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APPENDICE A SESSÃO DE 8 DE JULHO DE 1890 1102-E

ciso saber-se o paiz que se governa, conhecer os direitos dos individuos, etc., etc.

S. exa. não tem direito de mexer com os homens á sua vontade como mexe com as pedras do xadrez, porque essas são inanimadas e nós não.

O governo transporta para o paiz sem criterio tudo quanto se faz lá fóra, sem querer saber se as circumstancias são as mesmas, só a indole do povo é a mesma, e se as rasões que motivaram essa medida são analogas. O que eu vejo, é que todos os ministros fazem o mesmo que tem feito o sr. Arouca no ministerio das obras publicas. Quando lhe fazem reflexões sobre os seus actos mal pensados, elle responde logo: deixe, que agora governo á bruta.

Posso affiançar á camara que isto é textual.

Basta esta phrase para caracterisar um ministro o um ministerio. Todos os ministros governam á bruta, a differença é que não o dizem.

O sr. Arouca é mais franco. Isto não é governar é anarchisar. Os ministros tratam de saber o que é bom nos paizes estrangeiros e sem mais criterio querem logo applicar ao nosso.

Não se lembram, que nem as plantas se aclimatam bem em todos os terrenos. Bem pequeno é o nosso paiz e com tudo não se póde adoptar em toda a parte o mesmo genero de cultura.

Transportem s. exas. o milho da provincia do Minho para a do Algarve e vejam se elle lá se dá.

A vinha de enforcado que se dá bem no Minho, já não produz na Extremadura e Alemtejo.

Para isto é que os ministros deviam olhar.

Como querem s. exas., que uma lei, que e applicada num paiz differente dando bons resultados, dê os mesmos applicada no nosso?

O que acontece com as leis acontece com os homens. S. exa. entende, que pelo facto de encontrar um ou muitos homens, que se deixam dominar pela vontade do governo, ha de acontecer o mesmo a todos? Engana-se, eu sou de tempera mais rija. Não me curvo á sua vontade, nem me sujeito ás suas exigencias e caprichos.

O sr. ministro da fazenda, repito, decretou que a discussão d'este projecto havia do terminar num certo dia, e eu que tinha tenção de terminar o meu discurso hontem de tardo, sabendo isto entendi que lhe devia fazer abortar os planos, e tanto mais quanto elles são prejudicialissimos ao paiz e ao misero contribuinte. O meu dever como amigo do povo é impedir o mais que possa os intentos do sr. ministro da fazenda, porque elles são ferinos, e anti-humanitarios. Pois eu havia de assumir a responsabilidade de deixar votar este projecto sem protestar com todas as minhas forças contra tão inqualificavel, como inaudito attentado e sem empregar todos os meios ao meu alcance para o evitar?

Só se eu não comprehendesse o meu dever, nem qual era a minha missão.

Eu tive muito trabalho em conquistar os votos dos meus eleitores, prometti-lhes, quando andava por lá, que havia de defender calorosamente os seus interesses, e foi n'essa hypothese que elles votaram em mim, porque tinham uma certa confiança em que eu era homem para cumprir a minha palavra, e agora havia de faltar a ella?

Ora, pergunto eu: na primeira campanha séria, que se fere nesta casa, em que se pretende atacar os haveres do povo, não hei do empregar toda a minha energia para os defender? Havia de conservar-me sentado mostrando ter medo do sr. ministro da fazenda? Isso seria indigno de mim. (Apoiados.)

Se tal acontecesse, a primeira cousa que eu tinha a fazer era mandar entregar o meu diploma aos eleitores que mo confiaram. Não tinha outra cousa a fazer.

O sr. ministro da fazenda o os seus collegas substituem-se ao parlamento quando elle está fechado. Querem fazer o mesmo quando elle está aberto? (Apoiados.) Pela minha parte hei de protestar, embora seja só.

Deviamos ser nós, quem havia resolver quando um debate deve terminar. Quando os deputados de um e outro lado da camara estivessem suficientemente esclarecidos, ou quando se tivesse esgotado a inscripção, então seria occasião opportuna para se julgar a materia discutida; ou ella estava discutida por sua natureza.

Agora, porém, creio que ainda ha alguns srs. deputados d'este lado da camara, inscriptos sobre a materia, e entre ellcs os srs. Manuel de Arriaga e Luiz Bandeira que desejam muito fallar.

O sr. Manuel de Arriaga, para mais ajuda, é representante do partido republicano, que n'esta questão ainda não conseguiu apresentar as suas idéas.

Não comprehendo como o sr. ministro da fazenda quer calar a voz dos representantes do partido democratico, um dos mais affectados com esta medida, porque é o pobre quem mais soffre.

O sr. Manuel de Arriaga tem deveres a cumprir, e é preciso que s. exas. lhe dêem occasião para que s. exa. se desempenhe dos compromissos que tomou.

Se s. exas. entendem que elle não deve fallar, só lhe estrangulam a palavra, como ha de esto illustre deputado cumprir os seus deveres?

E desde que isto chegou ao meu conhecimento o que hei de eu fazer? (Apoiados.)

Deixem-se de perrices. Os ministros não devem vir para aqui fazer perrices. As perrices são para as creanças.

Deixem fallar os meus collegas; de outro modo convençam-se de que não conseguem cousa alguma.

Os ministros não são para fazerem perrices. Os ministros são para procederem com criterio e meditação. Os ministros devem ter uma alma generosa e animo elevado, (Apoiados.) não são para perrices, que é cousa de creanças.

Como querem que o paiz os tome a serio, quando s. exas. fazem cousas d'esta ordem?

É preciso que o paiz saiba, que eu, procurando evitar que o sr. ministro da fazenda leve por diante esta perrice, estou defendendo os interesses nacionaes, porque estou dando tempo a que as representações que se estão organisando em todo o paiz contra este vexatório imposto, cheguem a esta casa. É por isso que o sr. ministro da fazenda quer terminar quanto antes esta discussão.

Mas, se, se faz a vontade uma vez ás creanças, depois não ha meio de ter mãos n'ellas. Se os pães consentem, que as creanças lhe façam uma perrice, depois não têem meio de lhes evitar as outras.

Assim, o sr. ministro da fazenda quer fazer esta perrice; se lh'a consentirmos, a segunda não ha meio de lha evitar, e depois fica malcrcado para todo o sempre.

Ou imagina s. exa., que nós somos creanças que nos intimidemos com as suas poses ou com as suas arrogancias?

Engana-se redondamente se tal imagina.

Dá, ou não dá, s. exa. licença para que os meus collegas que estão inscriptos usem da palavra n'este debate?

Se dá esta licença, eu serei o mais breve possivel. Se não dá continuarei, e creia que não levará por diante o seu intento. Se quer ganhar tempo, o que consegue é perdel-o. Declara ou não o sr. ministro da fazenda se deixa fallar os meus collegas que ainda estão inscriptos?

Se declara, serei o mais breve possivel, se não declara, continuo fallando e s. exa. não lucra nada nem a camara, porque o tempo que os meus collegas haviam de tomar, torno-o eu. De mais a mais, n'este projecto principalmente, a vontade do povo está em contraposição com a vontade do governo; o governo tem muita pressa em que este projecto passe e o povo não tem pressa em soffrer as consequencias da sua approvação; logo, demorando eu quanto possa essa approvação satisfaço aos desejos do povo, que é para o que estou aqui.