SESSÃO DE 14 DE ABRIL DE 1888 1061
O sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho): - Não tinha acompanhado a resposta que deu ha pouco ao sr. Serpa Pinto, com reflexões algumas acerca do acontecimento feliz a que o illustre deputado se referiu, porque não queria privar algum deputado do lado esquerdo da camara de ser o primeiro a manifestar os sentimentos de regosijo e alegria que todos ali sentiam por verem completamente restabelecido e de novo entre os seus collegas o sr. Pinheiro Chagas.
N'este momento, quer apenas dizer que o governo se associa cordialmente aos nobilíssimos sentimentos manifestados pelo sr. Manuel d'Assumpção, e que agradecerá, como se fossem feitas a elle proprio, todas quantas manifestações a camara queira dar do seu jubilo pelo restabelecimento do sr. Pinheiro Chagas, e pelo facto de s. exa. vir de novo honrar esta casa com a sua presença e com o seu talento. (Vozes: - Muito bem. (Apoiados geraes.)
(O orador ao pronunciar estas palavras manifestava, profunda commoção.)
(S. exa. não reviu.)
O sr. Arroyo: - Sr. presidente, parecerá talvez estranho, depois das phrases eloquentemente proferidas, sentidamente expressas, e profundamente pensadas, do meu illustre amigo o sr. Manuel d'Assumpção; parecerá talvez estranho, depois da saudação feita em termos tão claros, tão nitidos, tão patrioticos e tão alevantados, pelo sr. ministro da fazenda, que eu use da palavra n'este momento.
Mas v. exa. comprehende que o sangue meridional, que o temperamento do individuo, que uma profunda amisade, e mais do que uma profunda amisade, uma enormissima satisfação, manda mais, impera mais do que ajusta admiração pelas palavras brilhantissimas dos srs. Manuel d'Assumpção e Marianno de Carvalho.
E é-me agradavel vir dizer aqui, no seio do parlamento, n'estes poucos instantes roubados á lucta incruenta, sim, mas indefessa, que nós todos travamos com igual patriotismo e com igual lealdade, cada um em defeza do seu credo politico, mas todos em defeza do paiz; é-me extremamente agradavel poder usar da palavra em um d'esses breves instantes, em que pela voz dos correligionarios e adversarios politicos, pela mesma idéas pelas mesmas aspirações, ouço entoar o mesmo cantico, o mesmo grito de alleluia, que sáe de todos os corações, que rebenta espontaneamente dos nossos labios. (Muitos e repetidos apoiados) Sim! Pinheiro Chagas resuscitou para a lucta para a familia, para o parlamento, e para a sua patria, da qual é honra e gloria! (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)
Sim; resuscitou depois de um periodo amarissimo, que fez resaltar dos olhos dos seus mais obstinados e irreconciliaveis adversarios, lagrimas sentidas de compaixão e pezar; depois de uma crise tremenda de dores e angustias em que o paiz inteiro, pela voz dos oradores, pela manifestação unanimo da imprensa, por um movimento geral de sympathia, juntou ao commentario merecido do crime nefando a expressão do maximo affecto e apreço a que um trabalhador, a que um grande espirito póde aspirar! (Apoiados geraes.)
O dia de hoje é de allivio e alegria para a alma nacional. E n'este dia solta a nossa voz irresistivelmente um grito de "viva" por essa individualidade brilhante, que timbra no exercicio de todos os deveres patrioticos; um grito de aviva" por esse espirito amantissimo dos seus e da sua patria, e exemplo vivo para todos nós, amigos e adversarios politicos. (Muitos e repetidos apoiados.)
Quando Pinheiro Chagas regressou de novo a esta casa, preencheu-se um logar, que até então estava interinamente devoluto, porque ninguem podia substituil-o; (Apoiados) porque n'esta individualidade gloriosa ha alguma cousa que brilha mais do que o rutilar da intelligencia, do que o esfusiar do talento; é um thesouro de qualidades de dedicação, de abnegação, de generosidade, que rarissimo se encontra em tão alto grau. (Apoiados - Vozes: - Muito bem.)
Pinheiro Chagas fica na historia parlamentar portugueza como um cerebro modelo servido por uma alma de eleição e por um trabalho herculeo.
Quando um dia a pedra tumular se cerrar sobre o seu corpo, ficará d'elle a memoria de uma altissima individualidade intellectual, que soube alliar a uma obra collossal de parlamentar, de jornalista, de historiador e de artista, no sentido de um immaculado programma litterario e politico, predicados preciosiossimos de coração. A elle a saudação do seu partido; a elle a saudação de todo o parlamento; e parece-me que digo com rasão: a elle n'este momento feliz, e pela minha fraca voz, o protesto de respeito, reconhecimento e admiração, e a expressão do enorme jubilo de todo o Portugal!
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O discurso será publicado quando s. exa. o restituir.)
O sr. Carlos Lobo d'Avila: - Mal pensava eu quando ha poucos momentos entrei na camara, que teria de usar da palavra hoje por um motivo, ao mesmo tão grato e tão commevedor para o meu espirito e para o meu coração.
O sr ministro da fazenda, em palavras brilhantissimas, que fazem a maior honra ao seu caracter, (Muitos apoiados.) consignou já a declaração, de que se associava em nome do governo a todas as manifestações de sympathia com que a camara quizesse saudar o sr. Pinheiro Chagas no seu regresso ao parlamento; e eu, embora sem grande auctoridade para isso, mas julgando interpretar os sentimentos de todos os meus collegas da maioria, (Muitos apoiados na direita.) venho em nome d'ella associar-me cordialmente a todas as demonstrações de jubilo partidas d'aquelle lado da camara, (Muitos apoiados na direita.) porque esta manifestação não é de um grupo ou de um partido: traduz os sentimentos do paiz inteiro. (Apoiados geraes )
E se eu tomo para mim a honra de representar n'este momento os meus collegas da maioria, é que me recordo de que, quando eu acabava de entrar na universidade, e atirei para a luz publica, com a audacia da juventude e da inexperiencia, um pobre livro de que ninguem se lembra o que eu proprio não sei já bem do que tratava, foi Pinheiro Chagas que me deu a mão apresentando-me ao publico, com palavras de immerecida e generosa bondade.
Não esqueci este facto quando me assentava nos bancos da opposição e o sr. Pinheiro Chagas era ministro da corôa; (Apoiados.) não o esqueci quando, no meio das luctas ingratas da politica, em mais do una recontro violento, tive de cruzar a minha penna ou a minha palavra com a penna e com a palavra do illustre jornalista e parlamentar; não o podia esquecer hoje, em que se trata de prestar uma homenagem de consideração e sympathia a um homem, que prezo, e cuja vida póde servir de lição e exemplo, sobre tudo aos que amam o estudo e o trabalho. (Muitos apoiados.)
Quando Pinheiro Chagas foi victima de um desastre, o desappareceu subitamente d'aqui, nenhum de nós se lembrou mais das paixões que elle aqui concitara, das palavras vehementes que aqui proferira, no ardor das luctas que aqui se travam.
Mas todos nos lembráramos, com profundo sobresalto, de que estavamos em perigo de perder um grande talento e um nobre caracter. (Vozes: - Muito bem.)
Permitia a camara que eu reavive estas impressões, que estão na memoria de todos, e que nos dão a consoladora certeza de que no meio dos combates ingratos e tanta vez estereis em que nos degladiamos, não se apagam em nós certos sentimentos fundamentaes, que são a honra dos individuos como das sociedades. (Vozes: - Muito bem.)
A camara tomará como a expressão sincera dos meus sentimentos, as poucas palavras que acabo de proferir, e em que supponho ter reproduzide o sentimento de todos os meus collegas da maioria. (Vozes: - Muito bem.)
O sr. Pinheiro Chagas (muito commovido): - Sr. pre-