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1296-B DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tificar o seu proceder quer, n'outros termos, seria inteiramente absurdo. (Apoiados.)

O sacrficio do sr. Carrilho merece muito; mas para se lhe agradecer em ardentes phrases elogiosas não vá o illustre Deputado até ao ponto de injustamente attribuir ao distincto parlamentar que o antecedeu censuras que este não fez aggravos que este não realisou.

Tenho ainda bem presente na minha memória, que felizmente não é faculdade extincta no meu espirito, as palavras que aqui foram proferidas pelo sr. Mello e Sousa.

Se s. exa. censurou alguém foi o ministro que, renunciando a sua situação, não hesitava em ir supplicar, mendigar do seu director geral da contabilidade publica, do secretario geral da repartição cuja direcção superior a s. exa. compete; aquelle attestado de folha corrida que tos vimos no Diario do governo, e que, bem visto, apenas exprime: um sacrifício inútil, uma intenção mallograda de favor, que para decoro do governo, da administração publica, do paiz, emfim de nós todos, melhor fôra se não o tivesse tentado. (Apoiados.)

Passou depois o illustre deputado a referir-se ás clausulas, que constituem o celeberrimo contrato em discussão e disse que annullar esse contrato seria nem mais nem me mós do que dar um golpe mortal no credito do paiz. Ouvi esta phrase com immenso assombro.

O illustre deputado é immensamente intelligente, o illustre deputado representa, se não uma das individualidades melhor afirmadas do seu partido, pelo menos uma das esperanças mais solidamente garantidas do grupo político a que pertence, e por isso eu ouvi com assombro estas palavras proferidas por s. exa.

Annullar o contrato, dizia s. exa., seria um golpe mortal no Redito do paiz. Veja v. exa. como a final a respeito do mesmo ponto, individualidades, que aliás eu creio igualmente bem intencionadas, porque a minha intenção posso eu garantil-a e a do illustre deputado garanto-a pela consideração que tenho pelo seu caracter, se encontram, em absoluto desencontro.

Annullar este contrato, era o unico caminho que o governo tinha aberto diante dos seus olhos, desde o momento que iniciava na imprensa e por todos os modos, abrangendo até o proprio Diario do governo, a campanha contra o chamado mandatário e negociador do contrato. (Apoiados.)

Não é abafando as vozes no parlamento, não é estrangulando na garganta de cada um a palavra que lhe quer irrompendo é suffocando nos lábios a phrase que se vae formular, que se defende uma causa, como esta, em que é preciso que o paiz saiba tudo, tudo começa e tudo ouça, para depois saber quem ha de condemnar ou applaudir. (Apoiados.)

Desde que se travou este debate, e desde que, entre si, o Diario do governo e outro jornal de larga publicação esgrimem insinuando-se por uma parte a idéa de que o mandatário, negociador do contrato das 72:000 obrigações, exorbitou, e varrendo-se por outra a insidia d'esta insinua-lo, o procedimento do governo devia ter sido outro, bem outro.

Se está convicto de que o mandatário exorbitou, proponha as competentes acções para liquidação das responsabilidades civis e criminaes d'ahi resultantes. (Apoiados.)

É assim que procede um governo que tenha a consciência segura das suas affirmações e dos seus actos; nunca, porem, abstendo-se de tudo o que seja um procedimento franco, claro e aberto, e lançando-se no caminho da insinuação, da cilada e de diffamação, que, se muito exprimem contra o mandatário, em nada abonam a respeitabilidade ao próprio governo. (Apoiados.)

Depois passou o illustre deputado a exprobar ao sr. Mello e Sousa a sua prophecia sobre as consequências ruinosas do contrato em questão, arguindo-lhe, entre outros defeitos, o de fazer affirmações que deixava destituidas de prova. Em áparte disse eu então ao illustre deputado que um futuro proximo lhe viria mostrar de que lado estava a rasão, e s. exa., respondendo-me por maneira que não logrei ouvir, deixou-me perceber que pelo meu silencio sobre a sua resposta, só explicavel pelo que deixo dito, estava convencido de que ella fora esmagadora e por isso a sua situação triumphante. E talvez o fosse, e quem me dera a mim que o fosse! Tenho a ingenuidade simples de me interessar deveras pelo bem do meu paiz, gratíssimo seria, pois, ao meu coração sinceramente portuguez que a minha intelligencia se convencesse de que a prophecia do illustre parlamentar, o sr. Mello e Sousa, era totalmente destituída de fundamento. Que alegria a minha, sr. presidente, se no meu espirito sentisse repontar e fixar-se a persuação de que todos aquelles que pensam que este contrato exprime simultaneamente um golpe decisivo para a ruina do nosso thesouro e um vexame profundamente deprimente para a dignidade do meu paiz, estavam em erro! Que jubilo o meu, sr. presidente, se eu podesse convencer-me de que este contrato, vexatório como é, era em todo o caso a fenda aberta nos horisontes entenebrecidos que nos cercam, e pela qual havia de coar-se a luz que, illuminando-nos o futuro, nos marcasse a estrada a seguir para a redempção e felicidade da patria! (Apoiados.)

Mas não é assim, sr. presidente, e para o vermos bastará ler as clausulas d'este contrato, consignadas nos differentes artigos que o constituem, que lel-as o mesmo é que sentir logo na consciencia, profunda e arreigada,, a convicção de que elle representa simultaneamente a ruina do nosso thesouro e uma grave offensa para a dignidade nacional, convicção esta tão sentida por todos, que pretender demonstral-a seria um pleonasmo, de cuja culpa não quero de ter que penitenciar-me.

Depois, sr. presidente, ouvi fallar muito da administração dos tempos transactos. Consinta-me v. exa. que eu lhe diga o seguinte:

Mais uma vez este illustre deputado, naturalmente inspirado no exemplo que lhe foi dado pelo seu preclaro ministro da fazenda (seu e nosso, infelizmente, se bem que está por pouco), mais uma vez, dizia eu, este illustre deputado seguiu o trilho por tantos seguido das retaliações. Já mais de uma vez eu tive occasião n'esta camara de fazer o confronto entre o que tinha sido a administração ultima regeneradora e a actual, e ninguém desmentiu a persuasiva eloquencia dos numeres que aqui citei, demonstrando assim quanto a segunda comparada á primeira tem sido desregrada e ruinosa; estou, pois, dispensado agora de replicar a affirmações, que tenho o direito de reputar destituídas de força desde que vem desacompanhadas de prova. (Apoiados.)

Tristissimo expediente politico o d'aquelles que imaginam que é no relembrar do que elles chamaram outr'ora os erros e esbanjamentos do partido regenerador que hão de encontrar justificação para os actos que por sua vez têem praticado. O partido progressista veiu ao poder depois de uma campanha violenta contra a administração regeneradora que antecedeu a actual, arvorando em lemma da bandeira que empunhava, nem mais nem menos do que o principio do restabelecimento da moralidade administrativa offendida pelos erros e esbanjamentos anteriores, que falsamente arguiam; se pois para justificarem o seu proceder de agora os illustres deputados da maioria não têem melhor do que a invocação d'estes precedentes pelos meamos classificados de criminosos, o mesmo fazem do que confessar perante o paiz a ruindade da actual administração. (Apoiados.)

Defender um acto que nos arguem de mau invocando actos similhantes na intenção e nos effeitos, pias reconhecidos legítimos e bons, comprehende-se; mas procurar a absolvição dos nossos crimes, attribuindo aos contrários crimes similhantes, é expediente que muito deprime os meritos de quem o usa. (Apoiados.)