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1134 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

pero, irritado, inconveniente, amuado e ameaçador, sem serenidade nem reflexão, desorientado de todo, levantar um violento conflicto d'esta ordem, lançar suspeitas injuriosas sobre o caracter de um ministro da corôa, e sobre a dignidade da camara, que tentou offender! Vir assim, tão intempestivamente, exhibir mais uma vez o seu usado systema de ameaçar tudo e todos, de com meias palavras pretender fazer insinuações o levantar suspeitas, declamar que se o apertarem hade dizer tudo, como quem quer intimidar e d'isso tem meios, é de mais! Pois diga, diga tudo, tudo; mas diga-o de uma vez sem rebuço, nem reticencias! (Apoiados.) Diga, póde dizer á vontade, que nós não temos medo, ninguem aqui receia as suas revelações! E eu muito menos que ninguem, porque em toda a minha vida publica ou particular, nunca tive negocios ou arranjou duvidosos, de que me arreceiar, com banqueiros que façam parte d'esta camara, ou com quaesquer outras entidades que tenham que me lançar em rosto acção ou palavra de que haja de me envergonhar! Não estou pois resolvido, a como membro d'esta camara, ficar silencioso e sem protesto de vehemente indignação, deixar-me enxovalhar pelas palavras e altitude com que o arrogante banqueiro sr. conde de Burnay, acaba de o tentar fazer!

A furia das suas bravatas não póde nem deve intimidar ninguem!

O sr. deputado banqueiro, agente de negocios e delegado do governo, está fazendo um mau uso do seu mandato, do direito que lhe confere o diploma que lhe deu a honra de aqui entoar, de ser nosso collega! E eu que até agora tinha por s. exa. a consideração que me merecem todos os meus collegas, vejo-me obrigado ceio seu insolito procedimento, que fere o brio da collectividade e o decoro da instituição que representamos, a retirar-lhe não só essa consideração, mas toda a confiança que me merecia como deputado da nação, como meu collega!

Pretender fazer d'esta casa do parlamento portuguez agencia de negocios rendosos, e ainda por cima offender os que os não tem, nem querem ter, é de mais e excede os limites da tolerancia parlamentar!

Nós já assistimos aqui a uma memoravel scena, não menos edificante talvez do que a de hoje, n'uma sessão do anno passado, quando o illustre banqueiro se despicou com o partido regenerador a quem tambem inconvenientemente provocou e ameaçou, é o systema, e a quem disse e de quem ouvio, cousas desagradabilissimas, crueis mesmo; mas a lição não lhe aproveitou.

O sr. Conde de Burnay: - Mas d'essa vez gostou v. exa.

O Orador: - Está muito enganado! Não gostei então, como não gosto hoje! E póde ver no Diario das sessões da camara, como apreciei e lamentei o escândalo, ao ter de me referir a elle, pedindo que mais se não repetisse, para honra e dignidade do parlamento! Porque achava então, como sempre, e como agora, e por isso mais razão tenho de fallar, que catas questões assim tratadas, são vergonhosas, deprimentes, concorrendo poderosamente para o rebaixamento e descredito do parlamento, com satisfação dos inimigos das instituições, que as exploram habilmente! Achava e acho sempre, triste, improprio, lamentavel e vergonhoso, o trazer para aqui estas lavagens de roupa suja da nossa tão mesquinha politica, com que ninguem, salvo desalmados exploradores, póde lucrar! (Apoiados.)

Acho pois tão deprimente e condemnavel, o espectaculo hoje, como o de então que censurei! E então como hoje, foi s. exa. o sr. deputado banqueiro, o unico culpado! (Apoiados.) Ninguem o poderá negar.

Parece que s. exa. quer dar direito a que bem se julgue, que tinham carradas de rasão, aquelles que queriam a todo o custo impedir a sua entrada n'esta casa, suppondo-a perniciosa aos interesses da nação, e afrontosa para o parlamento!

Mas já que veiu, já que forçando a porta póde entrar, cumpre-lho provar bem induvidosamente, se póde, que aqui só é deputado, representante do paiz para defender unicamente os seus interesses, e que por fórma nenhuma deve querer transformar a sua carteira de deputado em balcão de escriptorio commercial ou agencia de negocios, por que ninguem, nenhum partido, aqui lh'o consentirá, impunemente! (Apoiados.)

Fique isto bem constatado, e d'isto se convença o arrogante e ameaçador banqueiro, que a ninguem intimida! E pela minha parte, repito, eu protesto bem alto e solemnemente, em nome da minha dignidade e da do parlamento, d'esta camara a que pertenço, contra tudo que tente ou possa tentar offender o brio, o prestigioso credito d'esta independente assembléa, contra o que o usou dizer o sr. conde de Burnay, e contra tudo que poder originar incidentes, a todos os respeitos, tão censuraveis como o de hoje!

Porque, sr. presidente, se isto assim continúa, se as acenas como a de hoje e a do anno passado, a que me referi, se repetem, sente-se a gente digna e honesta tão vexada, que d'aqui a pouco em vez de ser honra apreciada, será vergonha imfamante, o ter logar n'esta caso, o ser se deputado da nação! Dará vontade de se não entrar mais aquella porta, o que já me tem succedido algumas vezes, abandonando por completo este logar aos poderosos banqueiros aváros, que tudo levando nem a dignidade nos querem deixar, e aos politicos austeros que os tolerem e com elles queiram continuar a viver em santa paz e harmonia, até completa ruina do paiz, victima de todos.

Conclui.

O sr. Presidente: - Vae entrar-se na primeira parte da ordem da noite, que é a discussão do parecer sobre as emendas apresentadas na discussão do orçamento de despeza.

PRIMEIRA PARTE DA ORDEM DA NOITE

Discussão do pertence ao n.° 13
(parecer sobre as emendas apresentadas na discussão do orçamento da despeza)

Leu-se na mesa.

É o seguinte:

PERTENCE AO N.° 13

Senhores. - A commissão do orçamento, tendo examinado com todo o cuidado as emendas, alterações e additamentos, que foram apresentados durante a discussão do parecer relativo á fixação das despezas dos diversos ministerios, vem dar-vos conta do resultado do estudo a que procedeu.

Seguindo a ordem de precedencia dos ministerios, dentro de cada um d'elles se fará successivamente a enumeração das propostas apresentadas e das deliberações tomadas pela commissão.

Prestando justiça ao proposito que dictou as diversas propostas, a vossa commissão não póde, porém, aconselhar-vos a adopção de muitas d'ellas, porque tal facto importaria, por vezes, a derogação de leis existentes com grave damno das entidades a que dizem respeito, e outras vezes, a remodelação de serviços, que só deverá ser feita, ouvidas ás commissões competentes.

Afóra estes casos, a commissão procurou dar satisfação a todos as propostas de economias.

MINISTERIO DA FAZENDA

As propostas apresentadas foram 58, sendo 17 do sr. deputado Mello e Sousa, 38 do sr. deputado Teixeira de