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2 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Frederico dos Santos Martins, Ignacio José Franco, José da Gama Lobo Lamare e Manuel de Sousa Avides.

Acta - Approvada.

Officios

Da presidencia da Camara dos Dignos Pares do Reino, remettendo a mensagem que acompanha a proposição de lei da mesma Camara, modificando a tabella do suposto do sêllo.

Para a commissão de fazenda.

Do Ministerio da Fazenda, remettendo, em satisfação no requerimento do Sr. Deputado Manuel Affonso de Espregueira, copia do officio da Direcção Geral da Thesouraria, acompanhado da nota, a que o mesmo se refere, da prata adquirida pelo estado desde l de julho de 1890 até 31 de dezembro do anno proximo findo, com indicação do producto eu moeda depois da amoedação e respectivos lucros.

Para a secretaria

Da Legação de Hespanha em Lisboa, agradecendo á Camara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa o voto de profundo pezar, consignado na acta das sessões do dia 19 do actual mês, pelo fallecimento de Sua Majestade El Rei de Hespanha D. Francisco de Assis.

Para a secretaria.

O Se. Presidente: - Devia dar a palavra ao Sr. Deputado Oliveira Mattos para realizar o seu aviso previo, mas, como S. Exa. não está presente, vou dá-la ao Sr. Alberto Charula, que a pediu para antes da ordem do dia.

O Sr. Alberto Charula: - Tenho a certeza de que ao levantar pela primeira vez a ultima vez nesta assembleia legislativa, seria tomado do profundo enleio e viva commoção, se o meu intuito fosse o de fazer uma estreia parlamentar, e versar um assunto de interesse sim, mas não da magnitude, interesse e até paixão d'aquelle de que ma vou occupar.

Como é em favor do bem e da justiça que vou falar e venho despido de toda a preoccupação de estilo e de forma, declaro a V. Exa. que me sinto perfeitamente á vontade, tranquillo e senhor de mim.

Em 25 de fevereiro ultimo tive a honra de mandar para a mesa, endereçado ao nobre Ministro das Obras Publicas, uni aviso prévio, em que, visando, o concurso para a exploração e construcção de caminho de ferro de Mirandella a Bragança, eu pensava obter do Governo a declaração dos meios e da forma por que contava viabilizar e tornar effectivos os serviços e bases do programam d'esse concurso ainda por cumprir, não obstante haver apparecido um proponente em condições vantajosas.

Esse concurso foi pouco depois annullado e substituido por outro cujo turmo teve logar em 15 do corrente mês, caducando por isso e, por assim dizer, toda a razão de ser parlamentar d'aquelle meu aviso previo. E se, Sr. Presidente, eu assim não o communiquei a V. Exa., e não mandei para a mesa a respectiva nota de desistencia, foi porque mui calculadamente eu espreitava o momento de me ser concedido o uso da palavra para vir formular ao nobre Ministro das Obras Publicas algumas perguntas acêrca da forma de liquidação d'esse importante assunto.

As circumstancias, porem, precipitaram a urgencia das minhas considerações, e hoje que logrei obter a palavra, cousa tão difficil antes da ordem do dia, principalmente para um Deputado da maioria, ou venho dirigir algumas perguntas sobre Ministro e pedir a S. Exa. a honra de uma resposta que sirva para desvanecer todas as apprehensões e receios, naturalmente levados ao espirito dos regionaes d'aquella provincia, pelos brados alarmantes da não realidade do projecto e ainda pela lembrança dos respectivos insuccessos d'esta tentativa.

Eu não vou falar da justiça, dos interesses, das conveniencias e das vantagens do caminho de ferro de Mirandella a Bragança; a justiça, d'esse caminho de ferro está affirmada e confirmada num documento publico, a abertura do concurso. A necessidade, e indispensabilidade da sua construcção e exploração vem desde ha muito sendo conclamada pelos regionaes que impetram a graça d'esse beneficio; no entanto, eu sempre direi a V. Exa. e á Camara, que essa questão é tão capital e tão momentosa que se pode considerar como uma questão de vida ou de morte para aquelle districto, e todos nós, aquelles que temos olhos de ver e algum sentimento de interesse e piedade assim a devemos considerar, porque aquelle abandonado rincão de Portugal, a provincia de Trás-os-Montes, tem sido desprezada e posta de parte, donde ha muitos annos, sem que até hoje se lhe fizesse a duvida justiça.

A tentativa do caminho de ferro, devo dizê-lo de passagem, só agora teve começo de execução, traduzido num acto publico de viabilidade, e por isso os transmontanos teem já uma boa porção de agradecimentos para o nobre Ministro das Obras Publicas, para o Br. Presidente do Conselho, para todo o Governo; mas é preciso mais, e esse mais ha que fazê-lo.

A provincia de Trás-os-Montes, e nomeadamente a parte norte, pode bem considerar se, sem arremedou de rhetorica, como uma filha bastarda d'essa grande mãe patria, no que respeita ao desamor e dessemelhança com que, ao lado das demais provincias suas irmãs legitimas, tem sido tratada, mormente em relação aos beneficios da viação publica.

Sr. Presidente: não ignora V. Exa., nem o ignora a Camara, que representando essa provincia uma superficie de 1.111:000 hectares, possue apenas um minusculo caminho de ferro de via reduzida, que a não percorre em mais de 55 kilometros; que ha concelho no districto de Bragança que ainda não lograram cerzir se e ligar-se aos demais e ao país por uma unica via de communicação ordinaria, tendo apenas ao seu serviço impraticaveis e escabrosos caminhos vicinaes, e succedendo em alguns d'elles, como por exemplo, e do Miranda do Douro, que se torna mais facil, rapido e com modo chegar até lá por um trajecto procurado no vizinho Reino de Hespanha, do que por um qualquer outro aberto no proprio país!

Eu que tive a honra de ali viver, por espaço de quasi dois annos, e tive por isso de percorre-lo differentes vezes, experimentei lhe bem as desvantagens e agruras do primitivo atraso da viação.

E porque isto sei, porque isto conheço, não posso deixar de fazer algumas perguntas ao Sr. Ministro das Obras Publicas acêrca da momentosa questão do caminho de ferro, a fim de, como já disse, serenar a onda de anciedade que corre em todos os espiritos por saber o futuro que nos espera.

Pergunto:

1.° Está o nobre Ministro e o Governo na disposição firme e inabalavel de trazer ao Parlamento na actual sessão legislativa o bastante projecto de lei para a approvação d'aquelle caminho de ferro?

2.º No caso affirmativo, está o Governo decidido a fazer seguir sem demora esse projecto de modo a discutir se e votar-se ainda na mesma sessão em uma ou outra casa do Parlamento?

São estas as perguntas que venho formular, e cuja resposta desde já agradeço, convicto do que ellas hão de servir para desvanecer todas as apprehensões e receios que lavram no espirito dos povos d'aquella região.

O orador foi cumprimentado.