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950-F DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

o governo tenciona attender a esta circumstancia, que reputo de muitíssima conveniência, não só para aquelles pobres rapazes, como para interesse do serviço da armada.

O sr. ministro da fazenda não deixará de me responder a todas estas duvidas, visto que se declarou habilitado para o fazer e ninguem o póde duvidar, pois que s. exa. tem competencia de sobra.

Os individuos, que vêem para o exercito servem tres annos, ao passo que os que vão para a marinha são obrigados a servir seis.

Basta a desigualdade d'este serviço para se dever proceder com toda a equidade, toda a cautela e cuidado na maneira como suo recrutados estes indivíduos. Bem sei que em geral, são preferidos os mancebos, que habitam proximo dos portos de mar o de profissão marítima para o serviço da armada, mas estes não chegam, e têem de ir buscar-se mancebos ao interior do paiz para completar o recrutamento.

É necessario modificar este systema, e que vão para a armada só indivíduos de profissão maritima ou de terras próximas do mar, para que menos repugnância possam ter no desempenho d'este serviço árduo, espinhoso e mais difficil que o do exercito de terra.

Basta, dizer que, emquanto que em terra sito os mancebos obrigados a servir três annos, na armada têem de servir seis e com um serviço bem mais pesado.

Eu vou mostrar á camara qual o numero de navios que temos e a competente lotação, para provar ao sr. relator que o numero de marinheiros pedidos não chega para as exigencias do serviço. E eu desejava que o sr. relator me dissesse, já que o sr. ministro não está presente, como é que pensa remediar esta falta, visto que se fez uma dictadura militar para nos pôr ao abrigo da invasão de uma qualquer potencia estrangeira, mas ficámos sem soldados para nos defendermos.

Ora, por este processo vejo que não se faz nada disto, (Apoiados.) e que o paiz foi enganado. (Apoiados.)

E, sr. presidente, eu noto uma circumstancia importante.

Quando se discute um projecto d'esta magnitude a maioria, que devia estar aqui, vae para os corredores tomar o fresco. (Apoiados.) Eu é que não me importo com o calor e estou aqui cumprindo com o meu dever, dizendo o que a minha consciencia me dicta. (Apoiados.)

O patriotismo dos illustres deputados da maioria anda como o thermometro.

Sr. presidente, todos sabem a grande reluctancia, que o povo tem á vida militar, esta reluctancia é antiga; mas eu devo dizer que hoje essa reluctancia não tem rasão de ser, por isso que os officiaes são muitissimo mais instruidos e tratam muito melhor os soldados do que tratavam noutro tempo, (Apoiados.) cuidam da sua educação, bem estar, aceio, etc., com um cuidado quasi paternal.

Quem tem a culpa desta reluctancia são as classes dirigentes, porque não dizem, como devem, ao povo que a vida militar é nobilissima, que é uma honra derramar o sangue pela patria quando for necessario defendel-a, (Apoiados.) mas para isso é necessario estar habituado ao serviço das armas, e habilitado nos serviços inherentes a esta profusão.

Effectivamente comprehendia se que n'outro tempo houvesse uma grande repugnancia pela vida militar, quando havia a chibata, e os soldados eram tratados asperamente pelos officiaes; mas hoje esse castigo desappareceu, e os superiores tratam os soldados com amabilidade.

Alem disso os individuos, que vem servir no exercito encontram n'elle mais commodidades do que têem muitas vezes em casa das suas familias, por isso que têem bom rancho, bom alojamento, boa cama, o seu pret anda pago em dia, têem escolas, onde se possam instruir etc., etc., e quando voltam para suas casas vão sabendo ler e escrever, e tendo a maior parte d'elles vindo sentar praça completamente analphabetos. (Apoiados.)

É indiscutivel, que o exercito é uma escola de moralidade e de civilisação. O tempo do serviço effectivo é pouco, relativamente, pois é só de tres annos, durante os quaes obtêem muitas licenças, para ir ver a família de modo que, o maximo de tempo que servem é de dois annos e meio.
É lamentavel que os individuos que compõem as classes dirigentes sejam os primeiros a empregar todos os meios para livrar os mancebos da vida militar, quando esses individuos deviam ser os primeiros a incutir no espirito do povo a obrigação que elle tem de se habituar a defender a patria.
Passam-se cousas verdadeiramente extraordinarias n'esta questão de livrar os mancebos da vida militar.
Ha dois annos tive eu a honra de usar da palavra n'esta casa sobre assumptos militares, em resposta aos meus amigos e collegas os srs. Serpa Pinto e Dantas Baraeho, e todos nós contámos cousas verdadeiramente! extraordinarias que se fazem, para livrar os filhos do povo do serviço do exercito e da armada. Vou contar alguns casos que se têem dado para amenisar esta questão um pouco arida, e que é ouvida sempre com desagrado pela camara. As questões militares pouco ou nada interessam a camara. E costume velho o por isso não ha que estranhar. E possivel que os meus collegas, que vem aqui pela primeira vez, se admirem um pouco d'este abandono, em que hoje vêem esta sala e que não é nada lisonjeiro para mim. Mas s. exas. não têem que admirar; isto é proverbial, é sempre assim!

Quando se discutem assumptos militares a sala está deserta. (Apoiados da esquerda.)

Quando se trata da defeza da patria e dos interesses mais caros do paiz, todos se preoccupam muito pouco.

Assumptos d'esta natureza não interessam; só o que interessa é saber com se ha de evitar que venham servir a pátria os filhos do povo. Quando começar a discussão dos 6 por cento addicionaes, quando se tratar de arrancar a pelle ao povo, estou bom certo que hão de estar aqui todos os meus collegas. (Apoiados da esquerda.)

Como ia dizendo, desejo contar á camara alguns casos de que tenho conhecimento, para que ella veja os meios de que se servem os influentes políticos para evitarem que os filhos do povo venham servir nas fileiras do exercito.

Ha tempo, um dos muitos individuos que se empregam em livrar os filhos do povo do serviço militar, influente politico no Minho, querendo livrar alguns rapazes seus protegidos adoptou o seguinte expediente: pol-os a dieta durante tres dias, deu-lhes tres purgantes successivos, e nos tres dias anteriores á inspecção defumou-os com palha de milho painço, cujo fumo tem a propriedade de fazer as pessoas amarellas, parecendo estarem atacadas de ictericia. (Riso.)

Esses individuos, que eram submettidos á inspecção, tendo passado previamente por uma dieta rigorosa que os tornava magros, pallidos, cadavéricos, com olheiras symptomaticas de doença, conseguiam illudir perfeitamente os medicos, escapando assim ao serviço militar. Por muito tempo durou este systema até que um influente politico do outro partido, tendo descoberto a marosca avisou os medicos de que estavam sendo enganados, dando como incapazes para o serviço individuos robustos e sadios.

O resultado foi, que dahi por diante nenhum se escapou mais por este processo, porque os médicos procediam a um exame mais detido, indo ver o branco dos olhos que o fumo da palha painça não torna amarello como o resto do corpo, o que succede quando a pessoa está verdadeiramente atacada de ictericia.

Batido n'este reducto e descoberta esta fraude, o seu auctor, que era fertil em expedientes, não desanimou e usou logo de outros.

Como no primeiro caso, punha a dieta durante cinco ou seis dias os seus protegidos, dava-lhes tres ou quatro purgantes successivos, e na occasião em que iam ser apresentados á inspecção dava-lhes a beber uma porção de san-