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Como hoje estão as cousas, ambos os methodos são desiguaes, e o que me parecia melhor, era que viessemos a um accordo com o sr. ministro da fazenda, porque s. ex.ª é extremamente docil; parecia-me que o melhor seria verificarmos no intervallo da sessão qual é a verdadeira situação do nosso rendimento collectavel, porque emquanto ella senão conhecer bem, tudo se resolve n'uma injustiça, mais ou menos proporcional. Creio que se deve votar d'esta maneira, e que bastará lembrar ao sr. ministro a reforma das matrizes prediaes, e a organisação d'este serviço, sem o que não haverá cobrança e proporção no imposto, nem a camara podera dar um passo. Não digo mais, e sentiria muito se abusei, cansando a attenção da camara.

Entendo que a questão é muito simples. Podia referir-me ao decreto de 19 de agosto de 1855, que todos conhecemos, mostrando que os receios estão providenciados n'esse decreto, tanto para as perdas collectivas, como para as perdas de falhas parciaes; com a leal applicação d'esta providencia as injustiças relativas hão de cessar, e por isso não duvido votar pelo projecto, tal como se acha.

Discurso que devia ler-se a pag. 312 col. 1.ª lin. 66, da sessão n.° 25 d’este vol.

O sr. Rebello da Silva: — Sr. presidente, desejaria tratar a questão, na altura a que ella subiu, com alguma extensão; mas faltam-me as forças, porque o meu estado de saude é triste, e porque não tenho voz, nem vigor para poder occupar-me dos assumptos, que se debatem, como se exigia, sobretudo depois dos eloquentes discursos que a camara ouviu. Por isso me limitarei a simples considerações, visto que sou obrigado a tomar a palavra na qualidade de relator especial d'esle projecto.

Na situação em que nos achâmos (fallo da situação geral do paiz) sou o ultimo pelas minhas opiniões, que posso aqui arrastar as recriminações do passado, reverdecendo antigas lutas. Sinto e deploro os odios estereis e as discordias infecundas, pelo que significam, e pelo que têem feito perder ao paiz, quando esse tempo desbaratado podia ter sido utilmente aproveitado. Deplorando estas aberrações fataes, como as lamento, seria eu altamente contradictorio se viesse arremeçar ao seio da camara o pomo da discordia. Entretanto a camara ha de reconhecer que, mesmo repellindo a aggressão como perigosa e funesta, não recuso, antes julgo licito, o direito de defeza. (Vozes: — Muito bem.) E esse direito invoco-o agora, para em virtude d'elle dar mui curtas explicações á camara, e aos meus illustres amigos que se assentam daquelle lado (o esquerdo).

Os factos passaram, a historia inscreveu-os, e não hão de ser as paixões de hoje, ou as de hontem, que os hão de julgar. A sentença do futuro sobre os actos dos governos é a historia quem a ha de lavrar, e não as paixões vehementes dos partidos no meio das refregas da sua existencia agitada. Ainda é cêdo para se inscrever a boa ou má memoria de qualquer administração contemporanea E a rasão é simples. O juizo insuspeito dos homens e das cousas, para ser justo, deve ser dado com imparcialidade, e essa é a virtude do porvir, fundada no sentimento de homens totalmente desembaraçados de todas as preoccupações. (Apoiados.) Por consequencia, quando se appella sem cessar para o elogio repetido, para a glorificação de factos determinados, vejo que póde haver um interêsse politico no partido que levanta a voz, mas nego que esteia ahi o voto e a opinião illustrada pela experiencia das gerações estranhas ás nossas contendas.

A regeneração foi uma epocha administrativa que acabou; e não direi, como o meu illustre amigo, e distincto poeta o sr. Rodrigues Cordeiro, que se Ibo lance a campa em cima como a um cadaver, nem a farei resuscitar do sepulchro envolta no sudario como o Lazaro para lhe contar as feridas. Não se morre tão depressa e assim de repente no mundo politico; depois da queda fica ainda de pé a esperança, e esta, a ultima que desampara os homens e os partidos, não bate as azas e não desapparece senão quando o derradeiro suspiro fugiu á Dor dos labios frios, ou a luz se apagou de lodo nos olhos. Não! Os meus nobres amigos daquelle lado ainda não despiram as armas, nem em mu decoram. Pelo contrario vejo-os firmes e apercebidos guarnecendo as suas trincheiras, e velando com demasiado ciume talvez a divisa, que, hasteada cinco annos, fez a bandeira de um gabinete e de uma situação. Ainda é cêdo para os imaginarmos nos brandos ocios dos campos Elysios, á sombra dos copados e sempre verdes arvoredos daquella mansão de paz. Nenhum d'elles, creio, tem pressa de beber da taça da immortalidade, nem deseja por ora a serenidade dás sombras... (Riso — Applausos.) Não os julgo dispostos a assistir a uma partida de wislh entre Chateaubriand e Tayllerand, ou a fazer uma pergunta ao marquez de Pombal sobre o subsidio litterario; (Riso.) ss. ex.ªs preferem as fadigas da vida ás palmas e ao socego dos mortos illustres. Não ha campa, nem obelisco, porque não ha mortos, assim como é cêdo ainda para o hymno triumphal e para a apologia desinteressada, porque falla a posteridade. (Vozes: — Muito bem.) Desterremos essas poéticas visões, e sabendo que o combate cortez é com os vivos, deixemos dormir no seu lençol os Lázaros, e encostemos a campa lisa por em quanto de epitaphio. Repito: ainda é cêdo para o monumento, e alem de cêdo, o que não ha por ora são os juizes para decidir!

Para mim, a regeneração representa uma epocha, em que achei virtudes, e combali erros. Não serei injusto com os homens que figuraram n'ella, porque não posso negar a uns distinctos serviços, a outros elevado engenho e admirada eloquencia; a muitos penetração e dotes politicos. Acredito que a camara me fará a justiça de crêr, que nunca tive, e que não tenho a menor duvida em reconhecer a alia capacidade dos homens publicos do meu paiz, porque amesquinha-los seria amesquinhar a patria e a gloria do systema representativo. (Muitos apoiados.) (O sr. Passos (Manuel: — Muito bem.)

Não! Nós não precisâmos para defender uma boa causa de humilhar a intelligencia alheia e a nossa propria; (Apoiados.) quando o sol nasce brilha radioso para todos, todos o veem e todos o admiram. Negar a evidencia e o talento dos outros é tremer por si, e confessar-se bem pequeno.

Dizendo isto, cumpro um dever, e não peço que me retribuam; mas desejaria que nos tratassem com igual tolerancia. Todos ganhavam, e ninguem perdia com essa justiça e urbanidade. Se o sinto e vejo, porque não hei de dizer alio e desafogado, que do outro lado ha caracteres illustres, que merecem respeito e veneração; que ha homens que atravessaram os campos da batalha, como o genio da victoria, e cujo peito, estrellado de condecorações honradas, se tingiu de sangue nas lutas feridas pela liberdade? Por que não direi que praticaram muitas acções dignas da historia antiga, assim como do nosso poderemos citar com orgulho outros homens tambem famosos na guerra e no conselho, soldados gloriosos das idéas e dos combates, cujos membros mutilados contam melhor os prodigios da illiada constitucional, do que os cantos dos bardos ou as paginas do livro?

Porque não fallarei aqui do talento affouto, desassombrado e perseverante do sr. Fontes, da palavra fluente, ornada e ciceroniana de um seu collega? Por que não louvarei a iniciativa resoluta de alguns commettimentos d'elles, e o pensamento civilisador, de que se inspiravam para a direcção economica? Por não concordar em pontos capitaes devo ser cego detractor? A Inglaterra não levantava estatuas aos seus vultos historicos se não visse n'elles a glorificação da patria e os iniciadores de grandes e bellas idéas.