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1414 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

com elle uma pressão moral e physica, á qual era obrigado a ceder; mas que o faria só com uma condição muito explicita, e a condição era:
«Que se encarregava de formar um ministerio com o fim de fazer prevalecer os principios proclamados pela revolução, procurando todavia harmonisar, quanta possivel, a constituição de 1822 com a carta constitutional de 1826.»
«O visconde acrescentou que d'este modo procederia com lealdade para com a corôa, e para com o povo. O Principe approvou este programma tão simples como politico. Os diplomatas igualmente o approvaram.
«O Principe largou então o braço do visconde e acompanhou-o de novo junto da Rainha.»
Escuso de continuar dizendo que em presença da Rainha o visconde repetiu as mesmas palavras e foi incumbido de formar o governo.
Aqui está como o visconde de Sá dizia que não partilhava das idéas dos homens que tinham proclamado a revolução, mas chamado a governar, a primeira cousa que entendeu que devia dizer era que não podia deixar de pugnar pelos principios da revolução, porque tomava o poder em nome d'ella.
Foi por isso que eu disse que este nobre procedimento do visconde de Sá da Bandeira estava bem longe de ser imitado pelo illustre presidente do conselho, porque s. exa. mais de uma vez nos disse, com respeito as agitações e as tentativas que se fizeram para substituir o governo em 1881, que s. exa. nada tinha absolutamente com ellas; e eu acredito na declaração de s. exa. porque o considero acima de toda a suspeita quando faz uma declaração; mas não posso comprehender que um homem d'estado acceite governo sem saber d'onde elle lhe vem. E por isso eu perguntava como e que s. exa. subiu ao poder.
A ascensão de s. exa. ao poder impunha-lhe a obrigação de acceitar, embora não partilhasse, a opinião dos seus correligionarios politicos, de pugnar pela sustentação dos principios d'elles, porque só assim e que os homens d'estado devem proceder.
O marquez de Sá tomou o poder n'estas circumstancias e ninguem poderá accusar a memoria d'esse homem, como o fez o illustre relator da commissão, sem faltar a verdade da historia.
O sr. Manuel d'Assumpção: - Faz favor do citara phrase em que eu fiz censura ao marquez de Sá. Diga a apreciação injusta que eu fiz do marquez de Sá da Bandeira ou de Passos Manuel.
O Orador: - Não poderei ler as palavras do illustre deputado, porque tenho procurado no Diario da camara o discurso brilhante do illustre deputado e não o encontro.
O sr. Manuel d'Assumpção: - Mas pode cital-as, pode tel-as na memoria.
O Orador: - Pois, porque me estou a recordar d'ellas e que estou pronunciando estas palavras.
Logo depois, o marquez de Sá, em 1836 teve de assistir ás scenas de 4 de novembro por occasião da Belemsada, e referindo-se a esse acontecimento, diz elle o seguinte:
«Arrastada por conselheiros imprudentes, apoiados por algumas cortes estrangeiras, a Rainha abandonou o palacio das Necessidades a 4 de novembro, dirigindo-se ao de Belem...»
Aqui está o facto historico - era principalmente instiga-da por conselheiros imprudentes. Os nomes d'elles estão escriptos; e eram apoiados pelas cortes estrangeiras. Quer dizer, os elementos que se oppunham a implantação do governo proclamado na noite de 9 de setembro de 1836, esses eram apoiados pelas côrtes estrangeiras; era a iufluencia estrangeira, anti-liberal, que impedia o desenvolvimento dos principios liberaes na nossa terra.
Depois refere os acontecimentos que se passaram, e conta como foi do novo chamado ao governo.
O marquez de Sá, fiel sempre ás suas convicções, procedendo sempre com uma consciencia a mais limpida que se póde imaginar, na noite de 4 de novembro só tinha tido o cuidado de não ir a palacio para evitar que lhe acontecesse o que aconteceu a quem lá foi; mas tambem não se associou aos elementos que iniciaram a reacção contra o movimento de Belem.
O marquez encerrou-se em sua casa e ahi foi procurado por parte da junta que então se organisou em Campo d'Ourique, e só se dirigiu a este logar quando dois homens eminentes do paiz foram a sua casa e Ihe contaram a fatalidade que tinha acontecido na Pampulha. Saiu immediatamente quando lhe constou o facto que tinha privado o paiz da cooperação de um homem distincto, que tinha prestado muitos serviços d causa liberal, e a respeito do qual nos podemos guardar silencio agora diante do seu tumulo sem que o profanemos.
Pois o marquez do Sá, apenas soube deste facto, immediatamente saiu para Campo de Ourique, e ao chegar ahi o seu primeiro trabalho foi evitar que houvesse mais victimas. Elle o conta.
O primeiro acto praticado por elle foi salvar um homem. Depois disse a junta, disse aos corpos nacionaes, e a todos os batalhões populares, que elle só se encarregava da direcção d'aquellas forças, sendo obedecido por ellas; e obteve o assentimento de todos os homens que podiam dirigir essas forças.
Ainda me falta um facto. Eu disse ha pouco que era a intervenção estrangeira que apoiava os conselheiros imprudentes da Rainha; e na occasião em que o golpe de estado de Belem se dava desembarcavam forças estrangeiras.
Ora o primeiro acto do marquez de Sá foi fazer saber a corte, quando lhe foi proposta uma conferencia pelo parlamentario que lhe tinha sido enviado, que elle não podia conferenciar em quanto as forças estrangeiras não reembarcassem.
E é então que elle diz:
«Algumas horas depois, o tenente coronel Barreiros voltou para informal o visconde de que as equipagens desembarcadas já estavam a bordo dos seus navios; e que o marechal (Saldanha) o convidava a uma conferencia, no palacio do conde da Ribeira, a Junqueira. O visconde, sempre de accordo com os membros da junta, acceitou o convite, e dirigiu-se com elles ao logar indicado.»
É este o procedimento dos homens que tomam a direcção de um movimento politico. E estar constantemente de accordo com os que fazem esse movimento, para que em nenhuma occasião se possa dizer que esses homens e esses movimentos estão divorciados.
O marquez, pois, acceitou o convite, e foi ao logar indicado.
Escusado e dizer, para não entrar em pormenores, que, tendo sido destituido, foi de novo nomeado; e o governo que tinha sido nomeado na emboscada de Belem só publicou um decreto que foi o da nomeação dos ministros da revolução.
A apreciação, que o sr. marquez de Sá faz, d'este golpe de estado tentado em Belem, é a seguinte:
«O golpe de estado, tentado em Belem, mallogrou-se; e este resultado foi bom para a corôa e para o paiz. De outro modo podiam seguir-se gravissimas consequencias.»
Aqui está a apreciação, mas vou ler ainda o seguinte trecho:
«O Rei dos belgas, Leopoldo I, exercia n'essa epocha a maior influencia no espirito do seu sobrinho, o principe D. Fernando, então na idade de vinte annos, e da Rainha sua esposa que não tinha mais de dezoito annos. Sua prima a Rainha Victoria tinha por elle extrema consideição, e bem assim alguns dos ministros inglezes.
«A leitura do livro do general Goblet não deixa duvida de que o Rei foi um dos principaes motores d'esta tentativa, dando conselhos aos quaes lord Palmerston, ministro dos negocios estrangeiros em Inglaterra, prestou o seu concurso. Estes conselhos eram seguramente o resultado