834 DIARIO CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
cidade de Braga como a de Guimarães, devem ficar satisfeitas com o seu alvitre.
Guimarães, de certo, devia ficar satisfeita e até satisfeitíssima; pois se ella é equiparada, ou quasi equiparada á capital do reino!
Mas parece que não ficou, resolvendo conservar-se em pé de guerra para continuar a lucta, que infelizmente, se não pode já dizer incruenta.
E não ficou, dizem as correspondencias d'aquella cidade; porque uns não acreditam em tanta fortuna, como a que se lhes promette, e temem-se de alguma mistificação, outros preferem á autonomia municipal a sujeição ao Porto, e querem até morrer por esta, como os hungaros do seculo passado morriam pelo seu rei Maria Thereza, e outros, emfim, o maior numero não percebem nem comprehendem o que seja autonomia, e arreceiam-se d'ella, como de uma machina infernal ou bomba de dynamite. E creio que são estes os que fazem ao arbitrio governamentala critica mais discreta. (Apoiados.)
Mas Braga satisfeita?! So se ella já não prezasse os seus brios e quizesse mentir ás suas honradas e gloriosas tradições.
Braga satisfeita, quando se annuncia a separação do concelho de Guimarães, da sociedade e convivio com o districto, separação contra a qual ella tantas vezes e tão solemnemente protestou?!
Braga satisfeita, quando, como motivo d'essa separação, se adduz ainda uma injuria, que se ella repelliu indignada, a de a supporem participante ou cumplice nos insultos aos procuradores de Guimarães?!
Braga satisfeita, quando se vae crear uma situação economica, miseranda para os concelhos, que não lealmente a acompanharam em todas as phases da lucta, e que ella não pode, sem indecoro, abandonar agora á sua tristissima sorte?!
Não pode ser; resignada talvez, satisfeita não.(Apoiados.)
Dos outros concelhos, tão interessados no pleito, como as duas cidades, nem sequer se lembrou o nobre presidente do conselho, e por isso não curou de saber elles tambem ficariam satisfeitos. Coitados dos pobres parias, que não entram em linha de couta para cousa alguma!(Apoiados.)
Pois este lado da questão é importantissimo; porque se não trata apenas do destino dos conselhos não privilegiados do districto de Braga, o que já seria muito, mas da sorte de todos os não autonomos do paiz, e que constituem a grande maioria d'elle.(Apoiados.)
Peço ao honrado presidente do conselho que olhe tambem o problema por esta face, revendo e examinando de novo o processo antes de proferir sentença definitiva.
É appellar de Filippe para Filippe, mas creio na proficuidade do recurso, porque sei fazer justiça á rectidão das intenções de s. exa., como sempre a fiz aos altos dotes do seu espirito.
Quando, durante o ministerio transacto aqui se ventilou esta questão, disse eu que, nunca a discutiria na arena partidaria, e qualquer que fosse a minha posição politica n'esta casa, estaria sempre ao lado d'aquelles que pugnassem pela integridade do districto de Braga, viessem elles d'onde viessem, entendendo então por integridade como todos entendiamos, a real e verdadeira, e não a illusoria e mystificadora de que ora se falla.
O que n'essa epocha disse, repito-o hoje e hei de dizel-o ámanhã. Se o nobre presidente do conselho, reflexionando sobre o assumpto, descobrir uma formula de conciliação, que sem prejuizo d'aquelle principio - o da integridade do districto - seja equitativa e acceutavel para todos os interessados hei de apoial-o francamente n'esse pensamento.
Se persistir na que annunciou, desairosa para Braga e esmagadora e humilhante para o districto, e eu ainda tiver logar n'esta camara, quando aqui por qualquer modo, se debater essa parte da reforma administrativa, hei de oppugnal-a quanto nos minhas debeis forças couber, como igualmente a oppugnaria, se ella viesse dos meus amigos politicos.
E nada mais sobre este objecto, que não é opportuno o ensejo para entrar em desenvolvimento.
Permitta-me porém, v. exa. que sobre outro assumpto eu diga ainda duas palavras, duas palavras, duas só para informar o nobre presidente do conselho e ministro do reino do modo como os seus delegados no districto de Braga entendem e usão a tolerancia politica, proclamada pelo governo.
Não foi só em Fafe, em Vieira tambem houve ultimamente na secretario da administração do conselho uma verdadeira razzia, sendo demittidos de uma assentada os dois amanuenses e até o official de diligencias, não por erro de officio ou por outro motivo de serviço, de que haja noticia, mas ao que parece, pura e simplesmente por falta de confiança politica, se não tambem pelo empenho de collocar outros que tivessem bons padrinhos.
Os victimados, todos pobres, viviam dos proventos dos seus empregados, e um dos amanuenses tem familia numerosa, na maior parte inhabil para o trabalho, e que se sustentava pelo ordenado do seu chefe, ficando d'aqui em diante reduzida á miseria á miseria.
Nem por sobras faço ao respeitavel presidente do conselho a injuria de suppor que s. exa. a approva ou consente estes factos, porque de sobejo conheço a elevação e benignidade dos seus sentimentos, mas tambem me fallece o animo para lhe pedir que inquira e providenceie, se s. exa. ha de resolver afinal, unicamente pelas allegações dos que intervieram na hecatombe e são suspeitos para informarem dos seus actos.(Apoiados.)
Se houve erro de officio ou outra falta de serviço que legitime o procedimento, deve existir algum documento comprovativo, e esse documento seria o criterio e testemunho irrecusavel. S. exa. proverá como por melhor tiver. Vozes: - Muito bem.
(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados de ambos os lados da camara.)
O sr. Presidente do Conselho de Ministros(Luciano de Castro): - Eu, sr. presidente, vim á camara quasi que expressamente para responder ao illustre deputado que tinha por vezes annunciado n'esta camara vontade de me dirigir algumas perguntas sobre o conflito de Braga e Guimarães. Vim por contemplação com s. exa..
Na verdade, sr. presidente, nada tenho que acrescentar ás palavras que por vezes tenho pronunciado n'esta camara, onde já expuz as idéas geraes do meu projecto de reforma administrativa no que se pode referir ao conflito levantado entre aquellas duas cidades. Segundo essas idéas fica inteiramente salva a integridade do districto de Braga, como eu a entendo, não como a entende o illustre deputado.
Não posso acrescentar mais do que o que tenho dito, porque quando ao modo de realisar o meu pensamento, reservo-me perfeita e completa liberdade para o fazer como julgar mais conforme aos interesses publicos.
Quer o illustre deputado discutir apreciar as minhas idéas e conhecer a forma pratica da sua realisação? Parece-me que é cedo para isso. Espere s. exa. que eu apresente o meu trabalho e quando o podér examinar em todas as suas minuciosidades, então será occasião opportuna para fazer a sua critica, e ver se o meu pensamento satisfaz ás conveniencias geraes, e resolve o actual conflicto entre Braga e Guimarães.
Se eu mesmo, ainda que quizesse, não poderia expor no momento actual todos os promenores da execução do meu pensamento, como quer s. exa. discutil-o e aprecial-o já?
Portanto, tomando nota das considerações do illustre deputado, procurarei, na realisação da minha idéa, atalhar todos os inconvenientes a que s. exa. se referiu e quanto ao maisso posso dizer que não ha contradicção entre o