1267
DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Sr. presidente, no excesso da despeza auctorisada, no mez de junho entram saldos das contas do anno anterior, o a esse respeito, conforme o sr. ministro da fazenda disse á camara, só se póde reconhecer a responsabilidade que cabe a qualquer ministro, quando elle tiver estado no poder dezoito, mezes; esse é o termo da maioridade ministerial, e v. ex.:' sabe por consequencia muito bem que saí do ministerio sem que se me possa exigir a responsabilidade legal r/esse ponto; mas, não obstante, eu assumo voluntariamente toda e qualquer, que me queiram exigir.
Eu não abusei em cousa alguma, nunca na minha vida o fiz, o espero que o não hei de fazer.
O sr. Carrilho é uma das pessoas mais habilitadas para dar a qualquer toda a qualidade do informações ácerca dos trabalhos o negocios financeiros da nação portugueza. (Apoiados.)
E eu peço a quem quizer ter informação exacta sobre qualquer ponto obscuro da nossa historia financeira, que se dirija particularmente ao sr. Carrilho, e se fie completamento n'aquillo que elle lhe disser, porque elle não é capaz de dizer senão a verdade. (Apoiados.)
Porém, note bem a camara, se aqui na discussão, por um motivo qualquer de conveniencia politica, o sr. Carrilho tiver do dar uma explicação, não digo que se não fiem no que elle disser, mas que a recebam com toda a reserva; (Riso.) porque o sr. Carrilho ha de dizer o que convier, e não aquillo que elle souber, e que tenho a certeza do que elle sabe, e que se o não diz é porque não o quer dizer.
O sr. Carrilho trabalhou commigo, foi meu collega e collaborador em tempos muito difficeis em jornaes politicos;' depois d'isso trabalhámos juntos em fazer escavações financeiras, e eu sei o que elle vale e o que elle sabe.
Sr. presidente, o sr. relator da commissão, quando recebeu em 1877 o orçamento que eu mandei do ministerio das obras publicas, elevando em mais."84:000,$00O réis a despeza d'aquelle ministerio, ficou de tal maneira assombrado, que fez o seguinte: foi elle ao -ministério das obras publicas o levou os verbetes com que eu tinha estado a trabalhar, para a sua secretaria, para examinar se o calculo era verdadeiro.
Tal era o habito em que se estava de diminuir estrategicamente as despezas do estado, para depois termos aqui. o prazer de nos accusarmos uns aos outros, de usar e abusar do credito.
E eu não sei por que modo queriam que eu pagasse despezas de obras que estavam em construcçâo, o que me tinham legado, não me tendo deixado no orçamento votadas as auctorisações para eu obter dinheiro.
Outras despezas não fiz, e outros abusos não pratiquei. E já se requereram aqui varios esclarecimentos, e eu peço que, se não vieram, que venham quanto antes á camara; porque eu nunca subsidiei nem subvencionei despeza de qualidade alguma que não fosse para melhoramentos públicos/
Algumas das verbas de artigos em que a despeza excede a auctorisaçâo orçamental têem como dotação, alem d'ella, o rendimento proprio, taes como a quinta regional do Cintra e o instituto industrial.
Na quinta de Cintra a perfeição na cultura elevou igualmente as despezas do exploração; porque ali ensinava-se agricultura arrendando parte das terras. Eu mandei cultivar tudo.
Tambem não quero sobrecarregar o orçamento do estado com a despeza da publicação de documentos que não sejam absolutamente indispensaveis, mas invoco o testemunho do proprio sr. relator da commissão para affirmar que procedi com o cuidado e exactidão que foi possivel no orçamento do ministerio das obras publicas.
Posso, verba por verba, artigo por artigo, secção por secção, dizer a rasão por que pedi quantias mais avultadas ao parlamento.
E o facto é que a situação actual conformou-se com ellas, porque as approvou e as mantem.
Permitta-me v. ex.ª que diga que, se em alguma cousa fui culpado, foi por ficar áquem das necessidades dos serviços d'aquelle ministerio.
Mas v. ex.ª comprehende que não se podia chegar repentinamente á maxima perfeição em negocios que pediam exame mais minucioso e mais detido.. Não desejo que a discussão do orçamento se converta n'uma discussão irritante e offensiva. Pela minha parte antes desejo ser accusado pela moderação com que a trate do que pelo defeito contrario.
Declaro, porem, a v. ex.ª que não tenho receio absolutamente algum do acceitar a questão em qualquer ponto em que a queiram pôr, sobretudo quando se tratar de assumptos do dignidade para mim, ou para o governo e situação de que tive a honra do fazer parte.
Exactamente para defender essa situação é que eu aqui estou; não estou aqui para outra cousa, porque entendo que os homens publicos têem sempre, perante a sua consciencia, o dever de responder por todos os seus actos.
Um procedimento em sentido contrario seria uma indignidade, pelo menos, á qual não estou resolvido a sujeitar-me.
Vozes: — Muito bem.
Leu-se na mesa a seguinte
Proposta
Proponho que no caso do sr. relator da commissão de fazenda provar que no orçamento da Suecia ha deficit e que ali se recorre ao credito para o saldar, seja approvado por acclamação o parecer n.º 81. = Barros e Cunha.
Admittida á. discussão.
O sr. Carrilho: — Começo por agradecer ao sr. Barros e Cunha as palavras amáveis, os elogios que me dirigiu, e que eu não mereço. ¦
Não faço, como funccionario, senão cumprir o meu dever, e como deputado da nação portugueza digo a verdade inteira, como a sinto e como me parece que ella é. Posso errar, mas se commetto erros não são de vontade, são do intelligencia. (Apoiados.)
O sr. Barros e Cunha disso que eu tinha trocado de falso, quando asseverei que nas contas da Suecia... O sr. Barros e Cunha: — No orçamento. O Orador: — Nas contas do receita e despeza. O sr. Barros e Cunha: — No orçamento é que é. O Orador: — Pois seja. Mas olhe o sr. Barros e Cunha que tambem temos um orçamento historico sem deficit e que nas contas foi encerrado com um desequilibrio de 6.000:000$000 réis!
Disse, porém, s. ex.ª que eu tinha trocado de falso, quando asseverei que no orçamento da Suecia havia um deficit e que para fazer face a esse deficit o governo d'aquelle paiz se vira na necessidade de propor este anno a creação de novos impostos.
O sr. Barros e Cunha: —É o que eu proponho cá. É que se lancem impostos.
O Orador: — Tambem lá se faz o mesmo. Eu tenho aqui um exemplar impresso do discurso da corôa, pronunciado em 18 de janeiro de 1879 no parlamento d'aquelle paiz; discurso em que o chefe do estado diz o seguinte:
«Sob o ponto de vista economico, o anuo que decorreu hão apresentou aspecto tão satisfactorio. O paiz teve uma abundante colheita, mas os productos mineiros e florestaes não encontraram mercado vantajoso: a situação financeira soffreu tanto mais, quanto largos capitães, e largos talvez em relação aos nossos recursos, tinham sido em pouco espaço de tempo immobilisados com a construcçâo de caminhos de ferro particulares.. Isto causou embaraços a grande numero de cidadãos, mas até o estado soffreu as consequencias. As fontes da receita publica diminuiram, e no orçamento do anno proximo não podem figurar, como de
Sessão de 18 de abril de 1879