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o nome do illustre deputado, porque o regimento me véda. V. ex.ª em quanto eu fallar, ha de manter o uso do regimento, porque eu hei-de calar-me até que se me faça boa a liberdade que a carta e o regimento me consentem... (O sr. Cunha Sotto-Maior: — Eu lhe responderei á letra).

Sr. presidente, ha umas crenças pudibundas, umas certas crenças... que crenças! As crenças do systema representativo desmentidas no serviço dos inimigos mais declarados delle; as crenças do systema representativo desmentidas acompanhando-se quasi até ao fim da sua administração o governo mais infesto a estes principios. (O sr. Pessanha: — Peço a palavra) As crenças do systema representativo confessadas com o abandono desse governo no meio dos perigos publicos; as crenças do systema representativo firmadas com um discurso violento de um caracter antigo parlamentar, que sempre se presou de ser homem que nunca pertenceu a nenhuma opinião extrema, mas que pertence de certo a todos os extremos de expressão, a todos os extremos da censura.

Sr. presidente, eu rio-me destas crenças, e rio-me destes pudores!

Sr. presidente, é um principio iniquo, que eu não posso sustentar de que os fins legitimam os meios; mas ha em todas as acções, em todos os actos da vida humana principios que os desculpam, que attenuam a sua culpabilidade; não ha acto nenhum que possa ser absolutamente condemnado, ou que pelo menos possa ser absolutamente condemnavel em todas as suas faces: isto é um principio de moral, de razão e de justiça.

A dictadura não se justifica senão pelas leis que ella fez. São ou não boas essas leis? Se são de vantagem, prescindo da origem donde ellas veem, dou-lhes o meu apoio, e acho que devem ser aproveitadas, não se perdendo occasião de as aperfeiçoar.

Sr. presidente, são reconhecidos os principios politicos deste lado da camara; ninguem os suspeita, ninguem os póde suspeitar, nem ninguem se póde atrever a tal; e aquelles que a respeito dos nossos principios manifestam duvidas, não acreditam nellas, riem-se mesmo quando as apresentam; nós estamos plenamente insuspeitos. Póde haver dissidencias entre nós, mas todos fazemos justiça uns aos outros, e reputamos que somos sincera e puramente liberaes. Nós não precisamos abonar os nossos principios, nem as nossas crenças, somos partido velho, conhecido e provado; mas precisamos abonar talvez a nossa dedicação pelos interesses do paiz; precisamos abonar a nossa habilidade para sustentar o poder; (Apoiados do lado esquerdo) precisamos tirar de cima de nós uma certa suspeita de turbulencia; precisamos manifestar que lemos todo o talento, toda a força, toda a prudencia necessaria para dar ao paiz estabilidade, força, ordem, liberdade e progresso; e esta é uma occasião propriissima para nós fazermos esta manifestação, para fazermos esta provança.

Sr. presidente, eu rio-me de todas essas calumnias que se levantaram contra o partido progressista. Nós nunca nos insurreccionamos senão contra poderes insupportaveis, senão quando as consciencias publicas no punham as armas na mão.

Sr. presidente, em taes circumstancias eu sou, fui, hei-de ser sempre revolucionario, e não comprehendo que nenhum homem publico possa deixar de ser revolucionario. Não intendo que nenhum homem publico deva curvar a cabeça ao abuso de todos Os poderes, conservando-se sempre no circulo da legalidade. Quando as leis são calcadas; quando o parlamento perde a sua acção; quando a imprensa é manietada, os meios legaes são desconhecidos, as armas, e todos quantos meios indica a capacidade humana, todos elles são legitimos, todos elles são sanccionados pelo exemplo dos seculos, e por todos os filósofos e legisladores.

Mas, sr. presidente, o paiz não vive só disto: as revoluções não são senão meios de constituir o poder; e nós comprehendemos o poder em todas as suas gradações, organisado dentro dos principios liberaes, com toda a capacidade para procurar todos os meios possiveis e imaginaveis a fim de poder satisfazer a todas as exigencias não só deste estado social, mas de todos aquelles que a providencia e intelligencia humana tiver destinado á sociedade.

Sr. presidente, é contra os precedentes do partido progressista esse espirito que se lhe pretende infiltrar, essa posição a que o querem reduzir de ser exclusivo e rigoroso, de ser sempre intractavel com todos os ministerios que a elle não pertençam. É uma suspeição absurda, contraria felizmente a todos os precedentes deste lado da camara. Nós sempre fomos mais ministeriaes do que se pensa; o que nós não tivemos, foi ministerios dignos do nosso apoio. (Apoiados da esquerda)

Sr. presidente, em 183-4 todos sabem o que se passou; e sabe-o muito bem um nobre deputado do lado direito, de quem eu sempre fui amigo, e de quem não posso deixar de o ser, e o nobre deputado creio que não póde deixar de ser meu amigo, e que o ha de ser sempre. (O sr. Pessanha — Apoiado) Porque emfim há entre nós uma certa sympathia de opiniões, e a convicção intima da sua probidade attrahe-me para o illustre deputado. Eu tenho duas familias, a de sangue, e a de principios, não sei qual respeito mais, mas aquella de que tenho mais orgulho é desta, é o unico titulo de nobreza e de gloria — é a unica progénie que estimo, o unico pergaminho que prezo, eu tenho-me sentado sempre neste lado da camara, o lado esquerdo da camara é a filosofia, a razão, a liberdade, os progressos da humanidade. (Apoiados da esquerda)

Sr. presidente, em 1834 havia ministerios descuidados, repousando sobre a victoria, julgando que os principios economicos que tinham proclamado, eram por si só bastantes para fazer a felicidade do paiz; ministerios que cruzavam os braços para vêr desinvolver esses principios, que julgavam que a tarefa do governo era só dar elasticidade a umas certas molas, e que depois a machina governativa ía por si mesma; a ministerios destes fazia-se alguma opposição, mas eram ministerios liberaes; erraram na maior parte das questões economicas e administrativas do paiz, mas eram liberaes; e com quanto este lado da camara lhes fizesse alguma opposição, nunca se mostrou intractavel e furioso com esses ministerios, ao contrario com voto deste lado da camara muitos desses ministros tiveram auctorisação para reformarem as leis do paiz, para satisfazerem ás necessidades mais importantes delle. E por ventura enfraqueceu-se o partido da opposição por ter prestado esses votos? Quando chegou o seu dia, a sua hora deixou elle de seguir o seu destino?

Sr. presidente, em 1841 o sr. Manoel Gonçalves