O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

142

e que no meio do movimento du Europa attende uos interesses materiaes do paiz, sem calcar e desprezar as liberdades publicas.

Sr. presidente, como dique á reacção européa este governo é o mais Coite que podiamos adiar; é liberal sem suspeita: de ser exaltado, porque tem liberaes de antiga data; tem á sua testa um general de um grande prestigio, de uma grande força no exercito, e que a tem exercido mantendo eu obediencia as diversas fracções, as diversas tendencias politicas de que se compõe o exercito. Tem homens conhecidos por incapazes de atraiçoar as idéas monarchica, e por homens de fim grande afferro ás idéas modeladas; e tem no meio destes um homem sem Compromissos politicos, a quem o poder colheu quasi na verdura dos annos, que não tem nenhuma corrupção das grandes practicas parlamentares, que apparecia no governo simplesmente inspirado pela sua consciencia e desejo de gloria, e que mettido no meio de todas as forças sedativas, de todos os principios justificativos do progresso, é progressista sem nos comprometter. Com dique a reação não vejo outro governo melhor.

Mas não se pense que eu, e Os que comigo votam, sustentâmos o governo por temermos a lucta, nós não a tememos O que tenho eu feito toda a minha vida senão luctar. Que me imporia mais uma campanha: Luctemos, se querem. Mas luctemos para que? Para que se ha de luctar? Com que fim, em que tempo, tom que proveito (Apoiados)

Sr. presidente, eu bem sei que se a reacção europea fôr uma lei universal, ella não pára diante da resistencia dos srs. ministros; eu bem sei que ella hade levar de rastos a espada do duque de Saldanha; eu sei que ella quando tomar a força de que é cupaz, ha de ser inexoravel, ha de ser intractavel, ha de passar por cima de todas as barreiras, ha de romper todos os diques, e ha de cobrir a nossa terra de miseria e oppressão, como tem coberto outras muitas. (Apoiados) O que eu quero é aproveitar o tempo para, sem offensa dos principios constitucionaes, grangearmos a vida, as commodidades, a riqueza e a civilisação desta terra, que tão abandonada e desconsiderada tem sido por aquelles que tantos annos a governaram.

Dizem que eu tenho sacrificado todos os principios de moral, todos os interesses politicos aos interesses materiaes; que me tenho declarado inimigo do fundo de amortisação, inimigo do credito, apoiando as medidas contra o banco; em fim, que tenho sacrificado e vendido tudo absolutamente, salvo a vida e o coração, á confecção de um caminho de ferro. Ora quando isto assim fosse, ainda não perdia tudo, porque sempre vendia por alguma cousa; em quanto que tenho encontrado muita gente, que tendo pouco que vender, esse mesmo pouco que tinham, o venderam pomada; (Riso) o que resta saber é se a venda condizia com a cousa que se trocava.

Houve tempo em que nos diziam: que a liberdade era nada, que era uma idéa vã, que o tudo era a prosperidade e a riqueza publica; e em nome deste principio cercearam todos os nossos direitos, apoucaram todas as nossas prerogativas, e levantaram caceies contra todos aquelles que não seguiam esta theoria: porém, agora que nos restituíram estas garantias, conservemol-as, e tractemos de dar aos interesses materiaes o que se deve dar, mas associando a estes os interesses politicos. (Apoiados) O hontem tem necessidades de diversa ordem, que é necessario attender; não lhe forcemos a sua natureza; a alma não anda mettida n'um corpo, como uma joia mettida dentro de uma caixa; existem entre si relações intimas, existem necessidades reciprocas, que é preciso satisfazer; e o homem não poder satisfazer as suas necessidades da vida, se o não habilitarmos moralmente. Ha homens que vendo que a liberdade tem sido arrancada aos povos em nome dos principios materiaes, depois voltam as cosias nos partidos que elles teem impacientado com a promulgação das suas doutrinas, deixando-os no abandono e na miseria! E muito bom evangelisar essas doutrinas; mas a gente esfaimada e sem recursos não póde esperar nada, nem seguir esses apostolos que lhe voltam as costas, que parecem não consentir que as terras produzam, senão para estes sybaritas ridiculos, que julgam inferiores no seu merecimento todos os regalos da vida.

Por ventura ha alguma idéa politica sem encarnar em factos materiaes? Mas diz-se: — eu quero escólas — mas para haver escólas que aproveitem, está demonstrado ser preciso que os mestres tenham habilitações, e que se estabeleçam casas proprias para as creanças irem aprender. Pois então faça-se uma escóla; porém nada se faz, porque não se tracta dos meios para estabelecer a escóla, por isso que é interesse material. Temos na constituição liberdade de andar e transitar, munidos do competente passaporte, por onde quizermos: mas de que serve que as auctoridades não obstem o nosso transito, se nós não temos nem estradas nem viações? E com tudo não se cogite de estradas, porque é um interesse material, e um principio de corrupção!... Em que ficam, pois, todos esses dezejos, se não constituirmos os meios de os executar? De tudo se tem medo: por exemplo — falla-se em caminhos de ferro — diz-se logo — nada do caminhos de ferro, porque por meio delles póde transportar-se uma grande massa de tropa a qualquer ponto, e suffocar á força o grilo e o clamor justo de um povo. É verdade que póde dar-se este caso; mas antes disto acontecer, ha de o caminho de ferro levar a esse ponto, ou a essa cidade, o principio de moralidade, e o principio de liberdade; e estes principios hão de sempre ganhar o triunfo porque nem o exercito, nem o governo os podem vencer.

Não ha creação grandiosa e elevada, que não tenha pros e contras, e que não possa contrariar os fins para que fôra estabelecida; mas é preciso confiar em Deos e na providencia; e não era possivel que Deos permittisse á humanidade o fazer um grande invento, que não fosse para seu proveito e sem beneficio. (Apoiados) Podem os especuladores fazei em máo uso deste invento, mas a final ha de ser proveitoso á communidade.

Ora, as questões de interesse são sempre difficeis de resolver. Ainda ha bem poucos dias, nesta casa, e nesta mesma discussão, tractando se da questão dos vinhos, se disse que nós temos ministros doudos e furiosos, e que era preciso fazer capacetes de gelo para lhes applicar, declarando-se que era este o motivo por que se approvava o decreto que admittiu o gelo estrangeiro, para ser mais barato. Neste caso temos o interesse e principio moral; aqui venceu o principio moral, é verdade, mas não venceu o principio moral em tolo o seu alcance, porque se por esta medida temos gelo para applicar a certas cabeças, irritativas, não temos gelo de certo para a loucura constitucional. Para isto é que o não há.