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1060 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Dirigem-se immediatamente a cumprimental-o alguns srs. deputadas da maioria.

O Orador (continuando): - Confesso a v. exa., sr. presidente, que é tão estranha a minha commoção n'este momento por tornar a ver n'esta casa o mais estrénuo dos combatentes d'este lado da camara, o mais distincto orador do parlamento, que eu me sinto pequeno e como que envergonhado por ter de usar agora da palavra.

O sr. Manuel d'Assumpção: - Peço a palavra.

O Orador: - Em todo o caso cumprirei o meu dever e deitando á eloquencia de outros oradores a manifestação do jubilo que nos causa tão agradavel acontecimento, se rei muito breve no que tenho a dizer ao sr. ministro da fazenda.

Em primeiro logar, desejo que s. exa. me diga o que ha de verdade acerca do emprestimo para estradas. Já se fallou n'isso aqui e a imprensa tambem se tem occupado do incarno assumpto, mas nada se sabe ao certo.

S. exa. desmentiu a imprensa e a imprensa desmente o sr. ministro. S exa. diz uma cousa no parlamento, mas lá fóra diz se outra e eu desejo por isso ouvir explicações categoricas a este respeito; isto é, desejo que o sr. ministro da fazenda declare do um modo positivo se o emprestimo está ou não negociado.

Quanto á outra pergunta não se refere ella a assumpto dependente da pasta da fazenda; mas ainda assim talvez s. exa. me possa responder.

A companhia real dos caminhos de ferro do norte e lesto tinha obrigação de construir um ramal de Torres á Merciana dentro de um certo praso, que já expirou. Esse praso foi prorogado e está também a terminar, sem que o ramal esteja construido. Desejo, pois, sabor porque é que o governo não obrigou a companhia a cumprir essa condição do contrato, São estas as rainhas perguntas.

O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho): - A primeira pergunta respondo que não ha contradicção alguma no que eu disse aqui, com o que diz a imprensa.

No dia em que me perguntaram se o emprestimo estava contratado, eu disse que não estava; e realmente não estava; hoje respondo que está, e em condições que me parecem boas para o paiz.

Com respeito ao segundo ponto, que se refere á companhia dos caminhos de ferro, esse assumpto não cone pela minha pasta, e, portanto, não posso dar informações completas a s exa.

Só o ramal de Runa não está concluido, nem sequer começado, de quem é a responsabilidade não sei eu; mas o que posso afiançar ao illustre deputado é que o traçado ainda não passou do primitivo concessionario para a companhia dos caminhos de ferro.

Posso tambem dizer ao illustre deputado que quando eu era administrador da companhia, já havia negociações para ser substituido por outros o ramal de que se trata.

E nada mais posso informar.
(S. exa. não reviu.)

O sr. Serpa Pinto: - Peço a v. exa. que consulte a camara sobre se me permitte usar novamente da palavra para responder ao sr. ministro.

Foi concedido.

O sr. Serpa Pinto: - Uma vez que o emprestimo está negociado, simplesmente quero pedir a s. exa. que mande publicar officialmente o modo como elle foi contratado, ou que mande a esta camara uma nota com esse esclarecimento.

Quanto á segunda pergunta, não me admiro que s. exa. ignore a questão do ramal a que me referi, porque s. exa. anda sempre muito mal informado a respeito dos negocios da companhia dos caminhos de ferro do norte e leste.

Sr. presidente, ou disse a v. exa. que seria breve, e por isso nada mais acrescentarei, reservando-me para outra occasião conversar com o sr. ministro sobre os dois pontos de que me occupei.

O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho):- Com respeito aos documentos relativos ao emprestimo, digo ao illustre deputado que serão publicados, na proxima semana, no Diario do governo, todos os que o devem ser e que os restantes serão remettidos a esta camara.

Quanto á construcção do ramal do caminho de ferro, a que s. exa. se referiu, eu não posso ter um conhecimento minucioso do estado das negociações para esse fim, porque o assumpto corre pela pasta do meu collega das obras publicas, e portanto só quando s. exa. vier a esta camara poderá o illustre deputado ser informado do que houver.
(s. exa. não reviu.)

O sr. Manuel d'Assumpção (movimento geral de attenção): - Sr. presidente, as grandes alegrias, como as dores cruciantes, quando nos tomam de assalto, perturbam, e quasi suffocam; pois não permitte o coração, vibrando violento, mais do que inarticuladas exclamações. Eu, que n'este instante pretendia entoar um cantico, sinto debil e tomada a voz, falsear-me o intento, e nem sequer logro traduzir em phrases esta immensa alegria que me domina.
Manuel Pinheiro Chagas entra de novo a occupar o seu posto de honra no parlamento, e este facto que deveria ser saudado com os requintes da mais nobre e florida eloquencia, encontra a minha palavra froixa, descolorida, entrecortada pela commoção, que mal póde pallidamente expressar o sentimento enorme da minha alma.

Perdoe-mo v. exa. e a camara se tão ousadamente, e com tão fraca voz, me antecipei a ser interpetre do sentimento de nós todos. E digo nós todos, porque estou convencido de que a todos os membros d'esta camara, a todos os que me escutam, domina n'esta occasião igual sentir. (Apoiados.)

Sim, sr. presidente, qualquer que seja a nossa divergencia de opiniões, sejam quaes forem as luctas em que andamos empenhados, todos nós somos portuguezes, todos nós amâmos este formosissimo Portugal, nos orgulhâmos das suas glorias, e estremecemos vaidosos os seus filhos, sobretudo quando são tão distinctos, tão elevados, tão nobres, tão illustrados, tão gentis, como Manuel Pinheiro Chagas.

Vozes: - Bravo, bravo.

O Orador: - E, pois, unanime a camara n'esta alegria, e igualmente sincera na sua manifestação. (Vozes: - Muito bem.)

Estamos descansados; passaram as horas do perigo, aquelles dias tristes em que sobre este paiz parecia pairar a sombra da aza negra de anjo, annunciador de uma grande desgraça. A Providencia velava e não permittiu que n'um momento fatal tombasse no sepulchro aquella cabeça onde havia tanta luz; que, como estrella que se apaga para sempre, se extinguisse de vez aquelle talento brilhante que fulge e scintilla, como explende e irradia o meteoro pelo espaço; que gelasse aquelle nobre coração que sabe comprehender todos os sacrificios, pelos seus a quem estremece, pela patria a quem adora; que fosse aniquillada aquella formosissima intelligencia que atraves das fadigas árduas do trabalho improbo, encontrou sempre tempo e logar, para animar os que estudam, o trabalham, para os aconselhar e dirigir na carreira difficil das letras, e para os applaudir a cada novo triumpho que satisfeito os vê alcançar.

Alma formosissima, grande coração, intelligencia profunda, ainda bem que foste restituido ao convivio do todos os que te prezam; que foste de novo entregue aos teus amigos e collegas, restituido ao teu paiz, salvo para o coração da tua familia! (Apoiados.}

Termino, sr. presidente, fazendo um voto, uma proposta se é necessaria, para que na acta da sessão de hoje fique de algum modo expressa a alegria, que sente a camara dos deputados, por ter de novo no seu seio, Manuel Pinheiro Chagas. (Muitos apoiados.)

Vozes: - Muito bem.