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1184 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de obstrucção da bacia operava-se a olhos visto. Os mesmos profanos viam-n'o e apontavam-n'o, mas respondiam-lhe com o mutismo systematico ou desdenhoso dos infalliveis!

O sacrificio da população ribeirinha de quatro comarcas, que tantas banha a ria, - Ovar, Estarreja, Aveiro e Mira, o sacrifício de 67:500 hectares de terras interiores, arenaceas, estereis, que fructificam quasi exclusivamente pelos adubos vegetaes e animaes da ria, computados entre réis 260:000$000 e 280:000$000 réis annuaes, deviam prever-se como consequência necessaria e fatal do phenomeno diuturno; mas o que importava tudo isso, se era futuro! O que unicamente importava e lisonjeava era que a praiamar accusasse á bôca da barra tres ou quatro braças de profundidade. Os cahiques do Algarve com o seu peixe salgado, os lanchões abarrotados de sal, os marnôtos e os barqueiros com a bolsa recheada, declaravam-se satisfeitos: a imprensa elogiava; e comtanto que a bandeira portugueza fluctuasse no tope dos mastros de quatro insignantes barcos de cabotagem á vista da cidade jubilosa, tudo caminhava o melhor possivel no melhor dos mundos, que é este jardim da Europa á beira-mar plantado.

Pois, sr. presidente, vae v. exa. ver e vae ver a camara, como é que osso manancial de riqueza será perdido, e aquella formosíssima região convertida em ermo desconsolador e triste, como tudo o que não tem vida, ao termo de meio seculo mais de desleixo, de abandono e de infallibilidade, ou como queiram chamar-lhe.

Os lagos, rias, ou bacias pelagicas, formadas por cor does littoraes, de areias principalmente, e alimentadas por braços de mar e cursos de agua doce, momento pequenos cursos, que passaram do regimen torrencial ao ordinario das pequenas rampas de milimilimetros, estão condemnadas a ser terra firme em periodos variaveis, segundo as varias circumstancias, mas sempre relativamente curtos.

Esta theoria que póde ler-se em Lyel, Lapparent o outros geologos, tom a mais solemne confirmação no conjuncto de phenomenos realisados na bacia Lydrographica de Aveiro nos ultimos quarenta annos, do meu conhecimento.

De duas memorias publicadas, uma em 1886 pelo sr. Gustavo Ferreira Pinto Basto, cavalheiro illustradissimo, a outra em 1889 do meu amigo Francisco Augusto da Fonseca Regalla, distinctissimo official da armada, vejo que o estuario teve outrora profundidades geraes consideraveis, 18 a 22 metros nos limites da bacia primitiva. De poços e córtes praticados em terrenos a pequenos niveis superiores á bacia actual vi eu os vestigios d'esse facto. Ha quarenta annos conheci eu ainda profundidades consideraveis e uma media geral não inferior a 3m,5.

Hoje a media reduz-se a 1m,5, se tanto, com excepção dos canaes nas linhas das correntes, variando entre 4 e 6 metros, canaes dia a dia mais reduzidos, e as correntes cada vez mais fracas.

Deriva este facto do trabalho de sedimentação operado por varios factores, taes como: depositos de areias, terras vegetaes e materiaes de toda a especie, acarretados pelos rios; depositos de areias introduzidas pelas correntes da barra e semeadas pelos ventos mareiros dominantes no seio do estuario; depositos dos organismos extinctos da fauna crustacea; e depositos da vegetação aquatica a mais activa.

Este trabalho de accumulação seria de 0m,03 annuaes, ou 0m,032, segundo affirmam as duas memorias que citei, sob a fé do insigne conductor da barra, o sr. Reis, trabalho verdadeiramente assombroso aos olhos dos que conhecem os processos vagarosos da natureza nesta ordem de phenomenos, se não fosse, como devo ser, ainda superior.

E digo deve ser, em face de um principio de mechanica geologica, de não facil explicação; «que um dado trabalho do accumulação, operado em dado tempo, a certa profundidade, necessita successivamente menor tempo á proporção que a profundidade diminue».

Este trabalho de accumulação explica-se do resto pelas circumstancias de configuração, nivelamento, e posição relativa dos factores concorrentes. De feito os rios Vouga e Antuan tem a sua foz a grande distancia do canal da barra, e a descarga do volume das grandes enchentes impetuosas hybernaes saturadas de sedimentos em suspensão, em vez de fazer-se directamente na barra, espraia-se na grande bacia da ria. Resulta d'aqui que as aguas, ao favor de uma tranquillidade relativa, depositam os sedimentos na quasi totalidade antes de correrem ao mar.

Se as grandes enchentes dos rios coincidem com maré montante, o depobito é ainda mais completo, como facilmente só comprehende. Durante a quadra estival as aguas da vasante correm ao oceano tão puras e chrystalinas como as aguas da enchente. E, portanto, a bacia recebe B guarda no seio absolutamente todos os materiaes transportados, a um phenomeno bem compensação, a não ser a dragagem inconsciente resultante da colheita dos moliços.

Pois, sr. presidente, estes factos diuturnos têem merecido aos infalliveis tão pequena consideração, que, sem lhe darem o menor remédio, enterram ostreiras para aproveitarem as respectivas aguas em beneficio da barra, o teimam era contar com a somma total das da bacia no mesmo intuito e fim!

Postas estas premissas, offereço á apreciação e criterio dos senhores deputados engenheiros e até dos que o n3o pão, como eu não sou, o seguinte calculo de um humilde casuista.

Profundidade actual media da ria, 1m,50. É official. Sedimentação annual, 0m,032. É officialissimo. 50x0m,032 = 1m,60. Este algarismo é superior a 1m,50.

Logo em cincoenta annos a riquissima bacia aveirense estará inteiramente obstruida, ou reduzida a pantano insalubre.

E note-se que n'este calculo não entrou a lei de progressão sedimentar na rasão inversa diminuta de tempo e profundidade, que ha pouco formulei.

O que posto, occorre naturalmente a observação:

Mas se o phenomeno é fatal, que remedio podem dar-lhe os governos, os parlamentos e os engenheiros?

É a esta interrogação, que me proponho responder, porventura satisfactoriamente, e sem maior sobresalto do meu bom e velho amigo, o sr. ministro da fazenda, na mais proxima, ou alguma das mais próximas sessões da camara, se esta o desejar, ou ao menos mo consentir.

O sr. Presidente: - A commissão de redacção não fez alteração alguma aos projectos n.ºs 120, 136, 137 e 148.

Vão ser expedidos para a outra camara.

O sr. Costa Pinto: - Mandou para a mesa o parecer da commissão de administração publica sobre o projecto de lei n.° 139-F, apresentado pelo sr. deputado Alves Passos, tendente a approvar o contrato para o abastecimento de aguas da cidade de Setubal.

O sr. Cancella, referíra-se ao julgado municipal de Cezimbra e dissera que o juiz municipal tinha officiado ao sr. presidente da relação pedindo-lhe auxilio, porque receiava algum ataque ao tribunal.

A isto chamava-se fazer o mal e a caramunha.

Ha dias o actual juiz municipal de Cezimbra permittiu-se fazer rondas ás duas horas da noite acompanhado de um guarda campestre e de officiaes de diligencias, e, não se contentando com essa força, foi á fortaleza pedir ao sargento que lhe desse força.

O sargento respondeu que estava ás ordens da auctoridade administrativa, e que portanto não lhe podia fornecer orça.

Era este o motivo das zangas do juiz contra o sargento.

(O discurso será publicado na integra, e em appendice a esta sessão, quando s. exa. o restituir.)

O sr. Costa Moraes: - Chamou a attenção do sr. ministro das obras publicas para a necessidade de construir a estrada já estudada, que deve ligar a estação de Abreiro, na linha ferrea de Foz Tua a Mirandella, com a im-