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1358 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

pirações políticas do paiz, continua na ordem do dia. = Luiz Ferreira.
Foi admittida.
O sr. Santos Viegas (sobre a ordem): - Sr. presidente, cabe-me a palavra, que tinha pedido pela segunda vez, quando sobre a generalidade deste projecto, que ainda está na tela do debate, fallava distincta e eloquentemente, como costuma, o illustre deputado o sr. dr. Correia Barata.
Vou usar della, e francamente faço-o sob dolorosa impressão.
A camara comprehende que é sempre triste e doloroso ter de fallar immediatamente ou mais tarde em resposta a dois illustres deputados, que em seus discursos, notáveis ambos pela fornia, sustentaram princípios e expozeram considerações, que não apoio, nem acceito; é doloroso, digo, ter de responder nestas condições, porque não agrada contradictar amigos, e molesta contrapor algumas rasões às rasões apresentadas por camaradas e amigos nossos.
Sr. presidente, tendo de fallar nesta occasião, parece-me ouvir ainda echoar no recinto d'esta casa a voz eloquente de um publicista notável que, manifestando a pujunça do seu grande talento e a sua muita e variada illustração, collocou o seu nome entre os dos primeiros o dos mais illustres oradores da nossa terra.
Refiro-me ao sr. Júlio de Vilhena. (Apoiados.)
Vê, pois, a camara qual é a sorte, que modesta destinada.
Vê a camara que n'aquillo que tenho a dizer estou naturalmente destinado a ser o deserto da sessão; mas porque ninguém se me avantaja em respeito e admiração pelas glorias do meu paiz, eu entro no debate, para dar mais relevo e maior realce com a pobreza da minha phrase e com o nenhum merecimento do que vou expor, áquelle discurso notabilissimo.
Devo confessar, comtudo, que, apesar de não haver merecimento no que vou dizer e de haver pobreza de conceitos na minha humilde palavra, hei de ser franco, hei de dizer claramente as rasões que me determinaram a pedir a palavra; hei de expor o que a minha consciência me preceitua, e o que a minha rasão me suggerir, porque não venho atacar pessoas, digo-o bem alto, porque não venho atacar pessoas, repito, mas ferir princípios; exerço um direito, e cumpro um dever de consciência, que julgo sagrado, como julgo e estimo sagrados todos os deveres, que as nossas convicções e posições sociaes nos podem impor.
Levanto-me em nome de um principio augusto.
Levanto me para me deixar aquecer e illuminar por esse sol brilhantíssimo, a que se chama liberdade.
Levanto-me para me lastimar, de que intelligencias robustas e generosos corações, e basta me citar o nome do sr. Arroyo, se não queiram entregar ao bom raciocínio e á analyse e á critica justas e desapaixonadas, porque, se assim fosse, estou convencido, de que as idéas, que expendi na ultima vez, que fallei sobre o placet, não seriam rejeitadas, antes ao contrario seriam acceitas.
Se a minha palavra fosse frisante, se a minha palavra fosse correcta, se podesse enthusiasmar as multidões, diria que tenho ouvido nesta casa sustentar princípios, que me espantam, avançar proposições, que me fazem pasmar, soltar palavras, que me dilaceram o espirito e incommodam a consciência.
Fez-se cargo á igreja, accusações lhe foram dirigidas, que reputo injustas, gratuitas e infundadas.
Não as posso deixar de pé, porque á igreja tenho presa toda a energia do meu espirito, todo o meu ser.
Amo-a como uma necessidade do meu coração e da minha intelligencia.
Apella-se para a historia por forma desusada, e mais tarde alguém se admira, de que eu podesse apresentar princípios, que não estivessem em harmonia com as idéas de quem possa ter voz nesta casa, e, alterando-se essas phrases e esses princípios, a que alludo, não se queira attender a que é que se diz nesta casa deve ser pensado e maduramente reflectido, porque o que se affirma aqui não fica circumscripto a este recinto, reflecte-se lá fora, é ouvido por todo o paiz.
Não se póde portanto soltar uma palavra, que vá offender este ou áquelle nesta ou n'aquella crença, symbolisada n'um throno, que tem por vassallo o mundo inteiro.
Muitas vezes pôde, sem querer, sair da boca deste ou daquelle orador qualquer palavra que incommode, póde sair da boca deste ou daquelle orador uma expressão, que signifique ódio a uma instituição, que, por não ser materialista, o que seria uma tristeza, consola, fortifica e eleva o espirito, arrebata o ao mundo das idealidades, e faz a felicidade das nações e das consciências dos povos. Isto não é subtil, porque é grande, não é subtil, porque consagra uma idéa, que maior numero de crentes tem no mundo.
Mas, respeitemos a myopia, que a Providencia pôz em certa geração, para que a geração futura possa produzir cousas dignas do respeito, possa trabalhar na grande obra do progresso moral dos povos, e na grande obra dos respeitos devidos aos direitos da igreja, que em seu viver, no seu sentir, no seu culto, e no seu ensino, só proclama o que é bom, porque é bom, e o justo, porque é justo.
Se eu fôra Kant, se eu tivesse a auctoridade deste grande philosopho, diria que o que tenho ouvido aqui ácerca da reforma do § 14.° do artigo 75.° da carta constitucional é a prosa do delírio e nada mais.
(Interrupção do sr. Correia Barata.)
Francamente admirei-me de muitas proposições avançadas que se expozeram, de muitas referencias, que se fizeram, e, não obstante eu estar convicto de que serei vox chamantis in deserto, de que a minha palavra será som ferido no fundo dos valles, não deixarei por isso de proseguir no meu propósito de refutal-as, e de ter perseverança na affirmação dos meus princípios, que são o verdadeiro caminho para a paz das nações, embora ao cabo delle eu só tenha de manifestar sede, sede de justiça e nada mais.
Eu estou respondendo às reflexões, ou melhor direi, estou, com reflexões minhas, respondendo às reflexões apresentadas pelo meu amigo o illustre deputado sr. Correia Barata.
O sr. Correia Barata: - Peço a palavra.
O Orador: - Se a minha palavra fosse fluente e correcta, se a minha voz pudesse enthusiasmar as multidões, eu diria, repito, com o discusso do sr. Barata na mão, que esse mesmo discurso é contradictorio, e a camara sabe bem que o que é completamente contradictorio, ensina a lógica, não se pude resolver senão pelo absurdo, e o absurdo não entra, não póde entrar no alevantado entendimento do distincto lente de philosophia da universidade de Coimbra, e antigo redactor do Século, não do Século republicano, mas do Século materialista.
Antes de passar adiante, permitta-me o illustre deputado, que eu faça uma rectificação às declarações apresentadas por s. exa.
Declarou o illustre deputado, que se respondia, como respondeu no seu discurso, era porque eu levantara a questão do terreno, em que ella se collocara. Peço perdão, mas ha um engano de memória certamente, e não propósito para justificar as suas considerações.
Srs. deputados, quem levantou a questão nesta casa foi o sr. Silveira da Motta e eu respondi, franca e lealmente no campo, em que este illustre deputado e homem de letras a collocou. Não fui eu pois que a levantei, não fui eu que lhe dei direcção opposta, á que lhe fora dada. Acceitei-a tal qual me foi offerecida para debate, e nada mais e nada monos.
E hei de precisamente seguir o caminho traçado pelo illustre deputado, respondendo-lhe, sem ir alem, nem ficando aquém do estado da questão. As opiniões, às asserções do illustre deputado hei do oppôr a critica
historico-moderna, hei de oppôr o dictamen das gerações, lei dos po-