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SESSÃO N.° 68 DE 23 DE MAIO DE 1898 1239

Quando tantas, nações se vieram associar a nós para nos acompanhar na commemoração de um dos primeiro acontecimentos na historia da humanidade, - e eu aproveito esta occasião, a primeira em que fallo em publico, para , agradecer, em nome do paiz, a todas as nações que no deram provas de estima e consideração, e á Inglaterra, que se nos associou por uma fórma tão sympathica, dando-nos não. só a brilhante manifestação que se viu no Tejo, mas ainda outras manifestações no seu paiz, que foram gratas a todos nós, - é justo, é uma obra de reconhecimento, que o parlamento portuguez se associe a ella n'estes dias que, com rasão, considera de luto nacional. (Muitos apoiados.)

Antes de concluir quero dizer que, logo que tive noticia official do passamento do illustre extincto, dirigi á virtuosa senhora, que foi sua companheira de tantos annos, e ao lado da qual elle expirou, em nome do governo portuguez, um telegramma, dando-lhe pezames, e significando-lhe a parte que o governo portuguez tomava na perda que ella acabava de soffrer. (Vozes: - Muito bem.)

Com respeito á manifestação da camara, proponho que á proposta do sr. José de Alpoim se addite que o voto de sentimento, seja communicado não só ao governo e ao parlamento inglez, mas tambem, á viuva, que foi companheira dedicada d'aquelle illustre estadista.

Vozes: - Muito bem.

(S. exa. não reviu.)

O sr: Dantas Baracho: - Folgo sinceramente porque o sr. ministro da justiça e interino dos negocios estrangeiros, sem esperar pela manifestação do parlamento, se tivesse dirigido á viuva do grande morto, - cujo passamento todos nós lastimámos hoje aqui, - a dar-lhe os sentimentos por parte do governo, e ainda do povo portuguez. (Apoiados.) Congratulo-me ainda porque s. exa., como deputado, fizesse uma proposta, para que das resoluções tomadas, a este respeito pela camara se desse conhecimento á familia do glorioso extincto, ao parlamento e ao governo britannicos. (Apoiados.)

E posto isto, permitta v. exa., sr. presidente, que lamente a minha tristissima situação n'este momento, que me obriga, por dever de officio, a acrescentar mais algumas palavras ao que o illustre deputado o sr. José de Alpoim acaba de expressar, no seu brilhantissimo discurso - discurso que atingiu a meta da eloquencia nas suas mais elevadas manifestações, (Apoiados.) - e em seguida á oração tão bella, tão sentida e tão convicta do sr. ministro dos negocios estrangeiros, (Apoiados.)

O illustre deputado e meu amigo, o sr. José de Alpoim, elevando a eloquencia ás cumeadas onde ella só chega em discursos proferidos por homens de excepcional engenho e de grande coração, traçou brilhantemente o perfil do illustre morto; e se eu desejasse acompanhar s. exa., n'este caminho, pouco mais me restaria do que os accessorios, devendo consignar de passagem que os accessorios d'aquelle grande homem são verdadeiras preciosidades relativamente a outros homens, até de subida cathegoria. (Muitos apoiados.)

Disse o illustre orador, sr. José de Alpoim, que na Inglaterra todos lamentam hoje a morte de Gladstone. Assim é, com effeito. Não é só a Inglaterra que o pranteia: é toda a humanidade. Na Inglaterra, onde eram mais de perto apreciados os sentimentos e a nobreza de caracter d'aquelle protentoso vulto, não choram só os inglezes, choram sobretudo as mulheres inglezas, porque elle era um christão, um crente fervoroso, um humanitario, sem competidor. (Apoiados.)

Disse ainda o sr. José Alpoim, referindo-se á fórma como se conduzira o grande Gladstone Com relação ao povo da Irlanda, que nada lhe faz mais honra, nada o eleva mais no conceito, universal do que, depois d'elle ter sido, sem contestação, o emancipador de muitos povos, porque, foi atraz da sua propaganda que alguns se resgataram, como a Bulgaria, - ter evitado que a Grecia fosse ainda mais horrivelmente sacrificada, porque foi elle quem mais instou pela intervenção da Europa, na lucta entre os hellenicos e a Turquia. (Apoiados.}

Gladstone, procurando estabelecer a autonomia na Irlanda, não vacillou em afastar-se de homens que o tinham acompanhado durante toda a sua vida, como o marquez de Hartington e até como Chamberlain, um dos ministros que mais em evidencia está, no actual gabinete inglez. Mas, não recuando diante de nenhum embaraço, sobrepujando-os a todos, quando a Irlanda appellava para a revolta e para os processos tumultuarios, não trepidou, como homem de governo, em dissolver a liga agraria e acabar com a associação dos fenians, que tanto prejudicaram à Inglaterra e a propria Irlanda. (Apoiados.)

N'este grandioso vulto condensavam-se dois homens, o homem humanitario e o homem d'estado.

Foi n'esta ultima qualidade que elle fez uma reforma, pela qual não posso deixar de me congratular, como membro da grande familia militar, ida cavalheirosa e desinteresseira communidade sobre quem, em todo o mundo, impende á responsabilidade pela conservação dos bons principios sociaes, pela manutenção da ordem e pela sustentação da autonomia patria. (Apoiados.)

Foi elle que, vencendo as mais altas resistencias na camara dos lords, conseguiu da rainha, em 1871, um decreto, pelo qual era abolida radicalmente a faculdade de compra e venda de patentes no exercito. (Apoiados.)

Não se póde imaginar as resistencias que levantou esta medida, a despeito de ella se impor a todos os espirites cultos e rectos. Mas a vigencia que ella já conta de vinte e tantos annos tem patenteado que os officiaes gosam na actualidade de uma auctoridade e de um respeito de que nunca tinham gosado até então. (Apoiados.)

Sr. presidente, a forte e poderosa Inglaterra ufana-se de que os seus homens d'estado sejam talvez os primeiros d'este seculo. Effectivamente assim deve ser. Quatro annos antes de nascer Gladstone, morreu William Pitt, o abalisado estadista, que restaurou as finanças inglezas, que só de uma vez geriu a pasta da fazenda durante dezesete annos, que morreu solteiro, sem familia, e a quem depois da sua morte é parlamento teve de votar 40:000 libras para lhe pagar as dividas.

Parallelamente com elle, é de justiça mencionar Fox, o Demosthenes britannico, o grande artista da palavra, cuja administração se impoz e impõe tambem, no Reino Unido, ao reconhecimento de contemporaneos e vindouros. (Apoiados.)

Se eu seguisse e acompanhasse, nos seus actos mais valiosos, os grandes homens inglezes d'este seculo, não poderia deixar de me referir a Robert Peel, o arrojado reformador opportunamente a Palmestron, que tanto concorreu para a libertação dos povos e que tantos serviços prestou a Portugal, ajudando-nos a implantar a dynastia liberal da Senhora D.. Maria II; (Apoiados.) a Derby, que em 1838 apresentou ao parlamento britannico o famoso bill que dava a liberdade a todos os escravos das possessões inglezas. (Apoiados.)

Este acto humanitario, levado á realidade com a maior largueza de espirito e de animo, foi depois transplantado beneficamente para outros paizes, e em Portugal teve, como cultor esmerado, o homem perante cuja memoria me me curvo reverente - Sá da Bandeira. (Muitos apoiados.)

Eu não desejo fatigar a Camara, alargando-me em prelecções sobre politica britannica depois dos brilhantes discursos que foram aqui proferidos hoje; mas antes de concluir, seja-me licito manifestar uma opinião analoga á que tatenteou o sr. Alpoim.

Gladstone entrou pela primeira vez para o poder contando vinte e seis annos de idade; a ultima vez que constituiu gabinete tinha já oitenta e quatro annos.

Por largos periodos fez parte do governo inglez. Teve