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de Miranda confessou os principios deste lado da camara, disse que ia gerir a fazenda segundo elles, os seus collegas espantaram-se de verem que este talento, esta alma candida tinha confessado esses principios, e dicto que sem elles não se podia governar. Que fez este lado da camara? Prestou-se pelo orgão do sr. José Alexandre de Campos a dar o seu apoio a esse ministerio, se elle pozesse em practica os principios que confessou serem os verdadeiros. O sr. José Alexandre de Campos, cuja memoria será sempre caia, levantou-se e disse — contai sempre com o meu apoio, se puderdes realisar essas medidas; a minha voz, a minha opinião, o meu poder politico será todo vosso, se as realisardes.

Que fizemos nós ainda em 1846? Sustentámos o governo que então se levantou. II era elle dos nossos principios politicos? Seguia as nossas idéas? Hasteava a nossa bandeira?.Pelo menos nos nomes, quanto á significação de pessoas, quanto á progénie historica, significava muito menos que o actual ministerio; mas deixámos nós de lhe dar o nosso apoio?.. Não.

Notou-se a minha indisposição para ser ministerial; notou-se até como uma novidade o ser agora ministerial. Pois eu declaro que o ser eu ministerial não é novidade. Eu já fui ministerial de s. ex.ª o sr. Antonio José de Avila, e fui ministerial de s. ex.ª como nunca o fui de ninguem; e tanto assim é que o Correio Portuguez disse uma vez que a Revolução de Setembro era a espoza querida do sr. Avila. Ora tomando a Revolução de Setembro como significação da minha pessoa, parece-me que o ministerialismo que chega a relações conjugaes, é um ministerialismo bem amoroso. (Riso) Por tanto já vê o sr. Avila que não tem que fazer reparo que eu seja agora ministerial, quando eu já o tenho sido por mais vezes, e como disse, o fui tambem de s. ex.ª

E não foi só pela imprensa que sustentei o sr. Avila, foi tambem com as armas na mão; porque diga-se a verdade, o partido liberal em Portugal tem sempre feito todas as diligencias para poder servir de nucleo a um governo supportavel para o paiz: tem occupado sempre uma posição secundaria e embaraçosa; mas uma posição prestadia, grandemente prestadia e patriotica.

O sr. deputado, homem do povo, creado pela carta, nascido na terra onde se arvoraram os principios de uma regeneração certa e segura para este paiz, o sr. deputado Avila não só foi sustentado por mim com a minha penna e até por um modo revolucionario, com a minha espada, mas tambem por muita mais gente pertencente ao partido liberal; por que s. ex.ª era ministro quando nós, nós todos da democracia turbulenta, quando toda a classe rola e esfarrapada se juntou em volta do sr. deputado e do ministerio de que fazia parte, para obstar por todos os meios ás consequencias que provinham da revolução do Porto, feita por um dos seus collegas, a paredes meias com a secretaria a que s. ex.ª pertencia, e com o qual s. ex.ª depois n'outro tempo leve a honra de fazer parte do poder, para combater tenazmente este partido, que o ajudou, que o sustentou, este partido que é muito liberal, muito forte e muito conscio da sua força e do seu dever, e que não ha nada que o faça mudar das suas antigas e muito vinculadas crenças e principios.

Sr. presidente, a dissolução da camara transacta foi um erro, um grande erro, e uma grande offensa ao nosso partido, offensa ao partido progressista, e que deu resultados que eu lamento. Eu fiz todos os esforços para obstar a essa dissolução; não o pude obter. Nasceram dessa dissolução divergencias que eu lastimo muito que ellas tivessem logar, e sinto ainda mais que continuem a existir. Foi um erro a dissolução da camara passada, mas foi um erro que glorificou o governo.

Aquelle lado (o direito) aconselhou nos ministros que dissolvessem a camara, e que reaccionassem; porém os ministros tomaram só a primeira parte do conselho; isto é, dissolveram, mas não reaccionaram, e com este seu proceder deram occasião a mostrar a sua lealdade aos principios constitucionaes, a sua firmeza e decisão em resistir á reacção, e manter uma certa lealdade de opiniões pelos principios liberaes. — A reacção foi muito e muito aconselhada pelos senhores que representam os principios do lado direito da camara; o governo resistiu, não quiz tomar o conselho. — Oh! E porque soffre agora o governo?... Não é porque dissolveu, é porque não reaccionou. (Apoiados) Se o governo tivesse dissolvido e reaccionado, então não soffreria tantos ataques como tem soffrido, partidos do lado direito da camara. (Apoiados) O governo soffre por se não ter convertido em perseguidor do partido progressista; (Apoiados) soffre por não ter adoptado e seguido invariavel e tenazmente uma politica de exterminio; (Apoiados) por ter conhecido que os individuos pertencentes ao nosso partido são filhos deste paiz; (Apoiados) que as leis sendo feitas para todos, os parlamentos não pertencem exclusivamente a uma certa opinião; (Apoiados) que no parlamento devem ser representadas todas as opiniões, numa palavra, porque é mais liberal que o lado direito da camara. (Apoiados) E nestas circumstancias havemos nós abandonar o governo?... O proceder do governo para com o partido liberal se não gera uma obrigação da parte desse partido, porque em politica não ha gratidão, em politica ha certos principios organicos, que cumpre seguir e manter, gera, comtudo, um certo principio de homogeneidade de vistas, e communidade de interesses.

Pois se o governo, por obstar á reacção, soffre os ataques e violencias do lado direito da camara, ha vemos nós unirmo-nos a elle contra o governo, para o fazer victima de uma cousa em que o mesmo lado esquerdo aproveita, e em que aproveita o proprio paiz?... Não o devemos fazer. (Apoiados)

Mas julgais vós que estes protestos que apparecem agora de amor pelas liberdades constitucionaes, de odio pelas dictaduras, são protestos leaes e verdadeiros, e que não ha nelles a mais leve sombra de reserva?... Reparai que aquelles senhores teem dicto, e especialmente pela imprensa, que nunca mais votariam leis de dictadura; mas salvo o direito eminente das grandes excitações, o direito eminente das grandes modificações. Isto quer dizer — salvo o direito de nós usarmos dellas quando assim o intendermos para conservarmos successiva e permanentemente o poder em nossas mãos, restringir o uso da liberdade, e reduzir o paiz a ser governado pela nossa parcialidade politica. — Eis-aqui a significação da reserva apresentada pelo lado direito quanto ás dictaduras. O lado direito vota contra todas as dictaduras, não quer mais dictaduras — salvo, porém, o direito das grandes modificações. — E porque eu não