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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ral, que ha de levar o paiz á ruiua, e por em perigo as instituições.

O governo não tem outro pensamento que não seja de se conservar n'aquellas cadeiras. (Apoiados.)

É necessario cohereneia, porque todos têem obrigação de ser coherentes nos seus actos e estes devem ser aferidos pela justiça e moralidade.

Explique-se o governo, que é urgente e indispensavel affirmar por uma vez as suas opiniões, e tenha a coragem de as sustentar, ou de se resignar a largar o poder quando as não possa fazer vingar. (Apoiados.)

Desejo ouvir as explicações do governo, e estimarei muito que ellas satisfaçam a camara e especialmente o paiz.

Tenho dito.

O sr. Ministro do Reino: — Eu logo previ que este negocio devia ser muito urgente; (Riso.) e a causa da maior urgencia é que o illustre deputado passaria uma noite mal dormida se não fosse satisfeito este seu desejo.

Mas eu sou como aquelle romano que não acceitava os conselhos dos seus adversarios.

Confrangiam-se os illustres deputados da opposição porque nós ás vezes transigíssemos alguma cousa pelo bem do paiz;e não julgava eu que depois de sermos até certo ponto condescendentes nos viessem fazer uma culpa da nossa transigencia e pedir as pastas em nome d'ella.

Eu sei que o poder se abate, que nós estamos fracos. Eu regosijo me muito em ver elevar-se a opposição. O paiz está salvo, de qualquer fórma: se nós caímos ficâmos abatidos e humilhados, mas fica exaltado o illustre deputado.

Eu julgava que a reforma eleitoral estava discutida, mas parece-me que se discute ainda. Pois qual é a maioridade legal na opinião do paiz? É a de vinte, e um annos. (Apoiados.) Diz-se: mas por que não se inseriu na lei? Porque não era necessario; porque essa era a opinião do paiz.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Mas v. ex.ª ouviu dizer o contrario quando se discutiu.

O Orador: — Eu não ouvi nada; nem umas nem outras palavras.

O sr. Presidente: — Peço ao sr. deputado que não interrompa.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Gosta?

O Orador: — Declaro que gosto. Desde que o negocio era urgente, compraz-me o satisfazer a esta urgencia. Pois porque não?

Aqui não inseriram na lei qual era a maioridade legal; na camara dos dignos pares não quizeram tambem inserir qual era a maioridade legal; notavel contradicção! Se lá se aceeita a insersão, e vem para cá, como é que se havia de resolver a questão? Havia o conflicto de se inserir lá, não se tendo inserido aqui.

Esta é a conclusão logica, pelo menos para quem estudou o Genuense. Não se inserindo nem n'uma, nem n'outra parte, estamos todos de accordo.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Mas aqui é de vinte e cinco annos e na outra camara é de vinte e um.

O Orador: — Mas quem é que resolveu?

O sr. Francisco de Albuquerque: — Aqui está no Diario da camara.

O Orador: — Aqui está, e lá tambem está!

Que resultado mau julgará o illustre deputado que vem ao mundo d'esta contradicção das duas casas? Que se volte aos vinte e cinco annos? O illustre deputado não quer isso; houve algum digno par que julgava se devia ir adiante, e eu respeito a sua opinião como a dos outros.

Que resolveram as maiorias das duas assembléas? Que não era necessario na lei essa declaração. A fallar a verdade, era urgente vir fallar sobre isto, porque se não se faltasse, grande mal aconteceria esta noite. (Riso.)

Eu creio que houve antigamente no regimento um certo artigo que dizia que, quando vinha pedir-se para interromper os trabalhos parlamentares para se tratar de um negocio urgente, devia declarar se á mesa, para que não viesse tratar se agora, descabidamente, esta questão, que ataca mais o senso commum ou a logica de que a rasão.

Não vem mal d'estas perguntas, mas, para a intelligencia e lealdade do illustre deputado, vir com uma cousa que não tinha nada que ver com esta questão urgente, que não é de decadencia nem da opposição, nem do illustre deputado, mas é de decadencia de uma rasão illustrada e de uma logica concludente.

Isto não tem fim nenhum. Pelas contradicções do governo, e quebra da sua dignidade, é elle quem responde. (Apoiados.)

Zele a opposição a sua dignidade, que o governo tambem fará o mesmo da sua.

Mas o governo não cáe? Pois elle tem a desfachatez de acceitar as nossas opiniões e depois não cáe? Ha de caír.

O governo está fraco? Deitem-no a terra. Nada ha mais facil do que fazer caír um governo fraco.

E eu não gosto nada dos governos fortes.

Quanto mais fracos forem os governos, mais fortes são as liberdades publicas.

Eu tomára sempre não ter força para contrariar aquillo que for de rasão e de equidade.

Tomara não a ter. Gosto d'esta fraqueza. Que querem? Os fortes vençam e triumphem á sua vontade, não serei eu que lhes hei de embargar o passo. Antes quero caír aqui do que em alguma escada em que tenho caído. Como estamos agora quasi em familia podemos ter d'estas franquezas.

Creio que já passou a urgencia, e tambem me passou o desejo de fallar, porque tudo isto não tem fim nenhum, senão suscitar umas questiúnculas que não servem para nada que era muito melhor que não viessem ao parlamento.

O sr. Pinheiro Chagas: — Eu tinha pedido a palavra.

O sr. Presidente: — V. ex.ª tinha pedido a palavra, mas não lh'a posso conceder sem consultar a camara.

O sr. Pinheiro Chagas: — Pois peço a v. ex.ª que consulte a camara sobre se consente que me seja dada a palavra.

O sr. Presidente: — O sr. Francisco de Albuquerque creio que realisou uma interpellação. (Apoiados.) Para o sr. Pinheiro Chagas tomar parte n'essa interpellação e preciso que a camara assim o decida. Vou consultar a camara.

Verificou-se não haver na sala sufficiente numero de srs. deputados para se poder votar.

O sr. Presidente: — Não ha numero. A ordem do dia para ámanhã é a continuação da de hoje.

Está levantada a sessão.

Eram quasi seis horas da tarde.

Sessão de 25 de abril de 1878