uma questão financeira. São 84:000$000 réis que se desperdiçam o unicamente podem beneficiar a companhia, unica que aproveita dentro d'estes dois annos. Quer dizer, nós vamos ainda agora votar, alem das despezas já feitas, mais 84:000$000 réis, porque é possivel que até ao proximo anno haja falta de agua.

Pedia ao illustre ministro da fazenda, sem querer considerar como questão de governo esta questão de gastar mais 84:000$000 réis n'estas obras, que se limitasse a pedir uma pequena verba para conservação das obras existentes.

Pedia a s. ex.ª que tratasse por todos os meios, para utilisar os capitães que tem despendido, de vir a qualquer accordo com a campanhia; porque todo e qualquer accordo que se faça com a companhia é de vantagem para o paiz, porque ainda que se venda por 100:000$000 réis, sendo a despeza de 200:000$000 réis, creio que faz um beneficio ao thesouro, porque ao menos aproveita 100:000$000 réis.

Peço ao illustre ministro da fazenda, em nome do interesse publico, que não insista no pedido de 84:000$000 réis, despeza inutil e que só serve para aggravar mais o estado deploravel do nosso thesouro.

Foi approvado o artigo 3.°, e bem assim a proposta do sr. Van-Zeller, apresentada na sessão anterior.

Entrou em discussão o

Artigo 4.°

O sr. J. J. Alves: — Sr. presidente, quando hontem se discutiu o artigo 1.° do projecto não me achava na sala, aliás teria apresentado as considerações que agora passo a fazer, por ver que o artigo 4.° em parte tem referencia com o artigo 1,°

Antes de tudo desejava fazer uma pergunta ao sr. ministro da fazenda com respeito ás propriedades sitas entre a alfandega grande e a do consumo, que o governo se propõe comprar á camara municipal do Lisboa.

Ha ali uns predios e barracas na margem do Tejo, e ha outras propriedades, onde se contem diiferenlos estabelecimentos qúe começam na rua dos Arameiros, com frente para as ruas da Alfandega e dos Bacalhoeiros, o que terminam no campo das Cebollas.

Parece-me que o projecto se refere ás propriedades situadas nas margens do Tejo, que vão da alfandega grande á alfandega do consumo.

O sr. Ministro da Fazenda: — Apoiado.

O Orador: — -Muito bem: devo porém dizer á camara que não concordo, por emquanto, na venda total d'aquelles predios feita pela camara municipal ao governo.

Em primeiro logar talvez o governo não saiba, e bom é que fique sabendo, no que me parece ver um obstaculo para a venda, que todas as propriedades da camara de Lisboa estão hypothecadas ao banco do Portugal em virtude dos contractos do 1 do março do 1859, e do 23 de fevereiro de 18G8, sobre os emprestimos contrahidos para a construcção do matadouro.

O primeiro emprestimo foi de 115:000$000 réis e o segundo de 61:000$000 réis, o que perfaz o total de réis 176:000$000.

Eu passo agora a ler um periodo da copia dos referidos contratos para provar a minha asserção. (Leu.)

E isto o que dizem as condições 8.ª, 9.ª e 10.ª com relação ao primeiro emprestimo, e com relação ao segundo contrato ha mais, que passo também a ler.

(Leu.)

Ora, sendo a camara municipal ainda devedora ao banco do Portugal da quantia de 77:500$000 réis, ella só póde vender as suas propriedades depois do as libertar, o que me não parece possa fazer de prompto pelas circumstancias apuradas em que se acha.

Tambem não concordo que a camara applique o producto da venda d´estas propriedades a obras o melhoramentos; isto seria um prejuizo, porque ella perderia uma parte do seu rendimento que não póde dispensar, e que, segundo informações exactas, monta á quantia de 6:700$000 réis annuaes.

Não vejo tambem uma grande necessidade que o governo tenha do adquirir de prompto todos estes edificios.

Parece-me que o governo satisfaria ás necessidades do serviço das alfandegas, adquirindo tão sómente uma parte d'este 3 edificios, isto é, os comprehendidos entre o Boqueirão dos Funileiros e o Boqueirão do Vero-Peso.

Procedendo assim, preenche as necessidades do momento, e evita de alguma fórma prejudicar differentes individuos que ali se acham estabelecidos, o os quaes não é facil de prompto alcançarem casa para novamente montarem os mesmos estabelecimentos. Paliando assim, entendo que fallo em nome do interesse do governo, e em nome tambem do interesse publico.

A camara municipal tem as suas propriedades e d'ellas recebo pontualmente as rendas, as quaes ella, por isso que não está inhibida do usar desse direito, vae augmentando gradualmente para crear receita.

Sessão de 3 de abril de 1878