1292 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
equivoco, como as que hontem aqui ouvimos, e acima de tudo ella não é a troça, para me servir de um estribilho muito do agrado do orador a que respondo, em que o illustre deputado quiz envolver um dos mais distinctos membros do nosso alto funcionalismo, um servidor dedicado da nação, que tem subido todos os degraus da escada da burocracia com o esforço do seu proprio merito, um politico leal e dedicado que o partido regenerador contou durante muitos annos nas suas fileiras, recebendo d'elle serviços tão altos, como o sr. Mello e Sousa difficilmente terá occasião de lhe prestar agora, o sr. conselheiro Pereira Carrilho emfim. (Apoiados.)
Sr. presidente, o sr. Mello e Sousa, ao mesmo tempo que estranhava que o sr. ministro da fazenda se tivesse referido n'esta camara ao sr. Hintze Ribeiro que não faz parte da nossa assembléa, apreciando os actos praticados pelo illustre estadista como ministro da fazenda da situação transacta, aggravava aquelle infatigavel trabalhador, descrevendo-o como um elemento passivo, que se presta a escrever tudo o que lhe indicam e provocava gargalhadas estrepitosas phantasiando uma carta de s. exa. e annunciando-a para a folha official do hoje.
Essas gargalhadas, que no momento podiam lisongear a vaidade do orador, eram o primeiro castigo da má acção que s. exa. estava praticando. (Apoiados.)
Sr. presidente, não obstante ser adversario politico do sr. Mello e Sousa e divergir muito dos processos parlamentares que aquelle illustre deputado entende dever seguir, creio bem, pelo respeito que tenho pelas suas qualidades pessoaes, que elle hoje já não se orgulha da deploravel phantasia do seu discurso de hontem. (Apoiados.)
O sr. Mello e Sousa era o mais improprio para dar a este debate o caracter que lhe deu. Ainda antes de conhecido o contrato de 30 de março, s. exa. denunciava-o ao paiz como um documento que traduzia uma verdadeira vergonha nacional. Essa affirmação feita por quem tem a sua auctoridade, devia produzir e produziu de certo um grande mal para o nosso credito. (Apoiados.) S. exa. praticou, na minha opinião, um acto leviano e pouco de molde para acreditar os seus dotes de homem publico. Uma phrase d'esta ordem só se pronuncia, quando ha a necessidade inadiavel de se denunciar um verdadadeiro crime, ou uma provada traição. De outra fórma não se vae precipitadamente e sem base dar novo alimento ás campanhas de suspeições, que tanto prejudicam a causa nacional. (Apoiados.) Mas pronunciando-a, coutrahiu uma responsabilidade muito grande, a responsabilidade de provar a verdade do que dissera. O momento era pois solemne de mais para gracejos e troças, que não se compadecem com as elevadas funcções que aqui desempenhamos. (Apoiados.)
O sr. Malheiro Reymão: - Peço a palavra.
O Orador: - No principio do seu discurso, disse o sr. Mello e Sousa que não fóra a opposição que quizera dar um caracter escandaloso a este debate, que não fora ella que andara a intrigar e a alarmar a opinião com estranhas revelações. Se essas palavras valem como um acto de arrependimento e de contricção, bem vindas sejam, mas se foram pronunciadas para lançarem sobre nós uma responsabilidade que não nos cabe, repellimol-as por completo (Apoiados.)
Ha dias e dias que os illustres deputados da opposição se referem aqui constantemente ao contrato de 30 de março. Essas referencias, desde a celebre phrase a que já alludi do sr. Mello e Sousa, vinham sempre envoltas em suspeitas desairosas e reticencias destinadas a perturbarem e desvairarem a opinião publica. (Apoiados.)
Diziam s. exas. que eram precisas ondas de luz para illuminar este caso escuro, para desvendar o mysterio quasi impenetravel que elle envolvia; preparavam uma atmosphera de desconfianças, tão densa que nos podesse asphyxiar; podiam documentos e documentos declarando que não deixariam passar uma sessão, que não desperdiçariam uma hora sem se occuparem de uma tão grave questão de moralidade. (Apoiados.)
A maneira como a opposição lá fóra secundava os esforços aqui empregados pelos seus representantes todos a conhecemos bem. (Apoiados.) E vem-se dizer agora que foi o governo, que fomos nós que provocámos o escandalo, que recorremos a intrigas, que fizemos revelações compromettedoras! (Apoiados.)
Pelo lado do governo o que se respondeu?
O nobre ministro da fazenda declarou, desde o primeiro dia, que, movido por considerações muito elevadas, pelo que devo á dignidade do seu cargo e á felicidade do paiz, assumia por completo a responsabilidade do contrato. (Apoiados.)
Esse contrato era um facto consummado, não se podia annullar; mas ainda que a annulação se podesse fazer, ella representaria um golpe talvez mortal para o credito da nação. (Apoiados.)
N'estes termos o illustre estadista, movido pelo mais nobre sentimento de patriotismo, declarava que defenderia o contrato como se elle directamente o tivesse negociado, como se elle no acto da assignatura o tivesse firmado com o seu proprio nome. (Apoiados.)
Ao fallar d'este modo não lançava insinuações sobre ninguem, (Apoiados.) não se referia a nenhum episodio anterior á assignatura do contrato, não procurava companheiros para o sacrificio que lhe queriam impor e serenamente assumia, torno-o a repetir, a responsabilidade d'esses actos como se elle e só elle os tivesse commettido. (Apoiados.)
Quem foi, pois, que deu um caracter escandaloso a este debate?
Quem levantou desconfianças e suspeições?
A opposição julgou que podia ferir o governo. Conhece agora que se lhe quebraram nas mãos as armas que suppunha possuir e é por isso que vem, com estranha audacia, que nem ao menos tem a feição sympathica desse arrependimento sincero, imputar-nos uma responsabilidade que de todo lhe pertence. (Apoiados.)
A maioria acceitou o debate no terreno em que o collocaram, mas não o provocou, não o podia ter provocado. Se elle realmente se baseasse n'uma negociação vergonhosa, tudo que se apurasse na discussão íria ferir unicamente o governo e por isso, sob o ponto de vista politico, seria pelo menos uma insensatez da nossa parte promover similhante discussão. (Apoiados.)
O sr. Reymão: - Por isso se arrependeram.
O Orador: - Onde ouviram s. exas. uma unica palavra que os auctorisasse a dizer que fomos nós que levantámos o escandalo? (Apoiados da direita.)
O sr. Reymão: - Temol-as ouvido lá fóra, em toda a parte. (Apoiados da esquerda.)
O Orador: - Somos nós que ha mais de quinze dias estamos exigindo, entre phrases de denuncia, a publicação de documentos, publicação que o governo declarava nociva aos interesses publicos? (Apoiados da direita.) De onde vieram as insinuações, as suspeitas, as desconfianças? (Apoiados.)
O sr. Reymão: - De v. exas., do sr. ministro da fazenda, do Diario do governo. (Apoiados da esquerda.)
O Orador: - Isso não é exacto. Os documentos foram publicados no Diario do governo depois de instantes reclamações de v. exas., (Apoiados.) depois do sr. Mello e Sousa ter dito que o contrato era uma vergonha para o paiz.
O sr. Cabral Moncada: - E acertou infelizmente. (Apoiados da esquerda.)
O Orador: - Acertou, diz v. exa. Resta que provo essa phrase, e que a prove melhor do que o seu collega da opposição provou a sua. (Apoiados da direita.)
Um outro crime pesa sobre os nossos hombros. Senta-se n'esta camara o ex-mandatario do governo e a maioria