1554 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
queremos começar por uma marinha de combate, não devemos, portanto, começar por aqui.
Se o que nós queremos comprar é um intermedio entre o Yoshino e o Nueve Julio, isso vae custar-nos muito approximadamente 1:700 contos de réis, o que, para não ser nem navio de combate, nem navio colonial, é demasiado caro, e não é navio colonial nem navio futuro de combate, porque o navio futuro de combate ha de ser um cruzador de couraça espessissima até á linha de fluctuação, e mais fraca para cima por causa das bombas explosivas, ou então ha de ser uma canhoneira de grande velocidade.
Passemos ás canhoneiras-torpedeiros, typo Onyx, que representam o maximo erro, que póde praticar uma nação que tem pouco dinheiro para começar a ter marinha de guerra.
Km primeiro logar será a canhoneira-torpedeiro, typo Onyx, um navio colonial? Manifestamente, claramente, indiscutivelmente, não é. E eu digo os motivos porque não é.
Primeiro porque as canhoneiras typo Onyx não são forradas de cobre, e sendo navios de aço deterioram-se rapidamente no mar, enchendo-se de incrustações que lhes tiram a velocidade, aggravando-se sobre tudo esse mal nos mares coloniaes, onde ainda mesmo os navios forrados de cobre em pouco tempo estão n'estas condições.
Em segundo logar, por uma rasão que já disse, e é que sendo navios para uma pequena tonelagem, apenas 810 toneladas, tudo se sacrificou á velocidade, ao possivel raio de acção, e por conseguinte ao espaço para a machina e para as provisões de carvão, sendo absolutamente privados de alojamento que um navio destinado a estações coloniaes exige.
Finalmente o navio é todo elle uma machina delicadissima, que a cada instante está exigindo os maiores cuidados e grandes reparações. Basta dizer a v. exa. que o typo Onyx foi lembrado na Inglaterra em 1890 e depois do 1892 mais nenhum se construiu.
As canhoneiras d'esse typo acompanhando as esquadras inglezas em evolução no mar do norte, com todos os meios do reparação e com pessoal competentissimo o escolhido, depois de cinco dias de manobras, 30 por cento d'ellas estavam inutilisadas. Calculem por isto v. exa. o que acontecerá quando mandarmos um navio do typo Onyx para as nossas colonias, não tendo em Moçambique um arsenal, como deviamos ter, que era essencialissimo para a nossa marinha e até um meio de receita para as nossas colonias e quando desde Bombaim até ao Cabo da Boa Esperança não ha arsenal para navios de guerra, nem mercantes. Não tendo docas de reparação em Lourenço Marques, nem Loanda, nem em Mossamedes, nem na bahia dos Tigres, nem em Pemba, o que seria do typo Onyx dentro em pouco tempo? 30 ou 40 por cento dos navios estavam inutilisados.
Serão navios de combate? Tambem não são, pois estão para esse effeito absolutamente condemnados. Na marinha ingleza estão condemnados pelos factos e pela apreciação dos homens mais competentes. Pelos factos, porque pensando-se em construir navios d'este typo em 1890, foram effectivamente mandados construir sete, que estavam concluidos em 1892, mas depois d'isso a Inglaterra não mandou construir mais nenhum. E porque? Porque nas evoluções feitas pelas esquadras azul contra a esquadra vermelha se provou que o typo Onyx não era util como navio de combate.
Os inglezes, como disse a v. exas., pararam em 1892; já lá vão, portanto, quatro annos, e v. exas. sabem quanto, nos tempos modernos, vale um ou dois annos nos progressos da arte de navegação. Pois tendo a Inglaterra construido sete d'esses navios, todos do mesmo typo, depois d'isso não mandou construir mais nenhum.
Estes navios tinham por fim principalmente caçar torpedos e destruir torpedos inimigos navegando não isolados, mas ao abrigo das grandes esquadras e para seu serviço.
Ora, nós ainda não temos esquadra, mas vamos já comprar navios que não servem senão as acompanhar e defender, isto é, ainda não temos esquadra, mas vamos tratar já da sua protecção.
Porque foi que os inglezes abandonaram este typo de navios? Dil-o o relatorio do lord do almirantado inglez que eu vou ler n'uma má traducção portugueza que fiz do seu excellente inglez.
(Leu.}
O sr. Presidente: - Peço licença para observar a v. exa. que é decorrida a hora regimental durante a qual é permittido a qualquer sr. deputado usar da palavra.
O Orador: - Como tenho ainda quinze minutos de tolerancia concedidos pelo regimento para terminar o meu discurso, farei diligencia por concluir dentro d'elles o que me resta a dizer, embora se me conte o tempo que devia pertencer ao almirante inglez.
Os grupos das esquadras azues e vermelhas eram designados pelas letras A, B, C.
Porque é que o sr. ministro propoz a escolha do typo Onyx?
Agora vou concluir rapidamente em um quarto de hora o que tenho a dizer. V. exa. vão gastar mais 6:200 contos de réis em fazer uma esquadra de combate ou colonial. Mas onde estão os arsenaes? Será o arsenal de Lisboa onde na sua doca não cabe o cruzador Yoshino nem nenhum cruzador de dimensões rascaveis? Será o nosso Tejo, a respeito do qual se fazem os mais phantasticos devaneios, que nos vão custando as mais phantasticas despezas sobre a hypothese de uma phantastica defeza, que é quasi absolutamente impossivel para a nossa nação, com as nossas forças?
Um illustre official inglez que aqui esteve ha tempo, vendo o Tejo disse: mas como querem defender o Tejo com as fortalezas da margem norte, quando a largura do rio e a sua profundidade ao sul permitte perfeitamente, que uma esquadra de couraçados, possa passar e encostar-se ao sul, onde embora a attinjam mil balas, já não são capazes de lhe romper as couraças, mesmo com as poças mais modernas? Ems e collocando a 2:000 metros de distancia, já não ha projectil que rompa a couraça.
Dizia este official, que para defender o Tejo é necessario fortificar as duas margens desde a torre de S. Julião da Barra até ao pontal de Cacilhas, fazendo com que o Tejo seja uma perfeita abobada de fogo, o que com os cruzadores, com as obras da torre do Bugio, etc., não importará em menos de 15:000 a 20:000 contos de réis.
Quando os nossos combates navaes forem nas colonias, com a China, ou com outra qualquer potencia naval, em Angola, na India, em Macau, onde prover ás reparações dos estragos dos navios em combate; onde reparar as avarias que nos combates modernos são enormes e extraordinarias; em que arsenaes, em que docas; se nós não temos nada d'isso?!
Ora aqui está a rasão porque eu digo que só empenhem unicamente em ter uma marinha colonial, aquella que principalmente nos é necessaria, e que se não vão metter em aventuras de comprar uma divisão de combate, sem ter arsenaes, nem portos fortificados, nem pessoal, nada absolutamente.
Eis aqui a minha batalha naval, que foi, e é, unicamente ferida, no intuito de declinar a minha responsabilidade, em que os dinheiros do estado não se appliquem em mais um erro, como foi a compra do Vasco da Gama, da Affonso de Albuquerque, da famosa corveta Hanak e quasi todas as compras de navios que infelizmente temos feito e quo para pouco mais de nada nos têem servido.
Parece-me que tenho concluido, antes de acabar o meu