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explorado, é a segurança ás pessoas que n'elle transitam; mas consta, por um acreditado jornal da localidade, que algumas machinas ali se acham em estado menos proprio para um tal serviço e fim. Em abono d'isto lembrarei um facto que se deu logo no dia da inauguração Quando Coimbra toda festejava com alvoroço, saudava com enthusiasmo a abertura do caminho de ferro de Coimbra ao Porto; quando todos aquelles povos concorriam das circunferências para presenciarem a inauguração d'este grande melhoramento que os ia pôr em contacto pelos mais estreitos laços com as principaes cidades do paiz, muitos individuos e familias de Coimbra e cercanias aproveitaram a occasião de estrearem o caminho de ferro, e foram fazer por elle uma digressão. Por fatalidade, logo n'esse dia o comboio, na volta do Porto, chegou a Coimbra quatro horas mais tarde do que devia chegar, dando esta demora logar a susto e consternação geral em Coimbra, sem que os empregados no telegrapho do caminho de ferro dissessem, por não saberem, por não poderem ou não não sei porquê, o que tinha dado motivo a similhante demora, e suspeitando-se sempre o peior.

Veiu depois a saber se que tinha havido um pequeno desmancho nas machinas. Ora este desmancho podia provir de uma causa accidental, que se não podesse prever, como em muitos casos e em todos os paizes acontece; mas se effectivamente proveiu do mau estado das machinas, que não estão, como se diz, em condições que garantam toda a segurança aos passageiros, é indispensavel que o governo olhe para isto com toda a circumspecção (apoiados).

Chamo tambem a attenção de s. ex.ª, o sr. ministro das obras publicas, sobre outro ponto igualmente de fiscalisação; refiro-me á hora da chegada e partida dos comboios nas differentes estações.

Consta-me tambem que sobre isto mesmo não ha n'aquella linha a devida regularidade; os comboios sáem uns dias mais cedo, outros mais tarde, e isto é altamente prejudicial ao serviço publico (apoiados). Todas as vezes que não houver pontualidade na saída dos comboios, já elles não podem chegar ás outras estações a horas regulares, o que pôde causar graves transtornos; mas é sobretudo damnoso que a locomotiva parta das estações antes das horas prefixas, porque o povo conta com ellas, e não deve ser enganado.

Espero pois que o nobre ministro das obras publicas tenha este assumpto na devida consideração, para que a partida dos comboios tenha logar sempre ás horas marcadas, salvo em caso de força maior, porque do contrario resulta grande prejuizo publico (apoiados).

Ainda mais. Creio que se concordou em que o serviço do correio de Coimbra para o Porto continuasse a ser feito pela mala posta, mas que esta fosse em serviço exclusivo do correio e não levasse passageiros, os quaes certamente sem difficuldade se resignam a ir na via ferrea. Acontece porém que a mala-posta, que vae de Lisboa a Coimbra, só chega a esta cidade quasi ás cinco horas da tarde, e o comboio para o Porto tem partido ás quatro. D'este modo os passageiros, que de Lisboa seguirem para o Porto, têem de pernoitar em Coimbra, e só podem partir no comboio da manhã do dia seguinte, com grave prejuizo e perda de tempo, pois chegam ao Porto, tendo caminho de ferro, cinco ou seis horas mais tarde do que chegavam na mala-posta com a viação ordinaria. Isto é de grande e manifesto prejuizo publico. Não peço ao sr. ministro que determine que a saída da mala posta de Lisboa seja uma hora mais cedo, porque pôde isso não ser conveniente para o serviço do correio de Lisboa para outros pontos do paiz; mas parece-me que tinha todo o logar determinar que a saída do comboio de Coimbra para o Porto se verificasse uma hora mais tarde, porque d'este modo se remediava aquelle inconveniente, que é gravissimo.

Não digo mais nada, porque não quero tomar o tempo á camara; espero sómente do reconhecido zêlo e competencia do sr. ministro das obras publicas, que tenha estas minhas observações na consideração que me parece devem merecer-lhe.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Os factos que o illustre deputado acaba de apontar serão por mim attentamente examinados, entretanto parece-me que não ha tantos motivos de receio nem de desconfiança de que o serviço se não faça convenientemente como o illustre deputado indicou. I

Estes desarranjos que occorrem na circulação dos comboios quando um caminho de ferro se abre de novo á circulação, se não são frequentes não são raros nos caminhos de ferro de todo o mundo; é facil mesmo acontecerem em uma linha aberta novamente á circulação, onde os empregados não tem ainda adquirido toda a experiencia, e aonde ha quasi sempre um certo numero de atrictos que só com o tempo se destroem. As machinas não param só por serem demasiadamente velhas, e podem mesmo parar por serem demasiadamente novas, circumstancias se podem dar em que uma machina nova, excellente, pare por isso mesmo que é nova, ou apesar de o ser, por um parafuso mais preso ou mais largo, por qualquer cousa emfim que embarace o seu movimento; e para que se dê um caso d'estes, não é preciso que a machina seja velha (apoiados).

Entretanto o que posso dizer ao illustre deputado, é que hei de ter em attenção este serviço, para que se faça convenientemente. O que aconteceu em Coimbra tem acontecido em muitas partes, não só nos nossos caminhos, mas nos estrangeiros. Eu transitei em muitas linhas ferreas estrangeiras, e sou testemunha de que em muitas o serviço não era melhor do que nas nossas. O que se deu em Coimbra, dá-se em França, dá se em Inglaterra e em muitas partes onde as linhas ferreas estão aliás perfeitamente construidas e o serviço da exploração se faz com grande cuidado e perfeição. Portanto pôde estar o illustre deputado certo de que hei de empregar todos os meios ao meu alcance para que a companhia cumpra com o seu dever, e que tenha todo o material circulante em condições para o serviço da circulação. O caminho de ferro do norte entre o entroncamento e Soure vae abrir-se provavelmente á circulação dentro em pouco, e a commissão de engenheiros já partiu para o examinar.

Emquanto ao serviço devo dizer que, chegando a mala-posta a Coimbra ás cinco horas da tarde, e sendo necessario uma demora de uma a duas para o serviço do correio, seguir-se ía que o comboio do caminho de ferro só poderia partir para o Porto depois das sete horas da tarde, fazendo se portanto a viagem toda de noite, o que era incommodo para os passageiros que chegariam a Villa Nova de Gaia perto da meia noite, alem do transtorno que estas viagens de noite podiam causar ao serviço da exploração, e por isso se estabeleceu o serviço do correio acima de Coimbra por meio das americanas. E sempre difficil combinar o serviço do correio com o commodo dos passageiros n'um caminho de ferro aonde o numero de comboios é muito pequeno. Quando houver maior numero de comboios, espero que o serviço se ha de estabelecer então em melhores condições, com economia de tempo e de pouco incommodo para os passageiros. Esta secção de caminho de ferro não pôde por emquanto ter o serviço normal de uma linha completa; quando a linha estiver toda aberta á circulação, o governo ha de exigir maior numero de comboios, hão de haver comboios de maior e menor velocidade, sem prejuizo uns dos outros, e um destinado para correio e para aquelles passageiros que quizerem pagar mais. São estas as explicações que tenho a dar sobre este objecto.

O sr. Pereira Dias: — Pedi a palavra tambem para fallar ácerca do projecto do caminho de ferro do Porto á Regua, mas como vejo que a occasião não é opportuna, reservo as considerações que tinha a fazer, para quando se discutir o orçamento extraordinario a respeito da viação publica.

O sr. Gouveia Osorio: — Quando pedi que me inscrevessem, suppuz que se tratava em geral dos caminhos de ferro; mas como se trata só da sua fiscalisação, cedo da palavra.

O sr. Thomás Ribeiro: — Devia tambem ceder da palavra seguindo o exemplo de alguns meus respeitaveis collegas, depois das explicações que acaba de dar o illustre ministro das obras publicas. Nós não estamos discutindo o orçamento, estamos conversando a respeito do orçamento; e antes assim. Folgo de ver que não se saíu da ordem da discussão d'este capitulo, pois quando pedi a palavra julguei que os meus collegas saíssem fóra d'ella, fallando largamente sobre caminhos de ferro, e por esse motivo me inscrevi. Apesar do que vou dizer não estar a principio no roeu intuito, não posso agora furtar me ao desejo que tenho de relatar conscienciosamente ao nobre ministro das obras publicas o que se diz e o que já ouvi dizer a pessoa para mim e para todos nós da maior consideração, a respeito de ser feito o serviço do correio de Coimbra ao Porto n'uma americana, estando aberto á circulação o caminho de ferro.

E simplesmente a continuação da conversa que está sendo sustentada pelo nobre ministro das obras publicas, isto deve cansa lo muito, sou o primeiro a reconhecê-lo; peço pois a s. ex.ª, que apenas me diga, se quizer, algumas palavras a respeito do que vou a dizer-lhe, porque as palavras de s. ex.ª de certo hão de afastar certas apprehensões que vão pelo publico.

Ouvi dizer a um cavalheiro muito conspicuo, ter ouvido geralmente dizer que =a rasão por que se estava fazendo o serviço do correio n'uma americana, depois de aberto o caminho de ferro á circulação, era porque o governo não tinha ainda bastante confiança na solidez das obras do mesmo caminho de ferro, e que por isso não queria arriscar a sua correspondencia official n'esse caminho =. Sei que isto é um absurdo (apoiados); no entretanto se citasse aqui o nome da pessoa que o disse, e que ha poucos dias percorreu do Porto a Coimbra o caminho de ferro, talvez V. ex.ª e a camara desse muita attenção a este estravagante boato. Não acredito que o governo arriscasse a vida de muitos centenares e milhares de pessoas, não arriscando a sua correspondencia (apoiados). Não digo isto por acreditar, mas digo-o pelo desejo de que partam d'esta casa vozes que desfaçam os boatos que desgraçadamente podem afastar alguem do caminho de ferro.

Queria mais dizer ao nobre ministro das obras publicas, que não me parecem inteiramente satisfactorias as explicações que s. ex.ª acaba de dar ácerca do desencontro em Coimbra da chegada da mala-posta com a partida do comboio da tarde; senão vejamos: a questão é de uma hora.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Mais alguma cousa, duas horas.

O Orador: — Sejam duas horas. A distribuição das malas não tem nada a fazer; este serviço tem estado e está perfeitamente regulado. A mala-posta chegava até aqui a Coimbra, onde os passageiros tinham apenas o tempo de tomar uma pequena refeição, e partia. Supponhamos que a mala posta não pôde saír mais cedo do Carregado, para chegar mais cedo a Coimbra; porque não ha de o comboio esperar duas horas? Chegava ás dez horas ao Porto, e chegava a muito boa hora. Tudo, menos haver dois differentes serviços de Lisboa ao Porto; tudo menos obrigar os passageiros da mala-posta a pernoitarem em Coimbra contra sua vontade. Ao menos conservassem o serviço da mala-posta como estava, que assim podiam os passageiros continuar a sua jornada.

(Interrupção.)

O Orador: — É verdade, ainda posso apresentar uma outra consideração que me é agora sugerida, talvez que as cavalgaduras que hoje fazem o serviço da mala-posta de Coimbra ao Porto, vindo augmentar o numero das que fazem o serviço do Carregado a Coimbra, podessem ajudar a celeridade da mala-posta, e dar fim a este serviço absurdo que se está fazendo. Submetto estas considerações a s. ex.ª, e desejarei que o nobre ministro as tome na consideração que devéras merecem.

S. ex.ª preveniu uma outra pergunta que desejava fazer-lhe a respeito da abertura do caminho de ferro do entroncamento a Coimbra, para ficar completo desde Lisboa ao Porto. Creio que o nobre ministro ha de ter o maior empenho em que esta abertura se verifique; mas desejava saber, e a anciedade publica o pergunta —era que tempo, pouco mais ou menos, se poderá contar aberto á circulação o caminho de ferro até Soure? Se s. ex.ª quizer dar estas explicações, fará um grande serviço a este paiz.

O sr. Ministro das Obras Publicas: — Eu creio que o illustre deputado pediu informações ácerca da conducção da mala-posta de Coimbra para o Porto, mais por pedir informações que o satisfizessem a respeito d'este serviço, do que por se convencer das rasões que lhe deram...

O sr. Thomás Ribeiro: — Apoiado, já o disse.

O Orador: — As rasões que lhe deram não posso responder; ellas são mesmo de uma tal ordem que não têem resposta, porque não era crivel que o governo não quizesse mandar a mala do correio no comboio, com medo de que, não estando o caminho bem seguro, as cartas se podessem extraviar e se revelassem os segredos da correspondencia do governo, ao mesmo tempo que permittia o livre transito d'esse caminho aos passageiros! Já se vê que isto não tem resposta (apoiados).

Portanto o que tenho a dizer, visto que o illustre deputado insiste neste assumpto, &mostra desejos de saber se havia outro modo de fazer o serviço do correio de Coimbra ao Porto, é que este ponto não me escapou quando se tratou de regular esse serviço. Chamei o sr. sub inspector geral dos correios, o sr. Lessa, pessoa que todos conhecemos como empregado muito digno (apoiados), e depois da discussão que a este respeito tivemos, sobre a conveniencia de se fazer o serviço do correio de combinação com o serviço do caminho de ferro, aquelle empregado fez-me ver que, sem grande transtorno, não podia convir fazer estes dois serviços ao mesmo tempo, porque os passageiros haviam de demorar-se em Coimbra o tempo necessario para se fazer a distribuição das malas, e não podiam portanto chegar á cidade do Porto senão á meia noite, e isto havia de fazer levantar reclamações, quando era necessario attender á commodidade dos passageiros, emquanto que a mala essa iria nas americanas que a repartição do correio tem para o seu serviço.

Mas isto não deve durar; é objecto tanto mais prompto quanto a abertura do caminho de ferro abaixo de Coimbra não se deve fazer esperar muito; e devo dizer ao illustre deputado que, participando a empreza achar-se a linha entre Soure e o entroncamento em estado de se abrir á circulação publica, foi a commissão nomeada pelo governo examinar esta secção, e se a encontrar em estado de ser aberta á circulação, sem perigo para o publico, não tenho duvida em dar ordem para que ella se abra (apoiados).

Portanto pôde o illustre deputado estar certo que não ha de haver embaraço, uma vez que esteja nos termos de poder ser aberta á circulação. A commissão ha de fazer o seu relatorio, e uma vez que me convença de que o caminho está nas circumstancias de ser aberto á exploração, não tenho duvida em dar ordem para que assim se faça.

O sr. Quaresma: — Aproveito esta occasião para chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas sobre alguns pontos que dizem respeito á linha ferrea do Porto, até mesmo porque não estou de accordo com algumas observações feitas pelo meu amigo, o sr. José de Moraes.

Começarei por chamar a attenção do sr. ministro sobre um ponto, a respeito do qual tenho já, por tres ou quatro vezes, chamado a attenção do governo, e não desistirei emquanto não vir que se tomam as providencias que aponto. E ácerca da ponte de ferro sobre o Mondego.

Já tive occasião de dizer que do modo por que está construida a ponte, a navegação do rio não se pôde fazer na estação invernosa, por isso que os barcos não podem passar, e não podem passar porque não ha um sirgadouro, como é indispensavel que haja.

Para que o rio possa ser navegavel, é absolutamente preciso que se estabeleça este sirgadouro, ou aliás ha de acontecer voltarem-se os barcos, porque não podem resistir á torrente das aguas.

Os barcos não podem passar á vela, porque a altura a que está a ponte não lh'o permitte; e não podem passar ás varas, porque n'essa epocha não se acha fundo, e então não tendo o sirgadouro ou hão de parar ou sujeitar se a muitos sinistros (apoiados). É pois necessario estabelecer uma sirgadura de ferro superior á mota; isto é uma cousa muito facil, e até já um engenheiro da empreza me disse o modo por que podia executar-se.

O outro ponto é sobre a decantada ponte de Arzilla. Eu sei que hoje não tenho nada a reclamar, porque lá se está fazendo outro arco; mas tenho direito a reclamar pelo prejuizo que os proprietarios soffreram, porque não podem n'este anno semear as suas terras (apoiados).

Isto é um negocio grave, porque os proprietarios não podem estar a levantar questões com a companhia, e eu não sei quem ha de pagar este prejuizo aos proprietarios (apoiados). As aguas não podem ter esgoto em tempo competente, ficam depositadas por muito tempo n'aquelles campos, e os proprietarios d'aquelles terrenos não os podem semear (apoiados).

Se o novo arco estivesse prompto, como o indicou o dignissimo fiscal do governo, no praso por elle marcado, já havia o tempo preciso para estarem concluidas estas obras,