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banco não pude dar um grande impulso ao credito, se não póde trazer para um giro de fomento e de confiança os capitaes immensos de que é possivel dispor, então o banco não é nada. Eu quero que o banco diga aos capitaes surge, surge para um grande incremento publico; mas o banco diz aos capitaes surge, surge, para o fundo de amortisação! Ora, a questão para mim é, se o banco é banco; intenda-se bem. Para um banco que fôr banco e que o quizer ser, para Um credito que fôr credito e que o quizer ser realmente, voto eu tudo, chego até a Votar o principio de que as tendas não são convertiveis; esse privilegio é duro, é áspero, mas é um privilegio dado por utilidade publica, eu faço todas as concessões, mas é preciso que o credito tome o caracter Verdadeiro, caracter que tem em outros paizes.

Sr. presidente, o banco de Lisboa nasceu de um emprestimo, e o banco de Portugal nasceu de uma bancarota. Ora, o que o berço dá a tumba o leva. As origens foram pessimas e desgraçadamente nenhuma das direcções reconheceu que é que convinha aquelle estabelecimento, era tomar um caminho absolutamente diverso nas suas transacções. Quando se constituiu o banco em 1822, um dos nossos venerandos legisladores dizia — O banco é feito para supprir as industrias e, por exemplo, para promover uma grande plantação — Creio que não ha 10 réis do banco applicados para similhante fim! Outro dizia — O banco no governo absoluto é ás vezes instrumento desse governo, aí tem o governo toda a acção sobre o banco; mas no governo Constitucional, esse estabelecimento é inteiramente separado, não tem nada com o governo — Se esse venerando legislador viesse assistir ás exequias do banco, se visse o estado de concatenação em que elle se acha com o governo, veria como se tinha satisfeito. Os seus interesses principaes são tirados do seu commercio, do seu giro de trocas de terras etc.; mas Se se perguntar ao banco de Lisboa e ao de Portugal como eram formados os seus dividendos, há de dizer que foram todos tirados do emprestimos com o governo, porque as suas transacções foram sempre pequenissimas, e acanhadissimas.

Mas diz-se agora «O banco não póde entrar no emprestimo do caminho dê ferro, porque é contra a carta organica. Supponhamos que o banco e tambem um contracto, ou que A lei do banco é um contracto; se o banco entra no emprestimo para o caminho de ferro, apesar da carta organica lh'o prohibir, o banco commette uma illegalidade e justifica O governo de ter commettido outra, tirando-lhe o fundo de amortisação.» Mas que se quer de um estabelecimento a respeito do qual se declara em uma assembléa que elle não póde entrar no emprestimo do caminho de ferro, porque os emprestimos de caminhos de ferro são emprestimos de risco? Pois se o banco não quer entrar em taes emprestimos, não queremos o banco para cousa nenhuma. Por ventura não serão emprestimos de risco todos aquelles em que elle tem entrado até agora? Por ventura não são emprestimos de risco inutil adiantamentos sobre adiantamentos a um governo que não tem regra nas suas despezas? Por ventura não são emprestimos de risco o juntar-se com outras companhias» fazer-lhes emprestimos, quando se está em amizade te intimidade com ellas, é depois querer lançar sobre o governo a carga desses emprestimos que se fizeram áquelles individuos por considerações pessoaes e por partilha de interesses! Pois não serão emprestimos de risco todas estas transacções que tem trazido o banco muitas vezes até ás porias da morte, pelo que lhe tem sido preciso recorrer a todos os individuos pára o salvar? Então se estes emprestimos não eram de risco, donde vieram todas estas crises porquê elle tem passado? Pois um caminho de ferro é Um emprestimo de risco? E vê-de o que ha lá fóra? Eu Soube que em pouco tempo as acções de caminhos de ferro tiveram uma alta, e que querendo-se explicar essa alta por considerações muito longas de finanças e de economia pública, viu-se que essa alia não era senão produzida pelo rendimento desses caminhos de ferro, que ainda não eram má negociação.

Sr. presidente, o banco precisava, e nem se póde salvar de outro modo, em vez de estar,nestas navegações de costa acosta em risco todos os dias de dar n'um recife, e de se partir n'um promontorio, soltar todas as velas, fazer-se mais ao mar, alargar as suas transacções. Mas o que tem feito o banco? O banco tem feito actos corajosos como os soldados que vão até á linha, Onde o inimigo os póde matar, mas que não vão para diante; chegam mesmo á queima roupa, é ahi deixam se estar porque não sabem retirar; se tivessem lances de cotagem, corriam menos perigos, mas tem a coragem da inercia, soffrem todos os tiros que os dizimam, e por fim fogem, mas depois de perdidos muitos soldados e com uma derrota certa O banco quando se viu aggredido pelo governo, O que devia era não lhe dar razão, e pedir todos os meios e recursos precisos para alargar todas as suas transacções, porque tem de é fazei. Não ha senão duas opiniões a êste respeito: ou o banco ha de largar o seu monopolio, ou se ha de prestar a servir como se não houvesse monopolio.

Para mini a utilidade dos bancos caracterisa-se pela alia do juro, pelo preço do capital; é uma cousa caracteristica, cuja observação não deve escapar. Quando se instituiu o banco de França, o preço do juro era de 3 por cento ao mez, e hoje o preço do juro em França é de por cento ao anno. O banco de Portugal quando se estabeleceu o preço do dinheiro, era de 12 por cento ao anno, o preço do dinheiro hoje é de 1 por cento ao mez. Para mim em presença disto o banco é um estabelecimento demonstrada, claramente Inutil, sem acção nenhuma sobre a economia publica; porque, desenganemo-nos, em quanto não tivermos capitaes baratos, não podemos ter nada, porque o capital é o jornal, a enxada, o estrume, a ferramenta, o capital é tudo, e com o capital a 12 por cento não é possivel absolutamente nada. Nós vivemos de um milagre: diz-se isto, é uma observação indecorosa para nós, mas é justa; nós vivemos do nosso clima, porque em outro paiz com taes instituições economicas era impossivel viver. Mas este solo e este clima não é Cousa que se repute como um beneficio do governo, nem corto uma razão para nos desobrigar das diligenciai de tirar todo o partido deste solo; quanto mais uma terra é favorecida pela natureza, maior é a obrigação para. á parte da especie humana que a habita, de a cultivar e fazer florecer; o nosso clima faz à nossa vergonha, e torna-nos indignos do solo que nos deu em parte a sorte, e em maior parte a bravura e dedicação dos nossos pagados. Larguemos a herança, se a não sabemos grangear!