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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

experientes, que podiamos obter taes melhoramentos sem lançar novos impostos, e acreditei esses homens que eu, homem novo, estava acostumado a acatar, como politicos e financeiros experimentados, e seduziram-me, ao entrar na vida politica, aquellas theorias tão agradaveis; mas desenganei-me, e desenganei-me tão depressa que tendo entrado em 1857 na camara, logo em 1858 não tive duvida em subir aquella tribuna, que então estava collocada d'este lado da camara (o esquerdo) e em dizer que me tinha enganado e que não podia continuar mais a acompanhar o governo e os meus antigos amigos, que não podia sustentar no poder as idéas que apresentava na opposição.

Foi por isso que eu modifiquei ha vinte e um annos as minhas idéas, idéas que hoje o illustre deputado acha boas.

O sr. Mariano de Carvalho: — Apoiado.

O Orador: — Pois não lhe dou os parabens. (Biso.)

A experiencia durante vinte e dois annos fez-me ver que eu elaborava em grandes erros.

O illustre deputado leu tambem a camara os meus relatorios, e, sr. presidente, confesso que estou tentado a não publicar mais relatorios, porque desejo que a camara empregue o seu tempo em discutir e não em ouvir ler.

O sr. Pinheiro Chagas: — Os seus relatorios são as promessas que v. ex.ª não cumpriu.

O Orador: — O que eu disse nos meus relatorios e o que era verdade, era que a situação financeira ía successivamente melhorando nos primeiros annos da administração d'este governo, e se examinarmos as contas, pondo de parte algumas despezas extraordinarias, que não podem de modo algum saír das receitas ordinarias, nós vemos que até 1875 o deficit ía diminuindo successivamente a ponto de que chegou a não existir entre as receitas e as despezas ordinarias.

Depois aconteceram factos extraordinarios, não só no paiz, mas em toda a Europa, factos que se repercutiram em Portugal, tivemos desastres excepcionaes, que diminuiram a receita e que nos obrigaram a augmentar a nossa despeza. (Apoiados.)

Os casos extraordinarios que se deram, fizeram com que não se podesse realisar a promessa que eu fizera, e não admira que não se realisasse, quando em outros paizes tambem não se realisam todas as promessas da mesma natureza, e isto, não por vontade propria, mas por circumstancias extraordinarias. Quantas vezes, em todos os paizes, a um orçamento de previsão sem deficit, não succede um orçamento rectificado ou de encerramento de exercicio com elle avultado.

O illustre deputado fez a historia administrativa do paiz, e referiu-se aos caminhos de ferro, mostrando que durante outras gerencias se tinham pago maiores sommas para estes caminhos do que durante as gerencias regeneradoras.

Mas perguntarei uma cousa; com que pagaram? Foi com os impostos que nós propozemos e fizemos votar. (Apoiados.) Foi exactamente o propor novos impostos uma das causas por que caiu o primeiro gabinete regenerador.

E depois vieram os seus successores, e o que fizeram? Votaram os impostos que aquelle tinha proposto. (Apoiados.)

Em 1859 e 1860, as reformas propostas pelo sr. Casal Ribeiro augmentaram consideravelmente a receita publica. E foi com esses impostos creados pela iniciativa do sr. Casal Ribeiro que o partido historico pagou as obras que nós tinhamos feito votar, (Apoiados.) que foram os tres caminhos de ferro do norte e leste, Evora e Beja. E tendo eu em 1857 professado as idéas que o sr. Marianno de Carvalho acabou de ler á camara, glorio-me de me ter convencido dentro de tão pouco tempo que ellas não eram exactas, que em 1859 fiz parte do ministerio regenerador, que propoz e as duas camaras votaram os tres principaes caminhos de ferro que fizemos. Antes de 1859, apesar de todos os esforços da regeneração, era tal a guerra que se fazia aos caminhos de ferro, que se dizia que haviam de

produzir a nossa desgraça, que apenas se conseguira construir alguns kilometros de caminho de ferro de Lisboa ao Carregado.

Em 1859 o governo de que eu fazia parte, apesar da grande resistencia da opposição, do partido historico, um dos partidos que formou a opposição, apesar de tudo isso conseguimos fazer votar e começar a construir tres caminhos de ferro. (Apoiados.) E accusa-se o governo regenerador de gastar muito, dizendo ao mesmo tempo o illustre deputado que outros governos gastaram muito mais em caminhos de ferro.

Não sei bem qual foi o fim d'aquella demonstração do illustre deputado.

Disse o sr. Marianno de Carvalho: o paiz, segundo o relatorio do sr. Barros e Cunha gastou de 1852 a 1857 a somma de 95.000:000$0000 réis em melhoramentos publicos.

Mas, acrescentou o illustre deputado, gastaram-se réis 95.000:000$000 em obras e melhoramentos publicos, porém temos passado por grandes vergonhas, temos um deficit assustador e uma enorme divida fluctuante.

Agora pergunto eu — e o que feriamos nós se não tivessemos gasto áquelles 95.000:0000000 réis em melhoramentos publicos? Como estariamos nós se não tivessemos realisado áquelles melhoramentos publicos que custaram réis 95.000:0000000? (Apoiados.)

Estávamos no deploravel estado em que nos encontravamos em 1852 e 1853. (Apoiados.)

Veja-se qual é a escola do partido que fórma a opposição. (Apoiados.) O seu grande pensamento economico é que em 1852 e 1853 estavamos melhor do que estamos hoje, porque então não tinhamos o deficit que temos hoje, nem divida fluctuante. Mas tambem não tinhamos os caminhos de ferro e as estradas, a instrucção, os melhoramentos, não tinhamos nada do que se tem creado posteriormente a essa epocha com os 95.000:000$000 réis. (Apoiados.)

S. ex.ªs entendem que era melhor estar sem essas cousas, ou sem cousa alguma do que ter gasto 95.000:0000000 réis. (Apoiados.)

O sr. Mariano de Carvalho: — Eu disse exactamente o contrario.

O Orador: — O illustre deputado o sr. Mariano de Carvalho disse: «têem -se gasto 95.000:0000000 réis em melhoramentos publicos, mas tem-se passado por grandes vergonhas, temos um deficit assustador e uma enorme divida fluctuante.» Eis o que o illustre deputado disse. (Apoiados.) Mas pergunto — o que teriamos nós se não tivessemos gasto áquelles 95.OOO:OOO0

O sr. Mariano de Carvalho: — Não teriamos passado pelas vergonhas por que temos passado, e especialmente por causa da má administração nas obras.

O Orador: — Por causa da má administração!? Não se póde dizer isso...

O sr. Pinheiro Chagas: — E as estradas do Algarve?

O Orador: — As estradas do Algarve! O sr. Pinheiro Chagas: — Foram bem administradas?

O sr. Presidente: — Espero que não haja interrupções. (Apoiados.)

O sr. Alves Passos: — Ninguem os interrompe quando elles fallam.

O Orador: — Eu não costumo interromper ninguem; mas os illustres deputados podem interromper-me. Dou-lhes licença que me interrompam, se acaso precisam da minha licença.

Vamos ao Algarve.

Porque é que desde o anno de 1875-1876, creio eu, que foi quando se começaram a fazer grandes obras no Algarve, se tem mandado fazer essas obras, e porque é que ellas têem custado mais caras do que obras similhantes no resto do paiz?