O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Página 957

957

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Osorio de Vasconcellos, pronunciado na sessão de 4 de abril, e que devia ler-se a pag. 915, col. 1.ª

O sr. Osorio de Vasconcellos: — Desejava interrogar a camara na presença do sr. ministro da fazenda sobre um assumpto que s. ex.ª já conhece, porque já lhe participei qual era.

Se v. ex.ª, sr. presidente, me concede a palavra, debaixo da promessa de que não abusarei da attenção da assembléa, vou desde já interrogar, não o nobre ministro da fazenda, mas a camara na presença do s. ex.ª

Quando ha dias o meu illustre amigo, o sr. Pinheiro Chagas, levantou aqui a questão denominada: a questão Farrobo, eu não quiz intrometter-me n'esse debate por variadas rasões. A principal é porque no caso de se entrar n'aquella discussão eu seria obrigado a votar contra os pareceres da commissão de fazenda. Dir-se-ia então, com apparencias de rasão, que eu tinha insistido para que entrasse na tela da discussão esse parecer para ter o prazer de votar contra elle. Estando n'estas circumstancias, v. ex.ª e a camara eomprehendem, portanto, que eu não podia insistir por que aquelle parecer entrasse em discussão.

Mas o governo já pela bôca do ir. ministro da fazenda declinou de si a responsabilidade do facto; o governo entendeu que esta era uma questão simplesmente da camara e para a camara, á qual pertence resolver independentemente da acção directa do ministerio.

N'estas circumstancias entendo que é da minha obrigarão, que é da obrigação de todos os membros d'esta casa, crear absolutamente com as responsabilidades que possam advir, dizendo francamente qual é a nossa opinião n'este assumpto. (Apoiados.)

Nada de mais declinatorias. (Apoiados.)

É preciso que todos entremos na questão do fronte erguida, falhando francamente, sem hesitar, sem receiar (Apoiados.) e sem rebuços desairosos. (Apoiados.)

Eu digo mais uma vez a v. ex.ª que votaria contra a proposta. Dar-lhe-ia o meu não franco, leal e categórico, porque entendo que o parlamento não é competente para resolver estes assumptos. Basta-me este fundamento essencial para eu não querer tomar conhecimento da questão n'este recinto.

Nós não podemos dar nem tirar direitos a ninguem.

No paiz ha tribunaes e ha leis; aos tribunaes, que executam as leis, compete resolver os pleitos d'esta natureza.

É esta a minha theoria, é esta a minha opinião. Mas eu, que não tenho duvida do a expor, quero que a camara seja igualmente franca, que se colloque na altura d'esta obrigação imperiosa o saiba manifestar a sua vontade. (Apoiados.)

Aqui ha responsabilidades. Ha, creio, mais de um parecer da commissão de fazenda, e ha uma proposta do governo. Pois bem, liquidemos estas responsabilidades.

Julgo que os restos quasi informes d'essa familia que viveu na opulência, que conheceu todas as grandezas da vida e hoje naufragou no oceano immenso da desgraça, vendo, de raro em raro, entreluzir a esperança para logo se condensarem mais as trevas, agradeceria muito mais o não leal e franco que eu lhe dou, que o sim hypocrita, refalsado, (Apoiados.) este sim que fogo de si mesmo, este sim que e uma promessa fallaz, que não chega mesmo a ser uma esperança, que não é senão uma retirada bem pouca airosa diante dos rebates da consciencia.

Portanto, o governo retirou-se d'este debate. Não sei até se constitucionalmente o governo podia fazel-o; não entro agora n´essse ponto.

Mas emfim, se a camara apoiou o sr. ministro da fazenda quando s. ex.ª, em nome do governo, declinou de si a responsabilidade, se não protestou, se mesmo votou esta declaração com o seu silencio, é porque quer assumir todas as responsabilidades. E como as assume? Por que facto as traduz? Fugindo do debate, arreceiando-se d'elle, não vindo expor francamente qual a sua opinião. Não póde ser, porque é indecoroso.

Por conseguinte, pelos motivos que já dei, pelas rasões que já ponderei, entendo que acamara praticará uma acção verdadeiramente honesta, um acto que a ha de levantar não só na consideração da sua propria existencia, mas tambem perante a consciencia do paiz, dizendo não se a rasão lho determinar que não é do justiça, ou dizendo sim, independentemente do quaesquer considerações, se o sim é a voz da verdade.

Limito aqui, portanto, as minhas considerações e mando para a mesa o meu requerimento, afim de que -entre em discussão o parecer n.º 60 de 1876, e assim teremos cumprido, todos, honradamente o nosso dever. (Apoiados.)

Nada mais tenho a accrescentar.

Discurso do sr. deputado Osorio de Vasconcellos, pronunciado na sessão de 4 de abril, e que devia ler-se a pag. 915, col. 2.ª

O sr. Osorio de Vasconcellos: — Acceito completamento a declaração apresentada pelo meu nobre amigo o sr. ministro da fazenda, fundada em factos dos quaes não estava perfeitamente lembrado. Mas a rectificação do nobre ministro mais serve para fundamentar a proposta que apresentei. Não ha maneira da camara declinar de si a responsabilidade que lhe compete.

A camara não póde alijar para o governo essa responsabilidade. É tanto melhor. Eu por mim como membro da camara acceito a questão n'esses termos, nos quaes eu já a tinha collocado.

Por conseguinte as explicações que acabam de ser fornecidas pelo nobre ministro da fazenda mais corroboram a minha argumentação, e por isso mesmo mais insisto para provocar uma resolução da camara sobre este assumpto.

Sessão de 5 de abril de 1878

Descarregar páginas

Página Inicial Inválida
Página Final Inválida

×