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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

primeiro dia. Ora, eu não estou disposto afazer propostas que mereçam a approvação da camara, para o sr. presidente do conselho tomar para si a iniciativa e as honras e gloria que d'ellas possam resultar. A honra e gloria d'aquella proposta pertence unica e exclusivamente a junta preparatoria, e essa proposta partiu de um deputado da opposição, porque n'esse dia já eu era opposição bem decidida.

Todas as propostas tendentes á prompta eleição da presidencia e até a ultima para a nomeação das commissões pela mesa, partiram da opposição. E se os meus amigos da opposição concordarem todos com a minha opinião, em breve daremos uma prova decisiva de quanto desejámos que os trabalhos da camara progridam. A minha opinião é que, depois da discussão da resposta ao discurso da corôa, visto que não podemos conseguir a commissão de inquerito, nem os documentos de que carecemos, nem votação alguma que signifique a opinião politica da camara, não voltemos aqui ou que nos limitemos a vir assistir em absoluto silencio ao improbo trabalho da camara, devido á iniciativa do governo, coadjuvado por outros partidos politicos, ou só pela sua maioria, que é uma maioria que conhece o sr. Falcão da Fonseca (riso), visto que disse ha pouco, que a culpa não era do governo nem da sua maioria. Fique pois o governo com a sua maioria, ou com os outros partidos que com elle têem sido benevolos ou simplesmente tolerantes, e nós assistiremos em silencio, ou mesmo os favoreceremos com a nossa ausencia, para não interrompermos o rapido e notavel progresso dos seus trabalhos. Veremos o que se faz, e saberemos então quantas maiorias ha, e qual d'ellas é a do governo.

Eu votei a moção proposta pelo meu nobre amigo, o sr. Barjona do Freitas, e lisonjeio-me, sinto um verdadeiro orgulho e extraordinaria satisfação por não ter sido inutil a segunda provocação que dirigi ao partido que s. ex.ª dignamente representa n'esta casa. Eu realmente tinha sentido muito que a primeira interrogação por mira dirigida ao partido regenerador, não tivesse sido attendida, ainda que s. ex.ª teve já hoje a bondade de me dizer, que n'aquella occasião não estava na camara, e que não tinha tido conhemento do que eu então disse.

Nós, opposiçâo declarada n'esta casa, votâmos aquella moção, dando-lhe a verdadeira significação politica (apoiados).

Não a votâmos como mera manifestação patriotica (apoiados). É este o singular nome com que a moção foi baptisada pelo sr. presidente do conselho, provavelmente para lhe poder affirmar ou negar á sua vontade, tanto a significação de confiança como a de censura;

S. ex.ª querendo, segundo o seu louvavel costume, ficar habilitado para todas as eventualidades, declarou que a moção era muito patriotica, e inventou esta palavra para poder saír opportunamente de serias difficuldades, que prevê inevitaveis e já proximas.

Nós não votâmos moção patriotica (apoiados). Votâmos só moção politica contra o governo (apoiados).

Já sabiamos que este governo não representa a confiança do partido historico; os partidos reformista e constituinte foram desde logo manifesta opposição. Era pois claro que este governo não representava a confiança de nenhum d'estes tres partidos, mas era preciso e conveniente saber-se, se representava a confiança do partido regenerador.

Pela voz de um dos membros mais auctorisados, este partido, directamente provocado, acabou de declarar que o governo não representava as idéas do seu partido, nem as executava. Declarou mais que aquella moção significava a existencia distincta do partido regenerador e a necessidade de haver um governo que se sujeitasse á lei geral da humanidade, que trabalhasse, e que soubesse que a missão de um governo não é perpetuar-se no poder, mas sim realisar as suas idéas, que sejam uteis ao paiz.

Por esta declaração, nós, opposiçâo politica, ficâmos sabendo que o governo não podia allegar a confiança do partido regenerador, nem affirmar que eram suas as idéas d'aquelle partido.

Aquella moção significava tambem para nós, opposição politica, e n'este ponto está de accordo toda a camara, que é necessario tratar urgentemente das questões de fazenda e de administração (muitos apoiados).

Desde que se diz isto a um governo que nada faz, e nada é capaz de fazer (apoiados), porque tem dado provas as mais cabaes e plenissimas de que póde tratar de tudo, menos das questões de fazenda e administração (apoiados); desde que se lhe impõe essa condição sine qua non, nós, que vemos que este governo não póde tratar d'estas questões, e que sabemos que a primeira condição, a verdadeira questão previa para se tratar d'ellas, é que este governo deixe de existir, nunca poderiamos, como opposição politica, deixar de aceitar a moção (apoiados).

Nós entendemos, e o paiz...

(Interrupção.)

Eu creio que ainda se não levantaram duvidas a respeito de nenhuma das eleições dos membros que fazem parte da opposição, e por consequencia, estou certo de que todos nós podemos, sem faltar á devida modestia, fallar em nome do paiz.

Por isso digo, nós opposição politica, e o paiz, entendemos que a primeira necessidade é a queda do governo. N'este ponto estamos todos do accordo, e a esta questão, que para nós é a principal, estamos dispostos é promptos a sacrificar todas e quaesquer considerações secundarias (apoiados).

Por consequencia a opposição, existindo distincta e independente nos partidos de que se compõe, não tendo de ser chamada para organisar governo, nem tendo taes pretensões, deve esperar em expectativa benevola a formação do novo ministerio, desejando que elle saiba, possa e queira corresponder ás difficuldades da situação.

Mas a actual opposição reserva-se de certo inteira liberdade para apreciar a organisação do novo governo e para julgar as propostas que apresente. É este o caminho que tem a seguir, acolhendo qualquer outro ministerio benevolamente, quando d'esse acolhimento seja digno; e combatendo-o no primeiro dia em que mostre que não satisfaz nem está á altura das necessidades do paiz, cuja opinião geral é a primeira cousa a attender (apoiados)..

Vozes: — Muito bem.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é trabalhos em commissões.

Está levantada a sessão.

Eram quatro horas e meia da tarde.