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APPENDICE Á SESSÃO NOCTURNA N.° 72 DE 28 PE MAIO DE 1898 1296-A

Discurso do sr. deputado Cabral Moncada, que devia ler-se a pag. 1296 da sessão n.° 72, de 28 de maio de 1898

O sr. Moncada: - Sr. presidente, eu pedia a v. exa. que me dissesse a que horas eu principio o meu discurso.

O sr. Presidente: - Começa às onze horas e cinco minutos.

O Orador: - Sr. presidente, ainda não me aconteceu ter a honra de usar da palavra n'esta camara que não me visse forçado a declarar que não tenho o intento das retaliações. Suggerem-m'o por mil fórmas os meus antagonistas politicos, que, declarando que as não querem, não fazem todavia outra cousa; mas, fiel ao meu intento e ao meu quasi compromisso de os não seguir n'esse pouco patriotico caminho, resistirei até onde puder, só cedendo quando a necessidade de contestar alguma affirmação, que simultaneamente offenda o partido a que tenho a honra de pertencer e a verdade se me imponha.

E para que, sr. presidente, este uso, tão frequente n'aquelle lado da camara, de a cada momento recordar o passado, onde muitos terão de que penitenciar-se, buscando n'elle precedentes que justifiquem arguidos erros de agora? Não lucra o paiz nem a administração com isso, e mais se desconceituam na fama publica os homens que nos têem governado.

E Deus sabe por vezes como esse desconceito é injusto, visto a inexactidão tão frequente das affirmações que o fundamentam, feitas contra antagonistas que se pretende difamar, na illusoria espectativa de que é sobre o descredito alheio que se ergue a propria fama.

Se no passado houve actos bons, glorifiquemol-os; se os houve maus, não os apregoemos, que só desacreditâmos as instituições com tal proceder, mas conservando-os na memoria e avaliando-os pelo desastre dos effeitos, procuremos evitar no presente e no futuro outros similhantes, se a nossa dedicação pela patria e pelas instituições é uma realidade, e tantas declamações que tenho escutado não são, se não hypocritas, pelo menos vãs. (Apoiados.)

Como v. exa. vê, sr. presidente, isto era assumpto para desdobrar em extensissimos periodos; mas não quero e vou por isso procurar responder, com a concisão que me for possivel, ao illustre deputado que me precedeu.

Devo dizer a v. exa. que ouvi com profunda e maguada estranheza o illustre deputado arguir n'esta camara o sr. Mello e Sousa, meu muito particular amigo e distinctissimo parlamentar, de ter tratado esta questão com chalaças.

Esta palavra chalaça não é, porventura, extremamente parlamentar; em todo o caso, empregando-a n'este momento, tenho a abonar-me o exemplo que me vem do illustre deputado que me precedeu, e este exemplo incute-me animo.

Dizia eu, pois, que o illustre deputado dissera que o sr. Mello e Sousa só tratára a questão com chalaças, e fundado n'isto, que é absolutamente inexacto, procurou ter a apparencia de quem o censurava. Mas, sr. presidente, que falta de rasão a que se notava no illustre deputado! Todos vimos como foi vehemente essa interpellação do sr. Mello e Sousa, como foi energica a sua replica ao illustre ministro, cuja argumentação, tão frouxa, nem precisava de tanto para desfazer-se; e porque, na replica, o sr. Mello e Sousa esmaltou o seu discurso com um ou outro dito de espirito, mas onde sempre se envolvia um argumento que mais enterrava o governo, o illustre deputado, á falta de melhores rasões para defender o sr. Ressano, levanta-se e invectiva o sr. Mello e Sousa, arguindo-lhe o grande delicto da chalaça.

Esqueceu-se o illustre deputado de que, censurando o sr. Mello e Sousa, as suas censuras iam de recochete apenas ferir o proprio ministro, que a final foi o verdadeiro introductor da chalaça nas discussões parlamentares a que eu tenho assistido.

Pois quem foi que ha tempos, n'esta camara, citou, com grande hilaridade da maioria, a popular adivinha da cova, perguntando: «Qual é cousa, qual é ella que quanto mais se lhe tira, mais fica?» Lembram-se todos de que foi o sr. Ressano Garcia; e até parece que, arvorando a adivinha em norma, tem tirado das arcas do thesouro tudo o que póde, vendendo e empenhando, talvez para tornar maior a sua capacidade para ali recolher as receitas publicas colossaes que hão de provir do seu grandioso e nunca visto plano financeiro. (Apoiados.)

Foi o sr. Mello e Sousa quem usou da chalaça, ou foi ainda o sr. ministro, quando, na sessão passada, ao discutir-se o orçamento, comparado não sei já por quem a um touro, se voltou para o illustre parlamentar, o sr. Marianno de Carvalho, e no meio da hilaridade da maioria, desatou a chamar-lhe «o Romão das piadas»? (Apoiados.)

Ora, sr. presidente, ainda se comprehende que quem n'esta camara tem as relativamente simples responsabilidades de deputado, se permitta o desafogo de uma chalaça; mas que um ministro a arvore em sua arma principal de combate, usando-a como derivativo para fazer esquecer as suas graves responsabilidades, e isto n'uma quadra tão critica, que pensar n'ella é sentir desde logo amortecidos todos os embryões da alegria, isto é que não se comprehende nem se approva.

Se, pois, o illustre deputado se propoz censurar o sr. Mello e Sousa, creia s. exa. que foi muito mais longe; cegou-o a sua paixão, e a final só feriu o illustre ministro (Apoiados.), o ministro, cuja situação, cujas responsabilidade e cujo conhecimento, exacto como o de poucos, das condições angustiosissimas de que vamos fazendo penosa travessia, o obrigavam a uma excepcional seriedade, quando discutindo questões que tão vivamente interessam ao paiz em perigo. (Apoiados.)

As responsabilidades a quem tocam. Se ha que censurar alguem por que á seriedade do debate substitue a chalaça, á elevação do argumento o dichote, á verdade dos factos a inexactidão, censure-se o governo, que n'este caminho tem dado exemplo que farte. (Apoiados.)

Depois passou o illustre deputado a desfazer-se, n'um derretimento do rebuçado ao sol, em elogiosas referencias ao sr. conselheiro Carrilho.

O que nos assombra isto! Pois não é o illustre deputado um correligionario dedicado e enthusiasta do sr. ministro da fazenda? Evidentemente é. E não foi o sr. Carrilho quem, arvorando-se em articulista politico do Diario ao governo, nas columnas d'este periodico tentou a defeza do illustre ministro, n'este negocio, a tantos respeitos desgraçado, das setenta e duas mil obrigações? Evidentemente foi. Que admira, pois, que ao illustre deputado, a quem tenho a honra de responder, tantos louvores, tão fervorosas phrases de elogio merecesse o illustre funccionario a que acabo de referir-me? Evidentemente nada. Seria, porém, muito para louvar no illustre deputado que, respeitando mais a exactidão dos factos, e cegando-se menos pelo desejo de defender quem aggravado não fôra, não tivesse inventado censuras que se não fizeram, nem ataques que se não formularam como aliás fez, de certo para jus-