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SESSÃO DE 4 DE MAIO DE 1885 1415

das informações transmittidas a s. exa. pelo ministro Van de Weyer e lord Howard de Walden.
«E em apoio d'esta asserção pode citar-se a obra publicada em Bruxellas com o titulo Leopold 1.º Roi des belges de que transcreve um trecho.»
E para apoiar esta asserção, o marquez de Sá até cita um dos trechos do livro do general Goblet. Diz esse trecho:
«O rei Leopoldo interessava-se tanto pela sorte dos seus jovens parentes que para lhes firmar o throno offereceu muitos muitos milheiros de seus soldados, uma vez que a Inglaterraos transportasse e que Portugal lhes pagasse. Esta ultima condição parecia não offerecer nenhuma difficuldade, porque se pensava que Portugal poderia hypothecar á Belgica, para a compensar de todas as despezas, uma das suas possessões sobre a costa de Africa.»
creio que este trecho é bem elucidativo, e não querendo ler outros que se seguem, não me esquivei comtudo a ler as conclusões do marquez de Sá.
«Estes extratos mostram, dizia elle, como rei Leopoldo se occupava dos negocios de Portugal; e tambem que sua magestade não esquecia os interesses da belgica preparando a eventualidade da acquisição de uma das colonias portuguezas.
«Se o caso se desse, grande popularidade adquiria o rei nos seus estados; ao mesmo tempo que em Portugal a perda de uma parte do territorio da monarchia, accarretaria sobre a corôa a maior impopularidade.»
aquella revolução de 1836, que teve á sua frente um ingenuo, como dizia o sr. Julio de Vilhena, tão mal tratada pelo illustre relator da commissão, as causas d'ella, quem as descreve, e quem disse melhor, quaes foram?
Não foi o marquez de Sá, que não foi promotor de movimentos, não foi o sr. marquez de Sá que foi ministro da revolução, foi um cartista, um chamorro, como entãose lhe chamava; era o nomeque n'essa epocha se dava aos partidariosda rainha. Refiro-me ao conde da taipa, que dizia o seguinte:
«As causas d'este acontecimento revolucionario não foram os meritos de uma ou de outra d'essas constituições (a de 1822 e 1826).
«A experiencia tinha mostrado que era impossivel a um governo patriotico manter-se em presença de uma facção composta de individuos que se haviam transformado em artigos da carta constitucional. Na camara dos pares elles tinham creado uma maioria dos seus intimos; tinham feitoo mesmo no conselho d'estado, e no poder judicial haviam collocado uma maioria de creaturas suas. Excepções honrosas existiam n'esses corpos do estado, mas as maiorias dominavam tudo, e a marcha dos negocios tornára-se impossivel para um ministerio que não pertencesse á facção.
«Duas vezes Sua Magestade a Rainha deu a demissão,e uma tentou dal-a ao ministro que a opinião publica repellia, e outras tantas vezes Sua magestade foi obrigada a admittir nos seus conselhos os mesmos individuos, não tendo força a opposição para manter o seu ministerio em presença do monopolio faccioso que os seus adversarios tinham feito a todos os meio constitucionaes. Todos os amigos da ordem publica viam com pesar, que um movimento revolucionario era necessario, mas todos o temiam.
«Ninguem conspirou. A revolução de 9 de setembro appareceu pela força das cousas. Foi um acto espontaneo da população de Lisboa.»
leio estes trechos, porque me parece que vêem de molde no periodo politico que vamos atravessando.
Diz maio o sr. conde da Taipa:
«O seu fim principal era destruir a facção deminante; e porque esta fizera da carta um escudo, ao abrigo do qual triumphava de toda a força moral, era necessario quebrar o escudo para conseguir o que se desejava. A revolução aboliu a carta constitucional.»
já vê v. exa., quem eram os conspiradores, estes ingenuos, estes homens que estavam tão distanciados do estado das cousas, que um homem, que é auctoridade insuspeita n'esta casa, não teve duvida em dizer no parlamento, que a revolução appareceu pela força das cousas.
Podia dizer-se, como dizia o marechal Mac-Mahom, que, se a bandeira branca fluctuasse outra vez nos regimentos do exercito francez, não era preciso mais nada, porque as proprias espingardas se disparariam por si.
Esta é a situação a que nos podem levar e conduzir os partidos politicos, quando elles não conhecem o estado das cousas e estão a suppor que a serenidade que observam é uma serenidade que existe effectivamente no intimo, quando o facto não é assim.
Appelidam de revolucionarios aquelles que o não são.
Os revolucionarios são elles, porque accumulam por todas as formas o lume que póde depois causar incendio. Depois queixam se dos excessos e das demasias. Excesso e demasia é o procedimento do poder impenitente que não vê nem observa, e que de mais a mais nem se quer attende aos conselhos que lhe são dados, conselhos, petições e reclamações que lhe são feitas e apresentadas com a maior lizura, e com o maior desejo de contribuir para que a constituição se aperfeiçoe, para que depois todos possam viver á vontade dentro da constituição do seu paiz, e concorram parao seu aperfeiçoamento sem perturbação da ordem publica.
Mas quando as maiorias não comprehendem o estado das cousas, quando ellas por todos os modos e formas fazem saír do campo da legalidade os que desejam acima de tudo o cumprimento das leis, essas maiorias provocam as maiores perturbações e os maiores desastres, e são a origem de se praticarem todas as demasias. E não venham depois levantar-se contra essas demasias.
Podem lastimal-as porque todos nós as lastimamos, mas em vez de as lastimar, deixem de ser os causadores d'ellas. (Apoiados.)
Eu tenho dito de sobejo para mostrar que Passos Manuelera um estadista apropriado ás circumstancias, quando estava no poder, e quando saía d'elle.
Reconhecia que em umas occasiões entendia que o seu posto não era nas cadeiras do governo.
Mas nunca a sua voz deixou de echoar n'esta casa para defender os principios liberaes, e defendia-os com uma longanimidade nunca vista, porque mesmo nas occasiões em que elle via que o seu partido não podia trinphar, não duvidava dizer perante o parlamento que se tinha principios, o primeiro d'esses principios era acatar a opinião da camara.
Os homens que têem convicções, não desesperam nunca da conquista do que julgam verdadeiro.
Podem inclinar-se, e inclinam se diante do paiz que não quer adoptar os seus principios, mas nem por isso deixam de insistir na propaganda d'elles, seguros de que ha de vir dia e hora em que os seus principios triunphem.
Já não vejo presente o illustre relator da commissão que ha pouco tempo queria que eu citasse algumas palavras do seu discurso. Pois agora me recordo de uma palavras que lhe ouvi. Mas, como s. exa. não está presente, escuso de as referir para não tomar tempo á camara.
Vozes: - Já está presente.
O Orador: - o illustre relator da commissão, como que querendo apreciar Passos Manuel como um d'esses homens vingativos, como um d'esses homens perseguidores, como um d'esses homens que não podem comprehender que desempenhem funcções publicas pessoas que não compartilhem as suas idéas, disse aqui, e disse com aquella voz de stentor que caracterisa a sua palavra, referindo-se á phrase proferida por Passos Manuel tambem no parlamento, n'aquella linguagem doce e suave que caracterisava a sua palavra - que tinha o braço cançado de assignar demissões. Creio que foi isto o que s. exa. disse.