SESSÃO N.º 72 DE 5 DE MAIO DE 1896 1553
a do caso que acabo de contar á camara, e entro na materia outra vez.
Se eu dispozesse as minhas baterias em linha de combate, como se usava nas antigas batalhas, e quizesse representar os diversos navios da minha esquadra, podia considerar, por exemplo, que o sr. Adolpho Pimentel, meu illustre amigo e relator do projecto, era um cruzador-torpedeiro, que o sr. ministro da justiça podia ser considerado um cruzador de combate que o joven sr. ministro da guerra, joven no cargo, que não na idade, que ainda assim é menor que a minha, se podia julgar como um cruzador guarda-costas, que o sr. ministro da marinha podia ser tomado como uma elegante canhoneira colonial, que o sr. ministro dos estrangeiros póde tomar-se muito bem como escola de moços e que finalmente o sr. ministro das obras publicas sempre, e recentemente, podia bem comparar-se ás gentis, corvetas de outr'ora. Compararia a presidencia a um couraçado inglez de grande lotação, julgaria os tachygraphos torpedeiros e os redactores como canhoneiras caça-torpedeiros, pois nos caçam os erros grammaticaes pondo ás vezes outros de sua lavra, e julgar-me-ia em Trafalgar.
Cingir-me-hei, porém, ao assumpto.
Vamos adquirir uma esquadra de combate. Nós sempre fomos uma pequena força para grandes esforços. Ora, para ver só os navios que se pretendem comprar correspondem ás exigencias da moderna estrategia e da tactica naval poderia dirigir-me nos srs. ministro da marinha o relator, e perguntar-lhes que especie de estrategia naval entendem s. exa. que deve empregar uma nação como a nossa, que não póde ter uma esquadra poderosa; Estabelecida essa estrategia qual será a tactica a seguir, porque conforme for a estrategia e a tactica assim hão de ser os navios.
Se um general se encontrar com muita infanteria, pouca cavallaria e pouca artilheria, manifestamente o plano de operações não será o mesmo do que se tiver forças rasoaveis de infantaria, as necessarias de cavallaria e muita artilheria. O plano de combate ha de necessariamente variar conforme a maneira como estiver composta a divisão ou o corpo do exercito.
Que tencionam s. exas. fazer? Querem dar as classicas batalhas navaes que antigamente só davam com as alterosas naus de tres pontos, em que os navios se formavam em linha compacta, procurando assim resistir aos fogos e aos embates do inimigo, ou proferem s. exa. o systema moderno dos ataques brancos em que o almirante Teguetoff tão brilhantes provas deu e tão bons resultados tirou na batalha de Lyssa, ou finalmente, preferem o combate a distancias determinadas em que se aproveita a superior velocidade do navio e a maior força de canhão de tiro rapido? Se preferem o antigo plano de batalha então hão de comprar navios de 14:000 ou 15:000 toneladas, que deitam 17 a 18 nós, com poderosissimos couraçados armados de esporões, uma esquadrilha de torpedeiros; se, pelo contrario, s. exa. se inclinam para a modernissima tactica naval prevista em França pelo almirante Fournier, preferindo o systema dos ataques bruscos aos combates de fogo a distancia, então hão de preferir os grandes cruzadores, munidos de canhões de tiro rapido.
Eu não sei se o sr. ministro da marinha ou o sr. relator me saberão responder. Se soubessem, eu iria mais longe e dirigir-lhe-ia algumas perguntas.
Se s. exa. querem os antigos combates do esquadra, vão procurar navios com couraças, que vão até 60 centimetros de espessura, mas se querem os combates a distancia, aproveitando velocidades superiores e fogo rapido, e n'estes ha dois systemas, o systema moderno, mas já antigo, da couraça completa, de protecção aos navios, e o systema modernissimo já experimentado, das bombas de grande capacidade explosiva, quasi segredo dos inglezes. N'este caso hão de adquirir os cruzadores repidos, inteiramente couraçados, mas para se conseguir este couraçamento completo, com grande velocidade, precisâmos ter...
{Interrupção que não foi ouvida.)
Então qual é a espessura de couraça que s. exa. querem?. Que especie de manobra querem iniciar na nossa esquadra para se bater com esses navios de grande couraça, e de grande velocidade?
Não se sabe nada. Nós sabemos que o governo e a commissão querem bater-se, querem uma esquadra de combate, (até ahi vemos nós os suas aspirações generosas e boas), mas como, é que não se sabe. E como não sabemos, vemo-nos em grandes embaraços para apreciar a qualidade dos navios que nos, propozeram.
Temos o typo Yoshino. É o cruzador protegido, de 4:150 toneladas com 350 pés de comprimento, 46 metros do largura, da força de 15:000 cavallos, podendo deitar 23 milhas, e accumulando 1:000 toneladas de carvão. Este navio monta 4 peças de e pollegadas de fogo rapido, 8 de 4,7 tambem de fogo rapido e 22 igualmente de fogo rapido. Este navio fez as suas provas na batalha de Yalu, a que já má referi, mas segundo as auctoridades maritimas mais competentes, podendo citar como taes é contra-almirante Fournier e o lord do almirantado, bem conhecidos pela sua alta competencia e illustração, o typo Yoshino já não está em condições de satisfazer completamente.
Este navio foi construido em epocha recente, não recentissima, mas anteriormente ao facto, ainda pouco conhecido n'outros paizes, conhecidissimo já em Inglaterra, e começado a conhecer na Allemanha e na Italia, da descoberta das bombas de grande capacidade explosiva.
O emprego d'estas perigosissimas armas do guerra que não são destinadas a furar couraças expessas, mas a penetrar nas partes menos defendidas dos navios, pela desordem que causam a bordo, destruindo os machinas, inutilisando todos os meios de manobras e desimando as tripulações, obrigam a pôr hoje de parte o typo Yoshino, que, por ser protegido incompletamente, não satisfaz ás necessidades de um navio de combate.
Está provado, que quando o navio disponha de facilidade de manobra, e de velocidade superior á do navio inimigo, basta uma couraça de 160 milimetros, porque a facilidade da manobra e a velocidade permittem que o navio não receba o fogo inimigo sento em anglo superior a 40° á normal do casco, e n'este caso os canhões mais potentes para romper couraças, não podem expelir projecteis que não sejam desviados logo pelo recochote, e desde que o angulo exceda a 60º, qualquer que seja a força dos canhões, não lhe podem causar damno.
Os navios de couraçamento completo, para não perderem na sua velocidade precisam de ser de grande tonelagem.
O Depois de Phomme francez, que é um cruzador de grande velocidade e de couraçamento incompleto, para ter o couraçamento completo conservando a mesma velocidade e o mesmo raio de acção precisa de chegar a 8:200 toneladas. Este é que é um navio de combate; mas o Yoshino já hoje não é navio de combate, e ainda menos o é o que se quer comprar, porque não é o Yoshino o que se quer comprar, é um cruzador typo Yoshino, mas typo Yoshino reduzido, isto é, um cruzador que se approxima do typo Nueve Julio, da republica argentina, a bordo do qual eu já estive em Cabo Verde.
O Nueve Julio é de muito menos poder do que o Yosshino; tem 354 pés de comprimento, a sua machina é de força inferior á do Yoshino, o seu couraçamento é mais fraco, tem uma velocidade normal reconhecida nas experiencias superior áquelle, mas accommoda menos carvão e por consequencia tem um raio de acção pouco menor. Se o Yoshino já é um typo insufficiente de navio de guerra, o que nós queremos comprar é insufficientissimo. Se nós