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CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

SESSÃO EM 13 DE ABRIL DE 1664

PRESIDENCIA DO SR. CESARIO AUGUSTO DE AZEVEDO PEREIRA

Secretarios os srs.

Miguel Osorio Cabral

José de Menezes Toste

Chamada — Presentes 66 Srs. deputados.

Presentes á abertura da sessão — Os srs. Adriano Pequito, Affonso Botelho, Garcia de Lima, Annibal, Soares de Moraes, Ayres de Gouveia, Quaresma, Brandão, Gouveia Osorio, Ferreira Pontes, Pinheiro Osorio, Pinto de Albuquerque Lopes, Branco, Magalhães Aguiar, Palmeirim, Barão da Torre, Barão do Vallado, Albuquerque e Amaral, Abranches, Almeida e Azevedo, Bispo Eleito de Macau, Cesario, Claudio Nunes, Domingos de Barros, Poças Falcão,

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Bivar, Coelho do Amaral, Borges Fernandes, F. M. da Costa, F. M. da Cunha, Cadabal, Pereira do Carvalho e Abreu, Medeiros, Sant'Anna e Vasconcellos, Mendes de Carvalho, J. A. de Sousa, Fonseca Coutinho, J. J. de Azevedo, Nepomuceno de Macedo, Aragão Mascarenhas, Sepulveda Teixeira, Torres e Almeida, Mello e Mendonça, Neutel, J. Pinto de Magalhães, Faria Guimarães, José da Gama, Sette, Fernandes Vaz, Alves Chaves, J. M. de Abreu, Frasão, Rojão, Menezes Toste, Oliveira Baptista, Batalhós, Levy Maria Jordão, Camara Leme, Alves do Rio, Murta, Pereira Dias, Pinto de Araujo, Miguel Osorio, Monteiro Castello Branco, Ricardo Guimarães, Thomás Ribeiro e Teixeira Pinto.

Entraram durante a sessão — Os srs. Braamcamp, Abilio, Vidal, Sá Nogueira, Carlos da Maia, Gonçalves de Freitas, A. Pinto de Magalhães, Fontes de Mello, Mazzioti, Mello Breyner, Pereira da Cunha, A. V. Peixoto, Zeferino Rodrigues, Barão das Lages, Barão de Santos, Barão do Rio Zezere, Garcez, Freitas Soares, Beirão, Carlos Bento, Ferreri, Cyrillo Machado, Pinto Coelho, Almeida Pessanha, Conde da Torre, Fernando de Magalhães, Fortunato de Mello, Barroso, Fernandes Costa, Ignacio Lopes, F. L. Gomes, Bicado Correia, Gavicho, Gaspar Pereira, Guilhermino de Barros, Henrique de Castro, Gomes de Castro, João Chrysostomo, Mártens Ferrão, Albuquerque Caldeira, Joaquim Cabral, Matos Correia, Rodrigues Camara, Infante Pessanha, Figueiredo Faria, Casal Ribeiro, Costa e Silva, Alvares da Guerra, Sieuve de Menezes, José de Moraes, Julio do Carvalhal, Camara Falcão, Freitas Branco, Rocha Peixoto, Mendes Leite, Sousa Junior, Vaz Preto, Charters, R. Lobo d'Avila, Moraes Soares, Fernandes Thomás e Visconde de Pindella.

Não compareceram — Os srs. A. B. Ferreira, Correia Caldeira, Antonio Eleutherio, Seixas, Arrobas, Lemos e Napoles, Antonio Pequito, Lopes Branco, David, Oliveira e Castro, Conde de Azambuja, Cypriano da Costa, Drago, Abranches Homem, Diogo de Sá, Vianna, Pulido, Chamiço, Gaspar Teixeira, Blanc, Silveira da Mota, Costa Xavier, Calça e Pina, Ferreira de Mello, Coelho de Carvalho, Simas, Lobo d'A vila, Veiga, Galvão, José Guedes, Luciano de Castro, D. José de Alarcão, Latino Coelho, Gonçalves Correia, Mendes Leal, Affonseca, Moura, Alves Guerra, Manuel Firmino, Sousa Feio, Modesto, Placido de Abreu, Simão de Almeida e Vicente de Seiça.

Abertura — Ao meio dia e tres quartos.

Acta — Approvada.

EXPEDIENTE

1.º Um officio do ministerio das obras publicas, acompanhando a nota, pedida pelo sr. Casal Ribeiro, das sommas pagas até ao dia 29 de fevereiro d'este anno ás emprezas das linhas ferreas do norte, leste e sueste, e das quantias que no mesmo dia restavam para pagar aquellas emprezas. — Para a secretaria.

2.º Quatro requerimentos de officiaes de caçadores n.° 7, pedindo que se elevem os soldos dos officiaes do exercito. — Á commissão de guerra.

EXPEDIENTE

A QUE SE DEU DESTINO PELA MESA

REQUERIMENTOS

1.º Requeiro que, pelo ministerio da guerra, sejam enviadas com urgencia a essa camara as informações annuaes relativas aos postos de primeiros sargentos aspirantes a officiaes, dos capitães de infanteria barão de Mesquita, José Antonio Fernandes Braga, José Justino de Pina Vidal e Francisco Odorico da Costa Maia.

Sala da camara dos deputados, 12 de abril de 1864. = Francisco Maria da Cunha.

2.º Requeiro que, pelo ministerio das obras publicas, se remetta a esta camara, com urgencia, as plantas, orçamentos ou reconhecimentos das obras da barra de Villa Nova de Portimão, limpeza da ria, caes e ponte, a que se refere a lei de 7 de julho de 1862. = O deputado por Loulé, João Antonio de Sousa.

3.º O segundo decreto de 11 de outubro de 1852, impoz um direito de 500 réis em pipa de vinho, geropiga e aguardente que entrasse no Porto ou Villa Nova de Gaia, de qualquer procedencia; ou fosse pela barra ou pelas barreiras do rio e de terra, para se pagar desde a publicação da lei até 31 de dezembro de 1857, para ser recebido pela alfandega e guardado em separado para ser exclusivamente applicado em beneficio da agricultura do Douro.

Este tributo não teve a applicação que a lei da sua creação lhe destinou, e o seu producto foi applicado para a construcção da estrada marginal do Douro, e continua a ser recebido depois de 1857, em que devia terminar o seu pagamento.

Desejava saber qual é a lei ou providencia que legalisa a alteração do destino primordial do producto daquelle producto.

Desejava mais saber qual foi a lei que auctorisou a cobrança e continuação da applicação d'aquelle tributo, bem como a importancia do producto annual do referido tributo.

Peço ao governo que, pelo ministerio correspondente, sejam enviados a esta camara os esclarecimentos que peço com urgencia.

Sala das sessões da camara dos srs. deputados, em 12 de abril de 1864. = Affonso Botelho.

4.º Requeiro que o governo, pelo ministerio dos negocios da fazenda, haja de enviar a esta camara a informação pedida em 28 de junho de 1862, e por mim solicitada novamente em 15 de março do corrente anno, relativa á representação da camara municipal de Valença, que pediu a concessão definitiva de uma casa que outr'ora fôra aljube. = Bernardo Francisco de Abranches, deputado pela ilha de S. Thomé.

Foram enviados ao governo.

NOTAS DE INTERPELLAÇÃO

1.ª Requeiro ser inscripto para tomar parte na interpellação annunciada pelo sr. deputado Quaresma, na sessão de 5 do corrente, sobre a distribuição da derrama para os expostos, feita na ultima sessão pela junta geral de Coimbra. = Monteiro Castello Branco.

2.ª Pretendo interpellar s. ex.ª o sr. ministro do reino, sobre a falta de segurança publica no paiz, e especialmente na capital, e sobre as providencias que o governo pretende tomar ácerca d'este importante objecto. = Mártens Ferrão.

Mandaram-se fazer as communicações respectivas.

SEGUNDAS LEITURAS

PROPOSTA

Proponho que no fim de cada sessão se annuncie precisamente a ordem do dia da sessão seguinte, e a mesma seja publicada no Diario de Lisboa. = Pinto de Araujo.

Foi admittida á discussão.

O sr. Pinto de Araujo: — Quando mandei esta proposta para a mesa, tive em vista fazer com que se cumprisse a regularidade dos trabalhos da camara, em conformidade com as disposições do artigo 28.° do regimento d'esta casa, que permitte tratar de quaesquer negocios antes da ordem do dia, para os quaes os membros d'esta camara tenham pedido a palavra.

Tenho visto que em algumas sessões se tem começado, logo depois da leitura do expediente, com a discussão de projectos, em virtude de resoluções da camara, havendo alguns srs. deputados inscriptos para fallarem antes da ordem do dia, o que me parece que não está em harmonia com o artigo do regimento, a que me referi.

Não quero n'estas minhas poucas palavras irrogar censura a ninguem, e muito menos á mesa; mas entretanto parece-me conveniente, para regularidade dos trabalhos, que os membros d'esta camara possam, antes da ordem do dia, expor francamente a sua opinião sobre negocios de circumstancia e de interesse publico, para que o governo tome verdadeiro conhecimento d'elles, sendo alguns d'elles de necessidade urgente, e sobre os quaes é preciso que o governo tome providencias que evitem males de que póde resultar a continuação do estado menos regular em que se acha a administração em alguns dos districtos do reino.

Estou inscripto, parece-me, desde o dia 3 de março ultimo, para antes da ordem do dia, e ainda não tive a fortuna de ver chegada a occasião de poder usar d'ella, para o fim para que eu a tinha pedido. Inscrevi-me tambem em algumas sessões posteriores, e nem mesmo assim me foi possivel ainda ver chegado, de maneira nenhuma, o momento em que possa usar da palavra para tratar de assumptos que julgo de gravidade e de grande circumstancia.

Para evitar factos d'esta ordem, que se repetem tão successivamente, é que apresentei a minha proposta, que está em discussão; porém como vejo que ella, não obstante ser rasoavel no meu entender, e tornar mais regular os trabalhos da sessão, póde ser sophismada por virtude de resoluções que a camara possa tomar, e continuar-se no mesmo estado que até aqui, pedia licença para retirar a minha proposta.

Não digo mais nada a este respeito, porque estou persuadido e intimamente convencido de que v. ex.ª ha de continuar a cumprir, como sempre tem cumprido, o regulamento d'esta casa (muitos apoiados). Parece-me que a camara toda faz justiça a v. ex.ª pelo bem que tem desempenhado as funcções do logar que occupa (apoiados).

Podem discutir-se projectos de conveniencia e de interesse publico, mas sem que se altere a ordem registar da sessão, de medo que possam fazer uso da palavra os srs. deputados que se têem inscripto para antes da ordem do dia, e sem prejuizo de quaesquer resoluções tomadas pela camara (apoiados). A camara já teve isto em vista quando tomou uma resolução relativamente a um projecto do sr. José de Moraes, que teve parecer da commissão na sessão do anno passado, mas que nem n'essa sessão, nem n'esta, ainda tem sido discutido, quando é um projecto, a meu ver, de muito mais importancia do que outros que ultimamente se têem discutido depois d'essa -resolução; e com isto não quero irrogar censura a ninguem.

Creio que a camara resolveu que esse projecto fosse discutido depois do projecto do tabaco e do orçamento; parece-me portanto haver uma certa irregularidade nas resoluções tomadas pela camara, de se discutirem outros projectos antes d'este; e espero portanto que v. ex.ª continue a manter as disposições do regimento; e termino pedindo a v. ex.ª que consulte a camara se permitte que retirei minha proposta.

A camara -consentiu que fosse retirada.

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos: — Requeiro que v. ex.ª consulte á camara se quer que se discuta o projecto n.° 46 relativo aos segundos sargentos que serviram na junta do Porto, e logo em seguida o projecto n.° 49.

(Os srs. Camara Leme e Mello Breyner pediram a palavra.)

O sr. Presidente: — Antes de dar a palavra aos srs. Camara Leme e Mello Breyner devo informar a camara que se deve continuar na discussão do projecto n.° 23, que ficou pendente da sessão de hontem.

O sr. Camara Leme: — Tinha pedido a palavra para ponderar á camara o que v. ex.ª acaba de dizer.

O sr. Mello Breyner: — Por parte da commissão de guerra mando para a mesa um officio do ministerio da guerra, que lhe foi enviado com a conta corrente d'este ministerio, com o fundo da remissão de recrutas. Estas contas são muito importantes, e para que todos possam tomar conhecimento d'ellas, em nome da commissão, peço a v. ex.ª que consulte a camara se quer que se publiquem no Diario de Lisboa.

Assim se resolveu.

O sr. Presidente: — O sr. deputado Sant'Anna requer que se consulte a camara, se quer que depois da discussão do projecto de lei n.° 23 entre em discussão o projecto de lei n.° 46, relativo aos sargentos da junta do Porto, e em seguida (porque o requerimento tem duas partes) o projecto de lei n.° 49. Vou consultar a camara sobre este requerimento.

Resolveu-se affirmativamente.

O sr. Presidente: — Tem a palavra o sr. Bivar para um requerimento.

O sr. Bivar: — Cedo a ao sr. Coelho do Amaral, que a pediu para o mesmo fim, e que deve ter a preferencia por ser auctor do projecto cuja discussão vae requerer.

O sr. Coelho do Amaral: — Peço a v. ex.ª que tenha a bondade de consultar a camara, se quer que em seguida aos projectos n.ºs 46 e 49, requeridos para discussão pelo meu collega e amigo, o sr. Sant'Anna, e que a camara approvou, se discutam os projectos n.ºs 43 e 44, que são tambem tendentes a reparar os incommodos e prejuizos soffridos por sargentos compromettidos em differentes dissensões politicas. (O sr. Affonso Botelho: — Muito bem.) Este projecto não leva tempo, porque não tem discussão. (O sr. Visconde de Pindella: — É verdade).

Leu-se na mesa o seguinte

REQUERIMENTO

Requeiro que em seguida á discussão dos projectos n.ºs 46 e 49 d'este anno se discutam os projectos n.ºs 43 e 44 tambem d'este anno. = Coelho do Amaral.

Foi logo approvado.

O sr. Rodrigues Camara: — Mando para a mesa dois pareceres da commissão de marinha.

O sr. Affonso Botelho: — O meu nobre amigo, o sr. Coelho do Amaral, preveniu-me no requerimento que eu queria fazer.

Eu queria requerer que em seguida aos projectos de lei n.ºs 46 e 49 fosse discutido o projecto n.° 44, que diz respeito a uma classe desgraçada, e a mais antiga na ordem das desgraçadas.

O meu nobre amigo, sempre igual na sua justiça, sempre justo e benevolo, preveniu-me, acolhendo debaixo da sua protecção aquelles desgraçados, e eu espero que a camara lhes faça justiça. (Vozes: — Muito bem.)

O sr. Presidente: — Continua a discussão do projecto de lei n.° 23 do anno passado, na sua generalidade.

O sr. Camara Leme: — Pedi hontem a palavra quando se discutia este projecto, para mandar para a mesa dois additamentos que não alteram em nada a sua essencia, e só dizem respeito á sua redacção.

Mando-os para a mesa e espero que elles sejam approvados, mas no caso de serem combatidos tratarei de os defender como poder.

O sr. Presidente: — As propostas que o sr. Camara Leme mandou para a mesa só podem ser tomadas em consideração quando se entrar na discussão da especialidade, e por isso ficam reservadas para essa occasião.

O sr. Palmeirim: — Pedi a palavra para mandar para a mesa um artigo novo a este projecto.

O sr. Presidente: — Eu peço perdão ao nobre deputado, mas o projecto está em discussão na sua generalidade; e só quando se entrar na especialidade é que se podem apresentar propostas; e como ninguem pede a palavra sobre a generalidade, eu vou submetter o projecto á votação (apoiados).

Seguidamente foi approvado o projecto na generalidade.

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos: — Peço a v. ex.ª que consulte a camara se quer que se passe desde já á especialidade.

Assim, se resolveu.

Seguidamente foi approvado o artigo 1.º

O sr. Presidente: — Agora vae ler-se o artigo 2.° e a proposta do sr. Camara Leme.

É a seguinte:

PROPOSTA

Proponho:

1.º A eliminação do artigo 2.°

2.º A substituição do artigo 3.° — As pensões concedidas aos filhos varões e menores dos officiaes e outros individuos do exercito, de que trata o § 1.° do artigo 1.° da carta de lei de 19 de janeiro de 1827, ser-lhes hão abonadas até á idade de vinte annos completos.

Additamentos:

3.º As disposições do alvará de 16 de dezembro de 1790 e da carta de lei de 8 de junho de 1863, são applicaveis a todos os empregados civis do exercito e da armada, que tiverem graduações militares, quando por leis especiaes lhes não pertencerem maiores vencimentos.

4.º E o governo auctorisado a codificar todas as leis em vigor, que tratam das reformas dos officiaes do exercito e armada.

5.º Ficam assim interpretados e ampliados os artigos 2.°, 5.° e 8.º da carta de lei de 8 de junho de 1863, e revogada toda a legislação em contrario. = Camara Leme.

Foi admittida á discussão.

O sr. Quaresma: — Pedi a palavra unicamente para solicitar que a commissão dê explicações á camara, porque não vejo que a respeito d'este negocio fosse ouvido o sr. ministro da guerra. Todas as questões de guerra são serias, e não devem discutir se sem que o sr. ministro da guerra dê a sua opinião sobre ellas (apoiados).

Pareceu-me que se disse que este projecto não tem uma idéa nova, e é apenas uma questão de redacção. Comtudo espero que os illustres deputados, membros da commissão de guerra, declarem isto e que nos digam se o sr. ministro da guerra foi ouvido, como devia ser. Entendo que projectos de guerra sem ser ouvido o ministro respectivo, é uma cousa grave, e que póde trazer complicações.

Pedia pois aos membros da commissão de guerra que explicassem, se effectivamente foi ouvido o Sr. ministro da guerra, e se o não foi, porque.

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O sr. Camara Leme: — Hontem nao entrei em mais explicações sobre o projecto que está em discussão, mas hoje explicarei ao illustre deputado o seu fim.

O artigo 3.° da carta de lei de 8 de junho de 1863, que regulou as reformas dos officiaes e de outras classes militares não corresponde ao pensamento d'aquella lei.

O artigo 3.° d'aquella carta de lei foi redigido de modo que a contagem de tempo dobrado em campanha, aproveitasse só aos officiaes que tivessem vinte e cinco annos de serviço e cincoenta e cinco de idade, de maneira que aquelles que tivessem -menos do que esta idade, pelo modo porque está redigido o artigo, não podiam aproveitar-se da disposição da carta de lei a que me refiro.

Não podia ser de certo a mente do parlamento contar de um modo o tempo do mesmo serviço a uns e não o contar do mesmo modo a outros, só pela differença da idade.

Já vê pois o illustre deputado que este projecto tem unicamente por fim explicar a carta de lei de 8 de junho de 1863.

Ora, eu apresento um additamento que espero que seja approvado, que é relativo ás pensões dos filhos dos militares. Á lei actualmente não lhes dá o goso d'estas pensões senão até aos quatorze annos, e é n'essa idade que elles mais precisam de educação, e portanto este projecto amplia o goso dessas pensões até á idade de vinte annos.

Mandei para a mesa uma substituição ao artigo 3.°, que está redigido de um modo um pouco confuso, e por consequencia os illustres deputados não devem ter duvida em aceitar estas emendas que eu proponho, mesmo porque sobre ellas estão de accordo todos os membros da commissão de guerra (apoiados).

O sr. Affonso Botelho: — Eu tenho, a maior consideração por todos os membros que compõem a commissão de guerra; mas quando se trata de um projecto que abrange toda a corporação militar, as minhas doutrinas de soldado exigem a regularidade que é precisa era todos os actos militares.

A corporação militar tem um chefe, que é o sr. ministro, da guerra; portanto, apesar de serem muito rasoaveis todas às idéas que o illustre deputado acabou de emittir, eu(entendo que a camara não se deve occupar d'este projecto sem que o sr. ministro da guerra esteja presente e tenha declarado que adopta as emendas que o illustre deputado mandou para a mesa. Alem d'isso não me parece regular votarmos essas emendas sem a commissão de guerra ser ouvida.

Entendo portanto que, para seguirmos as praticas estabelecidas n'esta casa, devem estas emendas ir á commissão dei guerra para dar sobre ellas o seu parecer, e á vista d'elle a camara resolverá o que entender de justiça. Final mente julgo prematura qualquer resolução que a camara tome n'esta occasião.

O sr. Quaresma: — Cada vez me convenço mais da necessidade de ser ouvido sobre este projecto o sr. ministro da guerra. Isto não é sómente uma questão de redacção, é uma ampliação de beneficios que a lei concede a certos individuos. Depois de ouvir a opinião do sr. ministro da guerra, não duvidarei em votar este projecto; mas por emquanto entendo, que a camara, mesmo por delicadeza para com o sr. ministro, não deve tomar resolução alguma sobre este projecto.

r Portanto! proponho que as emendas apresentada pelo sr. Camara Leme vão á commissão de guerra, para ella dar o seu parecer quanto antes (apoiados).

O sr. Rocha Peixoto: — Eu estou completamente de accordo com o illustre deputado o sr. Quaresma. Quando n'esta casa se discutiu a lei da reforma militar, eu votei contra ella, porque importava um grande augmento de despeza, não só em melhorarias condições de reforma, mas porque dava logar a uma larga promoção de que estamos ameaçados. Agora a commissão de guerra, e em especial o sr. Camara Leme, não satisfeitos com os beneficios d'essa reforma, apresentára uma substituição, emenda, alteração ou seja o que for, só com o fim de fazer extensiva a lei a pessoas que não foram comprehendidas n'essa lei. Isto importa augmento de despeza, e altera o sentido fundamental dessa lei.

(Diz o sr. Camara Leme: «Não tenham duvida em votar este, projecto»; ora, eu tenho duvidas, porque não acho regular, saír este projecto do bolso do illustre deputado para a (mesa, e votára camara só pela auctoridade da palavra de s. ex.ª Eu tenho muita consideração por s. ex.ª; mas comtudo, isto não é regular.

E, preciso que este projecto vá á commissão de guerra com as emendas do illustre deputado, para ella dar o seu parecer sobre ellas; são estes os tramites exigidos para todos os projectos, e, não vejo rasão alguma para se fazer uma excepção ao respeito d'este. Insisto pois pela proposta do sr. Quaresma, para que as emendas apresentadas pelo sr. Camara Leme vão á commissão de guerra para ella dar o seu parecer sobre ellas.

Foi lida na mesa a seguinte:

PROPOSTA

Proponho que as emendas do sr. Camara Leme voltem á commissão, e que sobre ellas seja ouvido o sr. ministro da guerra. = Quaresma.

Foi admittida e ficou em discussão.

O Sr. Palmeirim: — Eu tinha a palavra sobre a materia e não, sei se variando a discussão, porque sobreveiu uma proposta de adiamento, posso tratar de tudo cumulativamente, ou se devo ceder a vez ao sr. Camara Leme, que tambem se inscreveu. Admiro-me do alarma em que vejo os srs. deputados ouvindo a leitura do projecto e a da substituição: surpreendem-me os castellos que se vão levantando no ar, mas creio firmemente que se os meus collegas tivessem diante de si o projecto que discutimos, e a lei que pretendemos interpretar, veriam a justiça do projecto, e que elle não é um complemento de lei de 8 de junho de 1863, mas a sua expressão genuina, que por um caso singular, passando em todo o espirito benefico que a que a mesma lei queria, ficou annullada na fórma por um erro de typographia que passou despercebido n'esta casa, na dos pares e perante o governo.

Aquella lei estabeleceu em principio a contagem em duplo do tempo de serviço feito em campanha, ou em determinadas circumstancias, e isto para todos os militares quando se tratasse de reforma; e deixa no seu artigo 1.° que os officiaes que tivessem trinta e cinco annos de serviço, e cincoenta e cinco annos de idade se poderiam reformar independentemente de serem julgados incapazes de serviço. E claro que para todos se levaria em conta o augmento do tempo passado em campanha; mas na redacção ultima, tendo-se convertido inadvertidamente em § unico do artigo 2.° (creio eu) d'aquella lei, o que devia ser artigo 3.° da mesma, proveiu o absurdo que levo indicado. lato que só posso explicar talvez que imperfeitamente em muitas palavras, comprehenderiam os illustres deputados em um relance, se cotejassem agora a lei com o projecto n.° 23. Não ha materia nova, não ha risco de deficit para o thesouro, não ha nada d'essas cousas que assustam a camara em assumptos militares, mas só em certos casos, ha apenas justiça.

A mesma lei declarando permanente a lei de janeiro de 1827 que continua ás familias dos fallecidos em combate o soldo d'estes, concedia apenas este soccorro aos varões menores, até á idade de quatorze annos. Ora todos sabem que se não educa um mancebo, ou artistica ou liberalmente antes dos vinte annos: é isto o que propõe o projecto n.° 23, e o que observam os estatutos dos monte pios e das sociedades de seguros ou de beneficencia.

Explicado tudo isto com a maior lealdade, e que o sr. marquez de Sá da fiandeira adoptou, quando consultado, parece-me não haver logar para um qualquer adiamento, e convencido d'isto mando já para a mesa um artigo addicional, assignado tambem pelo sr. Camara Leme, contendo materia justiceira que a camara votará por certo in continente.

A lei de 1863 estabeleceu pensões aos que em resultado deferimento em combate ficassem mutilados, soffressem perda de olhos, etc. mas não attendeu senão o futuro; mas se ha caso em que a retroactividade seja santa, e devida é a de que trato, applicando a lei aos que sendo mutilados, e estropeados na occasião da promulgação da lei, ainda não houverem recebido por isso qualquer pensão. Mando portanto para a mesa um artigo addicional. E o seguinte:

ARTIGO ADDICIONAL AO PROJECTO

DE LEI N.° 23 DE 1863

As disposições do artigo 6.° da carta de lei de 8 de junho de 1863 têem applicação aos militares que, na data da mesma lei, tiverem sido feridos em combate, e experimentando alguma das perdas de que tratam as tabellas a que o mesmo artigo se refere, quando não disfructem já alguma pensão pela referida causa. = Palmeirim = Camara Leme.

O sr. Secretario (Miguel Osorio): — Como é um artigo addicional ao projecto, fica reservado para depois de approvados os artigos que n'elle se contêem.

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos: — Requeiro a v. ex.ª que consulte a camara sobre se está discutida a proposta do sr. Quaresma.

Julgou-se discutida.

O sr. Quaresma: — Pedi a palavra para notar a v. ex.ª que seria conveniente que o additamento do sr. Palmeirim fosse tambem á commissão de guerra. Propuz só com respeito aos do sr. Camara Leme, porque eram os unicos que tinham sido mandados para a mesa, mas agora foi apresentado o do sr. Palmeirim, e é conveniente que o seu additamento vá tambem á commissão.

Foi approvada a proposta do sr. Quaresma, comprehendendo tambem o artigo addicional apresentado pelo sr. Palmeirim.

O sr. Sieuve de Menezes: — Mando para a mesa tres requerimentos.

(Leu-os, e suo para que a camara convide a commissão de inquerito a dar o seu parecer com relação aos negocios de Villa Real, a commissão de legislação a dar o seu parecer a respeito da proposta de lei do sr. ministro da justiça sobre liberdade de imprensa, e a commissão de fazenda a dar - o seu parecer com respeito á representação da companhia união mercantil.)

O sr. Monteiro Castello Branco: — Pedi a palavra para declarar ao illustre deputado, por parte da commissão de legislação, que ella tem-se occupado do projecto da liberdade de imprensa com bastante largueza, e conta em muitos poucos dias apresentar o seu parecer. É o que tenho a dizer por parte da commissão. para se ver -que ella effectivamente não se tem descuidado d'este assumpto.

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos: — Pedi a palavra, para declarar que o objecto em que s. ex.ª fallou, com relação á companhia união mercantil, foi enviado, muito recentemente, á commissão de fazenda; que ella ha de estudar o negocio, e ha de dar o seu parecer com brevidade. Porém este systema de convidar a commissão a dar o seu parecer, impondo-lhe praso, e principalmente uma commissão como é a de fazenda, que tem tanto que fazer, não me parece muito parlamentar.

O sr. Camara Leme: — V. ex.ª tem a bondade de me dizer se o requerimento do sr. Quaresma, com relação ao projecto n.° 23, foi approvado?

O sr. Presidente: — Sim, senhor.

O sr. Camara Leme: — Eu declaro a V. ex.ª que não ouvi que s. ex.ª pozesse á votação o requerimento, e houver mais alguns sra. deputados que não ouviram.

Vozes: — Está votado.

O sr. Presidente: — Vae passar se á ordem do dia; os srs. deputados que tiverem requerimentos ou representações a mandar para a mesa, podem faze-lo.

O sr. Faria Guimarães: — Peço a v. ex.ª que tenha a bondade de remediar uma falta que ha na acta da sessão do dia 5. N'essa sessão mandei para a mesa uma representação, é pedi a v. ex.ª que consultasse a camara sobre se queria que ella fosse imprensa no Diario de Lisboa. Assim se resolveu, mas essa declaração não se fez na acta; e conseguintemente não se publicou a representação; e por isso pedia que se remediasse esta falta, declarando-se agora que seja publicada.

O sr. Secretario (Miguel Osorio): — Devo dizer ao illustre deputado que a causa d'estas faltas que algumas vezes se dão, resulta dos srs. deputados não mandarem para a mesa os seus requerimentos. Como porém agora não se trata senão de se cumprir a resolução da camara, manda-se publicar a representação a que o sr. deputado allude.

O sr. Bivar: — Fui incumbido pelo meu collega o sr. Coelho de Carvalho, que não pôde comparecer á sessão de hoje, nem a mais algumas, de apresentar á camara duas representações: uma é da camara municipal de Lagôa e a outra da camara municipal de villa de Aljezur, sobre a continuação do caminho de ferro de Beja para o Algarve e outros melhoramentos importantes, que são necessarios para aquella provincia.

Eu fundamenta-las-ia, se me coubesse a palavra, roas não o podendo fazer agora, reservo me para em outra occasião tratar d'este assumpto.

ORDEM DO DIA

CONTINUAÇÃO DA DISCUSSÃO DO ORÇAMENTO

O sr. Presidente: — Como está presente o sr. ministro das obras publicas, passa-se á discussão do orçamento do seu ministerio.

Capitulo 1.° Administração central — 53:405$300 réis. — foi logo approvado.

Capitulo 2.° Intendencia das obras publicas no districto de Lisboa —16:085)5320 réis.

O sr. Sá Nogueira: — Pedi a palavra unicamente para perguntar, ao sr. ministro das obras publicas, se me podia informar de quaes são os trabalhos feitos por esta repartição, e se podia mandar a esta camara a synopse d'esses trabalhos.

Se esta repartição fosse encarregada dos trabalhos, que deviam estar a seu cargo, tinha muito que fazer; mas não sei se assim é, e suspeito até que apenas se encarrega de alguns trabalhos do orçamento por assim dizer.

Não sei qual é o systema de trabalhos d'esta repartição, e desejava que o sr. ministro dissesse alguma cousa a este respeito, mesmo para justificar esta despeza.

O sr. Ministro das Obras Publicas (João Chrysostomo): — A intendencia das obras publicas de Lisboa está organisada por uma lei. O seu serviço, porém é da mesma natureza que o serviço das outras direcções de obras publicas dos differentes districtos do reino. Tem a seu cargo as obras de estradas, e todas as outras obras que são das respectivas circumscripções; e alem d'isso tem o serviço das construcções de edificios em Lisboa, e ainda uma certa inspecção nas obras da cidade.

Effectivamente a organisação da intendencia das obras publicas de Lisboa, parece-me que pôde ser grandemente melhorada, debaixo do ponto de vista de concorrer para o aperfeiçoamento da capital, do que ella tanto carece hoje; e isto em usurpar a iniciativa que compete á camara municipal de Lisboa; porque é certo que um municipio como o da capital é de tal ordem que o governo e a administração geral do paiz não podem deixar de ter ingerencia n'elle, vinte que precisa, e que tão altamente reclama providencias dos poderes publicos.

Estou persuadido de que, se esta repartição fosse devidamente organisada, se podia concorrer muito com a cantara municipal e auxilia-la para estes melhoramentos, hoje tão reclamados e tão exigidos pela civilisação dos nossos dias, e proprios de uma grande capital como a nossa pôde ser.

Entretanto não me posso comprometter a apresentar n'esta sessão medida alguma n'este sentido; mas asseguro que é este um d'aquelles objectos que dizem respeito ao ministerio a meu cargo, que me ha de merecer muito especial attenção, e que não deixarei, em occasião opportuna, de propor ás côrtes o que for conveniente a tal respeito.

O sr. Sá Nogueira: — Agradeço ao illustre ministro das obras publicas a informação que teve a bondade de nos dar.

S. ex.ª encarou as vantagens que se devem tirar do serviço d'esta repartição, exactamente debaixo do ponto de vista em que eu as tinha encarado; mas uma das cousas precisas, e muito precisas, é fazer um plano geral dos trabalhos na capital.

A capital está situada sobre umas poucas de collinas, e não é indifferente por consequencia deixai construir á vontade de todo e qualquer individuo no sitio que lhe parecer, porque é de necessidade abrir communicações entre os differentes bairros, que estão em differentes niveis, communicações faceis para carruagens. Ha communicações que tornam os bairros muito distantes una dos outros, quando aliás estão a pouca distancia, porque para se passar de uma colina para outra é preciso ás vezes seguir-se uma curva muito extensa. E necessario, digo, tomar algumas providencias a este respeito.

Já se vê que a camara municipal deve ser ouvida; mas eu lembro ao sr. ministro das obras publicas o que de certo s. ex.ª sabe melhorado que eu,.e é que ha paizes, onde como todos sabemos, se respeita muito o direito municipal, mas onde não é uma camara municipal que auctorisa, Cem que determina a abertura de novas ruas.

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Numa capital sobretudo, como s. ex.ª muito bem notou, não se podem deixar esses trabalhos só ao arbitrio da, camara municipal, porque ha outras considerações de ordem superior, como por exemplo, os grandes estabelecimentos do estado, que dependem da iniciativa do poder central e não da municipalidade.

Não quero tomar tempo á camara, é concluirei dizendo que é necessario fazer um plano geral de obras para o melhoramento da edificação da cidade. Já se vê que não se ha de reconstruir a cidade toda; ha pontos forçados pela natureza do terreno, e ha pontos forçados pela natureza dos estabelecimentos e pela importancia dos edificios. E preciso porém fazer, o que se faz em outras cidades, que é o seguinte: determina-se um alinhamento, e se um edificio tem de se reparar ou de reconstruir, e se esse edificio está fóra do alinhamento, ou se córta ou se lhe acrescenta uma parte na direcção conveniente, para que fique no alinhamento marcado na lei.

Numa palavra é preciso que a construcção das obras a fazer na cidade seja systematica, e que não se faça como até agora, indo se muitas vezes construir um edificio onde seria necessario fazer uma rua; e quanto mais depressa se adoptar um systema a este respeito melhor, porque as difficuldades vão crescendo todos os dias com as novas construcções.

O sr. Moraes de Carvalho apresentou aqui um projecto a este respeito, e se couber no tempo hei de renovar a iniciativa d'esse projecto com algumas modificações.

Foi approvado o capitulo 2.º

O sr. Ayres de Gouveia: — Mando para a mesa um parecer da commissão de instrucção publica, para serem equiparados em vencimento o lente e substituto da 10.º -cadeira da escola polytechnica de Lisboa aos mais lentes e substitutos da mesma escola.

Passou-se ao

Capitulo 3.° Estradas — 120:000$000 réis.

O sr Abilio: — Começo por mandar para a mesa uma moção que passo a ler (leu).

A minha moção exprime um desejo—o de ver construida promptamente a estrada da Beira, desejo que partilham todos -os deputados da provincia; ella é acompanhada de um considerando, cuja verdade ninguem seriamente poderá impugnar; espero pois que será approvada, mas se a camara

A estrada da Beira foi decretada em 185-7, sendo ministro o sr. Carlos Bento da Silva, a instancias dos deputados de Coimbra, Trancoso -e Guarda, a cujo numero eu tinha então a honra de pertencer; e todavia, tendo decorrido sete annos, ainda hoje se acha por concluir!...

O sr. Presidente: — O illustre deputado está fóra da ordem:; o que está em discussão é a despeza ordinaria das estradas; a extraordinaria ha de entrar em discussão depois da despeza ordinaria; parece-me que então -terá mais cabimento o assumpto de que se occupa.

O Orador: — Eu não proponho augmento nem diminuição de despeza; & minha moção versa sobre uma estrada, exprime um desejo, tem por fim fazer mais lembrada uma estrada.; parece-me que não tem menos logar aqui que «o orçamento da despesa extraordinaria; mas todavia não quero levantar sobre isto uma questão, nem desejo oppor-me á vontade de v. ex.ª, e por isso cederei agora do meu proposito pedindo a v. ex.ª me reserve a palavra para quando se tratar da despeza extraordinaria das estradas.

O sr. Ministro das Obras Publicas — Pedi a palavra simplesmente para observar que o que estava em discussão era a verba relativa á conservação das estradas (apoiados) e portanto pedia aos illustres deputados que reservassem para o capitulo competente as reflexões que tivessem a fazer, emquanto á construcção de estradas, porque seria bom simplificar a discussão (apoiados).

O sr. Coelho do Amaral (sobre a ordem): — Pedi a palavra para mandar para a mesa a seguinte proposta (leu).

O vencimento que têem estes funccionarios acho que não corresponde ao trabalho e serviço que d'elles se exige. Um fiscal de cantoneiros tem a seu cargo vigiar pela conservação pelo menos de 15 kilometros de estrada, e a maior parte d'elles estão fiscalisando 20 e 25 kilometros. Esta fiscalisação é e deve ser diaria. Parece-me que um individuo que tem a percorrer diariamente 15, 20 e mais kilometros de estrada, tendo a examinar se os cantoneiros cumprem o seu dever, e de observar se as reparações a fazer são de uma ordem superior ao trabalho incumbido ao cantoneiro, isto é, se são reparações de maior importancia, para o participar superiormente tendo a fazer, repito, este serviço todos os dias; andar duas vezes este caminho, porque tem de ir á extremidade do seu cantão, e voltar para sua casa, e por consequencia duplicar o espaço de 15 kilometros todos os dias; parece-me, digo, que, para o fiscal cumprir com o seu dever, para empregar o zêlo e assiduidade que demanda o serviço a seu cargo, no que interessa á boa conservação das estradas, a remuneração de 480 réis diarios não é sufficiente. Por isso mando para a mesa esta proposta, e o sr. ministro a tomará na consideração que lhe merecer, attendendo como convem ao exíguo vencimento destes empregados.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Nem estes vencimentos, nem a maior parte dos vencimentos dos empregados technicos do ministerio das obras publicas têem o caracter de ordenados ou são vencimentos regulados por lei; São tudo vencimentos que pelas necessidades do serviço se têem successivamente estabelecido, e que têem o caracter de salarios, inclusivamente o dos engenheiros que actualmente estão servindo nas obras publicas. Este estado de cousas não é o mais conveniente, e eu desejava muito que elle cessasse, porque confesso que uma das cousas mais desagradaveis que o ministro das obras publicas tem a resolver, é ter de se occupar todos os dias da questão dos vencimentos dos empregados technicos de differentes classes e categorias, por isso que não estão estabelecidos nem regulados por lei, tendo de os estar a estabelecer successiva e individualmente, o que tem muitos inconvenientes (apoiados).

Um dos meus antecessores e digno collega nosso, o meu amigo, o sr. Thiago Horta, de sempre saudosa lembrança (apoiados), propoz em tempo ás camaras um projecto de organisação do pessoal technico do ministerio das obras publicas; mas esse projecto existe affecto a uma commissão que ainda não deu o seu parecer.

A camara ha de reconhecer que tendo eu tomado conta da pasta dos negocios das obras publicas, ainda não ha decorridos tres mezes, e abrangendo este ministerio a meu cargo tão varios e importantes ramos de serviço, não era possivel que em tão pouco tempo procedesse ao exame circumspecto de todos esses ramos de serviço, e propozesse a sua reorganisação (apoiados). Desejo faze-lo o mais breve possivel, mas ha a attender não só ao serviço das obras publicas, como tambem ao das minas, telegraphos, pesos e medidas, trabalhos geodesicos, etc. em summa a muitos outros serviços que dependem d'aquelle ministerio, que todos são importantissimos, que todos empregam ou carecem de empregar um pessoal technico, para o qual não estão ainda bem definidas as habilitações, as categorias e os vencimentos. Tudo isto dá inconvenientes notaveis para o serviço, disciplina e boa ordem; é conveniente pois que se saia d'este estado (apoiados). Entretanto, dizendo isto não pretendo irrogar censura dos meus antecessores, nem aos poderes publicos por isto se não ter realisado até hoje; não o fizeram porque o não poderam fazer. O ministerio das obras publicas é de moderna data, todos estes serviços vieram de repente; são as necessidades da civilisação dos nossos dias que os reclamaram, não era possivel no estado, permitta-se-me a expressão, por assim dizer, embrionário d'estas provincias de -administração, organisa las desde logo convenientemente, -antecipando nos ao necessario desenvolvimento -e ás reaes -necessidades do serviço. Devemos mesmo aproveitar da -experiência e dos ensaios que só -com o tempo se podem obter para assentar essa organisação em bases mais seguras. Até agora tem sido a epocha da iniciação e das tentativas que deve preceder necessariamente a da organisação definitiva. Estamos porém chegados ao tempo em que ella pode ser proficua, organisando os diferentes ramos de serviço dependentes do ministerio das obras publicas.

Se eu tiver a honra de estar á testa do ministerio das obras publicas na proxima sessão, hei de apresentar ás camaras as medidas que reputo necessarias a este respeito; por emquanto a camara me fará a justiça de reconhecer que não era possivel apresentar trabalhos que, estudados com a attenção devida, merecessem o exame da camara.

Agora, pelo que respeita especialmente aos fiscaes cantoneiros, devo dizer que os seus vencimentos não estão regulados por lei; reputa-os na verdade pequenos, mas é preciso não fazer injustiça relativa, augmentando -estes e esquecendo os de outros empregados que têem igual direito a ser bem remunerados. Se formes estabelecer um augmento de vencimento aos fiscaes cantoneiros, com muito mais rasão devemos augmentar o vencimento dos conductores de obras publicas, porque não é possivel que continuem com o vencimento insignificante que têem. Estes conductores da trabalhos têem hoje 600 a 700 réis por dia, exigem-se lhes habilitações valiosas e são obrigados a um serviço penoso diariamente, desde que rompe o sol até ao anoitecer. Já a camara vê que não é possivel encontrar quem queira servir com similhante remuneração.

Portanto, se se quizer augmentar o vencimento aos fiscaes de cantoneiros havemos de o augmentar tambem aos conductores de trabalhos, e mesmo aos engenheiros, porque ha algumas desigualdades de vencimentos que convem fazer cessar. Ha algumas classes talvez, alguns individuos que não estão mal remunerados, mss ha muitos que não têem a sufficiente remuneração.

Visto que não ha lei, o governo não pôde deixar -de ir adoptando successivamente as medidas necessarias a este respeito, aconselhadas pela justiça e pelas conveniencias do serviço. Por exemplo, os vencimentos para os empregados technicos encarregados doe estudos das estradas, sendo as estradas da mesma ordem, e sendo-os estudos da mesma natureza, eram aliás differentes. Fiz cessar estas differenças, e hei de fazer cessar outras com vantagem do serviço, mas isto não se pôde fazer senão pouco a pouco, emquanto não for regulado definitivamente por lei. Portanto pôde o illustre deputado estar certo que hei de tomar em consideração a moção que mandou para a mesa, e que desejo melhorar a situação de todos os empregados dependentes do ministerio a meu cargo; mas desejo proceder n'isso com toda a justiça e igualdade (apoiados). A vista d'estas explicações parecia-me que o illustre deputado não teria duvida em que se não inserisse uma disposição d'estas no orçamento, porque iria perturbar a indole do mesmo orçamento, estabelecendo vencimentos especiaes só para uma classe dos empregados technicos das obras publicas, sem os estabelecer para outras. Se se introduzisse no orçamento o vencimento para os fiscaes cantoneiros, havia de introduzir-se tambem, e com maior rasão, o vencimento para os engenheiros, para os conductores, etc. (apoiados).

O sr. Coelho do Amaral: — Peço licença para retirar a minha proposta, porque me satisfazem m explicações do sobre ministro das obras publicas.

O sr. Presidente: — Ainda não foi admittida á discussão

O Orador: - Não sou forte no regimento; mas depois de a ter enunciado e mandado para a mesa, ou não a posso retirar sem licença da camara, ou então ha de considerar se como não existente. Como quer que seja, eu consegui o meu proposito, que era recommendar esta classe de empregados, que me parece estar insuficientemente retribuida, á consideração de s. ex.ª E pelo mesmo principio que o nobre ministro acabou de expender, pelo principio da igualdade e da justiça distributiva (apoiados), pois ha empregados technicos que têem vencimentos, gratificações, ou como lhe queiram chamar, muito elevados, que, segundo entendo, não guardam nenhuma proporção com os vencimentos d'estes a que me referi, e muito menos attendendo ao trabalho que incumbe a uns e outros. Mas como s. ex.ª declarou que tomaria em consideração convenientemente a minha recommendação, dou-me por satisfeito.

O sr. Antonio de Serpa: — (O sr. deputado não restituiu o seu discurso a tempo de ser publicado n'este logar.)

O sr. Ministro das Obras Publicas: — O illustre deputado que acabou de fallar é tão competente na materia que as suas observações não pedem deixar de merecer-me a maior attenção.

S. ex.ª mostrou o desejo de que no orçamento apparecesse a despeza que se faz com o pessoal technico empregado nas estradas.

Nesta parte a resposta que tenho a dar é muito simples. Eu de bom grado aceitaria a sua idéa, se o orçamento fosse elaborado n'outro systema. A verdade é que a despeza do pessoal, com todos os pormenores, só póde apparecer no orçamento quando entrarmos na organisação d'esse pessoal, quando se estabelecerem as categorias e as differentes classes de empregados que deve haver, porque hoje em relação ao orçamento não são mais do que uns operarios que recebem um salario do estado. Mas a esse resultado ha de chegar-se com a organisação que o illustre deputado deseja, no que eu o acompanho completamente, porque reputo que é muito necessario organisar o pessoal empregado nas obras publicas.

Sobre o systema de construcção das estradas o illustre deputado fez considerações muito sensatas ácerca dos inconvenientes de se disseminarem por um grande numero de estradas fundos aliás restrictos, porque essa disseminação exige um augmento do pessoal director.

Mas é preciso tambem não perder de vista que nós estamos construindo as estradas com os meios com que o paiz inteiro concorre, e que todo o paiz está impaciente de auferir as vantagens da viação. Se nós concentrassemos os trabalhos n'uma provincia, com um districto, durante uma successão de annos, o resultado seria que as vantagens provenientes da viação concentravam-se todas n'uma certa area. do territorio, emquanto o resto do paiz contribuía para essa despeza sem d'ellas tirar utilidade immediata.

Não podemos portanto deixar de repartir, não digo com rigor mathematico, mas de córta fórma, por todas as provincias e por todos os districtos, os beneficios da viação, por isso mesmo que os sacrificios e os encargos são tão prolongados. Seria muito desagradavel que uma geração contribuisse n'um districto ou numa comarca para estradas Bem nunca as ver feitas n'essa localidade.

Ora, não obstante a disseminação que o illustre deputado notou e eu reconheço que é grande, porque se trabalha hoje talvez em quarenta estradas, as queixas do paiz e de muitos concelhos e freguezias são: «Nós não temos uma estrada ao pé da porta, e entretanto estamos a contribuir para ellas».

Não é possivel satisfazer a todas estas aspirações, mas tambem não e possivel corta-las completamente; é necessario seguir um termo medio, que os trabalhos não estejam disseminados de modo que o governo não possa acudir a elles por falta de pessoal, e que se attenda quanto possivel é conveniencia das localidades que têem direito a auferir o mais promptamente possivel certas vantagens, por isso que contribuem para a execução d'esses trabalhos.

Nota se, e com rasão, que os nossos caminhos de ferro estão hoje em desproporcionado avanço relativamente á construcção das diversas estradas ordinarias.

Temos com effeito 700 kilometros de caminhos de ferro quasi todos abertos á circulação publica, e só no fim do anno economico havemos de ter proximamente 2:000 kilometros de estradas ordinarias.

Isto é desvantajoso debaixo de differentes pontos de vista, e mesmo o é com relação á utilidade d'essas linhas ferreas que estão já abertas á circulação publica, porque estando, por assim dizer, interrompidas as communicações para esses caminhos, não pôde affluir a elles a circulação.

Nós precisámos, por assim dizer, de drainar o paiz, para fazer com que o fluxo da circulação venha a estas grandes arterias, a estas grandes linhas para onde deve correr (apoiados) toda a seiva e movimento.

Mas não nos queixemos de ter gasto grandes sommas nos caminhos de ferro (apoiados), de ter dado este grande impulso á viação accelerada (apoiados). Eu sou um d'aquelles que sempre concorri com gosto, e hei de continuar a concorrer para o desenvolvimento da viação accelerada, porque supponho que todos os inconvenientes ou encargos que ella pôde trazer são de uma ordem inferior ás vantagens que proporciona (muitos apoiados). Mesmo debaixo do ponto de vista da organisação das nossas finanças, eu creio que os caminhos de ferro são uteis, tornando promptamente mais productivo o imposto. Os encargos que elles nos trazem têem pois uma larga compensação dando-nos um definitivo augmento de despeza.

Os caminhos de ferro não devem considerar se só debaixo do ponto de vista dos lucros que elles podem dar a uma companhia (apoiados), me é muito bom para o capitalista que quer tirar um certo lucro do seu dinheiro, mas

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o estado nao póde nem deve encara los mesquinhamente só debaixo d'este ponto de vista (apoiados).

Nós temos hoje 700 kilometros de caminhos de ferro; ora o producto bruto não pôde ser calculado em menos de réis 2:000$000 por kilometro nos primeiros annos, quer dizer, que o producto annual dos nossos caminhos de ferro em 700 kilometros que temos aberto á exploração, ou proximo a abrir, devem produzir cerca de 1.400:000$000 réis pelo menos. Ora este producto deve render uma certa somma para o thesouro, pelo imposto de transito, isto é, proximo de 70:000$000 réis, e estes 1.400:000$000 réis de producto bruto annual derramam-se em todo o paiz em beneficio de todas as industrias, trocam-se por salarios a operarios, materias primas e muitos outros productos comprados á agricultura e mais industrias.

Eu considero os caminhos de ferro em relação a umas provincias, como um melhoramento reclamado já pela industria, movimento e população actual d'essas provincias, e em relação a outras como um grande elemento de colonisação de população, de arroteamento de terras, emfim de exploração agricola. (apoiados).

As provincias do norte carecem d'elles, porque ali ha grande laboriedade e actividade, grandes industrias, grande movimento e grande população (apoiados).

Temos alguns districtos que não são inferiores a alguns da Belgica no movimento e população, e ali a experiencia mostrou o que dos caminhos de ferro se podia esperar.

As provincias do sul tambem carecem dos caminhos de ferro. Uma das primeiras necessidades d'estas provincias é a colonisação, mas o Alemtejo não ha de ser colonisado nem povoado sem esse grande instrumento agricola. Ora, se se pde argumentar que não devemos abrir caminhos de ferro no Alemtejo, porque d'elles não haverá rendimento, tambem se podia dizer que era escusado contribuir para as nossas colonias que estão lá muito longe e não dão rendimento para o thesouro, e entretanto as colonias podem e devem ser um dos maiores elementos de prosperidade d'este paiz. E preciso pois que nos convençamos d'ísto, que fóra das proprias localidades se podem fazer despezas geraes, tanto ou mais productivas de riqueza para essas localidades, do que aquellas que fossem feitas dentro d'essas localidades, vantagens que redundam em proveito de toda a nação. Portanto a nação, e com ella as provincias do norte lucram em que as provincias do sul não sejam um ermo, um deserto de Africa, mas que sejam arroteadas e grangeadas convenientemente, e que se colonisem, povoem e enriqueçam promptamente, porque isso seria de uma grande utilidade para todo o paiz.

Passando agora á questão das empreitadas, devo dizer ao illustre deputado que não tenho prevenções contra ellas. O principio generico de boa administração que deve ser mantido é o concurso e arrematação de obras por empreitadas. Tem inconvenientes, mas não ha nada que os não tenha, e quando se entra n'um systema novo, e que demais ha falta de pessoal habilitado não admira que appareçam alguns inconvenientes (apoiados).

Eu tenho sido e hei de continuar a ser tenaz em sustentar o principio das empreitadas (apoiados); porque em primeiro logar dá occasião a que os engenheiros sejam empregados mais exclusivamente na direcção technica, e evita ao estado uma administração extensa de obras, que é sempre inconveniente (apoiados).

Mas diz-se = os empreiteiros não satisfazem e executam mal as obras = é verdade, até certo ponto. A tendencia do empreiteiro é tirar todo o lucro possivel da empreza a que se ligou; mas tendo nós um pessoal sufficiente e habilitado, um pessoal zelozo e bem remunerado esses inconvenientes hão de desapparecer. Demais este systema das empreitadas não é uma cousa nova; executam-se empreitadas na França, na Hespanha e em todos os paizes aonde ha obras publicas, e por toda a parte se dá ordinariamente a preferencia a este systema.

Tambem é verdade que temos pouco por onde escolher entre os emprezarios d'esta industria; ha poucos empreiteiros que sejam capazes para avaliarem as difficuldades das obras; para avaliar se os orçamentos estão ou não exactos, para assumirem a responsabilidade dos contratos, e por isso algumas vezes as obras não são feitas como era para desejar. Ao governo porém compete fazer cumprir os contratos, tendo em attenção as circumstancias especiaes do paiz e este estado de cousas. As condições geraes para as empreitadas ainda não são bem comprehendidas de todos: ha mesmo uma certa jurisprudencia sobre o sentido d'essas clausulas, que não está completamente fixada e podendo essas clausulas ser interpretadas por uns e outros de differente maneira. Mas todas essas difficuldades com que se tem lutado devem desapparecer com o tempo.

Nós temos hoje mais de 400 kilometros de estradas; isto já é um grande avanço em relação ao passado e não se pôde comparar com o que ha meia duzia de annos se praticava.

Permitta-me o illustre deputado, que tão esclarecido é nos negocios do ministerio a meu cargo, que desinta um pouco da sua opinião a este respeito. Nós temos avançado muito n'esta parte. Antigamente construíam-se por anno cerca de 100 a 120 kilometros. N'estes tres ultimos annos tem-se construido termo medio proximo de 200 kilometros, e no proximo anno economico pelas verbas que estão estabelecidas no orçamento para estas despezas, e pelo andamento actual dos trabalhos póde-se contar que esse progresso ha de ser de 300 kilometros.

Eu desejaria que o governo estivesse habilitado a construir maior extensão de estradas, mas as nossas circumstancias não o. permittem desde já. Espero que estes 300 kilometros ou mais se possam construir no primeiro anno economico, e conto que o governo na sessão seguinte possa apresentar no parlamento algumas medidas para um progresso muito mais rapido.

Mas deve-se notar que alem de se estarem construindo as estradas de primeira ordem, é de esperar que em breve possa começar a ter execução a lei de 15 de julho de 1862, que estabelece os meios para a viação municipal e districtal, conjunctamente com a proposta de lei que está affecta a esta camara, e que eu espero seja em breve discutida. Com estas duas leis se proporcionará, aos municipios e districtos effectuarem as obras de viação local incomparavelmente em muito maior escala do que o podem fazer hoje (apoiados).

Dir-se-ha: «Mas os districtos e municipios são pobres e não têem as receitas precisas para satisfazer a estas necessidades». Pois é isso mesmo que a lei trata de remediar, estabelecendo os meios para que essas localidades possam occorrer á construcção das suas estradas, e estes meios reputo-os muito melhores, muito mais efficazes, muito mais proprios em um governo constitucional, e de um paiz de verdadeira liberdade do que recorrer em tudo e por tudo ao governo e ao thesouro. E o principio da liberdade, o principio de iniciativa dos municipios e localidades, que pôde produzir muito melhor os resultados que se desejam do que o principio de recorrer ao thesouro para construir todas as nossas estradas de qualquer ordem que sejam. Julgo que se deve manter o estimular o mais possivel toda a iniciativa local, para que se levem a effeito estas obras, e o meio é este, mesmo para se não estar a dificultar a organisação das nossas finanças, meio conforme com todos os principios de boa administração. E necessario dar toda a iniciativa á localidade e á municipalidade, porque se as localidades não têem com que pagar as suas estradas, tambem o thesouro não tem para essas despezas.

Em ultima analyse qualquer que seja o systema, as estradas não se fazem sem imposto, e é preciso fugir d'este circulo vicioso de trazer o imposto do municipio para o thesouro, para depois ir do thesouro para o municipio como se d'esta fórma elle se tornasse mais productivo. E melhor recebe-lo, administra-lo e applica-lo na localidade, porque isto ha de estimular os municipios a serem mais promptos a pagarem, a olharem com mais attenção aos seus proprios interesses.

O imposto para o thesouro a todos repugna, e portanto este imposto deve-se só limitar ás obras de interesse geral, mas para a viação especial deve ser lançado e applicado na localidade.

Quanto ás estradas que foram mandadas construir pela carta de lei de 10 de agosto de 1860, devo dizer que ellas estão comprehendidas todas na lei de 15 de julho de 1862. Tanto estas estradas como as mais de primeira ordem estão comprehendidas na lei de 15 de julho de 1862, e esta lei estabelece o modo de as levar a effeito; para todas ellas se vota em cada anno no orçamento a somma correspondente.

Nos outros annos a somma era inferior á que n'este anno se destinou a ellas; esse augmento é notavel, por isso que a verba com todas as nossas obras de viação ordinaria no anno em que vamos entrar, monta a 1.960:000$000 réis. É com effeito uma verba de quasi 2.000:000$000 réis empregada em viação ordinaria, não se pôde reputar pequena, e não se pôde dizer que d'esta maneira caminhámos de um modo lento e frouxo — isto quando ao mesmo tempo sobre nós estão pesando os encargos da viação accelerada.

Eu desejava muito que em logar de 1.960:000$000 réis podessemos dispor de maiores quantias para que a nossa viação tivesse um grande incremento, e é facil de emprehender estes desejos n'um homem que occupa esta cadeira, e que tem a seu cargo a pasta das obras publicas. Lisonjeava-me que em logar de 2.000:000$000 réis podesse ter 4.000:000$000 réis. Mas se eu amo o progresso, não desejo comtudo que caminhemos com precipitação. Desejo que vamos gradualmente (apoiados). Augmentemos este anno o orçamento para a viação, e espero que no anno proximo possamos amplia-lo muito mais, sem descurar as obras de viação accelerada.

Parece-me ter tocado nos differentes pontos em que tanto o illustre deputado, o sr. Antonio de Serpa, como outros oradores tocaram, e ter prestado os esclarecimentos que os illustres deputados desejam sobre este objecto (apoiados).

Vozes: — Muito bem.

O sr. Sant'Anna e Vasconcellos (para um requerimento): — Foi distribuido ha pouco o parecer da commissão de legislação, abolindo a pena de morte; como tenho o vehemente desejo de ver saír da legislação do paiz este grande aleijão moral, por isso peço a v. ex.ª que consulte a camara sobre se quer que este projecto entre em discussão na segunda feira proxima. Mando a proposta (leu).

O sr. Presidente: — Este requerimento fica para segunda feira.

O Orador: — Não comprehendo adiamentos em uma questão d'estas, e por isso peço a urgencia.

Leu-se logo na mesa o seguinte

REQUERIMENTO

Requeiro que o projecto de lei abolindo a pena de morte entre em discussão na segunda feira da proxima semana. = O deputado, J. A. de Sant'Anna e Vasconcellos.

O sr. Presidente: — Continua a discussão do capitulo 3.° do orçamento do ministerio das obras publicas. -

O sr. Castro Ferreri: — Eu chamo a attenção do sr. ministro das obras publicas sobre a construcção da estrada de Vianna a Caminha e de Caminha a Valença. Desejo que s. ex.ª remova as difficuldades que têem obstado á confecção final d'aquella estrada, a fim de que os povos da localidade gosem de um beneficio que têem reclamado ha muito tempo, e de que não gosam já porque tem havido difficuldades a vencer, quanto á directriz de alguns kilometros que faltam. Parece-me que não é justo que por essas difficuldades os povos fiquem privados de uma estrada que é muito conveniente, não só para a localidade, mas para todo o litoral da provincia.

Desejava tambem que s. ex.ª me dissesse se ha via difficuldades na confecção do ramal que vae de Valença ao concelho de Coura, que tambem está decretado, e não só decretado, mas com os meios necessarios para a sua construcção.

Eu sei que existem sempre difficuldades quando se trata da directriz de uma estrada; e sei tambem que se a estrada não está feita, não é por não ter o governo tomado a peito este negocio, porque o governo deve ter sempre todo o interesse em fazer uma estrada, quando sobre elle é que recáe a responsabilidade dos prejuizos que da sua falta resultam aos povos, principalmente havendo n'essa estrada obras encetadas e sem terem um termo.

Sei isto muito bem, e que se têem apresentado embaraços por causa da directriz; mas espero que o sr. ministro das obras publicas, depois de ter mandado proceder, como é natural, ao exame necessario, resolva essa questão de maneira que os inconvenientes se removam, e que se construa o espaço de poucos kilometros que faltam para a completar, tomando-se uma direcção qualquer, isto é, aquella que os homens technicos julgarem mais conveniente, para que os povos não fiquem privados por mais tempo das vantagens correspondentes.

Recommendo este objecto a s. ex.ª, como é do meu dever, ainda que isto não era talvez preciso, porque tenho plena confiança na actividade, intelligencia e zêlo des. ex.ª; mas não posso deixar de fazer estas observações para que se não julgue que eu abandono os interesses d'aquelles povos.

Uma voz: — Interesses de campanario!

O Orador: — Não são interesses de campanario, não me importa nada o campanario, nem se os jornaes dizem que zêlo os interesses do meu circulo ou deixo de zelar. Tanto me importa que votem em mim os eleitores como que votem em outro para o cargo improbo para que me elegeram. Se me retirarem a sua confiança não terei grande pena. Não peço ao governo, nem ao campanario, nem a ninguem que me solicite votos; para mim é isso inteiramente indifferente, e nada me importa que votem em mim ou n'outro, votem em quem quizerem. Não lhes prometto nada, nem os illudo com esperanças de que hei de fazer isto ou aquillo. Emquanto for deputado hei de cumprir com o meu dever; e se os eleitores julgarem que podem encontrar outro individuo que mais cabalmente possa preencher o meu logar n'esta camara, escolham-n'o, que eu não me escandaliso nem me agasto com isso.

Se alguem julga que este cargo de deputado é doce e suave, julgue-o muito embora; eu entendo que é pesado e que é verdadeiramente um encargo para a consciencia de cada um (apoiados).

Eu até já recebi dois jornaes que me foram remettidos directamente para ver o que ahi se dizia, ou o que diziam os redactores, não sei para que fim; mas que me importa isso!

Voltando á questão: esta estrada não está concluida, ha tres annos que está n'esse estado. O governo se não a tem feito concluir é porque não tem podido faze-lo. Muitas vezes concorrem para estas difficuldades as influencias locaes sobre a directriz que se ha de escolher. O sr. ministro das obras publicas ha de saber muito bem que não poucas vezes os interesses locaes influem de maneira que o governo se vê embaraçado. Uns pedem que a estrada vá por este ponto, outros por outro ponto; uns informam: «Aqui ha obras de arte e maior despeza»; e outros dizem: «Ali ha menos obras de arte o menor despezas. Portanto o governo. vê se perplexo, ainda que tenha a maior e melhor vontade de dar a uma estrada qualquer a direcção que mais convem dar-lhe no interesse publico. E porque acontece isto assim, ou porque é que o governo se vê em embaraços? É porque um ou outro individuo entende, e talvez em sua consciencia, que convem que tal estrada siga tal directriz, e muitas vezes essa conveniencia é toda completamente local, e ás vezes é conveniencia puramente individual, e não conveniencia das povoações (apoiados). As estradas devem seguir o ponto que for mais conveniente, não exclusivamente a um concelho, mas tambem aos concelhos limitrophes, e a quem tem de concorrer por ella. As estradas não são só para um concelho, são para todo o reino, são para todos os individuos que têem de percorrer por ellas (apoiados). As estradas nas suas direcções devem procurar ir proximamente ou pelo centro das maiores povoações, pelos pontos mais importantes de producção, e pelos fócos das maiores permutações, para que estas se effectuem o mais rapidamente possivel. É a isto que se deve attender (apoiados), mas não se tem attendido, porque vera o campanario collocar o governo em embaraços e impedir que as cousas se façam como ellas devem ser feitas no maior interesse publico. Eu não sou deputado de campanario, digo as cousas como as entendo, agradem ou não ao campanario, porque eu primeiro que tudo e antes de tudo sou deputado da nação (apoiados). Não toco a rebate, nunca toquei, nem espero tocar, nem para assustar o governo, nem a maioria, nem a opposição. (Riso. — Apoiados.)

Portanto não venho aqui dizer o que agrada ao campanario com sacrificio do interesse geral. Os interesses geraes do paiz devem fazer supplantar os interesses de localidade (apoiados). Eu prefiro os interesses geraes aos locaes. A somma dos interesses da localidade não é igual á somma dos interesses geraes; muitas vezes os interesses locaes são a negação dos interesses geraes do paiz; primeiro estes e depois aquelles (apoiados).

Mas vamos a ver o que é que se devia ter feito em obras publicas, ou qual era o melhor systema a seguir? Primeiramente devia tratar-se de fazer as arterias geraes de estradas para todas as provincias do reino, e para isso devia

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procurar-se todas as direcções mais proprias aos interesses geraes das provincias; depois ver quaes eram as outras estradas, e por onde, que deviam ligar-se a essas grandes arterias, e depois de lançados estes grandes traços então tratar de preencher as differentes pontos de estradas para districtos, para concelhos, para villas e para as pequenas povoações (apoiados). Mas não tem acontecido assim, e por isso nós temos 700 kilometros de estradas que não apparecem. Os transmontanos ouvem dizer que ha em Portugal 700 kilometros de estradas, mas para elles não ha nenhuma; são povos que estão, por assim dizer, Separados por uma montanha do resto do paiz, aonde não chegam as obras publicas. Os da Beira dirão: Sabemos que em Portugal ha estradas, mas nós não ternos cá esse meio de communicação». E porque é que acontece isso? Acontece, diga-se a verdade toda á camara e ao paiz, acontece isto assim pela pressão constante que se tem exercido e está exercendo soro os governos, porque se quer uma estradinha lá por uma certa localidade, e pouco importa que essa estrada Beja ou não a mais conveniente ás povoações (apoiados). Esta á a verdade, e é precisa dize-la bem alto (apoiados). Se fallo assim fui a isso provocado pelo sr. Antonio Cabral de Sá Nogueira, que disse que =eu vinha aqui tratar de questões de campanario =; não vira, não venho, nem virei nunca. Repito, essa pressão que se exerce constantemente sobre o governo, querendo se uma estradinha por uma dada localidade, e o governo ás vezes sem a querer fazer, mas para não ficar mal, porque quer ficar bem, manda fazer a estrada, e é a rasão por que as estradas são feitas aos retalhinhos e não do modo e pelos pontos que mais convinha ao interesse publico (apoiados). Ora, para isso é que eu nunca concorrerei, nem espero concorrer.

Effectivamente o Minho tem sido beneficiado, e muito beneficiado, com estradas. Ha ali uma estrada importante que é a de Vianna a Caminha e de Caminha a Valença, e que eu desejo ver prolongada até Melgaço ou Carvoeiro. A estrada de Vianna a Valença, julguei eu, a fallar com franqueza, que já estaria concluida; contribui poderosamente para e--ta estrada, não só concorrendo para que ella fosse decretada, mas pedindo que no emprestimo que se fez com uma companhia do Porto fosse uma a condição — a feitura d'esta estrada; parece-me que é o mais que se podia fazer; não bastava a decretação da estrada, se não houvesse numerario, não se fazia (apoiados); entretanto diz um jornal, que julgo ser da opposição (Correio do Norte), que eu não tenho feito nada a favor do circulo de Valença.

Não fallando na Collegiada e no circulo de jurados em Coura. Uma estrada d'esta ordem é uma cousa de pouca importancia. Appareceu uma difficuldade quanto á directriz que devia dar-se no lanço a construir-se entre Roboredo e Villa Nova da Cerveira, que é a que tem dado causa a não estar ultimada; e quem é d'ali e o sr. ministro sabe que ha n'um dos pontos da estrada uma pequena e velha muralha de uma antiga fortaleza, que não vale nada e que não tem significação nem antiga nem moderna, que se pôde cortar, não vale nada...

Uma voz: — E um padrão de gloria nacional.

O Orador: — Um padrão de gloria destruido.

Uma voz: — São antiguidades.

O Orador: — Antiguidades que estão todas em minas. Eu entendo que se deve levar a estrada por aquellas ruinas que não servem de nada (se for conveniente); até daremos má idéa de nós ao estrangeiro que passar por ali e vir aquellas ruinas; se servem essas praças que se reparem, senão que se arrazem. Essas ruinas conserva-las, só se for para indicar que houve n'outros tempos, e muito remotos, uma guerra entre os portuguezes e os hespanhoes.

O sr. ministro das obras publicas pôde e deve dar a direcção que for mais conveniente á estrada. Eu não sei se se decidiu já, mas elles gritara e dizem que não.

Não faço reflexões algumas sobre as estradas em geral. Estou certo de que o governo tem a peito a construcção das estradas e o que desejo é que essa construcção seja feita com igualdade e que d'ella participe todo o paiz. Não sou portuguez só do Minho, sou tambem de Trás os Montes e da Beira do Algarve; sou de todo o paiz, e portanto quero estradas para todo o paiz (Uma voz: — Tem rasão.) a fim de que as nossas provincias se communiquem entre si e com esta capital.

Desejo tambem que a somma que se votar não seja fraccionada por differentes estradas, de maneira que uma grande parte d'essa verba seja consumida no pessoal. E isto que eu desejo, e para o campanario não quero senão o que estiver de accordo com os interesses geraes.

E muitas vezes o campanario tem exigencias a que não é possivel satisfazer. Por exemplo, diz um jornal do meu districto, que eu não tenho promovido a saída do paiol da polvora da praça de Valença. Desejava saber onde aquelle jornal ou os habitantes de Valença querem que se ponha o paiol da polvora í Se aquella praça fosse sitiada, o inimigo havia de estabelecer parallelas ou linhas de operações; a primeira a 600 metros, a segunda a 300 metros e a terceira sobre a raiz da explanada das obras avançadas. Onde havia de ser então collocado o paiol da polvora? Os habitantes de Valença receiam algum sinistro, e desejam que o paiol seja removido d'ali. Isso é justo; mas onde querem elles que seja posto o paiol? Fóra da praça? Não sei; entretanto é esta uma accusação importantissima que se faz ao deputado d'aquelle circulo, e é uma exigencia que não sei como possa ser satisfeita. Se querem a praça arrasada, então pôde desapparecer o paiol, do contrario não sei como satisfaze-los. Se o paiol não está nas condições necessarias para conter munições de guerra, se não tem conductores, ou se não tem o isolamento conveniente é outro caso; emfim que digam o que querem para se poder solicitar dos poderes respectivos as providencias necessarias.

Por ultimo direi ainda uma vez, que desejo que a estrada de Caminha a Valença com o ramal para o concelho de Coura se finalise o mais breve possivel, para que aquelles povos possam auferir as vantagens de tão importantes melhoramentos.

Tenho terminado.

O sr. Sá Nogueira: — O que está em discussão e não se tem discutido é o capitulo 3.°, em que se propõe uma verba para a conservação e policia das estradas. Creio que ninguem impugna este capitulo, e por consequencia o que havia a fazer era pôr-se á votação (apoiados).

Quando se tratar da despeza extraordinaria, é então que eu entendo ser bem cabida a discussão que tem agora havido, e n'essa occasião tambem eu pedirei a palavra para dizer alguma cousa sobre algumas das verbas propostas.

Podia tambem dizer ao meu amigo, o sr. Ferreri, que a minha provocação, como s. ex.ª lhe chamou, mas que»não foi provocação, sempre foi de vantagem para a camara, porque teve o prazer de ouvir a s. ex.ª

Quando o illustre deputado pedia ao sr. ministro que attendesse á necessidade da construcção de uma estrada de Caminha a Valença e de um ramal, eu disse n'um áparte — isso está no orçamento. S. ex.ª respondeu que = fazia aquellas reflexões para que se soubesse que tinha fallado n'isto =. Então, disse eu — é negocio de campanario; e não podia ser outra cousa.

Para se ver que eu não queria fazer arguição a s. ex.ª, nem provoca-lo, basta ler esta ultima verba da despeza para estradas: «Para a construcção da estrada de Caminha a Valença, com um ramal para o concelho de Coura, na fórma da carta de lei de 19 de fevereiro de 1859 — 40:000$000 réis.» De sorte que o que se propõe é o cumprimento da lei.

Torno a dizer, que não tive intenção de provocar o illustre deputado; entretanto dou-me por feliz, porque s. ex.ª, ao menos entreteve a camara por largo espaço com as suas observações.

O sr. Gavicho: — A discussão que tem havido, e continua, demonstra que se pôde discutir tudo a proposito de qualquer cousa.

Parece-me que o capitulo que discutimos trata da conservação e policia das estradas. Eu vou prescindindo de entrar em qualquer outro assumpto, pedir a attenção do sr. ministro das obras publicas sobre uma pequena cousa, se assim a quizerem classificar, sobre a arborisação das estradas. Eu pedia a s. ex.ª que d'esta verba para a conservação das estradas se applicasse uma quantia á arborisação das mesmas estradas, e não só á arborisação, mas á construcção de algumas fontes, aproveitando algum manancial de agua que esteja proximo.

Se d'esta verba se não applicar alguma cousa para estas obras, que eu julgo muito uteis e convenientes, nenhuma duvida tenho em apresentar uma proposta n'este sentido.

Peço a v. ex.ª que me conserve a palavra para, segundo a resposta que o sr. ministro me der, ver se devo usar da iniciativa de deputado, apresentando essa proposta.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — A idéa do illustre deputado, que eu reputo muito util, tem já uma certa execução. Por ordem do ministerio a meu cargo tem sido recommendado em differentes occasiões aos engenheiros directores dos districtos que tratem da arborisação, e com effeito alguma cousa se tem feito, e mesmo quanto ao aproveitamento das aguas (apoiados). Prosigo n'esse pensamento, e querendo desenvolve-lo mais, tive a honra de ha poucos dias apresentar á camara uma proposta de lei com o fim do governo ficar auctorisado a decretar, n'aquillo que dependesse de medida legislativa, o que julgasse util para a conservação e policia das estradas, e n'essa parte entra a arborisação e a construcção de fontes a que se referiu o illustre deputado, porque a arborisação é tambem um dos elementos para a conservação das estradas.

Eu pretendo mesmo que d'esta verba saíam alguns fundos para o estabelecimento de viveiros para a plantação de arvores em todas as estradas, na maior escala que for possivel, e se isto não satisfaz a todas as necessidades da arborisação do paiz, questão que considero de grande importancia, o que em outra parte do orçamento tem o seu logar, comtudo não deixa de ser já importante. Eu desejava que o ministerio estivesse habilitado com os meios sufficientes para tratar d'isto de um modo efficaz, mas entendo que isto é já um grande passo para essa arborisação, creando em cada districto um bom viveiro das especies mais proprias para a arborisação das respectivas localidades (apoiados).

Parece-me portanto desnecessario estabelecer cousa alguma a este respeito, porque esta verba dos 120:000$000 réis inserta no orçamento tem essa applicação tambem.

O sr. Affonso Botelho: — Pedi a palavra para recommendar a s. ex.ª, o sr. ministro das obras publicas, o concerto e conservação de uma estrada de muito grande importancia, porque por ella se fazem quasi exclusivamente communicações e um grande commercio entre o alto Trás os Montes e a Regua, feita no tempo da antiga companhia com grande despeza, desde a Regua até Poiares, e d'aquella povoação segue para o interior, e por ella se fazem os grandes transportes de viveres que da Regua sáem para o fornecimento do alto Trás os Montes.

Esta estrada padeceu muito com os ultimos invernos tempestuosos que quasi a obstruíram completamente, sem que até hoje fosse possivel repararem-se aquellas damnificações.

Já em outra epocha tive a honra de recommendar ao sr. ministro das obras publicas, o nobre duque de Loulé, esta estrada, que e. ex.ª prometteu mandar examinar pelo inspector da localidade, para se conhecer os reparos de que precisa para conservar aquella importantissima via de communicação.

A Regua está sendo o deposito dos viveres e objectos commerciaes, d'onde se fornecem a alta Beira e o alto Trás os Montes, e ali hão de infallivelmente tocar os interesses commerciaes das provincias das duas margens do Douro.

A estrada nova que liga a Regua com Villa Real segue uma direcção inteiramente differente, e emquanto se não concluir a estrada que está em construcção de Villa Real directamente para Amarante, que vem a ser de uma vantagem extraordinaria para o interior da provincia de Trás os Montes, aquelle paiz tem de continuar a fornecer-se da Regua, e pela estrada que tenho a honra de recommendar á consideração de s. ex.ª

O inverno fez damnificações n'aquella estrada, que não tem sido possivel ser reparada pelos particulares, e o municipio não tem fundos capazes de occorrer ás grandes despezas que demandam os grandes concertos que lhe são indispensaveis.

O sr. duque de Loulé em outro tempo fez favor de prometter que applicaria para ali alguma parte dos fundos extraordinarios que esta camara lhe concedeu exclusivamente para as estradas, porém depois esqueceu a s. ex.ª A municipalidade pediu, mas não alcançou cousa alguma; á força de sacrificios dos povos tem-se reparado alguma cousa. Mas era precisa uma reparação mais importante para que os povos não têem meios. Não me atrevo a pedir a s. ex.ª quantia determinada; porém confiado, como todos nós, no zêlo e na intelligencia com que s. ex.ª dirige o seu ministerio (apoiados), pedia que tomasse em consideração o concerto que recommendo, que é da estrada que desde a foz do rio Corge até Poiares, por onde hoje se faz todo o commercio do interior, desde a Regua, por Mirandella, até Bragança e Moncorvo.

Peço portanto a s ex.ª se digne tomar em consideração aquelles concertos que são de uma grande urgencia e utilidade publica, esperando que s. ex.ª faça n'este negocio quanto for compativel com os fundos que se votarem para a reparação e conservação de estradas. Aqui termino, por hoje, as minhas observações.

O sr. Visconde de Pindella: — Principio por agradecer ao meu illustre amigo, o sr. deputado por Soure, que tendo já a palavra para um requerimento, mas sabendo a necessidade que eu tinha de fallar n'esta occasião, teve a bondade, e muita delicadeza para comigo, de ceder d'ella.

Não sei, ou antes sei mesmo o que ha pouco disse o meu nobre amigo, o sr. Sá Nogueira, de que esta discussão não devia generalisar-se mais do que aquillo que permitte o capitulo que estamos discutindo; porém se isto é tirar tempo á camara creio que não se tira, porque os srs. deputados que não usarem agora da palavra n'este capitulo vão usar d'ella nas tabellas das despezas extraordinarias, aonde porventura ella será mais bem cabida. Mas o tampo que se não occupa agora occupar-se-ha então, e o que se occupasse agora não se occuparia portanto n'essa occasião. Nada se poupa com isso (apoiados).

A questão é ser hoje ou ámanhã. Parece-me que tratando se de estradas, tratámos da materia, e não saímos d'ella, muito mais quando é recommendar ou pedir explicações ao governo, e não para mandar propostas, nem emendas, nem substituições de qualquer natureza que seja.

Aproveito pois a occasião para pedir ao illustre ministro das obras publicas a sua resolução na commissão de fazenda, a respeito dos direitos de barreiras e portagens das estradas do Minho, no projecto que ha n'essa illustre commissão, apresentado na sessão passada por um digno deputado pelo Porto, e meu amigo, o sr. Faria Guimarães. Não faço largas considerações a respeito d'este projecto, porque já as fiz em outra occasião, e já o nobre ministro me respondeu a ellas; mas é necessario tratar d'isto, entendo eu, e creio que entenderá a camara mesmo; não fallo agora, nem appello para os deputados do Minho, appello para a camara, que é uma injustiça que ss. ex.ª tambem não soffreriam se ella lhes caísse por casa; é urgente que este negocio se decida (apoiados).

Faço inteira justiça aos nobres deputados, que se vissem que nos seus circulos se pagava um imposto que em nenhuma outra terra do reino se paga, haviam de levantar as suas vozes todas as vezes que o podessem fazer contra esta iniquidade. Faço justiça aos nobres deputados, repito, como elles m'a fazem; embora seja impertinente; sou impertinente, e hei de ser, em quanto não vir acabado este imposto, que se não justifica, porque se não pôde justificar (apoiados).

Por consequencia eu peço ao nobre ministro que resolva este negocio, visto que alguns membros da commissão de fazenda tiveram a bondade de nos declarar o outro dia que então promptos a dar o seu parecer, mas que era preciso ouvir o governo ou o sr. ministro d'esta repartição; não posso duvidar da boa vontade de nenhum dos illustres membros da commissão de fazenda, muito mais quando n'ella ha alguns que representam aqui, como disse o outro dia, circulos do Minho, e alguns fizeram declarações, como foram os meus nobres amigos os srs. Gomes de Castro e Santa Anna e Vasconcellos e outros, que são d'aquella opinião, que deve acabar similhante imposto; quando ha declaração dos proprios membros da commissão n'este sentido, parece-me que não encontro mesmo a rasão de que o parecer se não traga. Não se traz, já se vê que não é por falta de vontade, nem de desaccordo dos membros entre si, é por certo da falta no centro da commissão do nobre ministro das obras publicas.

Por conseguinte o que peço a s. ex.ª muito especialmente é a sua attenção para este negocio, que me parece que a deve merecer a s. ex.ª, e que o tratasse logo que fosse ao centro da commissão; e mesmo, e logo que fosse a ella tratar de algum outro objecto, não esquecesse este, e aproveitasse essa occasião para dar a sua opinião a respeito d'este

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tributo, que como está não pôde existir. Não digo mais nada, creio que isto é bastante.

Sr. presidente, o nobre deputado por Moimenta, e meu amigo, fallou a respeito de se dar em grande escala, ou mesmo por grandes empreitadas, a construcção das estradas.

Sou até certo ponto da opinião do nobre ministro, não só pelas rasões que acaba de expor, porque assim, por pequenas empreitadas, satisfaz mais geralmente o paiz; mas, sr. presidente, em vista d'este mesmo argumento, de querer que todos gosem do beneficio da viação, e não quererem que só os seus vizinhos gosem, emquanto que todos pagam o imposto para essa mesma viação, é que está a injustiça do direito de portagens e barreiras no Minho (apoiados).

E bem que todos gosem, e se-lo-ha que só uns soffram? (Apoiados.) Isto não pôde ser. É inverter o caso, todos pagam, gosem todos; soffram, mas paguem todos (apoiados). Di lo, e muito bem, o sr. ministro.

Por consequencia, eu sou em parte da opinião do nobre ministro, que assim satisfaz-se mais á vontade e interesse dos povos; ha mesmo mais justiça na satisfação dos direitos de todos os povos.

Porém tambem é verdade, que se esse chamado contrato Langlois, que a camara não approvou, tivesse passado,.Braga, Guimarães e muitas outras terras teriam estradas que ainda hoje não têem (apoiados); porque, como muito bem disse ha pouco o nobre deputado e meu amigo, ellas estariam já construidas, porque era condição do mesmo contrato sê-lo em dois annos, e já lá vão quatro, note a camara, e nós ainda as não temos! (Apoiados.) Não temos, e não sei mesmo quando as teremos. A verdade é esta. N'esta parte muito bem disse o nobre representante de Moimenta da Beira. Mas é necessario collocarmo-nos entre a opinião do illustre deputado e a opinião do nobre ministro, para podermos ser perfeitamente justos e rasoaveis.

Entendo-o assim (apoiados).

No entretanto, para uma d'estas linhas mais consideraveis que entravam n'aquelle contrato e que foram contempladas pela lei de 15 de julho de 1862, creio eu, e refiro-me á linha de Braga a Guimarães, houve dois cavalheiros muito respeitaveis e muito distinctos, os quaes todos consideram, que são os srs. conde de Arrochela e o sr. Manuel de Magalhães (apoiados), que animados unicamente dos sentimentos mais patrioticos e do desejo vehemente de fazerem um grande serviço ás suas terras (apoiados), assim como tendo em vista o bem geral do paiz, porque todos são interessados, tomaram a construcção d'esta estrada por grande empreitada, talvez a primeira e maior que se tem feito n'este paiz, - de Braga a Guimarães e d'esta cidade a Fafe. A maior com certeza (apoiados).

E note a camara que isto era no tempo em que se não arrematavam senão alguns poucos kilometros, porque não havia -quem se quizesse arriscar a estas arrematações em grande, não havia (apoiados); pois quando não havia quem arrematasse alguns poucos kilometros, é que esses cavalheiros arrematavam cincoenta e tantos kilometros, e parece-me que era de lhe agradecer este sacrificio; não digo arrojo, mas era um bom serviço que ss. ex.ª prestavam ao seu paiz (apoiados).

E infelizmente o que acontece? Acontece que a linha de Guimarães a Fafe foi aberta outro dia pela primeira vez; foi um dia de festa nacional e de regosijo publico (apoiados). Creio que a camara sabe pelas correspondencias dos jornaes, e eu tenho obrigação o de saber mais circumstanciadamente, despovoou-se Guimarães para ir a Fave. Foi o digno director das obras publicas no districto de Braga, e foi como digo, uma festa nacional, porque os povos mostram sempre grande jubilo quando têem logar estes grandes melhoramentos, para que pagam e fazem tantos sacrificios (apoiados).

Esta estrada está concluida, mas acontece, e aqui é que vae o infelizmente, que não se pôde abrir á circulação a linha de Braga a Guimarães, por falta de uma expropriação, e de pouco mais de 1 kilometro que existe por fazer á saída de Guimarães, acontecendo mesmo que os dignos cavalheiros, a que me tenho referido, têem despedido os pequenos empreiteiros e trabalhadores por não terem já que fazer, aonde os empregar.

Tenho fallado algumas vezes ao nobre ministro n'este assumpto, e tenho recebido de s. ex.ª sempre as respostas mais esperançosas, e conhecido os melhores desejos. Sei que s. ex.ª tem officiado aquelle digno director a este respeito, mas sei que até agora nada se tem feito; isto tambem sei, e prova-se porque se vê.

Eu mesmo passaria um pouco por alto n'isto, se ainda hoje não soubesse, extra officialmente, que o digno director das obras publicas de Braga diz que está á espera da resposta do governo para que elle faça a expropriação d'este ou d'aquelle modo, e o governo diz—já mandei ao director que o fizesse. Que é isto? Mandou-se ou não? Faz se oh não se faz? (Apoiados.)

O que eu peço instantemente ao nobre ministro, que melhor do que ninguem conhece este assumpto, é que haja de resolver esta questão com a maior brevidade. N'isto tambem ha a attender ao tempo, porque não podemos estar.com aquellas obras paradas mezes e mezes, e a linha em construcção interrompida por uma d'aquellas lacunas de que s. ex.ª fallava outro dia; e dizia muito bem, como diz sempre, quando trata de objectos que lhe são tão conhecidos como este. São as taes lacunas que não se justificam, que é necessario fazerem se (apoiados), como s. ex.ª nos disse.

Sr. presidente, pois ha de estar uma linha de estrada consideravel, como é de Braga a Guimarães, interrompida porque falta proceder a uma expropriação? Não podemos percorrer 50 kilometros, porque lhe falta 1? Pois isto é possivel? Pois isto pôde ser? (Apoiados.)

Portanto, ou seja pelo meio que o nobre ministro queira de conciliação amigavel; isto é levando a effeito o contrato amigavelmente, e que, note-se, já está ha muito contratado e justo, ou seja por outro qualquer meio legal, o que é preciso é que por uma vez saiamos d'este estado, porque isto tem causado um grande desgosto n'aquelle povo, a par do regosijo que se vê quando se abre alguma estrada á circulação; por outra, ou melhor, é o contraste do prazer que ainda ha pouco sentiram na abertura da estrada para Fafe.

Não quero tomar tempo á camara, mas não podia deixar passar estes dois pontos sem pedir resposta ao nobre ministro, que de certo pela justiça do meu pedido, e não pela minha pessoa, estou que se dignará responder-me.

Resumo:

Peço a s. ex.ª e á illustre commissão de fazenda, que queiram resolver o projecto do sr. Faria Guimarães, e em segundo logar pelo que respeita ás expropriações d'esta pequenissima area de terreno que falta por construir.

Já disse que foi a primeira empreitada em grande que se formou n'este paiz, e pôde dizer-se que estes illustres empreiteiros estão tambem prejudicando os seus interesses, despedindo os trabalhadores porque não têem em que os occupar. Depois vem as moras, os prasos adiados, o que de certo não é bom, nem pôde convir. Alem de que, s. ex:ª tem dinheiro para estas expropriações, e quando digo que tem dinheiro é porque o passo a demonstrar.

O orçamento primitivo do habil engenheiro, o sr. João Evangelista, foi de 22:000$000 réis. Começaram a expropriar a linha vinda de Braga para Guimarães; depois viram que não chegavam os 22:000$000 réis, e o que se fez? Parou-se, parou-se, ainda assim estamos!! Mas parou-se, reatando ainda 3:000$000 réis pouco mais ou menos, do primitivo orçamento. Isto é, para completar as expropriações eram necessarios 7:000$000 réis approximadamente; mas ainda que havia 3:000$000 réis, como porém faltavam 4:000$000 réis para preencher aquella somma, parou se. E ha um anno, ha mais de um anno que as cousas estão n'estes termos. Ha um anno? Muito mais de um anno (apoiados).

Ora, eu digo ao nobre ministro que tem -a somma necessaria, porque tem 10:000$000 réis, provenientes das economias feitas nas differentes modificações e alterações do traçado da linha de Guimarães a Fafe. Direi sempre.

Todos nós sabemos que n'estes contratos ha sempre artigos em virtude dos quaes, combinando entre si os empreiteiros e os engenheiros do governo, se podem alterar as condições, uma vez que d'essa alteração se tire melhor resultado e diminua a despeza.

Isto é justo e conveniente.

Ali acontece assim. O traçado definitivo sobre que assentou o contrato soffreu depois pequenas modificações, ou para se evitar um pontão ou para fugir a uma rampa, e d'essas modificações resultou a economia de 10:000$000 réis pouco mais ou menos, como já disse.

E como esta economia se deu na mesma linha que corre de Braga, Guimarães, Fafe, Cavez a Trás os Montes, que é a mesma estrada, não ha motivo para que deixe de se gastar no ponto B o que se economisou no ponto A. Creio que me explico (apoiados).

Parece-me pois que temos toda a justiça em que estas expropriações se façam, e que sobejam rasões para isso.

Eu tenho dito muitas vezes, e se o não sentisse não o dizia, porque sou muito franco, que tenho toda a confiança no nobre ministro das obras publicas, e espero portanto uma prompta resolução n'este negocio; peço justiça e nada mais.

Mas eu, não obstante a muita consideração que tenho em s. ex.ª, não posso deixar de estranhar um pouco que este negocio não se haja ainda resolvido, quando não tal tam esclarecimentos a tal respeito, e quando tambem não falta o dinheiro necessario para isso (apoiados).

Aguardo a resposta do nobre ministro.

O sr. Secretario (Miguel Osorio): — A commissão de redacção não fez alteração alguma aos projectos de lei n.º 23 do anno passado e 127 de 1862.

Remettem-se para a outra camara.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Parece-me que a discussão que tem havido sobre differentes pontos em que os illustres deputados têem julgado conveniente faltar, foi impropria d'este logar (apoiados).

Se nós discutimos as expropriações e as traçados das estradas, a proposito da conservação e policia d'ellas não chegaremos ao tira do orçamento (apoiados).

Eu pedia portanto aos illustres deputados que reservassem para occasião mais opportuna a discussão sobre este objecto. E pedia-o, sem comtudo deixar de responder ás observações que ss. ex.ªs fizeram.

Começando por me referir ás observações do Sr. Castro Ferreri sobre o estado dos trabalhos da estrada de Caminha a Valença, asseguro a s. ex.ª que a questão está resolvida. E sinto que o illustre deputado tivesse o incommodo de discutir este ponto tão prolongadamente, quando se dá este caso. Eu já expedi ordena para se proceder â execução dos trabalhos na parte da linha que estava interrompida.

Pelo que respeita ás observações feitas pelo sr. Affonso Botelho, devo dizer que não é averba de que se trata aquella de que podem saír os meios para a reparação da estrada a que s. ex.ª se referiu. Nós estamos tratando de policia e conservação das estradas e não de reparos. Para reparos destina-se uma verba especial, que se ha de repartir por differentes estradas, onde houver necessidade d'elles, e até onde essa verba poder chegar.

Pôde comtudo s. ex.ª estar certo de que tenho em toda a consideração as suas reflexões, e hei de ter toda attenção com a estrada de que fallou.

Ao illustre deputado por Guimarães, o sr. visconde de Pindella, tenho que responder sobre dois pontos que principalmente me parecem fazerem objecto das suas observações.

O primeiro — portagens, é um assumpto de bastante importancia, ácerca do qual eu já disse as minhas idéas.

Já observei que era altamente injusto que a provincia do Minho contribuisse para a conservação das estradas por um direito de portagem, quando as outras provincias não contribuem d'esse modo. Estou prompto a concorrer para que similhante injustiça desappareça. Mas esse negocio, como importa uma questão de imposto, está entregue á commissão de fazenda; e o que posso fazer é empenhar-me com a commissão para que ainda n'esta sessão o resolva.

Parece-me que se não deve tomar a este respeito uma resolução por incidente, porque a questão é importante, como disse.

Trata-se de saber se devemos, pela receita geral do estado, fazer as despezas da conservação de toda a viação, ou se para isso deve haver um imposto especial.

Na Belgica, na Allemanha, na Inglaterra, na Italia e na Hespanha existe com este destino um imposto especial. Só na França o não ha.

-Mas é preciso resolver esta questão, porque exigindo ia conservação da - viação publica uma verba consideravel, cumpre dar as providencias para obter os meios com que fazer face a essa despeza.

Ha distincção entre barreiras e portagens.

No que toca a barreiras, não tenho duvida em admittir que não é talvez proficuo nem conveniente o imposto. Mas quanto ás portagens o negocio não é o mesmo. Se se abrir uma communicação aonde não existia, se se tiver de construir uma ponte para atravessar um rio ou ribeira invadiavel, se proporcionámos os meios para que o publico possa auferir certas vantagens, e tirar proveito de certa obra, não será conveniente que pague? (Apoiados.) Parece-me que é de toda a justiça que se exija uma modica retribuição d'aquelle que vae utilisar-se, por exemplo, de uma ponte ou de uma estrada, que estava incommunicavel (apoiados).

Agora quanto ás expropriações para a continuação da estrada a que s. ex.ª se referiu, direi ao nobre deputado — que as informações que «tive foram de que os preços eram exageradíssimos. Realmente é para sentir que os proprietarios se prevaleçam da necessidade de se fazerem estes melhoramentos publicos...

O sr. Visconde de Pindella: — Provarei a v. ex.ª que os preços não eram exageradíssimos.

O Orador: — Mas o conselho das obras publica assim o declarou; e era vista d'isto ordenei que se tratasse de obter um preço rasoavel; mas se não quizessem vir a um accordo então se seguissem os meios judiciaes.

O illustre deputado sabe que não é só n'esta localidade que ha a fazer expropriações, e por isso entendo que é necessario modificar um pouco a lei das expropriações (apoiados), não só em relação ás estradas, mas tambem aos Caminhos de ferro; porque a verdade é que se tem feito d'isto uma especulação vantajosa para alguns proprietarios (apoiados).

O sr. Visconde de Pindella: — Peço a palavra, porque não posso ficar debaixo d'esta impressão. Sou um dos proprietarios d'esta linha, e...

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Não o sabia.

O Orador: — Mas eu digo o, e então peço a v. ex.ª que me dê a palavra para uma explicação; não gasto quatro minutos.

O sr. Presidente: — Não lh'a posso dar.

O Orador: — Mas eu requeiro que v. ex.ª consulte a camara.

O sr. Presidente: — Peço que tomem os seus logares. Fozes: — Falle, falle.

O Orador: — Principiarei por declarar ao nobre ministro, que as informações que recebeu serão assim como s. ex.ª disse, mas não são verdadeiras. Não são (forte). Digo que não são exactas.

Os preços que querem os actuaes proprietarios, aquelle em que concordaram com o engenheiro expropriante e note-se que já houve esse accordo, e se o houve, é porque o engenheiro não o achou exagerado (apoiados), não -são excessivos.

O digno actual director das obras publicas de Braga estando em Guimarães disse que tirassemos alguns por cento d'aquelle ajuste já feito com o engenheiro, é effectivamente nós tirámos 5 por cento. Se isto assim é, e é porque o assevero, como se diz que nós queremos lucrar e especular? (Apoiados.)

Dizem = os preços são excessivos =; muito bem; mas vejam que um proprietario que queria, par exemplo, 800 réis pelo metro, e não annuindo o engenheiro, a questão correu judicialmente e tiveram de lhe dar 500 réis! Que economia para o thesouro! Isto aconteceu com um proprietario de Guimarães; e então como se diz que se deseja especular? Se quizessemos, então quereriamos antes a expropriação judicial, porque ella nos daria mais do que o ajuste que tinhamos feito (muitos apoiados). Mas muitissimo mais, já vêem (apoiados).

Todos sabem que as propriedades junto a uma cidade, sendo terras lavradias e de primeira qualidade, têem muito mais valor, e no entanto nós ainda quisemos menos do ajuste que já tinhamos feito 5 por cento! Isto é verdadeiro e se for preciso provarei com documentos (com calor)..Mas Creio que bastará a minha palavra (apoiados).

Sr. presidente, quando levanto n'esta casa a minha voz é por interesse sempre dos meus constituintes, e n'isto não vae louvor algum, por isso o digo; é a minha obrigação, e todos nos a cumprimos, e não tenho culpa que o deputado por Guimarães seja tambem proprietario ide parte ida linha da estrada (muitos apoiados). Aqui não sou senão representante d'aquella localidade, aonde posso asseverar la-

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vra o maior desgosto por verem que uma estrada importantissima como esta é, está paralysada em consequencia d'esta questão, por não se querer dar 3:000$000 réis por parte do terreno que se pretende expropriar, emquanto que na mesma estrada se expropriaram terrenos já por igual valor aquelles que estão contratados, e de peiores condições (apoiados); basta serem muito mais distantes da cidade.

Sinto muito que a questão viesse a este terreno; mas vindo, e dizendo-se que havia especulação da parte d'aquelles proprietarios, se é que, assim se disse, mas basta-me a duvida (apoiados), eu não podia deixar de dizer a verdade, e tenho tanto direito para ser acreditado pelo nobre ministro como s. ex.ª em que eu o acredite, já como cavalheiro, já como ministro; mas preciso que s. ex.ª diga terminantemente se se refere a nós (apoiados).

Não quero cansar a camara, visto que a hora já deu, mas em vista do que s. ex.ª tinha dito, entendi do meu dever dar esta explicação e pedi la categoricamente a s. ex.ª, por mim e pelos meus patricios, sr. presidente, que não sabem especular com o interesse publico (apoiados).

Desculpe a camara, agradeço lhe do coração a attenção que acaba de ter commigo, mas eu não sou homem que podesse ficar debaixo de uma tal impressão, embora mesmo o nobre ministro fallasse em geral (apoiados). Procedo assim, porque entendo que é assim que devo proceder. Desculpem-me (apoiados).

Vozes: — Muito bem.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Sinto que o nobre deputado tenha parte n'este negocio. Quando disse que havia especulação, não quiz por modo algum referir-me a S. ex.ª O que eu queria dizer é que as expropriações eram exageradas, e então não se podiam fazer amigavelmente. Por esta occasião notei que quando se faziam expropriações havia muito quem especulasse com isso, porque todos sabem que se têem pago por um preço exorbitante, e isto faz com que o governo esteja de sobreaviso, a fim de não ser censurado por haver accedido a reclamações exageradas.

Aqui está o que eu disse. Na hypothese de que se trata não posso dizer nada, porque não sei a extensão de terreno, nem se a expropriação é cara ou barata; mas tendo a informação do conselho das obras publicas e do director de districto, não podia deixar de lhe prestar fé (apoiados).

Repito, o que é verdade é que o governo se tem visto na necessidade de pagar expropriações por um valor fabuloso, e tendo-se dado isto por mais de uma vez, era do meu dever fazer com que se não repetisse.

Isto, porém, não tem referencia ao caso especial das expropriações a, que o illustre deputado se refere.

O sr. Visconde de Pindella: — Visto que o sr. ministro não se refere particularmente a estas expropriações, mas sim fallou em geral, e eu em geral não posso saber se ha estes excessos nada mais digo.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para sexta feira é a continuação da que vinha para hoje e mais o projecto n.° 45, e para ámanhã é trabalhos em commissões.

Está levantada a sessão.

Eram quatro horas da tarde.

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