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banco ainda hão de confessar e reconhecer as vantagens dessas medidas, e que aquellas que a direcção do banco tem tomado, não são as melhores. Muitos accionistas do banco bem sabem que muitas das medidas tomadas pela direcção não estão de accôrdo com os seus interesses; e se elles estivessem livres de uma certa pressão, de certo as não poderiam approvar; porque assim como se diz, que ha deputados que são ministeriaes dentro da camara, mas que o não são fóra della, lá acontece o mesmo, ha muitos accionistas que são ministeriaes da direcção, na casa do seu parlamento, mas que não são ministeriaes cá fóra nas conversações particulares que teem, quando tractam dos seus negocios.

Estamos chegados aos caminhos de ferro, e aqui sou eu considerado como um grande réo, porque se diz — que o governo accedendo á feitura do caminho de ferro do norte, levou nisto uma idéa completamente politica, e o meio de captar o meu apoio ao governo. Felizmente o illustre deputado que hontem fallou, desfez esta illusão. Eu tenho a declarar, primeiro que tudo, que o sr. ministro da fazenda communicou-me a sua intenção de fazer o caminho de ferro do norte. O caminho de ferro do norte é uma cousa absolutamente necessaria; e para o comprovar, entre muitas cousas que podia citar, cito Uma representação de alguns commerciantes do Porto, representação insuspeita que vou ler á camara. (Leu)

Sr. presidente, eu considero esta representação como uma representação a favor do caminho de ferro do norte; não sei se os nobres deputados lhe dão este alcance: eu nunca governei o paiz; mas os senhores daquelle lado da camara, que tau as vezes teem sido governo, parece-me que alguma responsabilidade podem ler por um documento tal, nesta época, e nestas circumstancias: é o commercio da primeira cidade do reino, que pede ao governo um dos seus vapores para transportar, de Lisboa para o Porto, as suas mercadorias, porque não as póde transportar por terra, em consequencia das más estradas, e por mar por falla de embarcação. E, pois, para evitar estes e outros estorvos, que a cada passo se estão dando no nosso commercio interno, que é de absoluta necessidade a feitura de caminhos de ferro. (Apoiados)

A respeito de caminhos de ferro ha aqui duas parcialidades; uma é a parcialidade dos pobres, que quer os caminhos de ferro; e a outra é a de gente grande e poderosa, que não consente que haja um caminho de ferro em Portugal, senão quando se tiver confeccionado um systema tão geral e de tal fórma preparado e combinado, que vá ligar com toda a Europa; que não consentem que isto aqui seja senão a cabeça de todo esse imperio, e a viação principal para toda a parte do mundo; só então é que ha de haver caminhos de ferro em Portugal! Depois veem as considerações geográficas do nosso paiz, e dizem: «Portugal não está no meio de um grande centro de producção; isto aqui não é conveniente para caminhos de ferro) de maneira que nós, como principio de lucro, admittimos os caminhos de ferro; mas como principio de commodidade não os admittimos — Se vivessemos n'uma ilha, não tinhamos caminhos de ferro, teriamos só operações de fazenda; de maneira que nós, na opinião desses senhores, pela situação que nos deu a sorte, não somos destinados para caminhos de feno, ao menos que não seja um grande caminho de ferro, que se estenda por toda a Europa pois eu estou persuadido do contrario; estou persuadido que, porque se não póde fazer já tudo, nem por isso se deve deixar de fazer alguma cousa; estou persuadido de que a linha de ferro do sul mesmo unindo-se ao caminho de ferro de Hespanha, não ha de monopolisar todo o movimento europeo. Mas o caminho de ferro do norte, esse é todo nosso, é todo para nós, é a viação do paiz; póde levar os escrivães de fazenda, e levando estes ha de tambem concorrer para mais facilmente se poderem arrecadar as rendas publicas. (Riso)

Em outro tempo quando se tractou do caminho de ferro de leste, não se cogitava se elle havia de ser por Hespanha, dizia se sómente «faça-se o caminho mas pela companhia das obras publicas mas agora já o caminho de ferro não se deve fazer, se elle não fôr internar com a Hespanha, e se não se fizer uma convenção com os habitantes das outras nações, para que elles se obriguem a ser nossos freguezes. O caminho de ferro do norte é a unica viação que podemos ter; se se fizer a estrada daqui ao Porto, ha-de ser um grande encargo para o paiz, sem que dahi resulte grande proveito, em quanto que o caminho de ferro ha-de Ser um encargo menor, produzindo maiores vantagens. Pelas estradas, como ellas se fazem entre nós, e ainda mesmo que se façam melhores, não poderá andar por ellas senão gente abastada, porque é preciso ser conduzida em liteiras ou diligencias, e isto sae caro; e por consequencia nem toda a gente pode transportar-se deste modo, são só as classes abastadas que podem andar por essas estradas, mas essas classes não são ião immensas, que possam dar-lhes o alimento necessario e conveniente; mas nos caminhos de ferro vai toda a gente, pobre e rico pode transportar-se a grandes distancias sem grandes despezas. Que cousa é estar a fazerem se estradas, quando se podesse fazer caminhos de ferro? Ou se pode fazer uma e outra cousa; mas não creio que isto seja possivel; e neste caso façam-se antes caminhos de ferro, porque o dinheiro que se emprega nos caminhos de ferro é sempre aproveitavel, e o que se emprega nus estradas é quasi perdido.

Viações maritimas não as temos. Pois nós podemos ter viações maritimas ainda mesmo n'um estado supportavel, quando não estamos habilitados a gastar as grandes sommas que ellas demandam? Além disso, nós não temos portos nem barras; algumas dellas são de lai maneira tempestuosas, em certo tempo, que a sua communicação é impossivel. A barra do Porto, por exemplo, está terrivel, está por fazer tudo o que nella devia ter sido feito; e estou persuadido (é convicção minha) que o melhoramento de que a barra do Porto carece, não vale a pena do dinheiro que para isso é necessario gastar; é preciso fazer-se uma barra nova. No Algarve não ha barras, acabaram todas; na barra de Aveiro tem se consumido sommas immensas; cê uma vergonha dizer-se O dinheiro que nella se tem gasto, e o estado lastimoso em que se acha. A barra da Figueira depois das obras que alli se fizeram, ficou terrivel, pessima: ainda ha pouco quedei, para atravessar o rio, 11 pintos, muito mais do que havia de dar por ir num caminho de ferro daqui á minha terra. Está alguem presente que presenciou este facto.

Sr. presidente, até se disse aqui que eu tinha proposto o caminho de ferro, porque queria ir para Aveiro por caminho de ferro. Isto é incrivel! Ninguem póde propôr um melhoramento novo, senão fazendo desis-