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Discursos na sessão de 22 de março, e que deviam ter logar a pag. 272, col. lin. 82, e col. 2.ª, lin. 1.ª d'este Diario

O sr. Sá Nogueira: — Tinha hontem pedido a palavra para explicações, mas V. ex.ª esqueceu se de m'a conceder, por isso a pedi hoje novamente e passo a usar d'ella.

Discutiu-se na sessão de hontem o projecto n.° 24 sobre impostos de consumo, que é um dos objectos mais importantes de que se póde occupar uma assembléa legislativa, e sobretudo a camara dos srs. deputados.

Corria a discussão plàcidamente, quando um sr. deputado, mandando para a mesa uma emenda, substituição ou não sei que, julgou vir a proposito dirigir-se á minha humilde pessoa e aos deputados da opposição, fazendo-nos insinuações immerecidas e arguições que não tinha direito de fazer, e que a boa educação não permittia.

O sr. deputado, esquecendo-se das regras parlamentares, veiu devassar as minhas intenções; isto dá-me direito a tambem entrar nas intenções de s. ex.ª

Eu desejo tratar esta questão com a maior placidez que o assumpto o comporta, e exige o meu estado de saude. Tenho passado mal, e muito mal, e por isso quasi que não tenho entrado nas discussões como a camara tem observado; apenas uma ou outra vez tenho fallado em um ou outro assumpto importante, mais para declarar a minha opinião do que para discutir; mas quando em uma assembléa destas ha quem se esqueça dos bons estylos parlamentares, quando ha quem se esqueça da cortezia que devemos aos nossos collegas, não posso nem devo deixar passar similhante facto sem reparo (apoiados). Ha certas aberrações que á primeira vista não têem explicação, mas investigando as causas que as poderiam produzir são por inducção descobertas.

O alvo dos ataques do sr. deputado não era de certo a minha pessoa. Não supponho, apesar das asserções de s. ex.ª, que passasse pela mente do sr. deputado que eu tinha aspirações a ser ministro, outros as terão! Creio que s. ex.ª se assombrou com esta idéa; foi um sonho.

Peço á camara licença para dar algumas explicações, e perdão por ter de fallar na minha humilde pessoa, o que muito me repugna, e o que faço para desassombrar o sr. deputado do receio que talvez tenha, de que eu vá occupar algum logar a que s. ex.ª aspire. Não o deve ter, porque nunca tive similhantes pretensões, e agora é tarde; para as ter, já estou velho.

O sr. Manuel Antonio de Carvalho, depois barão de Chancelleiros, sendo ministro da fazenda, entendeu, por algumas censuras que se lhe tinham feito n'esta casa, dever saír do ministerio, e Sua Magestade, a Rainha não lhe queria conceder a demissão bem que elle lhe apresentasse um individuo que o substituisse. Isto aconteceu ha já vinte e oito annos; r.'esse tempo creio que eu não era velho.

Pois, sr. presidente, veiu alguem do ministerio dizer-me que o sr. Manuel Antonio de Carvalho tinha dito que me ía propor a Sua Magestade para o substituir.

Quer V. ex.ª saber qual foi a minha resposta? Eu não hesitei nem pensei um minuto; a minha resposta foi pedir pó collega do sr. Manuel Antonio de Carvalho, que lhe fosse dizer que não fizesse tal proposta, porque eu não aceitava por modo algum similhante cargo.

Ora, quando um homem que andava envolvido nas lides politicas se comportou d'este modo, parece que não terá agora, passados tantos annos, muitas aspirações a ser ministro, a não ser que tenha sido atacado da epidemia actual (riso).

Mas não foi só então que se me offereceu occasião de o ser. Em diversas circumstancias politicas que se têem dado n'este paiz, tem acontecido que homens de pouco merecimento têem occupado logares dos mais elevados; por isso a camara não ha de estranhar que eu tivesse occasião de, sem o pedir, sem andar a conspirar, sem atraiçoar ninguem, subir ao poder.

O sr. Barão da Ribeira de Sabrosa, com quem tive relações de amisade, e de quem era amigo politico, indo a casa de meu irmão convida-lo para ser ministro da marinha, e recusando-se este, voltou-se para mim e pediu-me que aceitasse aquelle logar. Eu respondi a s. ex.ª que não podia, nem me julgava com forças de ser ministro; mas que estava prompto a coadjuva-lo como eu podesse. O mesmo aconteceu, em 1846, com o sr. duque de Palmella, que me honrava muito com a sua amisade, e que tinha toda a confiança em mim: dei-lhe a mesma resposta.

Ora, quando ha estes precedentes, não tem rasão plausivel o illustre deputado para receiar que lhe vão tirar o logar que s. ex.ª pretende.

A minha vida publica é conhecida, e a particular não tenho receio de que o seja (apoiados). Tenho seguido sempre o partido popular, as idéas democraticas, mas accommodadas ás circumstancias do nosso paiz; porque eu entendo que nem todos os paizes estão preparados para tudo, nem nós podemos dispor da opinião da nação á nossa vontade, embora seja outra a opinião do illustre deputado (apoiados). O paiz póde ter uma opinião errada; devemos procurar encaminha-lo, mas não devemos ír de encontro a ella, nem devemos tyrannisa-lo; não temos direito para isso.

O sr. deputado ainda nos disse que era homem do povo, e que tudo quanto era, e a elevada posição em que se acha, deve a si mesmo.

Isto podia ser; eu reconheço por tradição que o sr. deputado é um homem de talento; nada tenho que dizer contra a sua probidade; mas emquanto a s. ex.ª dever só