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certas sommas, que depois recebeu, ganhando os juros e emprestando-as de novo.

Ha porém outro ponto ainda mais curioso na demonstração do illustre deputado.

Este illustre deputado disse — quereis saber quanto o banco perdeu com os decretos espoliadores da dictadura? Foram 4,243:973$204 reis. — E uma cifra tão exacta, que até não esqueceu por Os 4 réis; mas examinando esta demonstração achei o seguinte:

Reducção no valor das acções ao das obrigações do thesouro..........2.679:000$000

Reducção nos juros das dietas acções:

Pelos vencidos para cima de....... 341:000$000

Pelos que se vencerem para cima annualmente.................... 82:000$000

E assim por diante, sommando-se em cada uma das especies a reducção no valor do capital, e a reducção no juro annual.

Esta demonstração, em primeiro logar, tem um pequeno inconveniente, que é começar pelo fim. O que o illustre deputado devia demonstrar era, que effectivamente o banco perdia 2:000 contos com a reducção das acções a obrigações do thesouro, mas isto é que não tractou de demonstrar.

Posso suppôr, e quero acreditar, que fosse exacta esta proposição, mas só pela auctoridade que reconheço no illustre deputado, pelo respeito que voto ao seu talento e estudos, mas fóra daqui, não vejo na chamada demonstração cousa que se pareça com o nome que se lhe dá.

O sr. Cunha Sotto-Maior: — Faça a impugnação, que eu responderei.

O Orador: — Mas se eu procuro a demonstração, e não a acho! E uma demonstração impalpavel; não a encontro: encontro o resultado, mas não os calculos que a produziram — que quer o nobre deputado que eu impugne? E que significa sommar a reducção do capital com a perda no juro annual? Uma verba exclue a outra. Estas duas verbas, que se acham uma a par da outra, são inimigas capitaes.

Se a perda do banco se aprecia pela reducção do capital, não póde sommar-se esse resultado com o da reducção dos juros. (Apoiados)

Accumular uma perda com a outra é inteiramente impossivel; mas ainda o nobre deputado foi pouco generoso com a sua demonstração, porque deste modo, em logar de se contar só um anno, podiam-se contar muitos annos, e a:é a eternidade; desta maneira podia-se mostrar, que o banco tinha perdido muito mais, que o celebre milhão de milhões.

Não posso deixar de declarar, que estou convencido, que o illustre deputado não examinou o documento, que mandou para a mesa, porque, de contrario, não o leria apresentado. Talvez s. ex. no meio dos seus numerosos, e variados trabalhos, não tivesse tempo para examinar este documento, que apresentou; porque se o tivesse considerado bem, faço-lhe a justiça de acreditar, que o não teria apresentado (O sr. Nogueira Soares — Ouçam; ouçam).

O sr. Cunha Sotto-Maior: — Eu estou ouvindo, e agradeço ao sr. Nogueira Soares o seu cuidado.

O sr. Presidente: — O não fallar para a mesa tem um grande inconveniente: excita mais as interrupções, e dialogos.

O Orador: — Mas as cifras são oppressoras e tyrannicas: este milhão de milhões pésa de tal modo? sobre nós, que quando conseguimos desembaraçar-nos delle, não póde deixar de sentir-se um certo allivio.

Não me importa a vida passada do banco, e pouco me importa tambem saber se o banco fez contractos com grandes usuras, nem tão pouco, se a portaria do sr. Avila, quando ministro, é exacta, como acredito. Ainda que tudo isto seja verdadeiro, peço uma amnistia para o banco; mas o que a camara não póde dispensar-se de fazer, é examinar as condições em que o banco se acha em relação a todos os grandes interesses, que elle é chamado a fomentar.

Para este fim a camara nomeou uma commissão de inquerito, cujo resultado se deve aguardar; e com quanto confie completamente nesta commissão de inquerito, não posso deixar de observar desde já, que me parece, que um banco é alguma cousa mais do que o interesse dos seus accionistas. Um banco não é uma conesia, nem um feudo; é, ou deve ser, um grande instrumento para facilitar a baixa do juro, baixa que é uma grande necessidade, que actua sobre nós, mais fortemente ainda do que sobre os paizes, que se acham mais adiantados do que nós. É assim que se intente o que é um banco, em toda a parte onde elles existem.

O banco de França desconta a 3 por cento, e o banco de Inglaterra reduziu a taxa do juro a 2 4 por cento; mas em Portugal o banco deste paiz sustenta a taxa de 5 por cento, com condições tão amesquinhadas, que é quasi impossivel que alguma industria aproveite o beneficio do desconto. Esta é a minha opinião.

Não quero, sr. presidente, alargar mais a questão, mas não posso ainda deixar de dizer, que creio muito pouco em bancos privilegiados (Apoiados t. Não tracto a questão em these, apenas emitto a minha opinião; não creio em bancos privilegiados, assim como não creio em privilegio nenhum.

O giro do banco é estreitissimo. Quer a camara saber quanto o banco tinha em fevereiro do anno corrente em leiras? Tinha 465 contos. E emprestimos sobre penhores tinha 241 contos: total 706 contos, isto com um capital de 8:000 contos!! As notas do banco de Portugal em circulação sobem apenas a 725 contos. Será isto um giro que possa alimentar a industria, já não digo do paiz, nem da capital, mas mesmo de um bairro! Isto mostra que o proprio banco não póde aproveitar o seu privilegio da maneira por que está organisado.

Pergunto então, qual é o motivo porque se combate o decreto de 30 de agosto? Será pelo respeito á propriedade do banco? Parece-me que essa propriedade atacada por todas as dictaduras, e por todos os parlamentos, em nome do credito e em nome das bancarotas, em nome da sanctidade dos contractos, e em nome da espoliação póde ser atacada em nome de um grande interesse publico. Sustentais a propriedade do banco, ou não quereis caminhos de ferro?

Sr. presidente, eu já disse que tambem assignei o parecer da commissão de fazenda do anno passado, em que se dava ao fundo de amortisação uma nova applicação, e que por conseguinte tambem me competia a pecha de bancarroteiro; mas se se lhe disser — qual quereis vós, que o fundo de amortisação seja applicado para o caminho de ferro do norte, ou que se lhe dê o destino que a commissão de fazenda propunha no seu projecto — eu respondo que prefiro se