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tenho alludido, e traidor ao Sr. Presidente do Conselho.

E como estou fallando dos abusos commettidos pela Imprensa Ministerial, aproveito esta occasião para dirigir algumas palavras ao Sr. Ministro da Justiça. S. Exa. referindo-se á Imprensa em geral disse que de um lado e outro se tem abusado igualmente; mas então porque é que S. Exa. paga aos seus Jornaes? É para que elles abusem? É para que elles commettam os mesmos crimes que S. Exa. censura ao ponto de apresentar esta Lei? Pois S. Exa. não póde ter inspecção sobre os seus Jornaes que assim abusam? E não sou eu que o digo. Foi S. Exa. mesmo que amimou aqui que toda a Imprensa abusava igualmente, e que toda ella devia ser igualmente condemnada; pois então o Governo gasta 400 mil réis com a Imprensa para ella abusar? Pois S. Exa. paga á sua Imprensa, e consente-lhe esses abusos? Se a Imprensa Ministerial abusa, a culpa é do Governo, de mais ninguem (Apoiados).

O mesmo Sr. Ministro da Justiça dou-nos a grande novidade de que, ha nove mezes que é Ministro, e ainda não violou uma só Lei. Não sei se S. Exa. fallou a verdade, porque não sou Jurisconsulto, mas o que sei é que a opinião publica censura altamente a nomeação de tres Juizes para a Relação do Porto; não sei se isto é violação de Lei ou não, mas o Sr. Ministro não está no caso de vir aqui vangloriarão por não ter violado uma Lei, nisso não fez mais do que o seu dever; pois nós já chegamos ao estado em que os Ministros para captarem a benevolencia da Camara e do Paiz lhes baste affirmar que não infringiram uma Lei! É isto acaso um titulo de gloria? Acha S. Exa. que se tornou benemerito do Paiz só porque não violou uma Lei! O facto é que S. Exa. fez uma censura a todos os seus collegas, e aos outros Ministerios anteriores (Apoiados). Esta declaração de S. Exa. é um perfeito epigramma aos seus collegas (Apoiados).

S. Exa. disse - Que o ser Jornalista é um modo de vida - não contesto, creio que o póde ser, porque a Carta não o prohibe; mas tambem S. Exa. pareceu ser de opinião, não sei se nesta, se na outra Camara, de que o ser Ministro era um titulo de recommendação para altos empregos, quando se justificou pela nomeação dos tres Juizes para a Relação do Porto. S. Exa. disse que elles tinham sido Ministros de Estado, e depois de terem exercido este alto cargo, não parecia bem que voltassem para Juizes de Direito. Torno a dizer, Sr. Presidente, que não sei se o ser Jornalista é modo de vida, o que sei e que um Ministro de Estado fal-o uma folha de papel, ás vezes o capricho de um Rei, outras até uma intriga; porque muitas vezes vai-se buscar de proposito um Ministro do Estado a uma obscuridade bem refere, mas o Jornalista o Deos que o cria, porque o talento só vem de Deos, não se encontra a cada passo, como se póde encontrar um Ministro (Apoiados). O talento não se acha a qualquer canto da terra (Apoiados). Não ha ouro que possa pagar o talento, é uma fagulha da luz divina, é um presente do Ceo, o que Deos só dá aos sons escolhidos. Sr. Presidente, nas sociedades modernas o Jornalista é tudo. É como o trovador antigo, cujas doloridas canções levavam o enthusiasmo, e ás vezes o convencimento aos seios d'alma, é como o inspirado Menestrel cujo alaúde dominava a sociedade inteira desde a choça

do peão até aos paços do castellão fendatario. O Jornalismo é o sexto sentido do povo como lhe chamou Sieies.

Em fim para se ver o que é o jornalismo lerei o que dizia Canning "Em quanto o Parlamento está aberto, é com elle que nós governamos; isto dura seis mezes. Durante os outros seis o Governo passa para a imprensa.

Desci a estas considerações, não para me defender a mim, mas para tributar um testimunho de consideração pela intelligencia dos meus collegas deste; lado da Camara, que todos elles, ou quasi todos teem honrado o jornalismo, e se tem honrado com elle do mesmo modo que os Thiercs, os Guisots, os Lamartines, e outras tantas intelligencias não só da França, mas de outros Paizes.

Tambem ouvi dizer que não era boa fé trazer para aqui a questão da opportunidade ou inopportunidade desta Lei. Eu sou de opinião inteiramente contraria, por isso que as Leis são remedios appropriados ás necessidades da sociedade como disse na Tribuna Franceza Mr. de Beauvoir; e para se vêr se taes remedios são opportunos, é indispensavel estudar profundamente as necessidades da situação. Isto tem-se feito sempre em questões destas nos Parlamentos dos outros Paizes. Em 1820 quando por occasião da morte do Duque de Berry o Ministerio veio propôr a Lei de 31 de Março contra a Imprensa e a gravura etc, a Politica do Governo foi altamente combalida etc. Em 1821 quando o mesmo Ministerio de Mr. Villéle pediu a continuação dessa Lei, tambem se agitou uma questão politica fortissima. Pediram-se contas restrictas ao Ministerio pela violação de diversas Leis, até o respectivo Ministerio foi censurado por ir fazer uma prelecção aos alummos de uma aula, e não se analysaram só os differentes actos do Governo, analysou se a Politica, olhou-se ao estado do Paiz, encarou-se esse estado sob todas as fórmas, os Deputados que defendiam a Poltica do Governo, queriam a Lei porque as necessidades do Paiz, diziam elles, assim o exigiam, os Deputados da Opposição negavam o seu assentimento mostrando a situação hostil em que se achava o Governo para com a França. Leam-se os discursos de Busson Dupont, del'Eure, Vaudourre d'Aube, Bonald, Castelbajac, e outros muitos. Não tractarei mais largamente este ponto porque seria desenvolver o ouropel de uma erudicção inopportuna. Mas os exemplos do que se tem passado nos outros Paizes em circumstancias destas, colhem perfeitamente para o caso. A natureza desta Lei a mais Politica que póde dar-se, e que póde apresentar-se no Parlamento, tudo isto, Sr. Presidente, habilita nesta solemne occasião a qualquer Orador desta Casa para entrar n'uma analyse miuda e circumstanciada ácêrca da Politica do Governo. Este direito não deve por fórma alguma ser coarctado. E fazendo uso delle eu começo affirmando, que o Ministerio não estava em circumstancias de apresentar aqui uma Lei semilhante, o Ministerio deve ser o primeiro a reconhecer que não tem o sufficiente apoio no Paiz, que não tem a força moral indispensavel para reger os negocios publicos. SS. Exas. bem sabem quanto uma accusação pesa sobre a cabeça de um dos Srs. Ministros, accusação que esse Cavalheiro não rebateu a tempo e convenientemente. SS. Exas. bem sabem que a sua carreira governamental foi começada logo com dois vicios de