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possa suppôr da minha parte uma grande deslealdade ao meu partido, mas era um grande principio, foi formar em volta da nação uma grande coallisão de todas as fracções politicas do partido liberal, da qual saissem bons governos, que dotassem este paiz de todas as medidas de melhoramentos materiaes e reformas de que tanto carece. Esta foi a minha unica idéa, pela qual eu empreguei, ainda que sem resultado, a acção de todos os meus recursos: empreguei todo o meu credito, toda a minha pessoa, para se realisar este meu pensamento, por que só assim é que eu julgava que se podia tomar uma posição forte contra os ataque, que se fazem ao systema representativo e ás idéas liberaes, que apezar desses ataques espero que se ha de fumar, e saír triunfante de todas as calumnias que se lhe tem lançado e ficar completamente estabellecido conforme aos principios da civilisação moderna, tendo por base a liberdade da democracia. (Muitos apoiados)

Mas a dissolução da camara teve logar e depois da dissolução que haviam de fazer os ministros! Mão tinham senão duas politicas a seguir — ou legislar ou absterem-se de todo o exercicio de poder legislativo, lazer estudar todas as questões pendentes, habilitar-se para apresentar ao parlamento as leis de que o paiz precisava, dar um exemplo de severidade em materia de legalidade, pôr um cravo na roda das dictaduras e restabelecer pelo seu exemplo o systema parlamentar; era missão nobre e grande, mas era heroica e perigosa, porque não sei se o governo poderia atravessar toda essa época na inacção, porque durante esse tempo de estudo, durante esse tempo de preparo, nada saía do governo, e nós não gostamos de dictaduras, mas ainda gostamos menos de governos, que não fazem nada; de maneira que quando um governo não faz nada, dizemos que esse governo está inerte, que não tem acção nenhuma no paiz, que está morto, e ninguem quer passar por morto. O governo legislou, pois, porque se não legislasse morreria de inanição, e legislou na segunda dictadura, porque não tinha legislado na primeira.

A pouqueza da primeira dictadura é que trouxe a profusão da segunda. A regeneração foi uma grande revolução, não pelo modo porque se fez, mas pelas exigem ias que sobre ella rodaram, pelas esperanças que ella excitou, pelos males publicos que devia curar, pelas reformas que devia intentar; havia portanto unia grande espectativa. O governo na primeira dictadura absteve-se de legislar; viu que a camara era chamada a satisfazer a todas essas exigencias; mas não aconteceu assim, porque as diversas parcialidades da camara não se puderam intender, e o governo dissolvendo a camara, lançou-se na segunda dictadura; de maneira que, logica e historicamente, a segunda dictadura é a primeira. Os ministros foram apoucados, mesquinhos, miudos na primeira dictadura; estavam hesitando entre o principio da necessidade e o principio da legalidade; consultaram o parlamento, não se deram bem, e lançaram-se na segunda dictadura; esta é, sem approvação nem desapprovação, a explicação do facto.

Que devemos nós fazer diante desta dictadura? Dizem que a não devemos approvar, 1.º pela letra da carta; 2.º pelos discursos dos nobres deputados da direita; 3.º pelo máo precedente, e 4.º pelo perigo desta doutrina. Ora, sr. presidente, a carta não póde ser invocada porque é um principio de convenção, que a carta foi morta, foi rasgada; já se sabe que a carta foi rasgada: o que se pergunta é, se este mal, se esta infracção é perdoavel, se o parlamento se julga com poderes para approvar esta absorpção do systema representativo, e de adoptar os resultados que daí vieram; esta não é a objecção, é a questão ella mesma.,.

«Mas os discursos dos illustres deputados daquelle lado?» Oh! Esses fazem-me um grande pezo. Mas esses discursos que são 1 Doutrina? Não preciso que tragam o seu sello, a doutrina sei eu. Conselho? Ah! Então pede a prudencia que eu examine se esse conselho é leal ou não leal, se é interessado ou não interessado, se leva ao bem ou leva ao mal, se convem ás minhas vistas politicas etc. Os nomes são respeitaveis, mas a doutrina é mais antiga e mais forte. E tão antiga e tão forte que os obrigou a apostatar diante della toda a sua politica de tantos annos; tão forte e tão antiga, que os obrigou a uma conversão humilde; mas ostentosa! Sr. presidente, eu creio na doutrina e não creio só agora depois deste milagre de ver repentinamente convertidos a ella tantos corações empedernidos, tantas intelligencias obsecadas, depois de tantas mofas do systema representativo, de tanta irrisão a quem pedia a sua execução, de tão pouco escrupulo em applicar os principios que agora se julgam sanctos!.. Creio, pois na doutrina, mas não creio no conselho, e se eu tivesse uma apoucada razão, se eu quizesse guiar o meu procedimento politico simplesmente por esta condição, bastava que os srs. deputados me aconselhassem, para eu duvidar se devia seguir esse conselho.

«Mas o precedente?» Ora o precedente é temivel. E por ventura o nosso precedente evitará que haja mais ou menos dictaduras? O nosso precedente lerá mais poder do que tiveram todos os outros? Se nós todos protestarmos e jurarmos, que esta dictadura é a ultima, se os srs. deputados, em nome da opinião que representam, nos promettem acabar as dictaduras se nós votarmos contra esta; eu creio que o governo mesmo faz um sacrificio, embora tardio, aos principios constitucionaes, e retira todas as leis que promulgou, se nós todos assignarmos um compromisso de acabarmos com as dictaduras por uma vez.

Mas. sr. presidente, o nosso precedente não tira nem põe nada para a resolução dos srs. deputados no futuro, e nós, votando podemos consultar a nossa razão, a nossa consciencia, os interesses da nossa posição sem nos importar com o precedente.

«Mas os perigos?» Os perigos realmemte é um argumento temivel, mas este argumento faço-o eu, eu é que o faço a mim mesmo, e faço-o tomando todas as precauções para delle deduzir todo; esses perigos. Pois por ventura não é este escrupulo demasiado pelos principios constitucionaes n'uma certa e dada opinião, por certos e determinados Individuos, não é uma desconfiança confessada na força do nosso caracter, na efficacia das nossas crenças? Eu não admitto esta suspeição. Para mim quando alguem se levantar e citar os precedentes, eu respondo comigo e com a minha vida, porque a minha logica é a minha consciencia; e os partidos e os homens que não podem proceder assim, não tem acção, não tem força, não tem auctoridade. (O sr. Cunha Sotto-Maior: — Se se refere a mim, digo que tenho tanta força como o sr. deputado; tanta ou mais) Eu não citei