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1044 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

pedindo á camara que não seja approvado o projecto de lei relativo á importação de milho de Cabo Verde, contra o qual enviará uma representação á camara.

EXPEDIENTE

Officio

Do ministerio da marinha, acompanhando dois exemplares da obra: Expedição portugueza ao Muatianuua, climas e producções, por S. Marques.

Para a secretaria.

Telegramma

Montemór o Velho, 15, ás onze horas e quarenta e cinco minutos da manhã. - Presidente camara deputados. - Lisboa. - Direcção syndicato agrícola Montemór Velho pede á camara senhores deputados não approve projecto entrada milho Gabo Verde, contra o qual vae enviar representação. = Direcção syndicato.

Para a acta.

O sr. João Arroyo: - Sr. presidente, os jornaes da manhã trouxeram a triste noticia do fallecimento do antigo deputado da nação e digno par do reino, o dr. Marçal de Azevedo Pacheco.

Não occulto a v. exa. e á camara que esta lutuosa noticia me produziu uma profundissima impressão. Collega do brilhante parlamentar ha muitos annos, apreciador das suas altas qualidades de espirito e da sua Admiravel inteligencia, não vi, sem profunda dôr, desapparecer um dos mais claros espiritos, uma das mais preciosas aptidões de luctador, que conheci desde a minha entrada na vida parlamentar.

Sr. presidente, quando nós vemos que a lousa do sopulehro se encerra sobre um homem, cuja carreira publica e parlamentar teve a sua natural illação, quando a morte não vem atacar um espirito privilegiado senão já n'uma idade provecta, a dôr que se sente, a magua que só experimenta, não é tanta como aquella que nos assalta quando vemos desapparecer, nas sombras do tumulo, um homem, cuja idade era relativamente moça, e que podia ainda prestar relevantes serviços ao parlamento e ao paiz. (Apoiados.)

O dr. Marçal de Azevedo Pacheco fica, para mim, na historia dos nossos parlamentares mais illustres, como que synthetisando uma linha arguta, perspicassissima e larga na discussão, como espirito de uma clareza que era possivel igualar, mas que não ora possivel exceder (Apoiados.) e ainda, como homem de conselho atilado, profundo, que ía alem das primeiras consequencias das cousas, e que sabia ver os acontecimentos até nas suas consequencias mais remotas. (Apoiadas.)

dr. Marçal Pacheco não podia chamar-se propriamente um homem feliz; nunca o foi, leve um inicio de vida extremamente difficil; o começo da sua carreira, depois de ter abandonado os bancos da universidade, foi extremamente arduo e penoso, e d'ahi vem, talvez, que a sua apparencia externa, o seu feitio exterior, ganhou um tom azedo, que occultava, no fundo, preciosissimas qualidades do homem de familia (Apoiados.), a mais extremada dedicação para com todos os seus. Poderá parecer isto inverosimil, mas aquelles que o conheciam verdadeiramente, podem dar-me rasão, e até uma das suas altas qualidades de espirito, a propria timidez, parecia combater a estentação de qualidades que lhe fossem contrarias.

O dr. Marçal Pacheco foi conhecido de todos e amigo de muitos que estão n'esta camara (Apoiados.}, mas poucos, como eu, tiveram occasião do apreciar aquella alta capacidade, quer nas discussões parlamentares, quer nas discussões das commissões, ou quer nas simples conversas, onde Marçal Pacheco ostentava qualidades e predicados que nunca vi excedidos por ninguem.

Marçal Pacheco não prestou ao seu paiz, nos conselhos da corôa, os serviços que podia prestar, exactamente porque essa tendencia de espirito, que, supponho absolutamente independente á sua vontade, lançara no seu caracter e temperamento uma nota de scepticismo accentuado, que o afastava do exercicio d'essas funcções.

Eu comprehendo como deviam ter sido afflictivos para Marçal Pacheco os ultimos momentos, em que na clareza do seu alto espirito, elle póde ter conhecimento da gravidado do perigo que o devia acommetter.

Não é, pois, sr. presidente, sem uma grandissima comoção que eu vou propor á camara que seja lançado na acta da sessão do hoje um voto de profundissima magna pelo falecimento d'aquelle illustre parlamentar, e que d'essa resolução se dê conhecimento á familia do finado.

Sr. presidente, não seria tambem justo se não pedisse á camara uma outra comemoração. O fallecimento do sr. Marçal Pacheco foi acompanhado de um outro acontecimento, tristissimo por igual, qual foi o da morte do medico, que já atacado por uma doença grave, com perigo da propria vida, perigo tão real que lhe custou a existencia, abandonou o seu leito para, no exercicio de uma missão de benemerencia, para o qual são poucos todos os elogios, ir prestar áquelle seu amigo os serviços da clinica medica. Creio que a camara se honrava tambem, lançando na acta da sessão um voto de profundo sentimento pelo fallecimento do medico Barahona.

Nada mais direi, porque não me parece que no dia seguinte ao do fallecimento de um homem, como foi Marçal Pacheco, possa inteira justiça ser rendida áquelle alto espirito, mas não quero, ao terminar, deixar de lamentar que aquella illustre individualidade haja desapparecido, porque dentro do seu feitio, com o seu temperamento e qualidades de espirito, nas gerações novas, infelizmente, até hoje não deixa successor.

Peço a v. exa. que me reserve a palavra para depois d'este incidente.

(O orador não reviu.)

Leram-se na mesa as seguintes:

Propostas

roponho que a camara lance na sua acta da sessão de hoje um voto da mais profunda mágua pelo fallecimento do antigo deputado da nação e digno par do reino Marçal de Azevedo Pacheco, e que esta resolução da camara seja communicada á familia do illustre extincto.

Sala das sessões, 18 de abril de 1896. = João Arroyo.

Proponho que na acta da sessão de hoje seja lançado um voto do profundo sentimento pelo fallecimento do dr. Barahona, o que esta resolução seja communicada á familia do finado.

Sala das sessões, 18 de abril de 1896. = João Arroyo.

Foram admittidas.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Com verdadeiro sentimento me associo á homenagem d'esta camara em memoria de Marçal Pacheco.

Associo-me, por parte do governo, associo-me pessoalmente tambem, se isso me é permittido.

Marçal Pacheco era reconhecidamente um dos espíritos mais vivos, mais argutos, mais finos e mais subtis da politica portugueza. (Apoiados.} A sua morte é uma perda, e o paiz, não perde intelligencias d'aquelle quilate sem lhes sentir verdadeiramente a falta.

Sr. presidente, eu não conhecia só em Marçal Pacheco qualidades de talento e vivacidade verdadeiramente raras, conheci-lhe tambem qualidades affectivas, qualidades do coração, e não posso esquecer nunca, que n'uma quadra difficil da minha vida publica, encontrei Marçal Pacheco leal, dedicada e desinteressadamente ao meu lado.

Não sou ingrato; por isso, não posso n'este momento