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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

bem as dos postos superiores, porque aliás esses officiaes ficariam eternamente no mesmo posto.

Era, portanto, preciso augmentar o generalato; e se se viesse apresentar á camara uma organisaçao n'estes termos, que era a consequencia inevitavel do serviço obrigatorio, como o entendeu a Allemanha, a França, a Italia e outras nações, tinha necessariamente que propor um consideravel augmento nos quadros, e isto traria immediatamente um consideravel augmento de despeza. (apoiados.)

Eu creio que é necessario fazer alguma cousa n'este sentido, e que nós não podemos continuar a ter só dezoito regimentos de infanteria, doze de caçadores, oito de cavallaria, (tres de artilheria e um batalhão de engenheria.

E certo que se a força que actualmente existe chegar a 60:000 ou 70:000 homens, o que eu julgo possivel, porque executando-se fielmente o recrutamento, o continuando, já se vê, a votar-se todos os annos o contingente que deve entrar nas fileiras, dentro em poucos annos o exercito póde subir a esse algarismo, desde esse momento os quadros actuaes serão insufficientes e não poderão sem grande inconveniente conservar-se n'esse estado. (Apoiados.)

Augmentando a força do exercito na proporção em que póde e deve ser augmentada em Portugal, segundo os principios que regem este assumpto nos paizes a que me referi, os quadros têem de ser muito mais augmentados, e por consequencia não podemos continuar a fazer com elles a mesma despeza. (Apoiados.)

Não pense a camara que eu sou de opinião que estamos bem e que não ha nada a fazer, que advogo o principio de uma posição estacionaria em relação ao desenvolvimento e á organisaçao do exercito, com quanto diga, e tenha sustentado sempre, que a organisaçao actual não é tão má como parece á primeira vista.

Uma parte dos que insistem em uma nova organisaçao, é porque d'esse melhoramento resultam vantagens immediatamente para os officiaes que fazem parte do exercito.

Quando, porém, eu vejo áquelles que não têem interesse algum n'isso, que são completamente estranhos a esses melhoramentos, a essas promoções, pugnar aqui pela reforma do exercito, de uma lei que foi feita pelos seus amigos politicos e não pelo actual governo, e pedir que revoguemos a sua propria lei, declaro que não comprehendo que interesse, que empenho é este em que se reforme o exercito, em que se altere a lei que constituo a sua organisaçao actual, que é devida a um dos primeiros vultos militares, o sr. general Passos, que dirigiu com muita instrucção, zêlo e intelligencia a pasta da guerra. (Apoiados.)

Mas esta questão é velha, como o são todas ou quasi todas as questões, porque já têem sido tratadas mais de uma vez. (Apoiados.)

Quando se apresenta a questão da fixação da força armada e a do contingente, e a opposição deseja empregar a sua intelligencia e o seu saber em aperfeiçoar as leis militares, e esclarecer a opinião publica com um certo desenvolvimento, vem logo naturalmente todas as questões attinentes a este assumpto. (Apoiados.)

Tem acontecido isto muitas vezes, e é por isso que eu digo que a questão é velha. (Apoiados.)

Refiro-me agora ao nobre marquez de Sá, cuja competencia no assumpto não póde ser duvidosa.

Em 1,869 instaram com elle incessantemente para se fazer a reforma do exercito, tendo a que existia apenas quatro ou cinco annos de data,

Apertado por estas continuas observações dizia aquelle illustre general n'uma parte do seu discurso proferido por aquella occasião, o seguinte:

«Quanto mais se altera a organisaçao do exercito, tanto peior, e essas organisações repetidas não trazem muitas vezes senão despeza, quando se diz que é para fazer economia. Muda-se o feitio das barretinas dos regimentos, de infanteria, por exemplo é necessario fazer uma nova chapa, essa chapa custa pouco, mas como são muitas mil chapas, são

muitos contos de réis, E isto mesmo se dá em muitas outras cousas.»

Ora o sr. marquez de Sá não era do certo estacionario, conhecia as necessidades do seu paiz, conhecia as necessidades do exercito, mas repugnava-lho estar constantemente e amiudadas vezes a fazer reformas do exercito, tantas vezes reformado, e parecia-lhe que o que existia não estava longe de satisfazer aos fins da sua instituição. Não se diga que não conhecia o serviço obrigatorio, nem as organisações dos exercitos dos outros paizes.

Em 1869 a Prussia tinha a mesma organisaçao que tem hoje, com pequenas modificações; e em 1866 mostrou em relação á Dinamarca, como depois mostrou em relação á Austria, o quanto essa organisaçao era poderosa, e quanto valia. Não era porque então se desconhecessem as questões militares; o sr. marquez de Sá era conhecedor d'estes factos, porque era muito lido e os estudava, por conseguinte não sei por que não possa ser agora invocada a sua opinião a proposito do assumpto de que se trata.

Mas ainda que isto não vem muito para o caso, mas só porque vem n'este discurso do sr. marquez de Sá, responderei do passagem a uma observação aqui feita para amesquinhar constantemente a missão do exercito, como querendo dar a entender que fui eu que declarei á camara que o nosso exercito não servia senão para acompanhar procissões, fazer a policia de feiras e de arraiaes.

E diz-se isto, e amesquinha-se, depois de eu me ter referido á necessidade imperiosa que ha de manter a instrucção e disciplina do exercito, mostrando a inconveniencia que havia em diminuir-lhe o numero das praças de pret.

E quando se disse que o exercito só servia para a policia das feiras o dos arraiaes, alguem acrescentou: e para fazer eleições.

Estas accusações são sempre as mesmas, e fazem-se a todos; o caso é estar n'estas cadeiras; mas não se creia que só no tempo do sr. marquez de Sá não appareciam soldados nas assembléas eleitoraes.

N'este mesmo discurso de s. ex.ª lê-se uma passagem que não deixa de vir n'esta occasião a pello. E esta:

«Pelo que respeita a serem os, corpos estacionados sempre n'um local, mais ou menos efficazes para manterem a tranquillidade publica, póde haver alguma rasão na observação que s. ex.ª fez; mas nem sempre assim succede.

«Ainda nas ultimas eleições na ilha da Madeira, houve ali algumas desordens nas freguezias do norte da ilha, e o governador civil mandou uma pequena força para ali, e a ordem restabeleceu-se logo.»

Quer dizer, n'aquelle tempo tambem se empregava o exercito em' restabelecer a ordem quando ella se alterava por occasião de eleições, e n'essa occasião alterou-se a ordem na Madeira por occasião de uma eleição.

Estas accusações são antigas, são accusações que se fazem a todos os governos; que se fizeram aos anteriores, que se fazem aos actuaes, e que se hão de fazer aos que hão de vir.

Não quero dizer que ellas não tenham valor; não digo que não, sobretudo depois da susceptibilidade, que noto nos meus antagonistas.

Eu estou sempre agora a medir as minhas palavras para os não offender, nem melindrar, o que ás vezes prejudica o effeito dos meus discursos, posto que eu não lenha a pretensão de os fazer.

Ainda de passagem seja dito que a instrucção no exercito dá-se sempre nas grandes reuniões.

Eu tenho mandado fazer exercicios, organisei um campo de instrucção e manobras em Tancos, que foi fulminado, mas que foi applaudido pelo sr. marquez de Sá no seu relatorio, como ministro da guerra, apresentado ao parlamento, e que foi aproveitado pelo sr. general Sousa Pinto, meu antecessor, que mandou para ali uma divisão commandada por um distincto general, que hoje é membro d'esta casa, e isto apesar de dizer-se que o campo de ma-