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1094 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

pelo governo da metropole, foram estabelecer-se em Mossamedes.

Em 1849 chegavam a esta possessão, vindas de Pernambuco, grande numero de familias portuguezas, e a esta expedição se seguiam outras procedentes d'aquella provincia do Brazil e da Bahia.

A historia d'essas primeiras colónias, se é pouco consoladora pelas dificuldades que as assoberbaram, e pelo resultado pouco prospero de algumas d'ellas, é ainda um argumento bem frisante em favor das condições excepcionaes d'essa região, que, a despeito de todas as contrariedades, conseguiu manter a justa fama que adquirira.

Removidas pouco a pouco as primeiras difficuldades afastadas as consequencias dos primeiros erros e inexperiencias, continuaram a estabelecer-se feitorias, montaram-se engenhos de distillação, iniciaram-se algumas industrias, e Mossamedes começou a adquirir o aspecto alegre de uma região cujo clima vivifica, cujo solo remunere largamente as fadigas do trabalhador.

Constituiram-se novos centros de colonisação, fundando só com os colonos enviados pelo illustre marquez de Sá da Bandeira as povoações da Huilla, Gambos e Humbe.

Em 1881 formou-se na Humpata a colonia S. Januario, com familias boers que haviam emigrado do Transvaal

Desde 1884 tem se promovido com maior empenho a emigração para Mossamedes, e ao intelligente desvelo com que se tem cuidado de assegurar em boas condições o estabelecimento dos emigrantes, quasi todos dos da Madeira, se deve a fundação das florescentes colonias da Humpata, Sá da Bandeira e da Chibia.

O districto de Mossamedes está, pois, em um periodo de largo desenvolvimento, que só póde explicar-se pelas condições especiaes do seu clima e do seu solo. A agricultura apresenta-se florescente em um grande numero de fazendas, a industria tem acompanhado o progresso d agricultura, e encontram-se já ali, alem dos estabelecimento do pesca e salga de peixe, que são muitos e importantes, varias fabricas de tecidos e outras que podem, quando ajudadas de maiores capitães, adquirir condições de larga producção.

Se pretendessemos confirmar estas asserções com informações mais precisas, bastar-nos-ía indicar os valles dos rios Berco, Giraul e Coroca, onde encontrariamos 78 fazendas abrangendo uma área de 8:900 hectares, com largas culturas de cereaes, legumes, algodão, canna saccharina, importantes distillações de aguardente, occupando 30 motores, grande numero de machinas e não menos de 1:500 trabalhadores; as regiões de Capangombe, onde achariamos 27 fazendas occnpando uma área de 5:000 hectares, em algumas das quaes ha extensas plantações de algodão e canna saccharina, occupando grande numero de machinas e motores, e que só requerem para largamente prosperarem melhor aproveitamento das aguas, que aliás não escasseiam, e os concelhos da Huilla e da Humpata, onde ha cerca de 20 propriedades agricolas, alem das florescentes colónias Sá, da Bandeira, S. Januario, Chibia e dos boers. E se mais demoradamente nos occupasscmos d'estas colonias, acharíamos era todas as informações, tanto officiaes como particulares, as provas evidentes da rapidez com que ellas têem progredido, encontrando-se hoje já n'aquelles pontos centros de população consideraveis, onde os colonos vivem em habitações confortáveis, tendo em volta largos campos agricultados, e vendo com alegria transferidos os seus lares para uma região saluberrima, onde a familia se reproduz, apresentando os filhos o aspecto sadio dos climas mais benignos da Europa.

Se estudarmos, porém, não só as condições agricolas da região de Mossamedes, mas ainda a historia da sua colonisação, reconheceremos facilmente que, afora uma facha relativamente estreita do litoral e alguns tratos nas faldas da Chella, os terrenos que offereçam aos colonos todos os elementos para um largo desenvolvimento são os que se abrem no vasto planalto que se desenrola ao transpor esta serra. É ali que a fertilidade do solo, a abundância das aguas correntes, a maior regularidade das chuvas, a suavidade do clima mais favorecem uma larga colonisação. É ali onde facilmente se têem desenvolvido e prosperado as colónias, ao passo que em outros pontos têem tido de luctar com dificuldades graves, que lhes tem tolhido o adiantamento.

A plena confirmação de todas estas asserções é-nos fornecida pelos resultados obtidos em relação ao nosso movimento de emigração. Ê de todos sabido que os emigrantes portuguezes, que em geral se dirigem para a America, saem de algumas das nossas províncias do norte do reino, do archipelago dos Açores e da Madeira.
Desde que a intelligente iniciativa do illustre ministro da marinha, o sr. Manuel Pinheiro Chagas, procurou encaminhar para Mossamedes a emigração da Madeira, póde dizer-se que a corrente desta ilha cada dia mais se acentua em direcção a Africa, e nada haverá que a desvie, desde que as esperanças, que as noticias dos colonos já estabelecidos vão cada vez mais alentando e fortalecendo nos que se vêem forçados a abandonar a sua terra natal, não sejam destruidas por quaesquer causas de desalento e de desanimo. Hoje o governo não lucta com a difficuldade de encontrar na Madeira colonos que vão estabelecer-se em Mossamedes, porque, a solicitarem passagem e os recursos indispensáveis para irem fundar novas colónias, ou aggregar-se às já fundadas no planalto da Chella, só apresentam todos os dias às auctoridades do Funchal dezenas de familias. Tem sido necessario se não contrariar, pelo menos moderar este empenho, por se não julgar prudente accumular os colonos no planalto de Mossamedes, sem primeiro haver estabelecido communicações fáceis com o litoral.

E a rasão deste procedimento do governo será facilmente comprehendida desde que se attenda às condições que faltam às actuaes colónias de Mossamedes para adquirirem a prosperidade a que podem attingir.

Não offerece a zona do litoral as condições de fertilidade requeridas para uma larga colonisação. É necessario ir alem de uma facha, cuja largura não póde calcular-se em menos de 100 kilometros, para se encontrarem nas faldas da serra da Chella terrenos que, aproveitando as nascentes da montanha, como os que se acham situados entre Capangombe e a Biballa, possam ser convenientemente adaptados a fazendas agricolas.

É a uma distancia do litoral de 200 a 250 kilometros, isto é, na região elevada da Chella, que se abre o terreno para uma remuneradora agricultura, e onde todas as demais condições, como deixámos indicado, favorecem a colonisação europêa. Mas, afastadas do litoral por tão grandes distancias, sem meios fáceis de transporte para quaesquer mercados africanos ou europeus, às colónias ali estabelecidas e às que se forem estabelecendo, faltará um dos primeiros e principaes estímulos para a sua duradoura prosperidade. Não poderão ampliar as suas culturas, alem das necessidades immediatas da sua sustentação, porque
ra os productos colhidos a mais não haverá nenhuma collocação lucrativa. Deste facto vae resultando já para um grande numero dos actuaes colonos um ceito desanimo, e ao governo têem chegado representações officiaes que he denunciam que, perdida a esperança da construcção do caminho de ferro, seria difficil manter as actuaes colónias estabelecidas no planalto da Chella.

N'estas circumstancias seria de mau conselho promover em larga escala a emigração da Madeira, sem que primeiro se desvanecessem todos os receios e todos os motivos de desalento que começam a preoccupar e a impressionar desfavoravelmente os colonos de Mossamedes.

Testes rapidos traços se encontram as principaes rasões que, nos parece, justificam o projecto da construcção de um caminho de ferro que ligue o litoral com o planalto